quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Mamacita Casagrande

 




Eu me lembro até hoje a Copa de 1986, quando o Brasil foi eliminado pela Itália e o pênalti que o Zico jogou para fora e depois culpou o joelho. Ora, então, de uma forma lógica, quem chutou errado aquela bola foi o joelho do Zico e não foi decisão dele, pois ele culpou o joelho e a culpa foi o joelho. Pois bem, eu tinha 11 anos de idade e fiquei decepcionado com o futebol e nunca mais torci para alguma coisa ligada a ele até hoje, pois, o “joelho” do Zico é o grande culpado. Nem mesmo o Corinthians – eu adorava a imagem do Sócrates – escapou do mesmo ceticismo futebolístico. E nessa seleção estava Casagrande no auge da “democracia corintiana”, onde se pedia a redemocratização do país através da paixão do brasileiro, o futebol. Eu, sinceramente, não acho que o futebol brasileiro se redimiu do “joelho” do Zico na Copa de 94 e nem que houve mesmo, aquilo tudo que disseram na Copa de 98. Talvez, seja meu olhar cético que tenha gravado que eu sempre vou me decepcionar, se eu acreditar em alguma coisa. 

Já o vólei dos anos 90 – hoje eu não sei – feminino nos deu várias medalhas de ouro e várias vitórias (junto com o basquete) que o futebol deixou de nos dar nesses anos. E a Ana Paula Henkel trouxe várias medalhas e vitórias e ainda, até hoje, é ainda reconhecida como “Ana Paula do Vólei” e ela e outras, passaram a me mostrar outros esportes – incluindo o Senna na F1 – que possamos sentir orgulho além do “futebol mercenário”. A questão aqui é muito mais uma questão opinativa do que moral, porque tem a ver de confundir opinião com conjuntura politica. Casagrande é um cara que foi moldado dentro da ideia da direita que apoia a ditadura militar, pois quem acredita numa liberdade verdadeira democrática tem que ser de esquerda e se a favor da revolução. A briga entre os dois é uma briga politica, ideológica e inútil, pois em matéria de trazer alguma coisa para o Brasil, a Ana Paula ganha, até mesmo, no modo que ela estuda e comenta. Mesmo que você não concorde com que ela diz – como eu não concordo – você tem que reconhecer que ela fala melhor e escreve melhor do que o “Mamacita” Casagrande. 

Não gosto do jeito que o Casagrande escreve. Parece que ele juntou um monte de tuite e colocou no blog do Globo Esporte, e nem mesmo, aquilo é uma carta. Se eu recebesse uma carta daquela eu acharia que ou o cara estava “alterado”, ou ele estava com poucas ideias e pegou várias postagens do twitter e fez a carta. Mas, vamos falar sério, qual jogador de futebol articula direito as palavras e sabe se expressar direito? Peçam para qualquer jogador de futebol escrever um texto corrido – sem ter que apelar a um monte de tuite – para ver o que sai dali. Nada. Jogadores são bem parecidos com soldados, aprendem de forma mecânica e não sabem sair daquilo que se aprendeu, ou seja, ele não sabe além daquilo que foi condicionado. E então – mesmo eu não concordando com nenhum dos dois, alias – entre ler um texto da Ana Paula e do Casagrande, eu prefiro ler um texto da Ana Paula. 

Mesmo o porquê, na história da filosofia – aqui eu abro o leque, pois é uma análise filosófica – há uma grande diferença em dar uma opinião (doxa) de algo, e argumentar algo com o conhecimento (episteme) daquilo. Quando o Casagrande diz que: <Ana Paula Henkel, defensora dos violentos, dos antidemocráticos, das armas e de tudo que é ruim em nossa sociedade.> ele está expressando uma opinião daquilo que ele acredita dentro da sua crença ideológica. Veja. O que temos de conhecimento que sim, ela é de direita e sim ela apoiou o Trump (já que ela mora nos Estados Unidos da América) e quem viu o programa Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan, sabe que eles estavam analisando a decisão do STF (Superior Tribunal Federal) que é ilegal e vai contra a Constituição. Não a fala do deputado Daniel Silveira. A fala dele deveria ser analisada na Câmara dos deputados federais, que deveriam, cassar ou não ele. A questão vai muito além do que essa análise fraca do Casagrande de achar que houve um golpe contra a Dilma Rousseff e que tiraram o PT (Partido dos Trabalhadores ) do poder porque não queriam o povo no poder, pois, até mesmo os governos de esquerda, quem sempre mandou no Brasil foi os coronéis. Os mesmos que sempre financiaram o futebol – politica do pão e circo – onde o Casagrande sempre participou. Houve um esquema de corrupção, houve punição e houve o impeachment que levou a saída do PT do poder executivo. 

