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Amauri Nolasco Sanches Junior
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Havia, nos anos 90 do século passado, onde vivi minha
adolescência, uma música que era de um conjunto de rock chamado Living Color
(Cor Viva), que se chamava “The Cult of Personalotty” (O Culto da
Personalidade). Se você olhar ela de um modo dentro da filosofia, vamos ver que
está falando ao culto que o ser humano (seja de que cor, ou etnia pertença), faz
da personalidade e os meios que ele usa para isso. Na primeira frase dessa
música já dará uma boa introdução do que se trata a música: “Look in my eyes,
what do you see?” (Olhe nos meus olhos, o que você vê?), daí vem a resposta, O Culto
da Personalidade. E, se nos anos 90 já havia uma crítica severa a isso – que
claro, tem uma crítica racista por trás dessa música – imagine hoje, com um
crescimento da internet, o aparecimento das redes sociais como o Facebook,
Instagram e outras (que se pode compartilhar fotos), que personifica esse
culto.
Na primeira frase da música já dará uma discussão bem
interessante. Começa com: “Look in my eyes” (Olhe nos meus olhos), que significa
olhar na alma das pessoas e quando as pessoas não te olham fixo, são só
“personagens”. Você vê uma foto de um Osho (Rajneesh Chandra Mohan Jain [रजनीश चन्द्र मोहन जैन]), você enxerga uma profundidade em seu
olhar que mostra sua sinceridade. Outras pessoas podem ser mencionadas dentro
dessa mesma linha, pois, a questão de olhar dentro dos olhos de uma pessoa
passa a ser um olhar para o que é a pessoa, e de maneira nenhuma, é um
pensamento místico (metafisico). Logo depois vem a pergunta: “what do you see?”
(o que você vê?), como se você vai ver a verdade de uma pessoa é ou não é,
aquilo que se mostra. E vem a resposta: “The Cult of Personalitty” (O Culto da
Personalidade). Se você ver uma personalidade famosa (que seria diferente de
uma pessoa pública, famosa), você vai reparar que ela nunca olha fixo, nunca
vai olhar nos olhos de uma pessoa e dizer quem realmente é. O exemplo que eu
usei do Osho é bem interessante, porque, se vimos uma palestra dele ou de um
outro da mesma linha do que a dele, as falas são bastante pausadas e o olhar é
bastante fixo. Porque, não há um personagem ali, é o que é. Se pegamos pessoas
como o ditador Benito Mussolini – mencionado na música – não olhava fixo,
porque era uma personalidade (e não uma pessoa), porque não era seu verdadeiro
eu, não tinha uma intenção verdadeira; ela se torna um personagem definido com
aquilo que se espera naquele momento. Como a figura de John Kennedy – também
citado na música – onde também, é uma personalidade na política e não uma
pessoa política, porque seu olhar não é fixo, não tinha o mesmo brilho e
penetração.
Por que eu estou citando isso? Toda pós-verdade é uma
tentativa de culto da personalidade, porque sempre é um discurso de seguir uma ideologia
ou uma personalidade. Assim, personalidade é um personagem, pessoa como ser um
individual, é aquilo que é. Um ídolo só é isso, um culto a aquele personagem
que não é realidade e sim, uma imagem que você cria. Então, tanto a frase
inicial – da primeira frase da música – tanto a pergunta que ela traz, é a
questão que fazemos daquele personagem naquela situação. O problema não é o que
Mussolini fez no seu governo – poderíamos, se estender a todos os imperadores e
ditadores dentro da história humana – mas, o problema é a imagem que os
italianos fizeram dele de “salvador” da Itália na época. No mesmo modo, a
imagem do Kennedy que os norte-americanos fizeram dele na época (como fizeram
do Trump e se arrependeram).
Quando Nietzsche diz que vai destruir os ídolos, ele coloca
um combate dentro da imagem que fazem daquela personalidade. A fantasia
metafisica do salvador daquele individuo, transvestida em uma sociedade, que o
outro vai salvar e não o próprio. Se fomos mais a fundo, a ideia nietzschiana
da quebra do ídolo – como um indivíduo que te mostrara o caminho – com um
martelo (poderíamos até associar esse martelo ao do deus Thor, mas, é um
pensamento bastante profundo que ficara num outro texto só do filósofo alemão),
faz um eco, bastante interessante, no budismo. Enquanto Nietzsche vai dizer que
o “ubermerch” destrói os seus ídolos, Buda Sakiamuni, diz que se você encontrar
um buda na sua frente, mate-o. qual a ideia disso? Não ter “muletas”
conceituais, fazem o ser humano indagar muita coisa e até, o culto à personalidade.
