sexta-feira, 29 de julho de 2022

Existe um ‘conhecimento seguro’?

  




Há um fenômeno em grupos de filosofia no Facebook – como em outros tipos de formato – em que as pessoas ainda confundem pensamento filosófico com um viés dogmático. Mas, por que isso acontece? primeiro, nossa cultura teve duas origens, uma escolástica (religiosa) do século dezesseis e dezessete, outra é o positivismo (científico) no século dezenove. Pessoas também dizem que o marxismo entrou através dos sindicatos, que pode ser também.

Um dos membros desses grupos escreveu em uma imagem: “A humanidadenão sobrevivera por muito tempo, desprovida de um conhecimento seguro.”. cada um que trilha os caminhos (méthodos) da filosofia, coloca em pauta um problema e esse é um problema legitimo e é um tema discutido dentro da epistemologia (teoria do conhecimento). Mas, o que seria um conhecimento?

Segundo a Wikipédia, o conhecimento vem do termo do latim COGNOSCERE que é o “ato de conhecer”, ou seja, como sua própria origem nos mostra, é o ato ou o efeito de conhecera. Grosso modo, conhecimento seria um esclarecimento daquilo, um saber. Ou melhor, o conhecimento tem dois elementos muito importantes que são: o sujeito (o cognoscente) e o sub-objeto (o cognoscível). Assim, o cognoscente é o sujeito que vai ser capaz de adquirir conhecimento ou o indivíduo que possui a capacidade de conhecer. Já o cognoscível é o objeto que se pode conhecer. A questão é: esse objeto é seguro? Ele existe de fato?

Há infinitos conceitos do conhecimento, mas, existem muito poucas definições definitivas sobre o tema. Mesmo o porquê, como todo mundo que estuda filosofia sabe, que as questões do conhecimento começaram com Sócrates e Platão. Mais com Platão e sua alegoria da caverna, onde a realidade seria sombras refletidas em uma parede. Só que há um problema, a parede é um objeto e será que ela existe? na frase – contém um ar apocalíptico – há uma certa certeza de uma solução que vem muito das religiões, ou seja, há uma verdade e esse conhecimento seguro, é o único caminho para essa verdade e por debater com ele, existiria uma questão de transcender o senso comum. Mas, a ideia, exatamente, de um conhecimento seguro, é do senso comum.

Filósofos ou aqueles que se interessam por pensamentos filosóficos, não deveriam ter “segurança”, porque não há uma segurança e não há uma verdade. Porque, segundo Heráclito e depois Nietzsche, as verdades morais mudam e até mesmo, conhecimentos mudam de ponto. Ontem existia teorias sobre o surgimento da vida, hoje já não existe mais. O conhecimento é uma ferramenta para entender a realidade, mas, quem interage é a dinâmica humana de mudança. 


Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas

sábado, 23 de julho de 2022

Tratado anticapacitista

  



<<Todo conceito remete a um problema, a problemas sem os quais não teria sentido, e que só podem ser isolados ou compreendidos na medida de sua solução”>> – Deleuze & Guattari, O que é a Filosofia? p. 25

 

Eu não gosto de tratar as coisas de forma “largada” e nem sem analisar o conceito das coisas que chamamos de realidade. Porque, eu desconfio em todo discurso que começa do meio e não um estudo sistemático sobre o tema, que não é um simples grito ou uma simples campanha de conscientização. Mesmo o porquê, conscientização se tem que fazer no começo de alguma lei, depois de uns 20 ou mais, já é uma questão moral.  Ou seja, o que se chama de “vergonha na cara”. Mas, isso é uma deficiência – sem trocadilho – da nossa cultura que tendem misturar conceitos e confundir opinião com falta de educação, porque a lei de cotas das pessoas com deficiência, não é uma “vontade” de contratar ou não, em tese, é uma lei e como lei deveria ser cumprida.

