quinta-feira, 14 de junho de 2018

O mito Bolsonaro e a democracia suicida






Estamos num momento de crise onde vários grupos surgem. Temos o grupo que apoia uma resolução mais progressista (tendem a ser de esquerda), e temos um grupo de são mais conservadores (tendem ser mais para a direita). Há ainda os extremos que não acreditam na democracia e defendem uma intervenção militar. Os generais não desejam e nem podem, porque uns dos poderes devem acionar essa intervenção, que não teria apoio nenhum em nenhum veículo. Então, surge mitos como os heróis mitológicos que podem salvar um povo do mau e das catástrofes.



Acontece, que diante dessa descrença com essa política, com todos esses escândalos de corrupção mostrado na investigação da Operação Lava Jato e dentro das redes sociais surgem mitos, como surgiam no mundo antigo.  Dentro das redes sociais, e com suas falas polêmicas, há um destaque ao deputado e candidato, Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que se tornou uma alternativa no meio virtual. Segundo uma pesquisa liderada pela DataPoder360 – que é um órgão do Poder360 –  no último dia 5 de junho, mostrando a liderança do deputado ao preito eleitoral sem o ex-presidente Lula (PT), que está preso (vulgo encarcerado).

No lugar do Lula, a agencia coloca o ex-prefeito, Haddad (PT), que aparece em 3 cenário prováveis e teve entre 7% e 8%, dependendo dos nomes dos adversários cogitados. Já o Ciro Gomes (PDT), está em segundo lugar com algumas variações entre 12% e 11% das intenções eleitorais. Bolsonaro, nesses 3 cenários possíveis tem uma pontuação entre 21% a 25%, conforme os nomes colocados como adversários. Mas, ainda, a DataPoder360, trouxe no lugar do Alckimin (PSDB), o ex-prefeito Dória (PSDB) e, ao que parece, não empolga os eleitores. Porque o resultado com Dória teve 6% das intenções do eleitorado, que comparando com o mesmo porcentual de Alckimin, dará empate técnico.

Para essa agencia, o DataPoder2018, esse resultado foi um dos melhores resultados que o pré-candidato Bolsonaro teve nas ultimas dez pesquisas realizadas desde 2017. A pontuação nesse caso, foi de 24% a 27% das intenções de votos.  Esses dados aparecem nesta pesquisa, que se realizou pelo telefone e foi por pessoa (uma ligação por vez). Segundo a mesma agencia, esses mesmo dados apareceram, por causa que a pesquisa foi feita pelo contato telefônico. Será mesmo que foi por causa disso? Tenho minhas dúvidas se realmente, esses números são altos. Mesmo o porquê, a questão de se ter uma pontuação entre 24% e 27%, não são tão altas assim. Ao meu ver, o índice de brancos e nulos é muito mais alto e muito mais, significativo, mas, o texto é para mostrar como e porque um mito aparece.


Um mito pode ser definido como um relato fantástico de uma tradição oral, sempre os protagonistas, são seres que encarnam as várias forças da natureza e os vários aspectos gerais da condição humana, seria uma lenda. A título de exemplo, podemos dizer assim: a lenda dos índios do Xingu, que seria considerado, uma mitologia. Mas mitologia não é uma mentira. Mitologia é uma explicação do senso comum diante as forças da natureza, como o deus Tupã (Trovão), o deus grego, Zeus (raios/trovões), ou Odin ou Wotan (sabedoria/guerra/morte). Vamos dizer que, a mitologia é uma narrativa dos tempos heroicos, e em geral, essa mitologia guarda sempre um fundo de verdade dentro dessa narrativa. Um exemplo clássico é a guerra de Tróia, que recentemente, se acharam as ruínas do que seria a cidade lendária. Muitas das coisas que estão lá pode não ter acontecido – como uma narrativa dramática – mas, a guerra em si, ocorreu.