Então, não venham querer me convencer que opinião é o mesmo que argumento, pois não é. E tem mais, isso tudo discutido é apenas uma mera crença, são coisas que estão dentro do que o Casagrande acha ser a verdade. Mas, qual a verdade? Será mesmo que a direita toda brasileira é fascista? Será que toda a esquerda brasileira é comunista? Só acho que se deveria estudar mais e opinar de menos. Sigamos no país da Conká


Amauri Nolasco Sanches Júnior




sábado, 20 de fevereiro de 2021

A Era da Filosofia Funkeira





Essa questão apareceu num grupo de filosofia e achei interessante escrever um texto, pois, ainda confundimos filosofia, erudição e intelectualidade. Você ser um erudito não quer dizer que você pode ser um filósofo, pois, o filósofo pode ter uma erudição, mas um erudito e um intelectual, não questionam aquilo que leram nos livros. Depois, fui procurar o que seria <afeito> e descobrir, no Aurélio, que o termo <afeito> tem a ver com <acostumado> e você achar que o filósofo só é afeiçoado aos assuntos eruditos, não é verdade. Inclusive, o modo clássico – que o autor, muito provavelmente, quis dizer a filosofia nos tempos clássicos dos gregos e latinos – já foi discutido e não estamos no mundo clássico, pois, queiramos ou não, nós estamos na filosofia contemporânea, sedimentada nos estudos das outras filosofias. Analisando a primeira parte da oração, vamos ao que podemos chamar de segunda parte da questão (que podemos chamar de problema). 

O que seria uma <filosofia funkeira>? Segundo o próprio autor, a chamada <filosofia funkeira> é uma filosofia mais <popular> o que poderíamos presumir, uma filosofia do senso comum. Muitos dos meus colegas que gostam de filosofia, concordariam com o autor do questionamento, pois já expressaram seu descontentamento com pessoas que falam de filosofia do YouTube e até mesmo, os chamados <filósofos pops>. A meu ver, muitas coisas eu enxergo num modo de filosofia – até mesmo os heróis da Marvel e da DC, nos animes e em filmes considerados “violentos” - e não acho que só o modo <erudito> pode ser analisado, porque na vida cotidiana você fala como outra pessoa qualquer. Mesmo num grupo, você não tem compromisso de ser erudito no Facebook e nem na sua vida. Por outro lado, podemos ver em muitos comentários e questionamentos – que chamamos de tópicos – que as questões se decaíram por causa da crescente adesão a religiosos querendo converter ateus e ateus não sabendo nem argumentar, porque não leram a bíblia e não estudaram (podemos ver isso também no ateísmo militante pop). 

Mas, num modo mais profundo da questão: o que fez o autor fazer esse questionamento do grupo? E indo mais além: o porque o autor disse que lá existe uma <filosofia funkeira>? O Funk Carioca (vugo pancadão), tem uma forma peculiar de ser, eles mostram o que é falado nas periferias mais pobres, pois, os adolescentes só querem saber disso. Primeiro, que a maioria das pessoas que moram nessas regiões são analfabetas ou ignorantes tendo de trabalhar e a grande maioria não estão acostumadas a ler ou não tem tempo. E os filhos, ou estão em algum celular ou estão nas ruas, aprendendo as coisas num modo irresponsável (porque, sim, existem educações erradas) e não são incentivados a lerem, a adquirirem uma certa erudição e ainda, são ensinados que serem inteligente (num modo de terem mais cultura) é chato, é fora da realidade. Que aliás, o funk é um machismo muito bem-vindo, pois chamam as mulheres de <cachorra>, incentivam os estupros, e todo modo de pensar que a esquerda brasileira diz ser contra. 

