domingo, 31 de janeiro de 2021

Rojões e o choro do Fiuk






O cantor Fiuk – na verdade, eu nem sei o que ele é – chorou nessa semana no reality show BBB21 (Big Brother Brasil) e fez um discurso muito patético, o discurso da moda, pedir desculpas por ser homem. Por que eu pediria desculpas por eu ser homem? O problema não é ser homem, o problema é ser machista e achar que mulher é um objeto do seu próprio uso e simular uma superioridade moral que nunca tivemos, porque não há na nossa cultura nenhuma superioridade moral. Isso tem muito a ver com o filósofo Jean Baudrillard quando ele expõem a sua hiper-realidade como modo de controlar as massas e dará um exemplo, no livro Simulacros e Simulações, o programa que fez muito sucesso nos anos 70 (século 20), do que ele chamou de TV-Real. O programa dos moldes dos realitys shows – naquele tempo não se tinha ideia desse tipo de programa da realidade – em que uma família é mostrada e ela se desfez diante das câmeras. Ou seja, Baudrillard lança a pergunta: se as câmeras não tivessem ali, a família iria se divorciar? Se eles não tivessem sido filmados ainda eles existiriam como família? O mesmo eu poderia perguntar: será que se não tivesse sido filmado, Fiuk choraria e pediria desculpas por ser homem? É difícil de afirmar. 

Parece-me que o mundo contemporâneo tem uma certa aversão ao anonimato. Se antigamente escritores, jornalistas, poetas, filósofos ou etc., gostavam de inventar pseudônimos para deixá-los no anonimato, hoje quanto mais seu nome tiver destaque, melhor. A realidade vira uma hiper-realidade a partir de uma aparência, moldadas graças a um discurso. Dai entra o simulacro cultural onde se escondem o anonimato transvestido de celebridade. Mas, quem são aqueles personagens que aparecem no big brother (O Grande Irmão)? Quem é você que tem milhões de seguidores no Instagram? Um anônimo famosinho que não tem personalidade, portanto, sem a alma. Então, nesse mundo virtual e, muitas vezes, o mundo dito real, o discurso de Baudrillard tem razão. Porque as pessoas sempre estão envolvidas em simulacros. simulacros são representações, ou seja, ídolos que as pessoas se apegam para serem algo e a partir desses ídolos, simulam uma realidade que não existe. O brasileiro tem muito disso, não só na politica – que ocorreu um certo interesse recente – mas trouxe para o debate politico um simulacro futebolisco onde se você faz critica em um time, você fará parte do adversário. Na cultura brasileira, tudo vira extremismo. 

A TV-real, que Baudrillard diz tanto no seu livro, inventou milhares de simulacros que não sabem mais se livrar, como se construíssem seres para dominar a grande massa, mas agora que não interessa mais, eles querem matar esses seres. Tarde demais. Os seres já tomaram conta da cultura como um vírus que toma conta de um sistema e se transforma, caracteriza dentro daquele sistema. O rojão é um simulacro de simular uma comemoração - caracterizado uma felicidade, mas só houve um momento de alegria - mas não passa de simulação de apoio, porque não se está apoiando nada e sim, do anonimato a um torcedor chamando a atenção. Não é uma comemoração, é só um barulho. O brasileiro nunca gostou do silêncio, porque acha o silêncio uma coisa triste ou não consegue ficar consigo mesmo. Um nada dentro dele onde só existe um espírito de rebanho, um simulacro que não existe e não faz parte do mundo, só no mundinho dele. O ser que tomou conta do sistema de rebanho, uma doença que corrói o corpo social. 

Nesse mundo fechado, a grande maioria não tem uma educação social adequada e ética. Primeiro, porque a direita com seu discurso demagogo e hipócrita inventou o conceito de rebanho (por causa da mão de obra), a esquerda inventou o conceito que há uma guerra de classe e que as indústrias discriminam as minorias. Segundo, como disse acima, a TV inventou esses simulacros para segurarem suas audiências e alienar cada vez mais, a grande massa vazia de significado. Terceiro, uma educação vagabunda que não ensina nada e só é sala de desabafo de professor frustrado. Fora a educação familiar, também, bastante hipócrita. Assim, como nação, somos nada porque sempre o brasileiro se auto boicotou em nome do seu mundinho, em nome do próprio umbigo inflamado. Traumas de uma paternidade não assumida? Traumas de não poder brincar com seu trenzinho ou o pai ficou o dia inteiro no bar e não tinha dinheiro para comprar um trenzinho? Vai lá saber. O mundo é muito mais amplo, não só tem ele no mundo, não só ele vai ouvir o rojão. O barulho pode incomodar a vizinhança. O barulho pode incomodar animais, causar pânico em autistas. Simulacro brasileiro causa sofrimento, muito mais, pelo próprio povo. 




Amauri Nolasco Sanches Junior



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