O caso do Bolsonaro é algo bastante complexo, porque ele é chamado de “mito”, mas, ele não é uma lenda, não é alguma força da natureza e só tem aspectos gerais da condição humana. Ou seja, diz o que a maioria quer escutar e quer solução rápida. O povo não quer coisas complexas, mesmo o porquê, nem sabem como funciona a economia, não tem escolaridade e não leu nada sobre. Então, o que se deu o fenômeno Bolsonaro e o porquê o grande eleitorado está com ele? Um dos aspectos é o medo. Medo da violência (criminalidade) crescente. Medo que as indústrias fechem e não tenha emprego. Fora outros medos, que sacerdotes cristãos enfiam na cabeça dos fiéis, como termino da família. Termino da moral. Termino de se separar por gênero (homem/mulher) e a crescente onda de fanatismos que chegam ao extremo. O extremismo vem, também, do medo.

Isso tem a ver com a diferença entre a Definição e o Conceito. Quando olhamos para Definição, podemos tentar dizer que algo singular a partir de uma determinação do objeto e buscar descrever aquilo que o objeto investigado. Essa definição, tem uma especificação e a distinção em relação aos demais. Uma Definição descreve uma qualidade, característica ou substância sem a qual o objeto deixa de ser o que “é”, em qualquer circunstância. De alguma forma, se trata de uma caracterização endógena (interior ao exterior), e pretensamente universal do objeto pesquisado. Já o Conceito, podemos dizer, que também é uma tentativa de delimitação, porém, neste caso há um esforço em estabelecer “o ponto de vista” por meio do qual o objeto é reconhecido. Se busca determinar um “contexto” para delinear o objeto. Assim, no Conceito, algo “é” a partir de um determinado meio físico, social ou teórico. Estabelecendo o Conceito, o pesquisador descreve o objeto em razão e a partir de um entre inúmeros cenários contextuais possíveis. Se tratar de uma caracterizar exógena do objeto, válida apenas diante de uma certa, singularidade do universo que é pesquisado.


Trocando em miúdos, como dizem, uma Definição, é uma tentativa de descrever aquilo que algo parece ser a partir de certas características que algo parece ser. O Conceito, define objeto a partir daquilo que ele é. Um ídolo ou herói (imaginário ou não), ele é definido a partir daquilo que o objeto parece ser e não o que ele é. Quando passamos para pessoas, ficamos dependendo das atitudes e daquilo que essas pessoas representam na nossa ética e dentro da moral de um povo. Depende, também, de conceitos socioeconômicos de uma dada, época. O caso de Hitler é um exemplo, clássico. Hoje, um alemão não pode nem ouvi do nazismo e de Hitler, mas, nos anos 30 do século vinte, era uma alternativa viável. Isso tem a ver muito mais, com uma definição do que um conceito. Quem deseja a intervenção militar, sempre usa o argumento que não tinha violência e nem corrupção, mas, tinha sim. Tinha crianças sendo torturadas. Crianças estupradas e desaparecidas. E também tinham jornais policiais. Tinham contrabando. Porque é uma Definição e não um, Conceito.

Eu tenho um exemplo, quando, postei uma pergunta: “Eu não vou votar no Bolsonaro...e você? ” e fui xingado e disseram coisas absurdas. Numa democracia de verdade, se as pessoas tivessem uma cidadania, não se portavam assim. Na verdade, se fomos bastante rigorosos com o termo, não há e nem havia nenhum governo do povo. Na Grécia helênica, a democracia era realizada por ricos, por sofistas e por pessoas que eram homens, livres (não eram escravos), e que eram muito poucos. Inclusive, Sócrates foi morto bebendo cicuta, por mexer com esses poucos. Mesmo hoje, que há uma abertura maior nesses requisitos – mulheres votam, não há mais escravos e há o voto livre – não há um governo do povo e sim, uma plutocracia. Há uma confusão entre a aristocracia e a plutocracia, porque o nosso povo é muito carente de um ensino de verdade. Aristocracia é o governo dos melhores (não necessariamente, os mais ricos), a plutocracia é o governo dos mais ricos.

A questão de eu não votar no Bolsonaro é uma questão de conceito e não, de definição. A questão de ele ser honesto (que passa também no crivo da definição), não é uma definição consensual, é uma questão de definição daquilo que acham que é. Existem outros critérios importantes, como estar ou não preparado, estar ou não isento de ideologia ou de religião, estar ou não preparado emocionalmente. Várias questões que não entram no conceito do candidato. Tem uma fala preconceituosa sim, tem uma fala que não condiz ao cargo que almeja. Não olho definições, eu olho conceitos.

Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News

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