O que as pessoas não começaram é definir qual é o conceito de deficiência e o porquê essa deficiência é tida como uma “doença”. Mas, o que seria uma deficiência? o conceito de deficiência ou um ser deficiente – coisas ou culturas etc. – não é um conceito novo, nem tão pouco tem a ver com o modernismo. Vamos dizer, que o humanismo jogou um verniz na questão. Mas, como os loucos – Foucault mostra isso na História da Loucura – fomos trancados e jogados em clínicas ou casas de repouso como se quisessem esconder os corpos que não eram considerados “perfeitos”. Os loucos porque se considerava que eles não tinham almas e não tinham uma harmonia dentro dos seus corpos, do mesmo modo, pessoas com deficiência não tinham corpos harmoniosos. Era uma discussão teológica estética, pois, se Deus era perfeito e somos imagem e semelhança dele, de onde vinha pessoas como estas? Graças a leitura socrática-platônica – que começou com os romanos – entre a harmonia entre o corpo e a alma e com o cartesianismo, mecanizando esses corpos, se começou a trancar e esconder.

Ainda não se respondeu à pergunta: “o que é a deficiência?”, que tem a ver com o conceito de perfeição. Quando você coloca “o que é”, você quer definir algo em algum lugar e se tem um lugar para ficar, é porque aquilo tem importância. A distância entre ser deficiente e a deficiência é a definição que se dará a ela – como uma negação da eficiência do corpo debilitado – como um corpo desarmonioso e que não era saudável. Ora, ainda tem a visão – com o cadeirante – uma visão limitante e o objeto <<cadeira de rodas>> fica como um instrumento de uma certa “redenção” (uma iluminação através do sofrimento). Sofredores eternos. Sofredores do pecado original. Corpos que mesmo com facilidades tecnológicas, não se pode esperar uma vida como dos outros.

 

 

1 – O capacitismo e a humanização

 

 

A meu ver, existem dois conceitos de capacitismo. O capacitismo consciente, que coloca o outro como incapaz daquilo que os outros fazem. E tem o inconsciente – que são conceitos engendrados dentro da cultura – que remontam um conceito cristão de piedade. Mas, que se conflitam, pois, lá fora, autistas, por exemplo, dirigem ônibus e trabalham no transporte público (foi o que vi em um documentário). E aqui mesmo, há um paradoxo bastante interessante familiar, que as preocupações são muito mais assíduas com pessoas que tem deficiência física do que, por exemplo, pessoas com síndrome de down. Por que será que isso pode acontecer?

Um dos motivos pode ser os centros de reabilitação de deficientes mentais como as APAEs fazerem um trabalho bom, e os centros de reabilitação de deficientes físicos não fazerem esse trabalho psicológico. As famílias aprendem a cuidar sozinhas e sem nenhum auxílio dentro dessa categoria que, sem dúvida nenhuma, começa quando o médico em um tom de velório, diz que o filho tem uma deficiência e essa deficiência poderá fazer ele depender da família a vida inteira. Mas – umas das mais enraizadas dentro do nosso país – há um conceito de familialismo, que, segundo a Wikipédia, é uma ideologia que prioriza a família. isso poderia ser errado? Depende o quanto o grau de personalismo isso pode fazer dentro do psicológico do filho. Claro, podemos até dizer que o núcleo familiar sempre existiu como clã e depois, com o aparecimento da agricultura, como uma certeza de que o filho e o homem fossem inclusivos.

A questão foi os latinos confundirem o ETHOS grego com o costume – com a individualidade como conceito jurídico – porque o ETHOS era o espírito social por excelência e a unidade de um povo como os gregos que tinham comunidade polis (cidades-estados) sem uma centralização. A estrutura familistica se transforma em uma unidade dentro de uma moral individualizada, e que ganha força, quando há a cultura medievalista que coloca o indivíduo responsável pela vida e a morte desse núcleo. Mas, há um grande problema central, isso transforma em uma unidade narcisista e egóica. Na essência, familismo se relaciona muito mais com valores familiares. A que preço?