Não parece, mas, existe uma análise linguística dentro do funk que remonta as diversas linhas filosoficas que, nós filósofos, estamos acostumados. Existe uma música que diz: <foca na beleza> (ela tem só isso mesmo), que remonta o quanto o ser humano <foca> em uma coisa <bela> e o quanto as mulheres, quando estão interessadas no cara (ou até mesmo, mostrar ela), querem que eles foquem na beleza. Um modo, completamente, estético de pensar. Ou quando dizem <tu ta querendo> mostra a atração que as mulheres exercem nos homens e como esse poder, muitas vezes, é sim de modo em querer seduzir o homem em questão. Isso entra na ética. Como vimos, a nossa realidade, seja qual for, pode ser questionada e analisada (que chamamos de crítica), pois, todos os objetos dos estudos filosóficos são linguísticos. E estudando a nossa língua portuguesa, me deparei com uma coisa, não se muda a língua de cima para baixo, se muda a língua de baixo para cima. 

O que mudou do latim para o galego-português foi o latim vulgar, ou seja, o que mudou foi a língua falada. Se escrevia da mesma maneira que se falava – os nobres que podiam aprender a escrever – então, termos como <cabbalos> viraram cavalos, e por ai vai. E se não entendermos isso, é impossível falar de uma certa erudição. Pois, a uns cem anos atrás, em vez de se falar Você, se dizia <vossa mercê> e agora, na era digital, se escreve <vc>. Muitas pessoas falam <a gente fala>, mas, não é assim e sim, <nós falamos>. Mas, qual está errado se nas duas maneiras foi entendido? Será que não se entendeu a realidade ai? Talvez. Quando se diz <a> poderíamos dizer ser um artigo, junto com aquilo que queremos dar um número ou designar uma pessoa como <a gente>, só que esse termo não existe e não está certo, pois é <nós> em vez de <a gente>. O <gente> veio do latim <gens> que quer dizer raça, clã, família num sentido mais amplo ou família nobre. Porém, o sentido contemporâneo mudou muito e agora quer dizer um número determinado de pessoas ou pessoas com interesses semelhantes. O termo <nós>, em alguns dicionários etimológicos, dão em sinônimo <a gente>. Ora, está errado ou está certo? Então, nós <eu e os outros> falamos e a gente <pessoas com interesse comum> falamos. 

Falar é se expressar e na hora de se expressar, devemos ter cuidado, ora para não ofender, ora para deixar claro o que queremos dizer e o mais importante, sempre focar no assunto tratado. Pelo que eu vejo nos grupos, muitas pessoas têm um certo carimbo mental que comenta tal assunto para confirmar suas convicções e para dizer, que sabe mais do que os outros. Por exemplo, se você postar sobre religiões em um tópico, logo vai ser associado a questão de <Deus>. Todos que estudam seriamente filosofia sabe, que Kant <que era protestante> diz que a questão de Deus é uma questão pouco importante, ou melhor, uma falsa questão. Mas, se insiste em discutir essas questões, não porque as pessoas querem chegar a uma verdade, mas porque querem ter razão. O próprio Kant disse que é uma questão que não dá para provar ou saber se é verdade (talvez num futuro bem distante, possamos descobrir a verdade). Nem sempre uma religião tem um <Deus> ou alguma <divindade> e sim ter a doutrina de religar o ser humano ao universo, por exemplo. 

Ora, e não é só no funk que a cultura popular se expressa, no sertanejo, principalmente o universitário, também existem elementos populares como a traição, a poesia cavalheiresca que a dama não pode ficar com o cavalheiro. Aliás, isso herdamos das canções bardas onde o cavaleiro apaixonado não poderia ficar com a dama (princesa), pois, era prometida de outro (em alguns casos, traia o rei com o cavaleiro, mas é uma outra história). Na verdade, durante a idade média o amor era uma doença (esqueçam os filmes). Se é ruim ou não, podemos avaliar segundo nosso gosto, mas que a filosofia analisa tudo, isso temos que ter certeza.



Amauri Nolasco Sanches Júnior

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A educação dos psicopatas

 


 

“Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor.” 

