“Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia”. (CAMUS, 1989, p. 7).
Amauri Nolasco Sanches Junior
Camus em o Mito de Sísifo diz que o único problema de verdade dentro da filosofia é o suicidio. Por que? Segundo ele, a questão de quem decide que a vida não vale a pena ser vivida deve ser analisada. Indo muito mais a fundo dentro do espectro filosófico, um exemplo temos dentro da filosofia: Sócrates. O grande filósofo ateniense, teria se suicidado? Pois, o Estado ateniense deu a sentença, mas, além dele mesmo tomar a taça de cicuta, ele não lutou pela sua vida. Então, mesmo que se virasse uma espécie de mártir, Sócrates poderia ser chamado muito facilmente de suicida e de achar que morrendo existe uma outra vida.
Talvez, quando Camus diz “Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia”, ele queria dizer as falas de Sócrates que disse: “a vida não examinada não vale a pena ser vivida”. Mas, o que seria uma vida não examinada? Será que devemos examinar todas as vezes que fazemos uma reflexão? Temos um mito que reflexões são feitas quando estamos parados com “cara de paisagem” dentro de um silêncio - nem sempre é assim - mas, ao digitar esse texto, eu estou refletindo aquilo que eu vou escrever. O assunto está sendo refletido. Daí - dentro da filosofia do absurdo de Camus - entramos no mito de Sísifo (um Titã que foi condenado a rolar uma rocha eternamente) onde diz: “É preciso imaginar Sísifo feliz”.
A meu ver, influencers digitais (e famosos, de um modo geral) são um pouco de Sísifo, condenados a ficarem rolando uma rocha por toda a eternidade por serem o que são. Lá no fim da montanha a rocha sempre será lançada para baixo. A rocha é a aparência, é aquilo que se quer passar como virtude - muitas vezes, é só uma imagem inventada - do outro lado, ela fica rolando por toda a eternidade. Aquele que é relevante por um tempo não é mais, mas, há uma outra definição para os influencers: “alpinistas sociais”.
Mesmo que alunos da USP (Universidade de São Paulo) desconsiderem textos como esse como filosófico, eu considero que é isso não importa. Mais ainda, considerando a virtude como o cerne do problema do youtuber PC Siqueira por ter tantas acusações contra ele - vinda de um suposto vídeo do instagram dele - ainda sim, não poderemos de forma nenhuma, julgar sem que a justiça dê o veredito. Mas, dentro de uma proposta mais profunda, a questão entre Camus e a existência (como forma do absurdo) deve ser olhada. De uma forma geral - transcendendo qualquer ideologia que predomine as discussões de hoje - todas as formas de virtudes e toda as festas e feriados são construções sociais, mas, foram enraizadas dentro da nossa consciência que quem não tem atitudes como essa sao estranhos. Então, pessoas sensíveis vão se achar solitárias por causa disso, por ainda viver essa ilusão.
O absurdo é dar valor a uma vida que não tem valor nenhum, ela é vivida. Toda bugiganga virtual que chamam de conteúdo, nos mostra o que a publicidade sempre nos mostrou: se você não tiver aquilo, você é um nada. Se você não é como eu, você não é nada. Se você não tiver um iate, você não é nada. E a lista de “virtudes” e sonhos são apenas ilusões - e essas ilusões conquistam porque se forma uma lista de ídolos - e o ídolo , de uma forma geral, são várias conceitualizações que o homem moderno colocou no lugar da religião. O absurdo da existência é você sustentar uma imagem que você não tem. E, não vai ter nunca, porque quem tem já sabia como ter e tem meios como ter.
Somos um nada dentro do universo que não muito, temos a capacidade de ver a realidade com a nossa consciência - consciente e inconsciente - e nascemos sozinhos e vamos morrer sozinhos. Os teóricos ficam discutindo se o problema é socializar ou individualizar, mas, a meu ver, temos que entender que a evolução biológica e espiritual, é nossa e só nós temos o poder da escolha. O resto é papo de inteligentinho.
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