O primeiro ato capacitista foi um chefe do clã decidir que aquele membro bebê – o humano-criança – não poderia ser capaz de ser um caçador ou acompanhar o clã. O problema é que se passou milhões de anos desde esse ato e vários conceitos mudaram ao longo dos tempos e hoje – no pós-modernismo – o conceito de incapaz vem mudando, mesmo o porquê, a incapacidade vem de outros fatores também. Daí a humanização da deficiência é bastante importante, mas, há um entrave muito grande entre a humanização e o conceito da deficiência como doença. Como um sofrimento que não pode durar.

 

2 – Linguagem biomédica e a dúvida cartesiana

 

A linguagem biomédica colocou a deficiência na ciência médica e tirou ela das religiões e entendimentos metafísicos. Se um colocava a deficiência como um “castigo” de Deus ou dos deuses – em alguns casos até obra do demônio – o outro coloca a deficiência como uma “peça” em uma máquina e que não há substituição. Nos dois casos, há uma desumanização do corpo e uma binaridade, ora com o corpo e a alma, ora com o saudável com o doente. E nos dois casos tem uma tendencia de esconder o corpo diferente dentro de uma colocação da marginalidade. Você só é feliz perfeito. Mas, o que seria uma perfeição?

Na antiguidade dentro do sistema filosófico grego, existia um filósofo (Heráclito) que dizia que tudo mudava (fluir), outro (Parmênides) que dizia que o ser não muda. Houve um grande debate e Platão disse – tentando fazer uma síntese – que tudo era copia e que o original estava no mundo das ideias ou formas. Ou seja, enquanto há uma forma original dentro do transcendente e aquilo que não muda, há a cópia imanente que vai mudando o tempo todo e que transforma. A questão platônica foi adotada pela igreja católica – e por outras religiões como o kadercismo – entre o espírito como essência da forma e o corpo vai modificando conforma o conhecimento. Poderíamos começar com uma simples pergunta:  e as pessoas com deficiência, loucos e aqueles que fugiam do critério universal da perfeição? O kadercismo traz uma explicação interessante – tirando a ideia do pecado e do pecador – que nem sempre o corpo diferente carrega um espírito (essência) maléfica ou não evoluída, e sim, é uma experiencia. Mas, a crença de pecado ainda existe no pensamento cármico, como uma repetição para “aprender”.

Por isso há igrejas cheias de pessoas com deficiência cadeirante que querem andar – nunca tive vontade de andar e ficar em pé nem artificialmente – porque a ideia da perfeição está engendrada como algo universal, mas que só está no critério humano. Uma zebra é menos zebra por causa de uma lista a menos? Um leão deixa de ser leão por causa de uma juba torta ou menos volumosa? Um elefante deixa de ser elefante por causa de uma presa menor? A questão que a ideia da cópia e do original não é “descartável”, mas traz uma outra questão muito mais perigosa: a não aceitação de si esperando um outro que nunca vai vir e essa é a imanência da deficiência. Existem seres humanos com deficiência e que querem ter uma vida comum e a sociedade, nos joga como seres que devem ser escondidos e esquecidos em algum canto. 


Veja esse video:





Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas

sábado, 16 de julho de 2022

Roberto Carlos ‘pistola’ no país que toma NaBunda

 




Depois de vimos o Roberto Carlos “pistola” – sério...esse povo conseguiu tirar o cantor do seu prumo – devemos refletir o que está acontecendo num país que as pessoas falam o que não sabem, e não dizem coisas coerentes. Qual o problema disso? Em vários textos e vídeos, já disse que um povo ignorante é pior do que uma bomba atômica, pois, até mesmo grupos estrangeiros podem implantar ideias que não são verdade. Por outro lado – estou lendo um ebook da revolução francesa – um povo ignorante vira massa de manobra de grupos políticos que querem tomar o poder, sejam de modo democrático, sejam de modo até de incitar uma rebelião. Parece, que políticos brasileiros – que ainda insistem em políticas já ultrapassadas – acham que uma população ignorante e pobre, vão conseguir governar e ter mão de obra. Claro, muitos países com leitores e com um povo educado – como a Alemanha dos anos 20 e 30 – fizeram estragos graças a um preconceito irracional (contra os judeus a séculos). Por outro lado, foram erros já aprendidos que não se faz mais.

