domingo, 5 de junho de 2022

Quem é Carolina?

  


Printei do Almanaque em PDF



Nesses dias, estava lendo um Almanaque de histórias em quadrinhos da Disney – em PDF de 1971 – e vi a propaganda da Carolina, uma revista que virava uma boneca. Eu lembrei que a minha mãe – grande leitora – tinha uma boneca dessas na parede de casa e, queria chamar minha irmã de Ana Carolina. Mas, contava ela, eu tinha uma amiga que chamava Andrea e insisti que o nome da minha irmã fosse Andrea. Existem coisas que relembramos e que trazem outras lembranças. Por outro lado, nos faz pensar na criatividade e nas coisas que eram produzidas – como marketing mais barato – do que agora. Quando você comprava um computador – até pouco tempo atras – você ganhava um CD (Compact Disc) e hoje, você nem usa mais CDs. Progresso ou exploração? Uns vão dizer que é exploração da marca do produto, outro vão dizer que a tecnologia avançou e não precisamos de discos compactos para armazenar dados, tudo se resume nas nuvens.

Hoje, dificilmente, uma criança iria querer uma Carolina, só aquelas que a mãe cultiva certas educações tradicionais brasileiras. Porém, muito raro uma criança não estar em um mundo digital, um mundo que ela pode se interagir e que ela, sem medo de errar, pode se identificar muito mais. será mesmo? Tenho minha própria teoria: porque as pessoas sempre vão ver a realidade das suas vidas como elas viveram desde então. Até ai nenhuma novidade, acontece que muitos que acham – porque não tem certeza – vão ver a realidade como eles estão acostumados verem. Pensei nisso lendo o livro A Hipótese da Simulação de Rizwan Virk, pois, como cientista da computação, faz sentido para ele que podemos ser uma simulação computacional. Por outro lado, ele sempre foi fissurado em videogames. A realidade dele vai ser sempre uma realidade daquilo que ele viveu e sempre vai fazer sentido essa hipótese – que não é dele, mas abraçou a causa – assim como outras hipóteses vão ser aceitas por outras pessoas porque viveram isso.

Veja, não estou relativizando a realidade, longe disso. Estou dizendo que as realidades são construídas – num modo de fenômeno da consciência – dentro de memorias afetivas e dentro dessas memorias afetivas existem um certo conforto de estar lá. Como a propaganda da revista antiga fez eu lembrar da boneca da Carolina da minha mãe – em meados dos anos 80 – onde eu reativei uma memória gostosa e fiquei feliz em reativar, mas, eu sei que o passado são meras lembranças gostosas ou não. A questão é que a grande maioria – grande mesmo – não larga o passado e fica nele por acharem incapazes de viver no meio da tecnologia. Dentro da tradição filosófica chamamos de românticos (que nada tem a ver com amor entre duas pessoas). Na sua essência, a técnica sempre acompanhou o ser humano em sua história evolutiva – aliás, foi isso que nos fizeram sair do nomadismo e sermos agricultores – e nada vai mudar porque sempre a sociedade inventa uma moral nova.

Ter uma memória do passado, a meu ver, tem problema nenhum. O problema é achar que toda mudança vai prejudicar ou é algo que você nem estudou, seja para defender, seja para criticar. Como as críticas do seriado da Netflix, Strange Things, onde acontece nos anos 80 e ali tinha a guerra fria, tinha os preconceitos, tinha outras coisas que não cabe agora. Mas, tinha. E ninguém faz os norte-americanos de bonzinho, mesmo o porquê, o exército americano quer destruir a 11. Também, as coisas não podem ser reduzidas entre concepções binarias como certo ou errado, bem ou mal, direita ou esquerda etc. Isso reduz muito a discussão e pode ater em aspectos que podem mudar conforme aquilo não servir mais. A democracia norte-americana tem a tradição de alternar entre democratas e republicanos, porque isso traz um equilíbrio saudável no regime democrático. O que acontece é que uma nação sem uma escolarização adequada – até meu pai concorda – traz consequências absurdas e governos que acabam com o país. Ideologias são só máscaras para esconder um sistema muito maior.

Eu tenho a tendencia de concordar com Platão, você não elege qualquer um para pilotar um navio. Do mesmo modo, teríamos de sempre eleger aquele preparado para comandar e resolver os problemas que surgem e isso tem nada a ver com direito ou esquerda. Ninguém aqui sabe realmente o que é liberalismo ou é comunista, pois, os liberais não faziam como MBL (Movimento Brasil Livre) fazem, defender a todo custo um capitalismo atrasado onde o patrão sempre quer explorar o empregado ou quer um jardim de pessoas perfeitas e lindas na sua empresa. Assim como, ninguém sabe o que é socialismo/comunista, onde nem mesmo Marx se dizia marxista. Por quê? Por causa das distorções das questões essenciais do capitalismo. Ele mesmo disse que se deveria superar o capitalismo – lembramos que superar não é destruir – e não encher o saco e dizer tantas baboseiras como os marxistas sempre dizem. A questão é muito mais profunda do que meia dúzia de opiniões vagabundas.

Opiniões ou não, a Carolina não existe mais e, paradoxalmente, só ficou uma lembrança dela.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e futuro bacharel em filosofia.




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