sábado, 20 de fevereiro de 2021

A Era da Filosofia Funkeira





Essa questão apareceu num grupo de filosofia e achei interessante escrever um texto, pois, ainda confundimos filosofia, erudição e intelectualidade. Você ser um erudito não quer dizer que você pode ser um filósofo, pois, o filósofo pode ter uma erudição, mas um erudito e um intelectual, não questionam aquilo que leram nos livros. Depois, fui procurar o que seria <afeito> e descobrir, no Aurélio, que o termo <afeito> tem a ver com <acostumado> e você achar que o filósofo só é afeiçoado aos assuntos eruditos, não é verdade. Inclusive, o modo clássico – que o autor, muito provavelmente, quis dizer a filosofia nos tempos clássicos dos gregos e latinos – já foi discutido e não estamos no mundo clássico, pois, queiramos ou não, nós estamos na filosofia contemporânea, sedimentada nos estudos das outras filosofias. Analisando a primeira parte da oração, vamos ao que podemos chamar de segunda parte da questão (que podemos chamar de problema). 

O que seria uma <filosofia funkeira>? Segundo o próprio autor, a chamada <filosofia funkeira> é uma filosofia mais <popular> o que poderíamos presumir, uma filosofia do senso comum. Muitos dos meus colegas que gostam de filosofia, concordariam com o autor do questionamento, pois já expressaram seu descontentamento com pessoas que falam de filosofia do YouTube e até mesmo, os chamados <filósofos pops>. A meu ver, muitas coisas eu enxergo num modo de filosofia – até mesmo os heróis da Marvel e da DC, nos animes e em filmes considerados “violentos” - e não acho que só o modo <erudito> pode ser analisado, porque na vida cotidiana você fala como outra pessoa qualquer. Mesmo num grupo, você não tem compromisso de ser erudito no Facebook e nem na sua vida. Por outro lado, podemos ver em muitos comentários e questionamentos – que chamamos de tópicos – que as questões se decaíram por causa da crescente adesão a religiosos querendo converter ateus e ateus não sabendo nem argumentar, porque não leram a bíblia e não estudaram (podemos ver isso também no ateísmo militante pop). 

Mas, num modo mais profundo da questão: o que fez o autor fazer esse questionamento do grupo? E indo mais além: o porque o autor disse que lá existe uma <filosofia funkeira>? O Funk Carioca (vugo pancadão), tem uma forma peculiar de ser, eles mostram o que é falado nas periferias mais pobres, pois, os adolescentes só querem saber disso. Primeiro, que a maioria das pessoas que moram nessas regiões são analfabetas ou ignorantes tendo de trabalhar e a grande maioria não estão acostumadas a ler ou não tem tempo. E os filhos, ou estão em algum celular ou estão nas ruas, aprendendo as coisas num modo irresponsável (porque, sim, existem educações erradas) e não são incentivados a lerem, a adquirirem uma certa erudição e ainda, são ensinados que serem inteligente (num modo de terem mais cultura) é chato, é fora da realidade. Que aliás, o funk é um machismo muito bem-vindo, pois chamam as mulheres de <cachorra>, incentivam os estupros, e todo modo de pensar que a esquerda brasileira diz ser contra. 

Não parece, mas, existe uma análise linguística dentro do funk que remonta as diversas linhas filosoficas que, nós filósofos, estamos acostumados. Existe uma música que diz: <foca na beleza> (ela tem só isso mesmo), que remonta o quanto o ser humano <foca> em uma coisa <bela> e o quanto as mulheres, quando estão interessadas no cara (ou até mesmo, mostrar ela), querem que eles foquem na beleza. Um modo, completamente, estético de pensar. Ou quando dizem <tu ta querendo> mostra a atração que as mulheres exercem nos homens e como esse poder, muitas vezes, é sim de modo em querer seduzir o homem em questão. Isso entra na ética. Como vimos, a nossa realidade, seja qual for, pode ser questionada e analisada (que chamamos de crítica), pois, todos os objetos dos estudos filosóficos são linguísticos. E estudando a nossa língua portuguesa, me deparei com uma coisa, não se muda a língua de cima para baixo, se muda a língua de baixo para cima. 

O que mudou do latim para o galego-português foi o latim vulgar, ou seja, o que mudou foi a língua falada. Se escrevia da mesma maneira que se falava – os nobres que podiam aprender a escrever – então, termos como <cabbalos> viraram cavalos, e por ai vai. E se não entendermos isso, é impossível falar de uma certa erudição. Pois, a uns cem anos atrás, em vez de se falar Você, se dizia <vossa mercê> e agora, na era digital, se escreve <vc>. Muitas pessoas falam <a gente fala>, mas, não é assim e sim, <nós falamos>. Mas, qual está errado se nas duas maneiras foi entendido? Será que não se entendeu a realidade ai? Talvez. Quando se diz <a> poderíamos dizer ser um artigo, junto com aquilo que queremos dar um número ou designar uma pessoa como <a gente>, só que esse termo não existe e não está certo, pois é <nós> em vez de <a gente>. O <gente> veio do latim <gens> que quer dizer raça, clã, família num sentido mais amplo ou família nobre. Porém, o sentido contemporâneo mudou muito e agora quer dizer um número determinado de pessoas ou pessoas com interesses semelhantes. O termo <nós>, em alguns dicionários etimológicos, dão em sinônimo <a gente>. Ora, está errado ou está certo? Então, nós <eu e os outros> falamos e a gente <pessoas com interesse comum> falamos. 

Falar é se expressar e na hora de se expressar, devemos ter cuidado, ora para não ofender, ora para deixar claro o que queremos dizer e o mais importante, sempre focar no assunto tratado. Pelo que eu vejo nos grupos, muitas pessoas têm um certo carimbo mental que comenta tal assunto para confirmar suas convicções e para dizer, que sabe mais do que os outros. Por exemplo, se você postar sobre religiões em um tópico, logo vai ser associado a questão de <Deus>. Todos que estudam seriamente filosofia sabe, que Kant <que era protestante> diz que a questão de Deus é uma questão pouco importante, ou melhor, uma falsa questão. Mas, se insiste em discutir essas questões, não porque as pessoas querem chegar a uma verdade, mas porque querem ter razão. O próprio Kant disse que é uma questão que não dá para provar ou saber se é verdade (talvez num futuro bem distante, possamos descobrir a verdade). Nem sempre uma religião tem um <Deus> ou alguma <divindade> e sim ter a doutrina de religar o ser humano ao universo, por exemplo. 

Ora, e não é só no funk que a cultura popular se expressa, no sertanejo, principalmente o universitário, também existem elementos populares como a traição, a poesia cavalheiresca que a dama não pode ficar com o cavalheiro. Aliás, isso herdamos das canções bardas onde o cavaleiro apaixonado não poderia ficar com a dama (princesa), pois, era prometida de outro (em alguns casos, traia o rei com o cavaleiro, mas é uma outra história). Na verdade, durante a idade média o amor era uma doença (esqueçam os filmes). Se é ruim ou não, podemos avaliar segundo nosso gosto, mas que a filosofia analisa tudo, isso temos que ter certeza.



Amauri Nolasco Sanches Júnior

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