terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Capacitismo – quando a ciência fica a cargo de NaziMédicos

 







Tudo começou quando o fundador de um projeto chamado Serendipidade e pai de um garotinho com down, Henri Zylberstajn, postou uma conversa de WhattsApp entre o médico e a mãe que tinha acabado de descobrir que seu filho tinha Síndrome de Down. O médico disse que a mãe “não merece castigo tamanho” e que “Deus vai ajudá-los a resolver esse dilema”. Então a mãe responde que “não é um castigo. Fui abençoada com ####. a síndrome de down é apenas uma condição que requer uns cuidados e ele está sendo muito bem cuidado”. Ora, uma resposta para uma afirmação que não deveria ter feito, quanto mais, de uma pessoa que se diz médico. Mas, Henri ainda diz que o médico (que não acredita que o médico teve a intenção) deu a resposta, porque nossa sociedade ainda acredita que as deficiências são um sofrimento. Eu acho que o médico não pode ficar  isento daquilo que ele disse, mesmo o porquê, ele é um médico. E a ciência trabalha com probabilidade e não com certezas absolutas, pois tudo pode ser falseado e se pode, é científico.

Dias desses eu fiz um texto expressando minha opinião sobre a liberação na Inglaterra de abortarem caso o feto seja diagnosticado com síndrome de down, pois, dizem que é um direito da mãe e do pai. E estamos falando de um povo estudado e com recursos diversos que acham, que a síndrome de down é um sofrimento. O mesmo povo que lutou e foi bastante ameaçado pelos nazistas. Assim, podemos dizer que até mesmo para temos liberdade temos que ter ética e saber que não existe uma possibilidade, mas milhares de possibilidades. Afinal, não existem verdades absolutas. O que acontece, é que com essas várias probabilidades, podem dar um diagnostico e podem errar, e muitas vezes, o feto abordado pode ser normal. Não existem uma verdade, uma certeza e cientistas deveriam saber disso. Teoricamente, o médico ali, é um cientista e deveria se comportar como tal, não como um pároco ou um curandeiro medieval.

O médico disse em “dilema”. Ora, o que seria um dilema? Nós, filósofos, dizemos que um dilema é um raciocino que parte de premissas (ponto ou ideia de que se parte para armar um raciocínio) contraditórias e mutuamente excludentes, mas que paradoxalmente terminam por fundamentar uma mesma conclusão. Ou seja, em um dilema, pode ocorrer a necessidade de uma escolha entre alternativas opostas entre A e B, que pode resultar em uma conclusão ou uma consequência C, que deriva necessariamente tanto de A quanto de B. Então, podemos presumir que o médico tenha sugerido que se a mãe não quisesse ou internar ele, ou sei lá, pois, não quero incriminar o médico, mas, são as únicas premissas que podemos concluir. Porque segundo o fundador do projeto – esta até na reportagem do blog VencerLimites – o menino já tem seis meses, ou seja, se ela ainda estiver grávida não dá para abordar (mesmo nesses casos é crime), se ele estiver nascido seria antiético abandonar a criança e seria crime matar ela. Então que dilema é esse? Força de expressão? Ou um médico, estudado, que teoricamente, tinha que saber escrever não sabe o que é um dilema?

Mas o cerne do problema sempre é o capacitismo, que rodeia a humanidade por séculos afora. Só que estamos no século 21, temos remédios melhores, temos aparelhos melhores, temos tratamentos melhores e temos mais conscientização da maior parte das mães. Tanto é, que a grande maioria foi contra o decreto do Bolsonaro de criar classes especiais—que alias, ao responder a uma suposta professora, disse que as crianças com deficiência atrasam a classe – por não quererem que seus filhos fossem trancados dentro de instituições. Ora, eu mesmo ouvi muita coisa desse tipo dos médicos da AACD (pelo menos, nos anos 80 e 90), onde eles diziam que não iriamos andar, que não éramos capazes de se virar e etc. Como um médico, que é um cientista, não deveria usar afirmações, pois, dentro da ciência não existem elas.



Amauri Nolasco Sanches Júnior



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