Na campanha de vacinação contra o COVID_19, o governo de São Paulo se esqueceu que existem muitas pessoas com deficiência que estão no grupo de risco, são vulneráveis. Ora, será que os médicos não sabem disso? Não. Vendo eles procurarem o CID na internet, vendo eles dizerem que síndrome de down é castigo e vendo que existem médicos que não sabem tratar certas deficiências, tenho minhas dúvidas se as universidades estão em boa qualidade. Médicos não deveriam fazer previsões (não são videntes, são cientistas), deveriam saber das deficiências, deveriam saber o CID certo para cada deficiência, alguns até mesmo, deveriam fazer um exame psicológico para exercer a profissão. Estranho, que as universidades de medicina andam fazendo um trabalho bastante lamentável de ensino, pois, existem aspirantes de enfermagem pretendendo cuidar de idosos, e não cuida da própria irmã com deficiência.
Mas, para responder a pergunta do título, temos que recorrer ao que pensa a sociedade também. Podemos ter uma ideia quando uma suposta professora chega ao presidente para reclamar que o Supremo revogou um plano para não haver inclusão nas escolas (classes especiais), e o presidente respondeu que crianças com deficiência eram atrasadas e atrasariam toda a classe. Isso mesmo. Enquanto o mundo inteiro – ao que parece, menos os países eugenistas como a Inglaterra que permite abortos em crianças com síndrome de down – inclui as pessoas com deficiência porque é mais barato (uma rampa é mais barata do que uma escada), o Brasil sempre está atrasado e gastando “rios de dinheiro” em soluções que não dão certo. Por quê? Uma é que o pessoal daqui gosta do caminho mais fácil e outra é que nunca houve, nem vontade politica (porque a elite nunca quis), e nem estudo necessário, para se modernizar o país. Por outro lado, nossa burguesia ainda acha que o Brasil está no século dezenove, onde precisava de trabalhadores braçais. Ignorantes e que não questione as coisas.
Nós, pessoas com deficiência, éramos trancados dentro de casa, éramos internados em hospitais ou instituições, éramos esquecidos porque não podíamos sair ou ter uma vida “normal”. Hoje já podemos ter uma vida normal. Mesmo que exista pessoas com deficiências trancadas por causa de namoro, pessoas com deficiência que não trabalham por causa do pensamento vigente de incapacidade e ainda aqueles que usam a deficiência para pedirem as coisas. Quem garante que o dinheiro não vai para a família da pessoa com deficiência? Quem garante que não usam esse cadeirante como fonte de renda da família? Existem várias famílias que usam o beneficio da pessoa com deficiência como dinheiro do aluguel, para comprar coisas para eles e quando pessoas dão coisas, usam como se fossem deles. Muitas vezes, mães tiram as cadeiras de rodas das filhas por causa de namoro, por causa de subproteção. Mães narcisistas são a prova cabal que a psicopatologia é uma realidade no Brasil. Muitas mães acham que os filhos têm que ir em uma escola com classes especiais, porque acham que eles estão seguros. As piores brigas são em escolas especiais, os piores tombos são em escolas especiais, as piores coisas acontecem em escolas especiais e ainda, sexo rola solta bem mais fácil em escolas especiais.
Depois dessa análise minuciosa sociológica, a resposta fica obvia. Não somos prioridade porque a maioria da sociedade – ignorante e mal-educada – acha que não somos pessoas.
Amauri Nolasco Sanches Junior
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