Paulo Freire 


Quando eu criei esse blog, eu não queria um blog com textos para fazerem carinho nas pessoas. É um blog nietzschiano e minhas críticas são baseadas dentro do que eu acho e penso na sociedade, pois, filósofos tem problemas a serem desenvolvidos e eu vou desenvolver seja como for. Problemas como a realidade, como ética e educação são os problemas que eu gosto de analisar. Por quê? Educação, na sua origem, passa na realidade e a realidade faz valer dentro da epistemologia, que é a teoria do conhecimento. Ou seja, quando dissemos que educamos uma criança, estamos dizendo que mostramos uma realidade a essa criança. Mas, que realidade? Talvez, a realidade possível de que estamos passando para as crianças, seja a realidade subjetiva daquilo que se acha da realidade e não a realidade em si mesmo. posso, tranquilamente, pegar meu exemplo como um referencial. Minha mãe sempre foi católica não praticante, mas sempre acreditou em Deus. Porém, ela nunca incentivou eu e meus irmãos a seguir qualquer religião, nem mesmo a dela e nem pedir benção (que ela achava uma tremenda demagogia, já que se pedia benção e depois desrespeitavam os pais). Ela achava que quando crescêssemos poderíamos escolher qual religião seguir e assim aconteceu, eu sou espiritualista e não tenho uma posição religiosa. 

Uma educação de verdade não se ensina a sua realidade subjetiva, se ensina que não existe só o seu filho no mundo e não existe só sua família. Existe uma sociedade e toda uma gama de preceitos morais - mesmo se não concordamos – que se deve ter para melhor conviver com os outros. E não interessa o que você acha ou que religião você segue, as pessoas vão pensar diferente e sim, assim é melhor para a sociedade se equilibrar dentro de uma democracia. O brasileiro não gosta de ser democrático porque quer ter razão, ou seja, não sabe ouvir o outro lado e sempre acha que a sua realidade é a certa e todo mundo deve seguir a realidade dele. E lendo um texto no site “Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor” (em referência a frase do Paulo Freire), onde o autor analisa a frase da Karol Conká onde ela disse: “Eu já fui ignorada por horas, minha mãe me ensinou assim. Ela passava um dia sem falar comigo”. O autor passa pano, eu não. Para mim, isso mostra como temos uma educação de psicopatas e perigosos. Por quê? Porque mostra como a cultura brasileira é violenta, uma fábrica de gente doente e com serias psicopatias que podem e dão merda. Quantas mães ensinam os filhos homens a fazerem o que quiserem e eles estupram, beijam a força, querem fazer escândalos e acham que são donos do mundo? Já as mulheres, tem que ser submissas ou são ensinadas que todo homem é igual, pois essas mesmas mães casaram com psicopatas. 

Não venham dizer que é por causa de ignorância, porque sei de pessoas muito bem estudadas que fazem a mesma coisa e não há diferença nenhuma. Mas, vamos bem além daquilo que sabemos que ocorre no submundo das periferias – um caldeirão de psicopatas – e que não só acontecem com pessoas como a Conká, porque é uma realidade de muita gente. Pessoas com deficiência sofrem com isso muito mais por causa da sua dependência física, psicológica e financeira dessas famílias que usam isso para dominar e muitas vezes, se promoverem. Principalmente, se a figura paterna no ápice da sua doença, acha que o mundo se deve curvar a ele. Conhecia uma pessoa que o pai queria que todos seus filhos dormissem quando ele chegasse e assim foi, tanto ´é, essa pessoa não podia ouvir nenhum grito ou alguém falar um pouco mais alto, ela tinha medo e se afastava. Mesmo o porquê, lembrava o que o pai fazia com a mãe dela e assim, guardou isso para si. Tanto que sua visão de homem, tem muito a ver com a visão paterna. Traia sua mãe, batia na sua mãe, e ainda, de tanto ser submetida ao pai e depois ao marido, ela manda na sua filha com deficiência. Paulo Freire não estava errado. 

Eu e muitos amigos tiveram liberdade porque fomos criados dentro do amor e liberdade de escolha, mas a maioria não é bem assim. É uma educação de opressão e vaidade que não cria seus filhos para o mundo, cria para mostrar para o mundo que ele existe. Não amam, não sentem nada além do prazer de fazer com os filhos o que o pai deles fizeram com eles, sempre numa roda de psicopatia sem fim nenhum. No caso de pessoas com deficiência é muito pior, porque isso reverte em fazer esse deficiente ser um escravo da sua própria vaidade. Estupros, violação, assédio, morte por negligência, doenças por omissão, uso do BPC para pagar aluguéis ou roubados para dar em oferta em igrejas. Tudo isso criando uma roda de doenças mentais, traumas e prisões físicas e psicológicas que colocam pessoas com deficiência numa prisão sem fim. E isso nada tem de ideológico – porque eu não tenho ideologia nenhuma – e sim, humano e se não mudarmos isso é uma tremenda bomba relógio. 




