sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

A senhora Bolsonaro e o comunista do STF




 Amauri Nolasco Sanches Junior 


Como uma boa evangélica - a maior parte de quem apoiou o golpe militar de 64 era evangélico - a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro mostra seu lado político (claro, defendendo seu marido). As criticas que fez nessa quarta-feira (13), reabrem uma discussão desde muito tempo quando seu marido, Jair Bolsonaro (PL), estava na presidência da república. Segundo a mídia escrita, Michelle fez essas criticas (e outras para Flavio Dino) para o senador Sergio Moro (União-PR) por demonstrar momentos de ternura com o então - agora ele é ministro do Supremo - candidato a cadeira do STF, Dino. A mulher em seu momento de fúria disse que Moro teria sido covarde em aprovar o nome de Dino para ser ministro do STF. 

Michelle demonstra muito mais cacoete político do que Bolsonaro, mas, existem muitas nuances que podem colocar essa “veia política” em xeque. Em uma outra publicação no Instagram, a ex-primeira-dama comenta uma conversa que aconteceu no WhatsApp entre Moro e um contato com o codinome “Mestrão” em que aparece imagens que não deveriam revelar o voto em Dino.  Mas, quem será esse “mestrão”? O filósofo Aristóteles disse no livro Ética a Nicômaco, que a ética (etika) tem que ser praticada e não teorizada apenas. Na política brasileira, a ética não passa de interesses e que o Brasil (que tem muito dinheiro) tende sempre a corromper todos de Brasília. 

O tal do ‘Mestrão” disse que se o Moro revelasse o voto ele sofreria muitas represálias. Ou seja, se irmos muito mais a fundo dentro da discussão, tanto faz se o Moro dissesse seu voto ou não, ele seria criticado do mesmo modo. Depois, no X, Moro explicou que tem legítimo direito de não declarar seu voto por questões políticas (que existem) e por questões do próprio PCC. A questão tanto da crítica da senhora Bolsonaro, quanto a explicação “vagabunda” de Moro, reabre uma discussão ideológica entre a extrema-direita reacionária evangélica e os social-democratas. Ou melhor, vamos ver uma reprise dos velhos tempos entre ARENA e MDB (com devidas proporções). 

O Senador até chegou a falar na sua vez de falar na sabatina na dura crítica que chamou de “celeuma” (estou com preguiça de ver no dicionário) nas redes sociais por causa do seu “abraço afetuoso”.  Moro, como sempre, deu uma explicação fajuta e disse que o “abraço” não iria afetar seu voto. Para o desespero dos Bolsonaristas, Dino ganhou. Anarquistas e libertários como eu, só acham graça porque o sistema é um só e tem dono (muitas vezes, o neoliberalismo que volto a dizer nada tem a ver com liberalismo).  Daí eu concordo com o humorista Danilo Gentilli: 


<<Muito carinho. Muito sorriso. Muitos abraços. E no fim, você, meu caro OTÁRIO, que compra as narrativas e serve de peão é jogado aos leões e punido. Quando isso acontece você está sozinho, na prisão, no tribunal e trabalhando a vida toda para sustentá-los. Eles estão lá na cordialidade e você aí terminando amizades por causa deles.>>


Ainda Michelle coloca o seguinte comentário: “Não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido. Quem seria o ‘Mestrão?’”. A primeira frase - como uma boa evangélica - mostra um conhecido versículo bíblico que é tirado de Lucas 12:2: “Pois não existe nada escondido que não venha a ser revelado, ou oculto que não venha a ser conhecido.” (eu retirei na Bíblia do Rei James). Em um contexto mais amplo esta:

<<Enquanto isso, uma multidão de milhares de pessoas, aglomerava-se, a ponto de pisotearem uma às outras. Foi quando Jesus começou a ensinar primeiramente aos discípulos, prevenindo-os: “Acautelai-vos com o fermento dos fariseus, que é a hipocrisia. 2Pois não existe nada escondido que não venha a ser revelado, ou oculto que não venha a ser conhecido. 3Porque tudo o que dissestes nas trevas será ouvido em plena luz, e o que sussurrastes ao pé do ouvido, no interior de quartos fechados, será proclamado do alto das casas. Jesus ensina o temor do Senhor>>


Jesus, claramente, fala do coração do homem (ou ser humano como um todo) onde muitas coisas estão escondidas e nas sombras. Hermeneuticamente - que muitos evangélicos não gostam - esse “nas trevas será ouvido na luz” não a verdade em si mesma, mas, que um dia a hipocrisia será descoberta. Indo muito além, sabemos que a bíblia em si foi escrita em grego e o significado de verdade (aletheia) tem a ver com “algo oculto”, algo que deve ser desvelado. Mas, será que era o mesmo que Jesus quis dizer? Será que não era a hipocrisia dos fariseus? Nesse caso, esses “fariseus” depende daquilo que julgamos ser o bem e o mau, a meu ver, ignorância e conhecimento. Talvez, exatamente isso, Jesus tenha dito: quando não somos capazes de falar a verdade, logo a mentira vai ser descoberta porque você não sustenta o personagem por muito tempo. 

Michelle Bolsonaro tende a colocar muitas coisas bíblicas para atrair opiniões o que chamam de conservadores (o conceito de conservador aqui no Brasil se distorce, como tudo)  e nada melhor do que um texto como esse. Por outro lado, a pergunta “Quem é o “mestrão”?” É legítimo saber quem está por trás daquilo que não pode ser “desvelado”. E assim, a política nos revela o lado obscuro de conversas nos “porões” de Brasília e mais uma vez, o Estado revela o lado de ser ele a verdade Matrix. 

