sábado, 21 de junho de 2025

O CAPACITISMO NAS UNIVERSIDADES (A LOGICA NAZI VOLTOU?)

 


Ato em memória de Isabelly foi realizado na última quarta, 18, na Unila. Fotos: Divulgação

Já escrevi nesse blog ou em outros espaços – porque eu escrevia em outros lugares – que há um movimento de descaracterização de uma postura universitária e isso, em parte, é culpa da cultura hollywoodiana. Venderam, principalmente nos anos 70 e 80, que estudar era uma coisa ultrapassada e deveríamos aproveitar a vida com liberdade e “curtição”. Na outra ponta da questão – e isso tem a ver com a pós-modernidade – é o desestruturalismo que forjou uma verdade relativizada e que quebrou a humanização do conhecimento. se Aristóteles dizia que o homem tem sede de saber, o movimento de desestruturação relativizou esse conhecimento em mera vivencia. Nomes mais famosos como Foucault, Derrida, Deleuze entre outros, começam a tratar certas tradições como meios que sustentam certos preconceitos.

A morte da estudante de medicina e autista, Isabelly Baldin (25), nos mostra um outro ponto bastante importante: será que a falta de empatia não é originada dessa relativização da verdade universal e o fortalecimento da sua verdade? Carl Sagan escreveu no seu livro “O mundo assombrado pelos demônios”, que por sermos primatas e mamíferos, ao sermos bebês, poderemos reconhecer nossos pais como iguais e sorri para eles como reconhecesse esse padrão. Mas, além disso, nós somos animais que temos que construir significado e fazendo conceitos a todo momento para explicar certos fenômenos não muito claros dentro da consciência. Ou seja, o bullying que Isabelly recebeu de professores e alunos da Universidade Federal de Integração Latino-Americana (UNILA), vem de uma postura de não querer mudar certos padrões para que todos possam estudar. Não é isso que as universidades modernas idealizaram depois que romperam com a igreja?

Daí vem a pergunta do título do texto: a lógica nazista voltou? Porque, a meu ver, os nazistas só radicalizaram os milhares de pós-conceitos que já existiam na época. Como disse André Comte-Sponville em seu “Pequeno Tratado das Grande Virtudes”, os nazistas eram polidos e não educados. Porque, tinham muito conhecimento e uma cultura exemplar – como os alemães têm até hoje – mas, usaram muitas teorias pseudocientíficas e místicas/ocultistas para propagar a pureza da humanidade. Não conseguiram levar o conhecimento para outro patamar. Assim, parece que a UNILA mostra uma padronização no Sul – e lugares poucos abertos a mudanças no Brasil – onde não querem levar esse conhecimento em um outro patamar. Primeiro, do Sul, veio colocar pessoas com deficiência em classes especiais em APAEs ou outras instituições, porque não se consegue adaptar uma escola, depois o suicídio de uma aluna autista por causa da não adequação de escolas e universidades. Mostrando o atraso do Brasil mesmo em locais ditos de conhecimento. Depois, a não adaptação por teimosia.

O Brasil é um país que não aceita nada de diferente e só tem gente sempre tentando levar vantagem em tudo. Tudo que é para pessoas com deficiência são caros e feitos muito vagabundamente, serviços que são como favores (mesmo que pagamos por esses serviços) entre outras coisas. Mais do que isso, não se entende que a deficiência não é uma doença que você pode portar e depois, não portar mais. Porque a deficiência é uma condição e a inclusão é um ato político.



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quarta-feira, 18 de junho de 2025

GENEALOGIA DO CAPACITISMO

 

 

 

Em um podcast (no YouTube), minha amiga – que é uma pessoa com deficiência – demonstrou ser muito raro ter a oportunidade de se conectar com pessoas na área de negócios, e também, estar na área de liderança em um projeto do Estado (Projeto Guri). Com 18 milhões de pessoas com deficiência (segundo o IBGE de 2022), temos ainda a ideia que um país com tantas pessoas com deficiência e muito poucas que conseguem estudar. Acessibilidade não é só rampas ou facilidades arquitetônicas, mas devem ser muito mais do que isso, devem ser a conscientização e predominância dentro da sua área. Por que um deficiente deve ter um cargo de “verificador de fichas” se ele é qualificado em RH, por exemplo? Por que um deficiente formado em administração, deve ser “organizador de papeis”?

