domingo, 26 de junho de 2022

Dr Estranho e a realidade nas redes sociais

 




Assisti ao filme do Dr Estranho 2 no Disney +, e o que eu gosto é o quanto esse tipo de filme questiona a realidade. No filme – sempre numa pegada bastante mística e se você não souber, fica mesmo perdido – é mostrada quanto podemos questionar nossa realidade sem usarmos pseudociência e sem misticismo barato de coach. Aliás, detesto livros e vídeos de qualquer tipo de coach, pois, não estão levando o real conhecimento, estão levando um pseudoconhecimento em nome do seu próprio favorecimento. O que acontece – como é, claramente, mostrado no Mito da Caverna de Platão – existem os teóricos que tentam explicar as sombras, mas, elas não deixam de ser sombras para eles porque não querem sair da caverna. Ou num modo mais moderninho, sair da Matrix.

Na essência, a caverna ou a Matrix, tem muito a ver com a nossa realidade das formas e na linguagem que compartilhamos com as informações que essa mesma realidade nos mostra o tempo todo. No filme, se mostra muito a teoria do multiverso – que podemos arriscar que é uma teoria quântica, sem ser coach – onde há uma sabedoria antiga do Livro Negro (black holy), onde se mistura mundo contemporâneo e magias de tradições muito antigas. Para quem lê coisas místicas, como eu, a magia onírica não é novidade e é descrita até mesmo, pelo budismo – pelo menos, a parte mística dele – tibetano e algumas tradições místicas. Aliás, relatos budistas dizem, que o Buda original (Sakiamuni) nasceu no Tibete quando esse pertencia a Índia. O fato é – algumas pessoas não sabem – que todas as religiões têm seu lado exotérico e místico (inclusive, o cristianismo).

A questão é: por que devemos questionar nossa realidade? Como disse num outro texto lá que escrevi no Prensa, a realidade tem dois meios para se manifestar. O primeiro – que foi discutido em exaustão por filósofos e místicos – foi as formas, que o mestre Platão, nos trouxe em forma de mito ou teorema da caverna. Diz o filósofo francês Paul Ricoeur – no livro “Ser, Essência e Substância em Platão e Aristóteles” – citando outros pensadores, que Platão pegou o termo “eidos” da forma popular (senso comum) com o significado <<contorno>> e colocou como “idea” e deu um outro significado, forma. Ora, se “eidos” tem o significado contorno, poderíamos dizer, que as formas são apenas contornos de um objeto? Se sim, então, o que olhamos são apenas formatos de uma realidade e assim, tem certos significados. Mas, no fim das contas, não tem essência nenhuma.

No filme, tanto a Feiticeira Escarlate (um upgrade da Wanda), quanto o Dr Estranho e, por que não, os magos (até mesmo a América), tem facilidade de modificar e mover certos objetos. Ora, muitos já discutiram se algum dia aconteceu ou poderá acontecer, que os seres humanos vão poder mover objetos através da mente. Muitos místicos acham que com bastante treinamento, alguns sujeitos podem fazer isso e até ler outras mentes. Mas, indo além, tem a ver com o mundo metaverso onde poderemos um dia, viver em um outro mundo dentro de uma rede social. poderíamos criar uma outra realidade a não ser, esta? Poderíamos, algum dia, achar meios de viajar em outras realidades? Isso já foi questionado em outras series e filmes – como Fringe e outros – mudando nossa própria realidade? Ou essas realidades iriam se colapsar (como é mostrada no filme)?

Talvez, os estudos de Platão – que a tradição diz que chega as sabedorias egípcias chegando a Índia – ele viu que na forma das coisas, estejam meios de saber como se controla essas formas. Mas, existe um outro problema, se existem formas, existem os nomes que chamamos esses objetos. Chegamos no outro meio de manifestação da realidade, a linguagem. Se existem formas que essas coisas nos mostram, existem nomes que essas coisas se manifestam, também. Símbolos que mantem coerência a realidade. Porém, uma rosa é uma rosa por causa da cor ou a cor vem da rosa? O vinho perde a essência da uva quando fermenta e se torna vinho? Talvez, a questão alquímica de transformação, seja, afinal, uma questão de mudar a linguagem e a forma daquilo. A transformação do objeto por outro – no caso o ouro – é uma questão de mudança de código molecular, do mesmo modo, mudar o algoritmo virtual.

Já repararam que tudo tem um código e através desse código existe a evolução existencial? Um código de uma ave não é o mesmo de um mamífero, e cada mamífero tem o seu. Mesmo assim, a vida e tudo que existe dentro da nossa realidade, tiveram uma mesma origem. e nos perguntamos: por que existem coisas animadas (vida) e outras não animadas? Qual o objetivo disso tudo? E o mais incrível, questões existencialistas recaem – sejam elas ateias ou não – dentro do conhecimento e como evoluímos dentro dos inúmeros recomeços que nosso planeta teve. Mas, esses recomeços foram, sempre, com seres melhorados e muito mais adaptados do que outros, e que, aparece a consciência. A renovação se dá através de informações e melhoramento dessas informações e a consciência – que outros animais podem ter em um outro nível – nos remetem a percepção da realidade e suas mudanças.

A mística, assim como a física teórica, não fala línguas diferentes. Como dois carpinteiros que usam ferramentas diferentes para montar o mesmo modelo de cadeira, a mística e a física, dizem a mesma coisa de maneira diferente. A forma da cadeira é a mesma e o nome “cadeira” é o mesmo. A maneira de construção dessa cadeira que muda.  E se num universo a mesa chamar cadeira e a cadeira chamar mesa? E se em um outro universo eu não tiver deficiência? E posso viajar na maionese, e se em um outro universo Marte ter vida e aqui não? Existem várias possibilidades que podem acontecer, mas, só uma possibilidade pode vingar, ou essas possibilidades dependem da utilidade e da variante mais cotada. Imagina se os neandertais vingassem, será que a evolução humana era a mesma?


 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas



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