terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

#PCDVacinaJá - Porque pessoas com deficiência não entram na discussão de inclusão?

 








Minha amiga Lak Lobato – que é surda implantada coclear e tem um blog – fez duas perguntas bastantes interessantes: " (...) só o sentimento de exclusão de pessoas sem deficiência comove? Pessoas com deficiência não valem o debate social?"

Desde muitos séculos, porque não milênios, somos excluídos por milhares de razões e as razões são não ser viável cuidar de uma pessoa com deficiência e não ser viável pessoas com deficiência serem mão de obra. Essas duas coisas não são verdades. Eu, por exemplo, escrevo em um blog e escrevo notícias para um portal e sou cadeirante com sequelas de paralisia cerebral. Em plena era do conhecimento – o sonho iluminista - ainda existem pessoas que acham que somos sofredores, somos pessoas que não podemos fazer as coisas e não podemos trabalhar. Quantos de nós somos modelos fotográficos? Quantos de nós somos publicitários, jornalistas, intelectuais e até mesmo, filósofos? Trabalham fora, saem cedo, andam de ônibus e pega no batente? Somos pessoas, antes de tudo, e fazemos o que todo mundo faz. Esse papo que a ciência vai salvar alguma coisa – sou grato a ciência tecnológica por me fazer cadeiras de rodas e outras coisas, mas... - é tudo balela, pois vimos uma sociedade muito bem-educada, a inglesa, fazendo aborto de diagnósticos de síndrome de Down. A ideia da pessoa sofredora, sempre vai coloca um ponto quando a questão é a deficiência. 

Mas, essa primeira pergunta é valida e pode ser um ponto para começarmos nossa reflexão. será que só as pessoas sem uma deficiência merecem entrar na discussão de inclusão? Por que elas comovem muito mais do que pessoas com deficiência? A resposta tem dois vieses: o do Teleton (a imagem da instituição como cuidadora e protetora das pessoas com deficiência) e o fetichismo da classe especial como ideal de ensino agregando o diferente. O Teleton – que é um programa televisivo que arrecada fundos para a instituição AACD - é a imagem muito antiga de uma instituição cuidando a vida inteira uma pessoa com deficiência para não ficar largada numa rua qualquer ou não passar dificuldades. O termo reabilitação nem é visto e nem é entendido, pois, essas instituições reabilitam as crianças para, exatamente, terem uma vida normal. Não é a vida inteira. em outros períodos, se tem a fisioterapia de manutenção. Porém, e tão cansativo esse cuidado excessivo, que muitos nem voltam a instituição. A maioria da sociedade acha que não podemos fazer as coisas e ainda acham que essas instituições são de internação e há muitas que operam clandestinamente – imagina quantas pessoas com deficiência devem ter morrido de covid-19 nessas instituições – que prendem seus filhos. Mães pouco preparadas para cuidar de pessoas com deficiência e que prendem essas pessoas em suas casas, não deixando namorar, não deixando casar e etc. Socialmente, precisamos ser isolados porque lembramos a humanidade que nem tudo é a perfeição e a felicidade, nem sempre as princesas terão seus príncipes (o romantismo acabou com a humanidade e a era vitoriana criou um mundo a parte). E tem uma coisa para concluir, a união do segmento deveria ser primordial dentro da luta. Pois, não interessa se uma é surda, a outra é paraplégica, outra tem sequelas de paralisia cerebral, todas são pessoas com alguma deficiência. A eficaz da luta LGBT+ e outros, é exatamente, que a luta é uma só. 

Isso remete a segunda pergunta. Será que as pessoas com deficiência não valem um debate social? Não. Porque nem sempre pessoas com deficiência interessam ou dão audiência, porque não é uma categoria que comove numa vida “normal”. ela comove numa forma de institucionalizar o debate em aliviar o sofrimento dessas pessoas, mas não incluí-las. Quantas mulheres com deficiência não denunciaram o próprio movimento feminista de não enxerga-las como sexualizadas? Pois, a imagem das mulheres com deficiência são de pessoas infantis e cuidadas pelos pais - será um resto de pensamento patriarcal? - e nunca terão uma vida sexual normal. Então, a infantilização da deficiência também colabora com o não debate dessa categoria e somos vistos como alguém que não vale a pena nenhum debate. 

Amauri Nolasco Sanches Junior

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