Isso seria capacitismo? há uma genealogia do capacitismo que remontam milênios de sociedades que poderiam abranger cuidados com pessoas com corpos divergentes, ou sociedades que poderiam não cuidar de pessoas com alguma deficiência. Mesmo sendo racionais, nossa consciência pode remontar uma realidade que só existe graças as nossas crenças e chamamos de subjetividade. Ora, a maioria dos preconceitos – mesmo os de milênios afora – foram construídos graças a subjetividade de achar que o “diferente” não seria humano. Lendas, muitos provavelmente, eram interpretações de corpos não normalizados dentro de uma crença muito além da realidade.

Um corpo não completo. A completude de uma realidade depende da conjuntura que essa realidade se encontra na nossa base subjetiva, pois, se a capacidade de ir além da massividade das ideias – a atitude de rebanho – não haverá uma ruptura no preconceito. Isso se dará sempre com o medo. Se você não tiver nenhuma instrução em um país no meio da selva – como o Brasil era nos séculos passados – se você vê um garoto negro com uma perna só e pulando, vai remontar a um ser místico. Ou, que assobia antes de fazer quaisquer travessuras. Assim, tivemos duas fazes capacitistas dentro do nosso país. Um de esconder e internar, pois seria muito “desagradável” ter uma pessoa com deficiência na família (prova disso eram artistas com deficiência tentando esconder a deficiência para não ser evidente, como o Roberto Carlos) e nos anos 80, onde estudávamos em colégios comuns e mesmo assim, separados (poucos puderam romper isso).

Há um capacitismo estrutural? A meu ver, não existe. Na antiguidade, a questão era a falta de conhecimento científico e falta de uma consciência que corpos divergentes eram humanos em condições diferentes. Mesmo assim, existem pesquisas arqueológicas que dizem que havia comunidades que cuidavam de pessoas com deficiência, outras não. Mas, como um bom filosofo que sou, por que temos sociedades que matavam ou predem pessoas com deficiência? Será que com a escassez da idade média com a ignorância popular – mesmo assim, havia casas de caridade ou pessoas que recolhiam crianças nessas condições para esmolarem – achavam que eram criaturas demoníacas? O fato que a modernidade, com seu cientificismo, não amenizou para os deficientes até então.

O Brasil é herdeiro dos jesuítas e sua religiosidade (caridade), do cientificismo positivista (temos que ter especialistas) e a sociologia marxista (burguesia e proletariado). Quando lemos que há ainda uma cultura cientificista que você só ouve especialistas (medicalismo), com visões muito mais místicas do que cientificas, já que eles insistem em prever o futuro, as empresas não sabem ou não querem saber se deficientes sabem ou não falar e ter opiniões. Os próprios funcionários do SUS perguntam se sabemos ler e escrever. A modernidade com sua noção da ciência, não causou nenhum ou quase nenhum impacto sobre o ato de incluir pessoas com corpos divergentes pelo simples fato de ser diferente. A modernidade e a pós-modernidade só construiu preconceitos (chamo de pós-conceitos) piores em desembocar na eugenia silenciosa ou o projeto T-4 dos nazistas, eliminando todas as pessoas deficientes. Não é isso que fazem abortando crianças com síndrome de down – ou havendo probabilidade de serem – ainda no útero da mãe?

Empresas só são meios para vender seu serviço e você vende conforme sua capacidade, ou seja, se você é formado em computação, por exemplo, tenho que vender meu serviço nessa área. Empresas não são nossas “amigas”. Nem mesmo os governantes são nossos amigos. Para as empresas e governo, somos um símbolo dentro de um número muito grande de cidadãos ou possíveis trabalhadores. Eles não contratam pessoas com deficiência, porque tratam o corpo do trabalhador de uma máquina e não como um humano, com deus desejos e pensamentos e nem, sua qualificação. Ou seja, a maioria das vezes, são “tampa buracos” do número de deficientes que precisam para não pagarem a multa e só. Assim, a luta pela inclusão não pode ficar só em espaços físicos, em construção de conceitos estruturalistas (isso não acabou e não vai acabar com o capacitismo), mas, transcender o mundo e as coisas e dizer que somos humanos.

sábado, 14 de junho de 2025

SOCORRO...

 



Na lógica – que aprendi quando eu fiz programação no curso de TI – existe aquilo que é considerado verdadeiro e aquilo que é considerado falso. A meu ver, dentro da filosofia não tem muita importância por causa das circunstâncias que estamos vivendo essa realidade. O que consideramos o que é verdadeiro ou falso, em tudo que observamos, depende de um contexto e isso é bastante interessante. Entre duas linhas de um mesmo fenômeno – não existe consciência sem um objeto – existe aquilo que é verdadeiro (que possivelmente, estamos considerando aquilo a verdade) e aquilo que é falso (que consideramos ser uma mentira).