O pensamento de Buda, certamente, remete a não se precisar
de mestres para entrar no “nirvana”. O estado de nirvana, é um estado de gozo e
felicidade eterna, que todos os seres, segundo os ensinamentos de Buda
Sakiamuni, um dia irão experimentar. Mas, irão experimentar o estado de
iluminação, só aqueles que segurem os preceitos da sua senda e respeitar a do
outro. Acho, depois de estudar bastante, total semelhança entre Buda Sakiamuni
e Jesus Cristo. Jesus deixou bem claro – que a igreja romana e a reformada, por
motivos bastantes óbvios, escondem – que tudo que ela fazia, algum dia,
poderemos também fazer e nos chamou de deuses (passagem nunca citada). A
questão é: as grandes mentes da humanidade, tiveram ou não, um mestre?
Porque, na minha avaliação, mesmo que muitos podem
descordar, a filosofia começa com a morte (ou cicuta). Existe uma “arké” e
existe uma “anima”. A primeira era a origem sobre tudo e a segunda, é a origem
quem nós somos. Quando abro o Instagram, por exemplo, fico imaginando o que a
pessoa da foto estava pensando na hora da foto, no momento que quer se mostrar
diante o público. Os pré-socráticos, deram grandes contribuições para a ciência
física e biológica – tanto que os elementos como origem são confirmados e sem
eles, não haveriam nada – mas, o “conheça-te a ti mesmo” socrático, teve grande
papel na ontologia (o ser enquanto ser), que teve origem também, em Parmênides.
As pessoas que cultuam a personalidade conhecem a si mesmo? Será que a
pós-verdade, não é a manipulação daquilo que se tem como ídolo? A falta de um
critério e uma crítica mais apurada dos fatos, faz com que essas pessoas
acreditem que há ainda uma guerra fria, que há ainda um grande plano comunista
em andamento, e que há um mundo hostil que querem nos escravizar. Mas a
filosofia da existência mostra que fazemos escolhas e que não há nenhum
significado a nossa existência, além do que damos a ela.
Mas será mesmo que a existência de tudo não há nenhum
significado real e plausível? Será que o único significado da nossa existência
é postar foto e ganhar curtidas? Não. A filosofia contemporânea errou em tratar
a questão metafisica, como uma coisa secundaria. O iluminismo – que herdou o
racionalismo cartesiano – se esqueceu que a realidade tem muitos pontos que a lógica
e a racionalidade, não alcançam e isso é um problema. Porque você não pode
analisar um culto da personalidade (como essência humana do ser e do existir),
sem olhar panoramicamente, todos os ângulos possíveis. Um ponto é apenas um
ponto, o ato político ético tem a ver com os fatos culturais que esse ato político
traz junto de uma educação (educare). Educação, além de ter a ver com a moral e
com a ética, ainda, tem a ver com uma cultura e vamos enxergar isso além de um
ato lógico ou racional. O ato antiético nunca é um ato lógico ou racional, por
tender para si mesmo e assim, passionalmente, favorecer a si mesmo. a corrupção
começa quando você só coloca uma realidade, mas, não sabemos sequer se existe
uma realidade mesmo.
A pós-verdade e as notícias falsas (Fake News), só existem
porque tem publico e as pessoas consomem esse tipo de notícias. Sua bolha ideológica,
não deixa você ter uma visão mais ampla. O culto da personalidade tem a ver com
isso, a bolha ideológica, a vaidade de ter pessoas que te admiram, não pelo que
você é, mas, a imagem que você tem para elas. Por isso eu disse que o problema não
é o que Mussolini fez no seu governo, mas, a imagem dos italianos construíram em
torno dele. Mas, existe uma diferença entre Mussolini e Kenedy? Nenhuma. Existe
diferença entre a imagem de um Getúlio Vargas e um Lula? Nenhuma. A questão não
é o que o governante faz, mas, o aval de se deixar levar e se legar a ser governado.
Ai sim, quando fizemos esse tipo de questionamento, vamos ter outra consciência.
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