Amauri Nolasco Sanches Junior



domingo, 14 de fevereiro de 2021

A Filosofia explica Paulo Ghiraldelli

 




Eu comecei a ser aluno do Ghiraldelli em 2004, ou 2003, quando meu amigo virtual e sua namorada da época – ambos eram pessoas com deficiência – me indicaram um professor universitário que tinha um grupo de filosofia no Yahoo (o Yahoo tinha grupos que você cadastrava um e-mail e você recebia e mandava para o grupo e iniciava uma discussão). Eu era jovem e inexperiente – embora sempre fui indagador – e achava que ali, pelo menos num primeiro momento, eu aprenderia um pouco o que era filosofia. Nessa mesma época, eu cursava o supletivo do fundamental por não ter tido a chance de ter completado minha escolaridade – que só era até a quarta série nas classes especiais – mas, graças a coleção Os Pensadores que meu pai tinha me dado, eu comecei a me interessar em fazer filosofia. Dado momento – fiquei muito pouco no grupo dele – começamos a discutir sobre o Sílvio Santos fazer a Maísa chorar (na época, ela era muito pequena). Ghiraldelli defendia que Maísa fazia as coisas se divertindo, por isso mesmo, a questão do ECA (Estatuto das Crianças e Adolescentes) não cabe nas crianças que trabalham na TV. Eu indaguei ele e disse que se a lei é para a criança que vende bala no farol, também vale para crianças que trabalham em uma emissora qualquer, porque a lei é para todos. E depois de alguma discussão, sem nenhum argumento, Ghiraldelli me chamou de burro e me expulsou do seu grupo.

Por muitos anos eu tentei entender o que se passava na cabeça dele, pois na minha ideia, eu sempre achava que filósofos eram aqueles que debatiam e chegavam, muitas vezes, em uma conclusão. Não só filósofos e não foi só o Ghiraldelli que fez isso, que mudou a lei e o que está escrito, para caber em seu próprio conceito. Como, por exemplo, um professor de física num grupo de ciência, que modificou a teoria de Newton para caber naquilo que ele acreditava. Eu fui indagar, tomei um banimento do grupo. Daí eu achava que era só nesse nicho por causa da importância que era mostrar que não poderia estar errado por causa do seu diploma, mas a internet cresceu e eu vi, que isso está muito enraizado no nosso meio. A nossa cultura nos fazem mudar ideologias, religiões, disciplinas e até mesmo, tentar mudar a filosofia. Isso é verdade. Um podcast que eu gosto muito teve um episódio no qual falava da filosofia brasileira, que o professor insistia que se deveria deixar as raízes europeias. Só que o termo filosofia e todas as suas ferramentas, são europeias e isso não vai mudar, o que se pode fazer é com essas mesmas ferramentas, ter uma identidade própria e não querer tirar uma certa característica europeia de dentro da filosofia. O negócio é mudar para ter razão. Mas não é a razão de racionalidade, mas a razão de querer estar certo o tempo todo.

A questão dessa reflexão é: por que as pessoas mudam aquilo que elas sabem para justificar as suas crenças? Porque do mesmo modo, que se supõe que a Maísa fazia as coisas brincando - porque não se sabe o que acontecia nos bastidores - podemos afirmar qualquer outra coisa sem nenhum conhecimento daquilo que se supõe saber. Por isso mesmo, Sócrates disse que sabia que nada sabia, pois a cada um cabe dizer aquilo que se sabe e escutar o outro, atentamente, para aprender mais e assim trilhar o caminho do conhecimento. Ghiraldelli não entendeu isso – ele se denomina seguidor do mestre Sócrates – porque chama aqueles que não seguem sua linha de raciocínio de burros, e acha, que está falando grande coisa. Ele diz que Sócrates provocava e não é verdade, Sócrates sempre quis provar que o Oraculo estava equivocado, mas nessa busca a verdade, trilhou o caminho da sabedoria. O conheça a ti mesmo não é um dilema a toa na porta do Oraculo de Delfos, mas é um convite a procurar dentro de si mesmo a verdade e assim, até mesmo Jesus chegou a mesma conclusão, que a verdade vai libertar. Mas não é essa verdade que querem nos ensinar, é a verdade que Platão tentou ensinar no mito da caverna. Estamos na era do mito da verdade.