Esse é o cerne do problema, um povo consciente do que fez, educando novas gerações para não fazer e não idolatrar certas figuras da política. Na verdade, de um modo bem lá no fundo, ninguém sabe direito a democracia e nem o porquê ela tem representantes. As pessoas ainda acham que as coisas devem seguir como querem. indivíduos que nunca leram, nunca estudaram nada e acham que descobriram grande coisa. Filósofos como eu – eu sendo universitário ou não – gostam em colocar os conceitos em voga para melhor analisar os fatos. Talvez, o maior erro dos tradutores foi traduzir o termo grego DEMO em “povo”, que fez alguns pesquisadores históricos desconfiarem o porquê filósofos – como Platão e Aristóteles – não gostarem muito da democracia ateniense. Primeiro, se descobriu que, na verdade, o termo grego DEMO tinha o significado de bairro. Ou seja, não seria um governo de maioria popular, mas, da maioria dos bairros atenienses. Ora, isso munda a percepção da questão de ser ou não o “governo do povo”, pois, na verdade, seria o “governo de bairros”. Mesmo o porquê, o governo de Atenas eram muito etilistas e não era para qualquer um, porque nem todo mundo tinha dinheiro para pagar aulas de retorica e aulas de política (como, de certa forma em certa médica, ainda acontece). Mulheres e escravos não podiam participar.

 Talvez, melhor olharmos o que desejamos olhar dentro da essência da questão: a essência de uma república não é o modo de olhar em si mesmo, mas, indo além, é a federalização de uma nação. Talvez, quando os norte-americanos inventaram os conceitos de democracia na modernidade – não foram os franceses – como Estados independentes que fazem um acordo em um governo central e começar uma nação como um acordo. Ora, não poderemos nem comparar uma cidade-estado como era Atenas na antiguidade e nações como os Estados Unidos ou até mesmo, a nossa. O conceito de democracia muda e as necessidades que eram por bairros, começam a categorizar por categorias e grupos, que alguns, chamam de minorias. Mesmo que muitos analistas estrangeiros categorizem nossa constituição como a mais completa, não conseguimos, ainda, resolver os problemas? Será que tudo deveria começar na educação?

Mesmo que dizemos que a democracia ateniense era etilista – do modo que só alguns tem direito de voto – ela passava por um momento educacional. A primeira Academia da história foi criada dentro da democracia ateniense – claro que com Platão bastante desconfiado da representação dela depois da morte de Sócrates – e se pode pesquisar e educar não só gregos, mas, outros indivíduos e a tradição diz, até mulheres. Então, o conceito de liberdade se torna algo subjetivo e que o filósofo deve analisar de perto, porque além dessa liberdade se deve determinar uma desconfiança se existe o conceito de liberdade universal. A ideia de Platão – seguindo Sócrates – que existe coisas universais podem ser conceitos importantes como algo mais espiritualizado e, talvez, dentro da ética moral. Ainda com bastante adendos em algumas questões morais e éticas.

Existem pessoas, por exemplo, que renunciariam à sua liberdade de voto e de direitos políticos, para haver ditaduras que assegurem uma suposta ordem onde elas enxergam uma desordem. Ai esta o perigo de universalizar alguns componentes dentro da realidade – principalmente, a moral e a ética – que o critério dessa suposta ordem é morais antigas ou morais que não fazem parte da nossa cultura. O grande problema brasileiro é se assumi um povo latino-americano, todos os países estrangeiros já colocaram o brasileiro – nós – como um povo latino=americano. Quando isso ficar bastante claro, o brasileiro vai enxergar que o grande problema não é a direita “neoliberal” ou a esquerda “comunista”, mas, a nossa cultura que veio de um império e que não se tinha muita escolha, a não ser, adorar o imperador como um deus. Não temos nenhuma tradição democrática – tirando a ideia dos gregos – que nos remeta a saber escolher. Aliás, na verdade, os americanos inventaram essa democracia meio sem querer e ficou a marca deles.