No mundo da informática, isso nos dará como base mestra para construirmos algoritmos que vão dizer para um computador se aquilo tem que acontecer (v), e aquilo que não pode acontecer (f). Por exemplo, um loop não pode acontecer, porque não haverá estabilidade para eu escrever esse texto pelo fato de não sair nem do modo de ligar o programa. Do mesmo modo, a linguagem da programação tem que ser clara e saber direcionar o processador a calcular essa linguagem para o 0 e o 1. Se for (V) então é 1, se for (F) é 0. A meu ver, esse argumento do que é verdadeiro e o que é falso só serve na informática.

Se você está vendo um garoto batendo em um adulto e não enxerga um contexto, em um modo racional, não se tem como julgar esse tipo de situação. E se o menino tem autismo? E se a moça da loja fez uma coisa para o garoto? Claro, existem coisas que podemos dizer que, se for um garoto autista o porquê de ele não estar acompanhado é muito importante e o autismo não é desculpa para ser mal educado. Mas, será que um vídeo desses terá total verdade dos fatos? Porque estamos na era que tudo se torna verdade, tudo se torna objeto de julgamento e isso é bastante perigoso.

Chagamos a pós-verdade como um conceito que pode descrever um cenário em que os fatos têm menos importância em uma formação de opinião publica do que apelo emocionais e suas próprias crenças. talvez, poderíamos dizer que Platão teria razão em dizer que opinião (doxa) não seria o conhecimento, pois o conhecimento é racional e a opinião é emocional. Ou seja, os fatos ficam em segundo plano quando é uma verdade factual dando daquilo que as pessoas escolhem (ou querem) acreditam. Esse fenômeno pode ser visto, especialmente, na política e nas redes sociais, onde pode haver narrativas que são construídas para reforçar ideologias, muitas vezes ignorando ou distorcendo os fatos.

Indo além do obvio, mas a pós-verdade sempre existiu como manipulação da informação e as redes sociais só repetem o que sempre vimos na TV. Ou melhor, o telejornal como fonte única de informação, construía uma narrativa onde o meio de comunicação poderia construir um discurso onde poderíamos acreditar. A verdade poderia ser manipulável – e ainda é – mas, poderíamos chegar ao conceito de má-fé de Sartre. Mesmo que a pós-verdade e a má-fé tenham pontos em comum, há diferenças bastante sutis dentro do prognóstico de um discurso predominante. Já que a pós-verdade engana por causa da construção narrativa do discurso, a má-fé (podemos dizer assim) pode ser o sujeito se enganar para sempre evitar em assumir a sua responsabilidade diante da opinião. Você sabe que políticos enganam, mas continua a escolher um deles.

No entanto, poderemos ver que existe uma ligação entre os dois conceitos bastante interessante, muitas pessoas que propaga m pós-verdade podem estar agindo de má-fé consigo mesmas, acreditando em algo porque isso as conforta ou reforça sua visão de mundo, mesmo que os fatos digam o contrário. Mesmo porque, em um ambiente de pós-verdade, a má-fé pode ser um mecanismo pedagógico que impede as pessoas de confrontarem a realidade. Elas não podem ver a verdade porque acreditam que estão levando a verdadeira realidade dos fatos, distorcendo-a conforme suas crenças.

terça-feira, 10 de junho de 2025

UM ANARQUISTA NO SHOPPING

 



A multidão me tirou você
Me atirou pelas ruas, onde vou viver
Apesar dos idiotas eu amo você

 - Apesar Dos Idiotas (Flicts)

 

Quando resolvi fazer esse blog, eu tinha a ideia de escrever ideias beirando o anarquismo como uma resistência de tudo que está ai. Porque, a meu ver, pessoas com deficiência e nem filósofos deveriam ser partidários ou ter lado ideológico dentro do espectro político. Afinal, quem fala de pessoas com deficiência nesses tempos de inclusão social? Quando políticos, sem ter filho ou ter parente com deficiência, fez de políticas públicas para pessoas com deficiência? Ninguém. Minha alma anárquica sempre ansiou por liberdade de escolha, liberdade de expressão e liberdade de escrever e ser o que eu quiser. Um anarquista (com ou sem o capital), não pode ser escravo de cartilhas prontas e nem ser a favor de nada que vem do ESTADO e os seus governantes e quem financia ele – ou se subjuga ao seu poder e financia – é um cúmplice safado dele.