Essencialmente, se acredita (porque isso não é verdade), que o mito seja uma mera fantasia e não é uma mera fantasia. Mesmo o porquê, dentro da essência da realidade (como verdade em si), não sabemos se estamos num sonho ou que estamos acordados. Aliás, qual é a fronteira de um mundo ao outro? Isso já foi discutido por Descartes quando ele diz que não há diferença em sonhar (pois, há sensações são as mesmas) e estar acordado. E isso é bastante interessante, pois reabre a discussão epistemológica platônica entre a percepção dos nossos sentidos e as múltiplas verdades que podem ocorrer a partir dessa percepção. As pessoas criam as suas verdades a partir daquilo que elas veem ou elas criam verdades que já estão nelas e elas relembram dessas verdades? Claro, quando eu digo verdade, estou me referindo a realidade que nem sempre está relacionada dentro daquilo que é. Você só pode dizer que uma coisa existe ou não, se você tiver referências sejam elas quais for, porque muitas vezes, o sentido podem nos confundir. Por exemplo, podemos pegar o que o Ghiraldelli achava ou acha ainda, e dizer que é só uma crença daquilo que ele construiu como verdade. Ele não conviveu com a Maísa pequena e nem com ela nos bastidores para dizer que ela se divertia fazendo TV ou qualquer outra criança, é apenas uma crença relacionada com o que ele acha. Mas sabemos que dentro da psicologia, se tem um estudo e é quase unanimidade (porque dentro da ciência nada é unânime e nem pode ser), que as crianças constroem seu caráter até os 7 anos de idade. Então, se a pessoa é estúpida, ela aprendeu a ser estúpida com alguém. Se ela é alegre e não liga para nada, aprendeu a ser alegre e não ligar para nada. Mas resta é pergunta: o porquê aprendemos as coisas e o porquê temos consciência dessa realidade? Será que a minha realidade e a percepção dela é a mesma da Maísa?

A Maísa pode ter achado divertido trabalhar em uma emissora ou pode ter feito aquilo porque alguém disse para ela fazer, mas não há certeza disso porque há a dúvida cartesiana, que só temos certeza do que somos. Duvidamos daquilo que os outros nos dizem, porque pode não ser verdade. Pode ser que a Maísa era obrigada a fazer, pode ser que havia todo um aparato lúdico, para que a menina fizesse o que ela fazia, mas não temos certeza de nada. Nem se somos burros ou que não somos. Nem que somos o que somos. Só temos certeza que temos uma consciência e na essência, essa consciência nos diz que é a realidade. Mas será que ela não pode nos enganar? Será que a própria consciência é uma ilusão? Refletimos.


Amauri Nolasco Sanches Junior

domingo, 7 de fevereiro de 2021

O barril da Karol Konká

 


Fonte: aqui


Estamos numa crise moral. Não estou falando do moralismo, mas da moral que tanto Kant enfatizou em suas análises sobre a epistemologia. Pois, como nosso povo confunde milhares de termos e definições, também confundem moral com moralismo. Moralismo, a meu ver, tem a ver com a imposição daquilo que alguma religião ou ideologia costuma acreditar ser o certo. Ai cabe uma ressalva. Porque você fazer um alerta, não quer dizer que você tenha que “cagar” regra, quer dizer que você tem uma visão da moral que pode ser verdadeira ou não. Por exemplo, as pessoas que são evangélicas, cansam de dizer que o Facebook tem pornografia por conta de mulheres de biquini, sendo que pornografia não é isso. Pornografia vem de “pornos” que é prostituta em latim, com "graphô" que é escrever e gravar, ou seja, eram o que as casas de prostituição faziam no muro aos arredores para mostrar que ai haviam prostitutas. Há provas que mulheres de biquini são prostitutas? Claro que não. Há mulheres que querem expor o corpo que é delas e tem todo o direito de expor, o que não quer dizer que isso é pornografia e sim, que isso é um direito. Até mesmo, vai contra a própria individualidade que o próprio cristianismo inventou.