Nas redes sociais – um termômetro da educação, a meu ver – vimos pessoas que não aceitam o diferente, querem sempre achar que os outros gostam das mesmas coisas que eles. E quem vai solucionar, na verdade, todos os problemas da sociedade? Os comunistas dizem que comunas seriam o ideal, mas, nenhum governo saiu do socialismo. Assim como, os liberais dizem que a solução é menos ESTADO e menos a interferência na vida do indivíduo, mas, estamos num pais desigual com um monte de problemas do básico. Como fazer? Isso é um grande mistério.

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas

terça-feira, 5 de julho de 2022

Capacitismo em forma de piada e notícia em forma de medicalismo

 


Em um vídeo onde o humorista Leo Lins fez uma piada sobre crianças com a hidrocefalia e sabemos, muito bem, que é uma critica a seca do nordeste que ninguém resolve. Apesar disso, esse tipo de piada é sem graça e não me fez rir – eu já ri de piadas de cadeirantes – porque ela foi mal construída e tem um viés de bullying. O SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), mandou o comediante embora por conta que na mesma piada, Leo Lins disse o nome do Teleton, que é um dos programas que gera doações para a entidade (não instituição que é uma outra coisa) AACD (Associação a Assistência à Criança Deficiente).

Jerry Lewis – humorista norte-americana – teve sete filhos e um deles tinha deficiência. Em 2009, ganhou o Prêmio Jean Hersholt, o Oscar Humanitário, por ter ajudado a criar uma Associação de Distrofia Muscular, no inicio dos anos 50, e por dar a continuação do seu trabalho humanitário. Lewis foi presidente nacional a partir de 1952 e por essas iniciativas, foi indicado para receber o Prêmio Nobel da Paz. Lewis ainda criou o Teleton em 1966 nos Estado Unidos, realizado em mais de 20 países da Europa, América do Norte e América do Sul, atualmente. Na América Latina possui uma organização dos países que realizam o Teleton, a Organização Internacional dos Teletons (Oritel). O objetivo da Oritel é fornecer a troca de conhecimento entre os países e instituições, além de possuidor uma melhor integração entre aqueles que visam uma sociedade mais justa e produtiva para as pessoas com deficiência de todo mundo.

Isso mostra que a questão da deficiência já estava sendo debatida já na década de 50 lá fora, mesmo que demorou muito para essas nações serem acessíveis. Até os anos 80 – isso está no documentário Crip Camp – haviam leis, por exemplo, que restaurantes norte-americanos poderiam proibir pessoas com paralisia cerebral (em alguns casos, não tem controle na saliva e babam) a ficarem nas mesas e até hoje, familiares podem castrar mulheres com deficiência na sua família. O capacitismo começou a ser discutido graças ao nazismo e graça a teoria eugenista, dizendo que se poderia produzir humanos perfeitos e com saúde forte e saudável. A ideia do eugenismo – que contêm em todas as nações e em todas as ideologias políticas e religiosas – ainda tem seus componentes sutis em teorias do Transhumanismo e a ideia da liberdade do aborto de bebes que no diagnostico, demonstram ter tendencias a terem síndrome de Down. Ou, como eu disse antes, operar as mulheres com deficiência para não terem filhos.

A piada do Leo Lins não teve graça, mas, o capacitismo está além de uma simples piada e de um simples debate. O Teleton como formador de debates sobre deficiência, está sendo usado só – no Brasil – para arrecadar fundos para uma entidade, uma instituição que no passado, deixava os funcionários fazerem bullying e nada acontecia. Por que o Teleton não é usado como foi na sua origem? Por que não fazem arrecadação de outras entidades ligadas a deficiência? A meu ver, o debate não pode ser focado em uma só questão e entre muitas – por temos uma cultura positivista que só o especialista pode responder por uma coisa – o medicalismo, tão enraizado dentro da cultura brasileira e não deixa nós fazemos nossas escolhas e vivemos nossas vidas.