A questão que poderemos começar a discutir é: o que seria a definição de deficiência? Porque, em uma análise muito mais minuciosa, “de” é um artigo de negação e “eficiente” tem a ver com a eficiência de um ato em que se pode fazer. Ou seja, de + eficiente tem a ver com a perda de eficiência no ato de fazer alguma coisa. Ter eficiência é efetivar um ato de andar, por exemplo, pegar algo no alto etc. Por isso que o “de-eficiência” é uma perda de efetividade em membros e o preconceito dessa falta – por causa do seu conceito de doença – se chama de “capacitismo”, porque há uma não capacidade da efetividade dos membros que pensam ser uma doença e não é nada disso. A “de-eficiência” seria algo de muito mais uma condição (no sentido de condicionar o corpo aquela condição) do que uma doença ou um corpo “defeituoso” como uma máquina e deveria ser consertado.

Essa definição tem um porquê importante nessa discussão nesse texto, porque traz um outro foco a realidade da inclusão. Ora, se a de-eficiência é uma condição e nos condiciona a uma perda de algumas capacidades e mesmo assim, somos e temos corpos humano e como animais políticos (sociais), inclusão é um ato político. Eu e minha noiva somos um casal político. Meus amigos são minhas ligações políticas junto com minha família. O que acontece nos prédios dos três poderes em Brasília é a governança do país, mas atos políticos acontecem em todo momento e o brasileiro médio não sabe viver dentro de uma comunidade política. Em um shopping há pessoas que não sabem andar, não sabem que um cachorro dentro de um estabelecimento como este estressa, que comer pipoca e encher o cesto de lixo ate cair é falta de educação e não respeitar o aviso que banheiros de pessoas com deficiência são usados por elas. O brasileiro médio tem preguiça em saber e sente orgulho da burrice que expressa, como, por exemplo, achar que livro é só para estudar.

Por causa de um corpo diferente, no sentido da normalidade social, dará aval para as pessoas não nos enxergarem como humanos que somos? Daí há o discurso libertário no sentido de sair dentro da coletividade (coletivismo irracional), e nos enxergar como indivíduos autônomos que pensam como outras pessoas. Temos que nos impor como seres humanos, pessoas politicas que devem ser enxergadas como seres engajados socialmente. Por que não? Por que não poderemos ser vistos como agentes sociais, que consumimos e por isso, temos capacidade de trabalhar e dizer o que desejamos ou sentimos?

Daí vem a pergunta que sempre me fiz: por que animais tem mais direitos do que pessoas com deficiência? Claro, não sou e nunca serei a favor de tortura e abandono de animais, mas, é injusto que animais tenham muito mais direitos do que humanos com corpos divergentes (adorei esse termo). E ai temos que se aprofundar na questão, pois, quando você prefere animais a humanos, pode ser que você tenha sociopatia. Do mesmo modo, outros tipos de apego, que com certeza, não são empatia com o humano social. Social e socializar, a meu ver, são termos diferentes do que coletivismo irracional. Você conviver e defender o direito de outro ser humano é diferente de ficar em uma fila enorme para pegar um sorvete no méqui, ou até mesmo, filas enormes. Os marxistas iriam dizer que há um fetichismo na questão de ser o sorvete do méqui, mas não é bem assim, há uma escolha e você pode escolher entre aquilo ou outra coisa.

sexta-feira, 6 de junho de 2025

LIBERDADE E DEFICIÊNCIA – ENTRE PAGU E A LIBERDADE DE EXPRESSÃO

 





"Esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre." — Patrícia Galvão (Pagu)

Eu – autor desse blog – sou um amante da liberdade sem um viés definido de autores para isso. Mas, acima de tudo, tenho minha alma anárquica e divergente da moral castradora dentro do coitadismo que se acumula dentro do chamado “movimento de minorias”. Por isso mesmo, minha filosofia foi chamada de “transgressismo filosófico”, ou seja, a transgressão daquilo que é comum e ser divergente (opinião contraria).

A frase da escritora e jornalista, Patrícia Galvão (Pagu), cabe em um momento de censura que estamos vivendo. Se não estamos alinhados em uma opinião de massa (que a maioria acredita), estamos sendo taxados de criminosos e esse crime sagrado é, exatamente, ser um divergente no meio da subjugação massificadora de algumas ideias. Primeiro, até onde eu sei, somos ainda animais racionais e como disse Aristóteles, por sermos racionais somos “animais políticos”. Mas, nesse exato momento, quero invocar o modo grego do termo “politikon” que era diferente dentro do que conhecemos. Onde “politikon” era todo homem livre (literalmente), que participava da vida social dentro da àgora e decidia o que se deveria ou não ser feito em Atenas (onde havia a democracia). Por outro lado, quem era apolítico era chamado de “idiotike”, e vivia isolado dentro do seu egoísmo de não querer saber da polis.

