Nesses dias eu assisti o filme Blade Runner porque eu li o livro de Philip K Dick. Sinceramente, gostei muito mais do livro do que do filme, mas, o filme tem seu lado filosófico. Ridley Scott soube colocar componentes – muito bem colocados – dentro de uma história que foi escrita e gravada a partir de uma outra história. Claro, tiraram muita coisa do livro e fizeram um filme dentro da estética da época – começo dos anos 80 do século passado – e colocaram em 2019 (no livro acontecia em 1992). Por outro lado, tem muitos diálogos interessantes e que mostram uma discussão bastante pertinente dentro da filosofia: a consciência. Uma hora, o protagonista (Dekhard interpretado por Herrison Ford) estava conversando com a androide Pris (Daryl Hannah) e ela diz a frase famosa de Descartes <<penso, logo existo>>.
Essa frase de Descartes tem a ver com nossa consciência a
partir do momento que você percebe que pensa. Se eu sinto que percebo a minha existência
a partir daquilo que estou pensando, posso duvidar de tudo, menos da minha própria
existência. A dúvida é a existência de outros objetos, outras coisas que podem
ser ilusões (ou sonhos) e elas podem ser jogos de algum demônio para nos
enganar. Quem garante que um copo de Coca-Cola existe? pode ser um sonho. Aliás,
todo sonho tem um ar de verdade porque todo sonho tem as mesmas sensações de um
mundo real. Um fato de verdade. Mas, em alguns casos, sabemos que estamos
sonhando. A realidade acaba sendo apenas um sonho. Ou seja, ter consciência é
ter certeza que a realidade tem dois meios de ser percebida: primeiro é pela
linguagem de se chegar até o objeto percebido. Segundo, pelo fenômeno de percebemos
que nos cerca, assim, percebemos objetos que podem coexistir conosco. O único erro
de Descartes – a meu ver – foi achar que só por meio do raciocínio e
transformar nós em “máquinas biológicas” (que teve consequências devastadoras),
poderíamos sair das ilusões. Mas, não saímos.
Outras cenas icônicas dentro do filme mostram essa visão da frase
cartesiana, onde bem no final do filme, Roy Batty (Rutger Hauer), salva o caçador
de androides e diz que tudo que viu seria perdido graças a sua morte. A consciência
dele da vida, das coisas que viu e das memorias que ficaram disso e, Dekhard,
diz que talvez o autômato gostasse da vida. O fato de serem androides já faz a
frase de Descartes fazer sentido, a máquina ter consciência de si e da sua existência.
Por outro lado, tem um questionamento: onde estaria os sentimentos? Será que não
podemos fazer nossas escolhas – certas ou eradas – dentro do que sentimos? Pesquisadores
dizem que sim. Graças aos sentimentos sobre aquilo podemos escolher entre uma
coisa ou a outra. Não somos mecânicos. Então, o que pode nos influenciar dentro
da própria linguagem?
A rede socia francesa BeReal tem a proposta de tirar das
redes sociais os influenciadores que, na grande maioria, tem uma pauta definida
sobre o que postar. Até porque, descobriram vários influenciadores com esse tipo
de pauta. Sinceramente, não vejo nada de errado dentro de “pautas”, mesmo o porquê,
muitas vezes você vai postar algo e esquece por causa de outras coisas. A questão
é a questão do nome do meu artigo: por
que não queremos influenciadores? Uma música pode te influenciar. Um livro pode
te influenciar e por anos, a tevê nos influenciou em informações e não se questionava
– assim como ainda não questiona – se aquilo era verdade. Afinal, o que seria
verdade ou não verdade? A definição de verdade passa em um julgamento moral –
pois, julgamos a partir dos valores que aprendemos.
Aliás, segundo Danilo Gentili – que concordo – temos um povo
influenciável e passivo, onde as coisas vão acontecendo e nada é feito. Por que
não é feito? Porque se espera um “salvador” da pátria e não se tem nenhum
salvador, porque nosso povo – a grande maioria – quer delegar as outros as soluções
dos seus problemas. Só que nossos problemas são nossos problemas e nada vai fazer
acontecer um milagre para ele desaparecer. Temos uma sociedade que o próprio empresário
ou dono de um agronegócio não quer ganhar e investir, quer que o governo dê
dinheiro para ele não quebrar (o governo dará com a desculpa que senão o
desemprego aumenta).
Acontece que um influencer não construiu nada que existe,
nem tem tanto tempo de existência. E como o filme – e talvez o livro – mostra como
tudo é feito como negócios, mesmo colocando memorias afetivas em androides para
começarem exalar sentimentos. Será mesmo que eram androides ou seres humanos automáticos
que não sabem pensar? Um grande mistério que ronda a linguagem e a educação.
Amauri Nolasco Sanches
Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário
e escritor do blog Filosofia sobre rodas
Nenhum comentário:
Postar um comentário