Ao relatar a demissão do humorista pelo SBT, o site CatracaLivre disse:

 

“Lins começa falando sobre o Teleton, que faz a arrecadação de dinheiro para ajudar crianças com problema de saúde, e depois menciona a história de um garoto do Ceará”

 

 

Veja, a questão está na frase “crianças com problema de saúde”. Primeiro é tratar a deficiência como um “problema”, que quem nasceu nas periferias sabe, muitos dizem que “o filho de fulano tem problema”. Existem definições para problema: uma é o senso comum que diz que um problema é uma dificuldade sem solução, na matemática que é um exercício mental para te ensinar a resolução do mesmo problema e a filosófica, que é um fato que pode ter uma solução com várias variáveis. Quando o jornalista do Catraca Livre diz “crianças com problemas de saúde”, ele ou ela ou elxs, é do senso comum. Mas, segundo a própria associação, eles tratam “crianças deficientes”. Ou seja, as crianças não têm “problema” nenhum e sim, deficiência. A hidrocefalia é uma deficiência que pode ser controlada e tratada como todas as deficiências e isso não quer dizer um “problema de saúde”. Mas o porquê o jornalista disse isso?

No Brasil, por muito tempo, houve uma cultura do medicalismo onde as pessoas com deficiência só podiam fazer as coisas se o médico deixasse ou qualquer especialista que achasse certo. Quantos pacientes que a própria associação cuidava morando lá, por causa da pobreza extrema não podia cuidar do filho com deficiência? Conheci um menino – que tinha a mesma deficiência como eu, paralisia cerebral – que foi encontrado em uma casa (os pais eram caseiros de uma fazenda) que foi largado e cheio de bichos que foi deixado em uma instituição. A pobreza extrema e a falta de educação – como formas explicitas para dominar a massa – colaboraram e muito para a visão da deficiência, ora como um castigo (mesmo no espiritismo que somos taxados como suicidas), ora como pessoas doentes que não podem fazer e nem construir uma vida sozinhos. O gozado disso tudo, que famílias de pessoa com Síndrome de Down são mais flexíveis do que famílias de pessoas com deficiência física, que poderemos investigar o porquê e escrever um outro texto.

Ora, a piada do Leo Lins tem raízes muito solidas do capacitismo enraizado dentro da própria cultura humana. Mas, ele é apenas um bufão, um bobo da corte, existem pessoas com deficiência que são maltratadas, assediadas, sofrem capacitismo online ou não. Será mesmo que a humanidade quer evoluir, ou ela quer mostrar uma questão da demagogia?


Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas

sábado, 2 de julho de 2022

A Caçada selvagem – por que as redes sociais se tornaram toxicas?

 






Nesses dias, eu escrevi um artigo lá no Prensa – que esta sendo um aprendizado que o próprio site proporciona e muitas vezes as pessoas não valorizam, como posts sobre ser escritor do Instagram deles – sobre a acessibilidade de sites que não esta acontecendo. Porque as pessoas são ignorantes nesse aspecto e vão continuar ignorantes enquanto elas não enxergarem, que, muitas vezes, as questões são muito mais complexas do que textos fáceis ou pensamentos prontos. O que chamamos de carimbo de pensamento. Logico que o post não teve muitos leitores porque as pessoas não olham, não enxergam o conhecimento como algo libertador dentro do espectro da vida e da realidade. Como vários posts de extrema relevância que não há como atrair leitores para esse tipo de pessoas. Por que isso? porque as pessoas aprenderam – de um modo errado – que o conhecimento é uma forma teórica e não prática, e tragédias com morte e afins, são coisas que acontecem na “vida real”.

Nem mesmo conhecimentos práticos – como filmes que você assiste ou series que são interessantes – as pessoas se interessam ou tem uma diversidade de assuntos. Os assuntos do momento não são assuntos da “vida real”, são assuntos inventados conforme vão sendo criados inimigos imaginários ou aliados que não são verdadeiros. Na política, não há nenhum “bonzinho” ou “mauzinho”, só vai haver interesses de um dos lados e isso é um fato. Não adianta acreditar em tal política ou acreditar nas pautas reacionárias, revolucionarias ou progressistas, não importa o governo, o povo sempre vai se ferrar. Por isso, defendo o voto nulo.