A moral é muito mais complexa do que a pauta tradicionalista, que o brasileiro transformou em conservadora (até a segunda página, como tudo aqui). Moral é uma ética social que há um consenso dentro de uma questão que há um consenso, como matar alguém ou roubar. Por milhares de anos – desde quando foram criadas as sociedades – a sociedade criou um consenso que matar era errado, pegar algo que não é seu, é errado e foi um avanço moral e faz parte da tradição moral. Podemos dizer, que a espiritualidade (que muitos chamaram de Deus), deram a Moisés os mandamentos e esses mandamentos confirmam que matar, roubar e trair, eram morais universais. Você ter vontade não quer dizer que você pode fazer aquilo, mesmo o porquê, duma forma lógica, matar é privar o outro de seu direito de viver. A vontade sempre acaba em tédio, como diria Schopenhauer. Porque podemos ter uma mulher que é casada com outro, mas só somos felizes, segundo o filósofo, até possuímos o que desejamos e quando temos, cairmos no tédio. E sempre buscamos a primeira sensação que nunca volta. Seja na bebida, nas drogas, nas mulheres ou homens, seja em qualquer coisa. Se cai no tédio.

O tédio é a constatação do que Nietzsche disse em que não existe verdade absoluta, e muito menos, fatos eternos. O brasileiro tem uma mania muito enraizada por aqui, em ser nostálgico, porque procura aquela sensação de prazer do mesmo modo que tinha ao ser criança ou assisti a primeira vez aquilo. Não vai ter. Como costumo dizer, o brasileiro tem que aprender que o show acabou, as cortinas abaixaram e as luzes foram apagadas. O prazer pode ser pequenas coisas muito simples, sem baladas estratosféricas, ou encher a cara de cerveja. O tédio invadiu nossa sociedade. Porque todo mundo tem a sua verdade e que aquilo não é absoluto e sim, relativo. A questão é: exstem verdades que não pode ser alteradas ou contestadas, como a Terra sr redonda (ela é achatada nos polos), cairmos e se machucamos se pularmos de cima de uma árvore, o Sol vai brilhar amanhã e que existe sim, determinações morais universais que são essenciais para a boa harmonia social.

Agora imagine um menino trancado dentro de um barril e comendo as próprias fezes que tinha feito no próprio barril. Imagine um politico (governador no caso) discutindo com um comentarista de terceira categoria numa rádio tradicional. Agora, imagina três mulheres negras, vindas da periferia e que humilhando um rapaz bissexual, uma nordestina e ainda, exclui uma outra moça branca por ser branca. A questão é: o porquê o menino comendo a própria merda teve menos importância do que o governador que debateu com um comentarista politico e um programa que não agrega em nada a nossa cultura? Essa é a crise moral. Se tem tanta defesa do menino que fez filme com a Xuxa – só porque ela fez duras críticas ao presidente e seu governo – mas, por outro lado, notícias como do menino trancado em um barril tem menos repercussão. É o lado patológico do ser humano, que para defender uma pauta, devemos esconder os contra e assim, não ter uma discussão saudável. Se defender a família – como eu defendo – é, moralmente, a base da sociedade, mas se deve admitir que existem falhas socioeconômicas, falhas educacionais, falhas de fazer entender que família e filhos, não é um experimento social, é uma responsabilidade. E que você tem que criar os filhos com amor e respeito, e acima de tudo, respeito daquilo que ele é na essência e não fazer dele uma extensão da sua própria vontade.

Se um menino num barril não sensibiliza uma sociedade ao ponto de não abrir uma notícia, como eu posso acreditar se essa sociedade se solidariza com um bissexual no programa BBB? Como assim o menino é menos do que um programa popular? Aliás, o BBB21 serviu, exatamente, o tão demagogo é o discurso da esquerda lacradora e que abraça árvore e que, sim, com uma má educação, o oprimido sempre vai querer oprimir.


Amauri Nolasco Sanches Junior

terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

#PCDVacinaJá - Porque pessoas com deficiência não entram na discussão de inclusão?

