quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Qual o papel do influenciador na sociedade?

 



Amauri Nolasco Sanches Junior 



Li na rede do Elon Musk - nunca sei se é Twitter ou X - que “influencers são alpinistas sociais” e, inevitavelmente, faz a gente pensar qual o papel que um influenciador tem na nossa sociedade. Do mesmo modo - mesmo sendo publicitário - sempre me perguntei qual o papel social que tem um publicitário dentro de uma sociedade e acabei vendo uma estatística muito evidente (acontece do mesmo modo no meio dos influencers): muito poucos publicitários conseguem ter prestígio e fama. A grande maioria, na verdade, nem entra no mercado e por causa disso, as agências parecem fábricas sofisticadas de pessoas que vão mentir para você. Do mesmo modo do influencer que vai querer vender seu produto. 

Vamos lá na explicação do conceito de ídolo que as pessoas não tem noção (vou usar o conceito de Nietzsche). Nietzsche foi um filósofo alemão do século dezenove e abordou com muita propriedade - quase como uma profecia - a ideia de ídolo em duas obras: uma foi “Assim falou Zaratustra” e a outra foi a “Genealogia da Moral”. Para o filósofo, o ídolo seria uma construção social que reflete os valores e as crenças predominantes de uma determinada cultura ou época. A crítica de Nietzsche é envolta a tendência das pessoas de venerar ídolos, porque isso leva a submissão, uma limitação do pensamento crítico e a perda da individualidade. Não seria o que acontece com muitas pessoas?  Nossa cultura neoliberal - com seu capitalismo selvagem - tende a tratar pessoas como produto e principalmente quando se trata de mídias sociais.

Segundo Nietzsche, ídolos podem ser indivíduos (como influencers), ideias, instituições ou mesmo conceitos abstratos que são elevados em um patamar bem mais elevado do que são.  Ou seja, não muitas vezes são seguidos de um modo bem irrefletido. Nietzsche defendia a necessidade de questionar e desafiar certos ídolos, a fim de promover o desenvolvimento de uma consciência crítica e a busca por valores verdadeiros.  Assim, diante dessa crítica e reflexão, Nietzsche defende que a sociedade deveria buscar a superação desses ídolos, a fim de alcançar uma maior liberdade e autenticidade. 

Nietzsche não foge a regra de um bom filósofo - mesmo que muitos lhe coloquem como um literario ou poeta - em procurar a liberdade (como modo de sermos felizes) e a autenticidade. A autenticidade tem a ver com algo original, ser autêntico tem a ver em ser você mesmo e ser mais cético com algumas coisas e essas coisas sao os influenciadores. Lembrei de Nietzsche - pode se dizer que sou um meio nietzschiano - pois, um clássico exemplo do que ele disse, se concretiza. Muitos influenciadores não conseguem muito dizendo coisas inteligentes de livros (ou são machistas escritos a milhares de anos, como dizem “chovens espertos”), mas, mostrando suas vidas superficiais de baladas, viagens e coisas fúteis que tem a ver muito com nosso momento. São ídolos contemporâneos niilistas. Niilismo aqui se refere ao nada, pois se as pessoas compram rifas (de carro ou apartamento) milionárias, se as pessoas têm a necessidade de seguir pessoas que mostram só coisas fúteis (fútil aqui é aquilo que não deveria interessar para ninguém, porque eu não tiro nem foto de eu e minha noiva comendo), alguma coisa esta errada. 

Dai tenho uma explicação - que eu dei no meu instagram usando uma cantora da nova geração (aqui) - que essa geração acha ser rebelde, mas o ato de rebeldia tem muito a ver com o ato de romper com o sistema. Existe um sistema onde há um discurso predominante - não o que bolsonarismo diz - que faz aparecer inúmeros preconceitos que dividem uma sociedade. O neoliberalismo não é liberalismo nem um pouco. E esses rebeldes de mídias sociais cansam de ser influencers rebels. Mais profundamente, essa geração é o próprio algoritmo da Matrix quando tira fotos (ou faz vídeo) em atos rebeldes, mas com roupas de grife. A questão sempre foi a metamorfose do capitalismo como forma de engolir os rebeldes, porque antigamente atos de rebeldia eram vistos como uma quebra do sistema (digamos, sair da Matrix) 

O rock (e seus derivados) era seu maior expoente e a regra fica bastante clara dentro de um prognóstico que se traduz em não mais sair da Matrix. Poderemos dizer ainda que, assim como essa cantora (entre outras que fazem sucesso e até mesmo, os influenciadores) são “Cyphers” e querem ainda voltar para a Matrix mesmo sabendo que é uma mentira (ou má-fé). Sartre - filósofo francês existencialista - dizia (e é mesmo na concepção dele que eu disse da má-fé), que dizer que a má-fé é um impulso do inconsciente seria negar a razão de ser plena consciência. Por exemplo, ao roubar um livro, o ladrão é a sua vontade de tê-lo. desejo  toma forma e ele (o desejo) pode ou não se concretizar. Mas, o ladrão é plenamente consciente do seu ato. 

Será que, como diziam antigamente, os influenciadores não são os mesmos ídolos que outrora povoaram as TVs?


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