Assisti ao filme do Dr Estranho 2 no Disney +, e o que eu gosto é o quanto esse tipo de filme questiona a realidade. No filme – sempre numa pegada bastante mística e se você não souber, fica mesmo perdido – é mostrada quanto podemos questionar nossa realidade sem usarmos pseudociência e sem misticismo barato de coach. Aliás, detesto livros e vídeos de qualquer tipo de coach, pois, não estão levando o real conhecimento, estão levando um pseudoconhecimento em nome do seu próprio favorecimento. O que acontece – como é, claramente, mostrado no Mito da Caverna de Platão – existem os teóricos que tentam explicar as sombras, mas, elas não deixam de ser sombras para eles porque não querem sair da caverna. Ou num modo mais moderninho, sair da Matrix.
Na essência, a caverna ou a Matrix, tem muito a ver com a
nossa realidade das formas e na linguagem que compartilhamos com as informações
que essa mesma realidade nos mostra o tempo todo. No filme, se mostra muito a
teoria do multiverso – que podemos arriscar que é uma teoria quântica, sem ser
coach – onde há uma sabedoria antiga do Livro Negro (black holy), onde se
mistura mundo contemporâneo e magias de tradições muito antigas. Para quem lê coisas
místicas, como eu, a magia onírica não é novidade e é descrita até mesmo, pelo
budismo – pelo menos, a parte mística dele – tibetano e algumas tradições místicas.
Aliás, relatos budistas dizem, que o Buda original (Sakiamuni) nasceu no Tibete
quando esse pertencia a Índia. O fato é – algumas pessoas não sabem – que todas
as religiões têm seu lado exotérico e místico (inclusive, o cristianismo).
A questão é: por que devemos questionar nossa realidade? Como
disse num outro texto lá que escrevi no Prensa, a realidade tem dois meios para
se manifestar. O primeiro – que foi discutido em exaustão por filósofos e místicos
– foi as formas, que o mestre Platão, nos trouxe em forma de mito ou teorema da
caverna. Diz o filósofo francês Paul Ricoeur – no livro “Ser, Essência e Substância
em Platão e Aristóteles” – citando outros pensadores, que Platão pegou o termo “eidos”
da forma popular (senso comum) com o significado <<contorno>> e
colocou como “idea” e deu um outro significado, forma. Ora, se “eidos” tem o
significado contorno, poderíamos dizer, que as formas são apenas contornos de
um objeto? Se sim, então, o que olhamos são apenas formatos de uma realidade e
assim, tem certos significados. Mas, no fim das contas, não tem essência nenhuma.
No filme, tanto a Feiticeira Escarlate (um upgrade da Wanda),
quanto o Dr Estranho e, por que não, os magos (até mesmo a América), tem
facilidade de modificar e mover certos objetos. Ora, muitos já discutiram se
algum dia aconteceu ou poderá acontecer, que os seres humanos vão poder mover
objetos através da mente. Muitos místicos acham que com bastante treinamento,
alguns sujeitos podem fazer isso e até ler outras mentes. Mas, indo além, tem a
ver com o mundo metaverso onde poderemos um dia, viver em um outro mundo dentro
de uma rede social. poderíamos criar uma outra realidade a não ser, esta? Poderíamos,
algum dia, achar meios de viajar em outras realidades? Isso já foi questionado
em outras series e filmes – como Fringe e outros – mudando nossa própria realidade?
Ou essas realidades iriam se colapsar (como é mostrada no filme)?
Talvez, os estudos de Platão – que a tradição diz que chega
as sabedorias egípcias chegando a Índia – ele viu que na forma das coisas, estejam
meios de saber como se controla essas formas. Mas, existe um outro problema, se
existem formas, existem os nomes que chamamos esses objetos. Chegamos no outro
meio de manifestação da realidade, a linguagem. Se existem formas que essas
coisas nos mostram, existem nomes que essas coisas se manifestam, também. Símbolos
que mantem coerência a realidade. Porém, uma rosa é uma rosa por causa da cor
ou a cor vem da rosa? O vinho perde a essência da uva quando fermenta e se
torna vinho? Talvez, a questão alquímica de transformação, seja, afinal, uma questão
de mudar a linguagem e a forma daquilo. A transformação do objeto por outro –
no caso o ouro – é uma questão de mudança de código molecular, do mesmo modo,
mudar o algoritmo virtual.
Já repararam que tudo tem um código e através desse código existe
a evolução existencial? Um código de uma ave não é o mesmo de um mamífero, e
cada mamífero tem o seu. Mesmo assim, a vida e tudo que existe dentro da nossa
realidade, tiveram uma mesma origem. e nos perguntamos: por que existem coisas
animadas (vida) e outras não animadas? Qual o objetivo disso tudo? E o mais incrível,
questões existencialistas recaem – sejam elas ateias ou não – dentro do
conhecimento e como evoluímos dentro dos inúmeros recomeços que nosso planeta
teve. Mas, esses recomeços foram, sempre, com seres melhorados e muito mais
adaptados do que outros, e que, aparece a consciência. A renovação se dá através
de informações e melhoramento dessas informações e a consciência – que outros
animais podem ter em um outro nível – nos remetem a percepção da realidade e suas
mudanças.
A mística, assim como a física teórica, não fala línguas diferentes.
Como dois carpinteiros que usam ferramentas diferentes para montar o mesmo
modelo de cadeira, a mística e a física, dizem a mesma coisa de maneira
diferente. A forma da cadeira é a mesma e o nome “cadeira” é o mesmo. A maneira
de construção dessa cadeira que muda. E se
num universo a mesa chamar cadeira e a cadeira chamar mesa? E se em um outro
universo eu não tiver deficiência? E posso viajar na maionese, e se em um outro
universo Marte ter vida e aqui não? Existem várias possibilidades que podem
acontecer, mas, só uma possibilidade pode vingar, ou essas possibilidades dependem
da utilidade e da variante mais cotada. Imagina se os neandertais vingassem, será
que a evolução humana era a mesma?
Amauri Nolasco Sanches
Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário
e escritor do blog Filosofia sobre rodas