segunda-feira, 14 de maio de 2018

Racionalidade humana




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René Descartes (1596-1660) e John Locke (1632-1704)
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Estou lendo um livro do Bertrand Russell (1872-1970), chamado “Ensaios Céticos” e no quarto capitulo, o nome já é uma pergunta: “Pode ser o homem um ser racional? ”.  Nesse capitulo, Russel fala que o homem seria mais harmonioso se fosse racional e menos parcial, pois, as guerras são a parcialidade de uma cultura. Não acho. O erro do filósofo britânico em achar que a racionalidade – como a maioria dos filósofos modernos e contemporâneos – salvaria a humanidade, foi acreditar que a racionalidade humana, poderia ser uma espécie, de “messias” da alma (no sentido filosófico). Por que? Porque a construção de personalidade do ser humano não implica só o lado racional, porque, pelo menos ao meu ver, até mesmo dentro da ética, envolve os sentimentos (que chamamos afetos). Esse erro começa com Descartes.

Descartes nos levaria ao seu cogito (pensar), graças a sua máxima, “eu penso, logo eu existo”, ele separa o pensamento com o sentir, dizendo que o ser humano é uma máquina. Só que poderíamos ir muito mais longe: porque Descartes não escreveu só o Discurso ao Método, e sim, muitas outras obras importantes. Uma delas – não me lembro qual – ele evoca o res cogitans (coisa pensante) e o res extensa (coisa existente), como meio de definir uma realidade a partir de nós mesmos. Só que quando você, mesmo com um objeto, percebe a realidade isso tem a ver com aquilo que se sente e não só aquilo que se raciocina. Quando você ama uma pessoa ou um animal de estimação, você não está só “pensando”, você está sentindo. Mas, não podemos dizer que Descartes (Cartesios), esteja errado como um  todo, mesmo o porquê, no tempo em que viveu, se um filho morresse era apenas mais um filho e era uma época muito fria. Por outro lado, Descartes disse que ele pensava, logo ele existia, porque ele queria imputar uma dúvida ultra cética. Porque a dúvida era o meio para se chegar a uma conclusão: se só eu existo, se só posso afirmar que eu existo, toda a realidade não existe? Outra dúvida, não menos importante: por que devo acreditar cegamente, na ciência e duvidar da existência de Deus? Por que não posso duvidar de tudo? Afinal, se tenho que duvidar das questões religiosas por não ter nenhuma prova que há uma consciência onipotente, onisciente e onipresente, que tenha uma presença concreta, uma pesquisa cientifica, pode muito bem, ser uma mentira. Os fatos da guerra do Iraque comprovam isso.

Eu posso duvidar que esse texto exista, porque, na verdade, esse texto só é códigos binários sendo processados. Um fato curioso (e não menos, filosófico), o conceito universal de várias religiões ou fatos da física, remontam esse código binário. Na religião egípcia (Horus, Isis e Osiris), na religião hindu (Brahma, Shiva e Shakti), a religião judaico-cristã (Deus, Adão e Eva) e na física (Energia, massa e gravidade). Ou seja, tudo no universo começa de um princípio e gera o 0 e o 1. E isso não pode ser encarado como uma metafisica, já que tem base matemática e a matemática, até onde eu sei, é uma ciência exata. Portanto, esse texto tem a mesma probabilidade de existência de uma meia no meu pé, segundo a dúvida cartesiana. Na verdade, a dúvida de Descartes é a busca do “agora”, porque estou pensando (mesmo que eu imagino o futuro), posso dizer que estou focado na minha existência e a minha existência, está mais do que limitada no agora. Talvez, a dúvida cartesiana do sonho e da realidade (se estamos sonhando ou vendo a realidade acordados), seja uma dúvida daquilo que eu posso ser e o que eu sou, ou seja, a virtualização da minha vontade (a potencialização do que posso me tornar) e aquilo que eu “penso” ser.

Então, podemos dizer que a dúvida cartesiana é uma dúvida da questão da realidade, do que seria a realidade enquanto observamos ela. Ora, tanto a lei da relatividade einsteiniana, quanto a física quântica (que de algum modo, Einstein ajudou a descobrir), nos dizem que a realidade depende de quem está olhando. A física quântica – que mostrou que Deus sim, joga dados – vai bem mais longe, as partículas hora se comportam como ondas, hora se comportam como átomos e isso intriga os cientistas e voltamos a máxima cartesiana, onde não há como saber se a realidade é realidade, ou a realidade é algo que construirmos com os conceitos. A racionalidade é um meio, mas, nunca um fim, pois, nem mesmo sabemos o que é a realidade e seus meios de existir, são.

Só a racionalidade não faz um ser humano melhor, porque só um meio de o homem entender o que está havendo, mas, de haver um equilíbrio entre o pensar e o sentir.  O equilíbrio entre o pensamento e o sentimento, faz do homem um humano e faz ser harmonioso com os outros seres humanos, o afasta da barbárie. Por que? Porque temos que se colocar no lugar do outro, porque não adianta só estarmos pensando – como ato de raciocínio – e não sentir o outro, não sentir a nossa presença. Russell, argumenta que as guerras são irracionais, que a maioria delas, são por causa das religiões (questões de fé), e que as religiões são matérias da passionalidade. Será? A questão vai muito mais longe do que meras analises rasas de acadêmicos – que aceitam filosofias que nada ajudam o ser humano a questionar – que acham que muitas filosofias que falam do ser (como entidade transcendental da realidade), são misticismo. O próprio Russell, em seus textos do livro, fala do “élan vital” de Bergson (que não li nada ainda), apenas, um pensamento místico. Porém, sabemos que há (dentro da psicologia e dentro da psicanalise), um impulso que assegura o ser humano de continuar a viver e aguentar os problemas da vida. Freud chamou esse impulso como uma negação da morte, porque fugimos da morte e essa fuga, faz nós vivermos plenamente. Ainda, Russell se esqueceu da Vontade de Poder de Nietzsche ou a Vontade de Espinosa, onde o impulso de transcender a questão humana, foi sempre a questão primordial do ser humano. Afinal, a filosofia (philosophia), não nasceu só de um ato racional (a mitologia, de alguma maneira, só pode existir de uma racionalidade mística dos fenômenos naturais), ela nasce do espanto da existência, não só humana, mas a existência da própria realidade.

Como já disse nos muitos escritos, a filosofia contemporânea errou em colocar problemas do ser – como eu penso e eu existo – como mera existência ocasional, que pode ser um erro grave e pode levar ao irracionalismo, porque não teríamos uma questão moral para se apoiar. Por mais que possamos descordar de alguns pontos morais da sociedade, isso não quer dizer, que a questão não tem um lado humanizador. A filosofia deve ser vista como uma ferramenta (tecné), de questionar a realidade e isso não se faz com verdades já prontas. Se eu acreditar cegamente que o homem chegou a lua (acreditar cegamente sem questionar), ou que os acusados de corrupção são inocentes, vamos acreditar em verdades prontas. O problema sempre foi o conhecimento manipulado das academias (desde a igreja romana estava à frente delas), onde as sociedades não querem a sabedoria plena do TODO. Você não pode dizer que só o lado racional fara o ser humano um ser harmonioso, tem que ter um conjunto de tudo.







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