 Mas, por que as redes sociais se tornaram toxicas? Primeiro, foi no modo operandi da nossa cultura que não quer discutir um assunto, quer ter razão. Razão sempre quem tem – isso nós aprendemos quando estudamos posições filosóficas – são as pessoas que enxergam as ideologias políticas e as diversas religiões com ceticismo para não cair em falácias ou mentiras. Nem toda ideologia política pode e se preocupa com a massa – inclusive, o termo “massa” vem, exatamente, por causa da modelagem que o poder (Estado) consegue manipular – porque questões sociais são as últimas pautas que um legislativo toma. No modo religioso, ser cético não quer dizer ser ateu – o espiritismo kadercista, por exemplo, na sua essência é cético em alguns fenômenos assim como, no budismo puro – mas, saber onde se encontra seu caminho dentro daquilo que é a essência dos ensinamentos do seu fundador (que por séculos pode se perder).

As pessoas estão se confundindo entre conhecer e ter a informação – pois, sempre gostaram de ostentar aquilo que não são e aquilo que não sabem – dentro de uma visão mais do conhecimento do que da informação. Daí, onde muitos não entenderam, entra o Mito da Caverna de Platão, onde o filósofo nunca disse que há um outro mundo – embora, seguindo o mestre dele Sócrates, ele acreditasse no mundo espiritual – quando ele disse que há um “eido” (contorno e a essência) ele estava se referindo – a meu ver – das formas reais e as formas que estavam dentro da mente de quem fez aquilo. Uma colher, por exemplo, tem uma forma perfeita daquele que imaginou esse objeto e o inventou (que não se sabe quem foi). As ideias, ao longo da história humana, sempre confundiram ideia com imaginação. Aliás, somos seres racionais e adaptáveis graças a imaginação, pois, imaginamos e inventamos coisas para modificar nossa realidade.

As redes são portas maravilhosas para o conhecimento – como começaram a dizer que são encontros da discórdia por motivos óbvios – onde democratizaram aquilo que eram coisas de poucos. Eu chamo de cyberanarquismo. Os muros sendo derrubados e as velhas amarras alienadoras sendo questionadas – todas elas – onde as velhas políticas não servem mais para as melhorias do ser humano. Qual governo não oprimiu ou omitiu conhecimentos importantes? Quais religiões – pelo menos, as grandes – não foram usadas para se manter o poder pela fé das pessoas? E as pessoas ainda acham que por meio social – sem uma leitura adequada – vão poder questionar uma coisa obvia. E outra, o que interesse se tal atriz deu ou não seu filho para adoção? O que interessa coisas particulares que só se referem as pessoas?

As redes sociais não são toxicas, mas as pessoas sim.


Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Black Dynamite e o ‘neguinho’ do Piquet

 



Muitas pessoas sabem que eu tenho deficiência física e que eu sou libertário – não, não sou anarcocapitalista – e sempre me perguntam sobre o politicamente correto de chamar um deficiente de pessoa com deficiência. Uma coisa é o preconceito (um conceito sem embasamento) o outro é uma discriminação (uma exclusão) dentro de um escopo social muito mais amplo. O mundo não se resume a meia dúzia de opiniões e conceitos que, muitas vezes, não cabem dentro de um segmento. Depois de se chamar os deficientes de pessoas com deficiência não vi nenhuma melhoria na acessibilidade – agora a maioria das pautas nem são de acessibilidade – e não vi um aumento de contratação de pessoas com deficiência nas empresas. O preconceito acabou? Claro que não. Vimos, principalmente, na internet, milhares de manifestações de puro preconceito e desconhecimento das muitas deficiências que povoam os conceitos sociais.

