Printei do Almanaque em PDF |
Nesses dias, estava lendo um Almanaque de histórias em
quadrinhos da Disney – em PDF de 1971 – e vi a propaganda da Carolina, uma
revista que virava uma boneca. Eu lembrei que a minha mãe – grande leitora –
tinha uma boneca dessas na parede de casa e, queria chamar minha irmã de Ana
Carolina. Mas, contava ela, eu tinha uma amiga que chamava Andrea e insisti que
o nome da minha irmã fosse Andrea. Existem coisas que relembramos e que trazem
outras lembranças. Por outro lado, nos faz pensar na criatividade e nas coisas
que eram produzidas – como marketing mais barato – do que agora. Quando você
comprava um computador – até pouco tempo atras – você ganhava um CD (Compact
Disc) e hoje, você nem usa mais CDs. Progresso ou exploração? Uns vão dizer que
é exploração da marca do produto, outro vão dizer que a tecnologia avançou e
não precisamos de discos compactos para armazenar dados, tudo se resume nas
nuvens.
Hoje, dificilmente, uma criança iria querer uma Carolina, só
aquelas que a mãe cultiva certas educações tradicionais brasileiras. Porém,
muito raro uma criança não estar em um mundo digital, um mundo que ela pode se
interagir e que ela, sem medo de errar, pode se identificar muito mais. será
mesmo? Tenho minha própria teoria: porque as pessoas sempre vão ver a realidade
das suas vidas como elas viveram desde então. Até ai nenhuma novidade, acontece
que muitos que acham – porque não tem certeza – vão ver a realidade como eles
estão acostumados verem. Pensei nisso lendo o livro A Hipótese da Simulação de Rizwan
Virk, pois, como cientista da computação, faz sentido para ele que podemos ser
uma simulação computacional. Por outro lado, ele sempre foi fissurado em
videogames. A realidade dele vai ser sempre uma realidade daquilo que ele viveu
e sempre vai fazer sentido essa hipótese – que não é dele, mas abraçou a causa –
assim como outras hipóteses vão ser aceitas por outras pessoas porque viveram
isso.
Veja, não estou relativizando a realidade, longe disso. Estou
dizendo que as realidades são construídas – num modo de fenômeno da consciência
– dentro de memorias afetivas e dentro dessas memorias afetivas existem um
certo conforto de estar lá. Como a propaganda da revista antiga fez eu lembrar
da boneca da Carolina da minha mãe – em meados dos anos 80 – onde eu reativei
uma memória gostosa e fiquei feliz em reativar, mas, eu sei que o passado são
meras lembranças gostosas ou não. A questão é que a grande maioria – grande
mesmo – não larga o passado e fica nele por acharem incapazes de viver no meio
da tecnologia. Dentro da tradição filosófica chamamos de românticos (que nada
tem a ver com amor entre duas pessoas). Na sua essência, a técnica sempre
acompanhou o ser humano em sua história evolutiva – aliás, foi isso que nos
fizeram sair do nomadismo e sermos agricultores – e nada vai mudar porque
sempre a sociedade inventa uma moral nova.
Ter uma memória do passado, a meu ver, tem problema nenhum. O
problema é achar que toda mudança vai prejudicar ou é algo que você nem
estudou, seja para defender, seja para criticar. Como as críticas do seriado da
Netflix, Strange Things, onde acontece nos anos 80 e ali tinha a guerra fria,
tinha os preconceitos, tinha outras coisas que não cabe agora. Mas, tinha. E
ninguém faz os norte-americanos de bonzinho, mesmo o porquê, o exército
americano quer destruir a 11. Também, as coisas não podem ser reduzidas entre
concepções binarias como certo ou errado, bem ou mal, direita ou esquerda etc.
Isso reduz muito a discussão e pode ater em aspectos que podem mudar conforme
aquilo não servir mais. A democracia norte-americana tem a tradição de alternar
entre democratas e republicanos, porque isso traz um equilíbrio saudável no
regime democrático. O que acontece é que uma nação sem uma escolarização
adequada – até meu pai concorda – traz consequências absurdas e governos que
acabam com o país. Ideologias são só máscaras para esconder um sistema muito
maior.
Eu tenho a tendencia de concordar com Platão, você não elege
qualquer um para pilotar um navio. Do mesmo modo, teríamos de sempre eleger
aquele preparado para comandar e resolver os problemas que surgem e isso tem
nada a ver com direito ou esquerda. Ninguém aqui sabe realmente o que é
liberalismo ou é comunista, pois, os liberais não faziam como MBL (Movimento
Brasil Livre) fazem, defender a todo custo um capitalismo atrasado onde o
patrão sempre quer explorar o empregado ou quer um jardim de pessoas perfeitas
e lindas na sua empresa. Assim como, ninguém sabe o que é socialismo/comunista,
onde nem mesmo Marx se dizia marxista. Por quê? Por causa das distorções das
questões essenciais do capitalismo. Ele mesmo disse que se deveria superar o
capitalismo – lembramos que superar não é destruir – e não encher o saco e
dizer tantas baboseiras como os marxistas sempre dizem. A questão é muito mais
profunda do que meia dúzia de opiniões vagabundas.
Opiniões ou não, a Carolina não existe mais e, paradoxalmente,
só ficou uma lembrança dela.
Amauri Nolasco Sanches
Júnior – 46 anos, técnico de informática, publicitário, filósofo da educação e
futuro bacharel em filosofia.
@amaurinolascos.ju #costurar com @emersoncosta426limonada #LivreParaSer ##queen ♬ som original - Amauri Nolasco Sanches Junior
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