Além disso, Michelle ainda publica uma entrevista muito antiga em que o senador Moro teria se arrependido de ter sido ele o responsável pela condenação do Lula (PT). Talvez, Moro tenha percebido que o tal sistema tenha prendido quando interessou (e isso fica claro depois dos atos de 2013) e quando interessou soltou todo mundo. Lula está aí novamente, graças a propaganda bolsonarista (cagada de medo) e graças ao fim da operação lava jato, ou até mesmo, nunca teve uma operação. Talvez, foi uma grande peça de teatro que colocou todo mundo na cadeia para “acalmar os ânimos”, acalmou porque a cultura brasileira nunca teve senso crítico. 

 

Meu pai - decepcionadíssimo com o “mito” - concordaria o que vou escrever aqui: tendo o marido perdido e mal-educado, escrever “Com vocês, Sergio Morno. Morno mesmo”, não faz muito sentido. Porque o senhor Bolsonaro esqueceu da educação (sendo presidente da república), esqueceu em dar assistência a uma pandemia mundial que atacou seu povo e que deixou de prestar um bom governo. Repito o que eu disse: a bastante tempo que não temos um presidente de verdade. Não um presidente ideológico - esses em sua maioria, não prestam - mas presidente que governa e sabe os verdadeiros problemas do seu país. Não interessa se ele é ateu, maconheiro, e sei lá mais o que e sim que faça. Se o senado é covarde ( e o é), o marido da dona Michelle foi covarde, tendo medo de um partido que estava se esfacelando e graças a esse medo, se recuperou.

“Comunista não”


Agora vamos falar do nosso ministro “comunista” e que, a senhora Bolsonaro, escreveu “comunista não”. Claro, sendo Eduardo Bolsonaro (vulgo Dudu Bananinha) um aluno do Olavo de Carvalho, contaminou todo o bolsonarismo dessa coisa de guerra fria, globalismo etc. A meu ver, não há nenhum problema do Olavo ter tido ou não um diploma de filósofo, mesmo porque, a maioria dos pensadores brasileiros ( tirando Rogério Skylab e Antônio Abujamra) não tiveram diploma de filosofia e foram bastante felizes em suas teses. Mario Ferreira dos Santos tinha diploma e a academia o “moeu” porque não tinha uma escrita “adequada”. O que seria essa “escrita adequada”?

A questão do Olavo é chamar atenção por polêmicas (que dava certo prestígio para ele) e com isso, dava ênfase em muitas teorias da conspiração. O globalismo que dominara um mundo, a maior parte da teoria veio das “catacumbas” da direita esquizofrênica norte-americana durante a guerra fria. Assim como os romanos, os americanos tendem a assimilar coisas alheias e dar um outro conceito, pois, a “internacional” comunista, se torna globalismo hoje. Outro aspecto do Olavo é não querer entender a filosofia contemporânea e sinceramente, se você não aceita um pensamento do seu tempo, você acaba se perdendo. 

E mais um erro do Olavo foi chamar o PT (Partido dos Trabalhadores) de comunista, porque o PT historicamente é trabalhista. De onde vem essa rivalidade deles com o PDT (Partido Democrático Trabalhista) de Brizola? Por que quando o Brizola estava no seu auge, eis que de repente aparece Lula e seu partido? Claro que, existem alas radicais que logo se separaram e começaram criar seus próprios partidos, mas, na essência, o petismo nunca foi comunista e nunca existiu um governo comunista. Mais uma vez, os americanos simplificam tudo por serem pragmáticos (aí está o ruim disso. na filosofia) e Olavo exportou toda essa “porcaria”. 

Dito tudo isso, temos que dizer que o Lulopetismo teve uma chance de ouro de fazer um governo bom (no primeiro do Lula) e mostrar etica e arrumar o país. O nordeste, por exemplo, continua pobre e temos ainda muito pobres no país, mesmo tendo o dinheiro que temos e isso é um reflexo da nossa cultura. o lulopetismo não arrumou nada, não modernizou o país e não deu condições dele prosperar, institucionalizou a corrupção. A geração bommers (reacionários como todo brasileiro, em sua maioria), estava órfão desde quando o Maluf chegou no fim de carreira.  O povo evangélico que gostam de prosperar - como voltaram ao cristãos primitivos, logo são uma incidência dos judeus - e não via nenhuma ética e eram contra o comunismo por causa do ateísmo de Karl Marx. De não entender a frase “a religião é o ópio do povo”. 

A “merda” estava feita. Quando Michelle Bolsonaro se posiciona e deixa muito claro sobre o posicionamento contrário sobre Flávio Dino fazendo uma postagem “comunista não”, mostra o estrago que se fez não em 2013, mas em 2014 quando o PSDB (petistas de gravata) negaram o resultado das urnas e se começou um processo de polarização de se criar um inimigo. Ninguém sabe o que é comunismo em sua essência - isso demanda anos de estudo - o que se sabe é que o lulopetismo é incompetente, corrupto e inexpressivo dentro dessa camada e vai ser assim por um bom tempo. 

Agora, gostei do Dino no Supremo? Claro que não. 


Referencias: 




Michelle Bolsonaro ironiza abraço de Sergio Moro em Dino: 'Quanta cumplicidade' <oglobo.globo.com/blogs/sonar-a-escuta-das-redes/post/2023/12/michelle-bolsonaro-ironiza-abraco-de-sergio-moro-em-dino-quanta-cumplicidade.ghtml>


Bíblia em português: <https://bibliaportugues.com/luke/12-2.htm>


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