Reacionários, revolucionários e progressistas, tendem a ter o mesmo modo operante de achar que somos “sofredores eternos” e que não temos como se virar sozinhos. Mas, como diz o velho ditado “de boas intenções o inferno está cheio”. E quem viveu os anos 80 e 90, sabe muito bem, que mesmo estando em eternas cirurgias de correção, sempre éramos taxados de “defeituosos” por causa das deficiências. Motoristas nos deixavam em portas de cemitério e até mesmo, ficava dizendo que era tarde e iria ficar na kombi na entidade ate o outro dia. Eu cheguei a mijar na kombi quando ele disse isso de tanto chorar, mesmo assim, não acho que o termo “pessoa com deficiência” causou tanto impacto ao ponto de mudarem a mentalidade das pessoas diante disso tudo. E nem me ofendo com pessoas me chamando de “deficiente” ou chamando de cadeirante (tinha um colega que defendia dizer “usuário de cadeira de rodas” que o termo “cadeirante” foi inventado pela senadora Mara Gabrilli).

Tudo isso para dizer que pertenço a esse mundo e tenho amigos que já foram, duramente, discriminados e até eu. Porém, não gosto do politicamente correto como forma (bastante paliativa) de forma de acabar com o preconceito e da discriminação. Talvez, por isso mesmo, nunca liguei para os termos que me chamavam ou chamam, mas, as atitudes que tem comigo e com quem esta comigo. E, assim, eu posso achar graças em piadas sem achar que aquilo é preconceito ou algo para agredir alguém. E sei, muito bem, que existem outras minorias dentro do segmento das pessoas com deficiência – como negros, mulheres, gays, trans etc. – que podem se sentir ofendidos e isso, com minha experiência, tendem as pessoas a fazerem ainda mais. Na animação adulta Black Dynamite – que é produzida e exibida na HBO + - tem um humor acido e tem a destruição de ídolos como Michael Jackson entre outros mitos que foram sendo construídos durante anos. A serie foi baseada no filme homônimo de 2009.

A questão racial é uma questão de milênios onde uma etnia se sentiu mais poderosa do que a outra, gerando, uma dominação cultural e militar. Isso se deu através do Estado – sempre ele – que colocou no meio da linguagem, inimigos e mitos, que não poderiam existir. Como poderia existir criaturas míticas, que eram misturas de outros animais? Se poderia ter um simbolismo – como sempre existiu até mesmo, nos evangelhos – mas, a grande maioria, nunca entendeu esses simbolismos. Muito poucos, pegaram esse simbolismo e cresceram enquanto espíritos. Então, juntando esse ar de ignorância e outras coisas – o folclore é construído em cima dessa ignorância – e começam a construir preconceitos e discriminações de outras pessoas, que tem características diferentes, assustam e mudam perspectivas e paradigmas. A história da loucura foi um pouco isso, a normalização da racionalidade social em seguir um padrão determinado. Alguns desses folclores – aqui temos a imagem do Saci Pererê, menino deficiente e negro na pobreza – atingem deficiências, determinadas etnias, mentalidades diferentes e justificou as milhares de escravaturas durantes os séculos de história humana. Quem já não ouviu que o lado dos africanos eram o lado de Caim e seus descendentes? Ou foi uma justificativa para endossar a escravatura?

Todas essas coisas que enumerei não foram modos de linguagem apenas, mas, narrativas de justificação desses atos. Não vamos acabar com os milhares de preconceitos no mundo impondo agendas de outras culturas – a maioria das agendas hereditárias são de nações anglo-saxônicas – pois, não cabe na nossa cultura. As falas de Nelson Piquet – sempre achei ele um bosta – são escrotas como sempre foram desde quando me conheço como gente e isso nada tem a ver só com racismo. Tem a ver com a geração dele sempre chamar outro de “neguinho” – que também eu disse muitas vezes na vida – e a nossa cultura ter uma grande dificuldade de mudanças, porque somos um povo acomodado e queremos sempre o mais fácil. E essa “facilidade” sempre reforçou a nossa tendência a corrupção, as inúmeras maneiras de obter vantagens entre outras coisas.

As pessoas tendem refletir pouco e idolatrar muito, militar nunca foi bom para nenhum dos lados.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – 46 anos, filósofo (bacharelado), técnico de informática e publicitário e escritor do blog Filosofia sobre rodas