 








Minha amiga Lak Lobato – que é surda implantada coclear e tem um blog – fez duas perguntas bastantes interessantes: " (...) só o sentimento de exclusão de pessoas sem deficiência comove? Pessoas com deficiência não valem o debate social?"

Desde muitos séculos, porque não milênios, somos excluídos por milhares de razões e as razões são não ser viável cuidar de uma pessoa com deficiência e não ser viável pessoas com deficiência serem mão de obra. Essas duas coisas não são verdades. Eu, por exemplo, escrevo em um blog e escrevo notícias para um portal e sou cadeirante com sequelas de paralisia cerebral. Em plena era do conhecimento – o sonho iluminista - ainda existem pessoas que acham que somos sofredores, somos pessoas que não podemos fazer as coisas e não podemos trabalhar. Quantos de nós somos modelos fotográficos? Quantos de nós somos publicitários, jornalistas, intelectuais e até mesmo, filósofos? Trabalham fora, saem cedo, andam de ônibus e pega no batente? Somos pessoas, antes de tudo, e fazemos o que todo mundo faz. Esse papo que a ciência vai salvar alguma coisa – sou grato a ciência tecnológica por me fazer cadeiras de rodas e outras coisas, mas... - é tudo balela, pois vimos uma sociedade muito bem-educada, a inglesa, fazendo aborto de diagnósticos de síndrome de Down. A ideia da pessoa sofredora, sempre vai coloca um ponto quando a questão é a deficiência. 

Mas, essa primeira pergunta é valida e pode ser um ponto para começarmos nossa reflexão. será que só as pessoas sem uma deficiência merecem entrar na discussão de inclusão? Por que elas comovem muito mais do que pessoas com deficiência? A resposta tem dois vieses: o do Teleton (a imagem da instituição como cuidadora e protetora das pessoas com deficiência) e o fetichismo da classe especial como ideal de ensino agregando o diferente. O Teleton – que é um programa televisivo que arrecada fundos para a instituição AACD - é a imagem muito antiga de uma instituição cuidando a vida inteira uma pessoa com deficiência para não ficar largada numa rua qualquer ou não passar dificuldades. O termo reabilitação nem é visto e nem é entendido, pois, essas instituições reabilitam as crianças para, exatamente, terem uma vida normal. Não é a vida inteira. em outros períodos, se tem a fisioterapia de manutenção. Porém, e tão cansativo esse cuidado excessivo, que muitos nem voltam a instituição. A maioria da sociedade acha que não podemos fazer as coisas e ainda acham que essas instituições são de internação e há muitas que operam clandestinamente – imagina quantas pessoas com deficiência devem ter morrido de covid-19 nessas instituições – que prendem seus filhos. Mães pouco preparadas para cuidar de pessoas com deficiência e que prendem essas pessoas em suas casas, não deixando namorar, não deixando casar e etc. Socialmente, precisamos ser isolados porque lembramos a humanidade que nem tudo é a perfeição e a felicidade, nem sempre as princesas terão seus príncipes (o romantismo acabou com a humanidade e a era vitoriana criou um mundo a parte). E tem uma coisa para concluir, a união do segmento deveria ser primordial dentro da luta. Pois, não interessa se uma é surda, a outra é paraplégica, outra tem sequelas de paralisia cerebral, todas são pessoas com alguma deficiência. A eficaz da luta LGBT+ e outros, é exatamente, que a luta é uma só. 

Isso remete a segunda pergunta. Será que as pessoas com deficiência não valem um debate social? Não. Porque nem sempre pessoas com deficiência interessam ou dão audiência, porque não é uma categoria que comove numa vida “normal”. ela comove numa forma de institucionalizar o debate em aliviar o sofrimento dessas pessoas, mas não incluí-las. Quantas mulheres com deficiência não denunciaram o próprio movimento feminista de não enxerga-las como sexualizadas? Pois, a imagem das mulheres com deficiência são de pessoas infantis e cuidadas pelos pais - será um resto de pensamento patriarcal? - e nunca terão uma vida sexual normal. Então, a infantilização da deficiência também colabora com o não debate dessa categoria e somos vistos como alguém que não vale a pena nenhum debate. 

Amauri Nolasco Sanches Junior