Como disse em um dos artigos que escrevi na rede LinkedIn (aqui), a inclusão tem que ser um ato político. Mas esse “ato” não tem só a ver com ação e sim, pode ser colocado como um fenômeno dentro de uma certa realidade que pode ou não acontecer. A inclusão não só aparece, mas ela é por si mesmo. Por isso, um ato social não pode ser refém de um discurso ou um pronome – como chamar um deficiente de deficiente, ou, uma piada sem graça – e sim, se mostrar em um ser humano que tem suas vontades e suas satisfações. Ou as pessoas acham que não somos humanos com desejos e sentimentos? E assim, dentro da questão mirabolante de achar que somos pessoas que não sabemos o que nos atinge ou não (alguns não sabem por causa da subproteção familiar e institucional). Dai as classes especiais são um erro, pois, trancam as crianças com deficiência e fazem essas crianças verem um mundo de “mentiras”, subprotegidas que deveriam ver o mundo de verdade e mais, APAEs e outras entidades com inclusão não se combinam.

Alguns anos eu e minha noiva escrevemos o livro “Liberdade e Deficiência” onde colocamos vários textos nossos, denunciando a nossa falta de liberdade por causa da deficiência. Mas, eram denuncias concretas de acontecimentos de verdade dentro de uma visão nosso mesmo, não uma visão representativa dentro de uma outra coisa não concreta. Afinal, “nada sobre nós sem nós”, como forma de uma visão crítica da nossa vivência como um corpo-deficiente e ao mesmo tempo, ter a consciência de ser um humano ignorado e sem uma perspectiva institucional e levada ao meio tutorado. Ou seja, não há o porquê pessoas não deficientes dizerem por nós o que seria melhor, o que deveríamos gostar, o que deveríamos ter como vida e onde deveríamos estudar.

Por isso, dei o nome de “liberdade e deficiência”, onde a liberdade pode ser vista além da deficiência no sentido de um corpo não igual – um corpo é um meio para a consciência se manifestar – e viver na realidade objetiva. Por que somos hostilizados? Por que as pessoas não querem que seus filhos tenham contato com outras crianças deficientes? O discurso de classificação entre as minorias. O discurso de representatividade. Quando pensávamos que a inclusão deveria ser objetiva – a linguagem só seria um meio – a questão era debatida dentro da deficiência e não uma representação dela. Deixamos de dizer “por” e se passou a dizer “sobre”. Por uma inclusão e não sobre uma inclusão. Por isso não acredito que há um mundo inclusivo, o que há são estruturas inclusivas para dar um ar de “bom moço”, mas mulheres com deficiência são operadas para não terem filhos, fetos com síndrome de down são abortados e por aí vai.

Cairmos no problema da polidez no Pequeno Tratado das Grande Virtudes de André Comte-Sponville, onde escreve que os nazistas eram polidos, tinham alto grau de cultura, porém, poderiam mandar arrancar a pele de um judeu para fazer abajur (realmente, aconteceu). Na verdade, a meu ver, os nazistas dentro de algumas questões ainda assombram a cultura eurocentrista, como abortar fetos que tem alto grau de chance de serem Down em alguns países da Europa (que tem forte tendencia Escandinávia), ou em alguns Estados americanos, as famílias têm permissão de operarem mulheres com deficiência para não engravidarem. A polidez europeia guarda a crueldade de matar fetos por serem geneticamente modificados pela natureza. Daí a pergunta de ouro:  isso não seria o modo eugenista disfarçado de humanista? As autistas também vai ser detectadas e vão ser abortadas? Dai entramos em uma discussão muito pós-moderna, onde há estruturas discursivas que dominam a narrativa do senso comum e isso – em hipótese – geraria o preconceito dentro de uma minoria marginalizada.

O que levou os nazistas a terem todo esse preconceito e construírem toda a moral nazifascista dentro dessas classes? Toda uma gama de fatores históricos dentro de um preconceito que deveria – até onde eu sei não se estudou ainda – ser estudado sob a ótica antropológica, culminou no fenômeno de preconceito radicalizados que foram usados como “bode expiatório” na crise que estava instaurada na Alemanha na época. Ou seja, não há nenhuma “desculpa” de se ter a eugenia 2.0 nos dias de hoje, a não ser a questão financeira que alguns países adotem como prioridade e ainda sim, não passa de puro extermínio e uma eugenia silenciosa e muito mais perigosa do que a nazista.

Dai entramos na ceara da piada do comediante Léo Lins e nos perguntamos: diante da falta de acessibilidade, campanhas para nos colocar em APAEs, abortos de fetos que tem possibilidade de Síndrome de Down etc, o problema é a piada?