domingo, 10 de junho de 2018

Mais Platão e menos Marx



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Quando a filosofia (philosophia) apareceu, apareceu dois pontos interessante. Um ponto é o porquê estamos aqui. O outro ponto, qual objetivo estamos aqui. Talvez, Tales lá em Mileto, olhou em um rio ou até mesmo, no mar e deve ter visto animais aparecendo nessas aguas. Depois de Tales o que a originou (arké) todas as coisas, muitos outros seguiram para descobrir a origem de tudo, que até então, era papel da mitologia. Talvez, esses filósofos deveriam ter pensado que se descobrissem a origem de tudo – uma substância que poderia ser dita como originada da realidade – saberiam, o porquê que estamos aqui. Mas, nenhum deles tiveram um consenso. Porém, Parmênides disse que o ser é o que é em resposta a Heráclito, que disse que tudo muda. Ora, isso daria muita reflexão, porque Platão fez uma síntese disso tudo.


 Muitos especialistas dizem que a teoria das formas, é uma conciliação dos dois filósofos pré-socráticos que Platão, concordava. Na minha visão, a filosofia das formas são uma forma de dizer que tudo vem da mente e da visão que temos da realidade. Então, podemos voltar a Tales e ver que a origem, talvez, tem a ver com a realidade que percebemos dentro de um mundo que não sabemos de onde viemos e porque estamos aqui.  Entramos no objetivo que estamos aqui. Podemos até dizer que o porque estamos aqui e o objetivo que estamos aqui é a mesma coisa, mas, não é verdade. O porque é a origem de nosso significado dentro do mundo, e o objetivo, como interagimos com essa realidade. Interagimos com realidade, porque temos vontade. Podemos perguntar: o que é a realidade? O que podemos chamar de fatos, são apenas visões que temos, ou são a realidades verdadeiramente, concretas? Vamos lembrar, que, tanto o budismo (que podemos chamar de filosofia), quanto a filosofia heracliana (de Heráclito no qual, o filósofo Nietzsche é herdeiro), nos dizem que não existe uma só realidade e sim, tudo muda conforme as coisas vão acontecendo e nos envolvendo no mundo. Mas, aí que está uma questão: se existe um arké (substância original), que originou toda a realidade e sabemos dessa mesma realidade, porque essa realidade muda conforme a visão de cada uma das pessoas?

Chegamos ao mestre de Platão (os ombros largos), um senhor calvo, com barba e que era chamado, de “a mosca de Atenas” (entenderam a abertura do seriado Merlí?), chamado Sócrates. Ao contrário de Platão que era de uma família nobre, Sócrates era filho de um escultor e um uma parteira e alguns estudiosos – não sei a origem disso – dizem, que na verdade, ele não sabia ler e escrever. Porém, teria uma sapiência que nenhum ateniense poderia ter, segundo a pitonisa (sacerdotisa do deus Apolo), disse em uma das consultas ao Templo de Delfos (cidade grega). Mas, Sócrates tinha uma particularidade muito interessante, ele fez a frase do Templo de Delfos como sua filosofia. Qual é a frase? A frase é: "Conhece-te a ti mesmo e conhecerás os deuses e o universo.”. Essa frase é enigmática e única. Porque você conhece a si mesmo e conhecera os deuses e o universo, você pode pensar se conhecemos a nós mesmo, podemos ter fé melhor e conhecer a realidade. Mas, a questão socrática é outra, o conhecer a si mesmo envolve o teu próprio conhecimento, o que você mesmo sabe. Daí vem a questão, até, platônica do conhecimento.

Como sabemos que conhecemos alguma coisa? Verificamos se aprendemos e entendemos como aquilo (como objeto), ou a situação (como fato), acontece dentro da realidade que estamos inseridos. Isso ninguém discute. Eu tenho um abacateiro no meu quintal e esse mesmo abacateiro, não está dando mais abacate. Como eu sei que essa árvore é um abacateiro? Porque aprendi (tive a informação) e entendi (que o objeto que estou vendo) é uma árvore que dá o fruto abacate. Portanto, é um abacateiro. Acontece, que Sócrates conclui que as pessoas tinham o conhecimento das coisas sem entender porque aquilo existe e o porquê existe. E assim, todos se perdiam nas suas perguntas. Mas, ele só queria provar que não sabia de nada. Acabou bebendo cicuta (veneno usado antigamente). Por que Sócrates morreu? Por que o povo de Atenas condenou o velho filósofo? Uma das hipóteses é apresentada, pelo próprio Platão, quando no seu livro, Politéia (A Republica), apresenta a Alegoria da Caverna. Na verdade, a filosofia nasce nas conversas e na defesa de Sócrates, que dois discípulos, escreveram. Mas, o único que seguiu seus passos, foi Platão. Ou seja, a filosofia nasce na cicuta.

A questão não é se Xenofonte ou Platão seguiram ou não à risca Sócrates, a questão é que Sócrates toma como base não de onde viemos, mas, quem somos nós. Que Platão, de uma forma de explicar o que seria um filósofo (como aquele que vai atrás da sabedoria), vai mostrar, que para descobrir quem somos nós, temos que sair a caverna. Quem sair dessa caverna será o corajoso, que vai escalar a entrada, vai aguentar os olhos doerem e ainda sim, vai voltar para libertar os outros das sombras. As sombras não são os programas de tevê ou, o mundo virtual; a grosso modo, as sombras são as ideologias e as crenças institucionadas que os governos mantem para te manter dócil e pacifico. Isso não quer dizer que exista ou não espíritos, exista ou não Deus, mesmo o porquê, há diferenças entre religião e espiritualidade. Então, a pergunta socrática-platônica não é a origem e sim, quem nós somos e com isso, que realidade construirmos.

Depois, Santo Agostinho colocou isso como uma coisa ética. Ou seja, deveríamos pensar em tudo que fizemos durante o dia, ao se deitar. Assim, deveríamos olhar quem somos sobre olhares de nossas ações. Na realidade, Santo Agostinho vai introduzir o platonismo no cristianismo e por “tabela”, como dizem por aí, colocou também, Sócrates. Fica fácil saber o resultado. Muito tempo depois, mais ou menos, mil anos, São Thomas de Aquino coloca Aristóteles no cristianismo. Não quero entrar no mérito do resultado disso, só quero pontuar algumas questões que levaram os filósofos modernos a se desfazerem da metafisica (que ao meu ver, foi muito ruim para o verdadeiro filosofar). Com Santo Agostinho, o mundo das ideias seria o paraíso e a busca do sumo bem, não é para uma melhora na polis (cidade), mas, é uma ida direta ao céu. É uma recompensa pessoal. Contudo, Platão – seguindo seu mestre – não pensava nada disso, mas, pensava que o sumo bem, seria alcançado através de uma dialética em chegar a sabedoria. E levar essa sabedoria a todos ao seu redor. Quando o ser humano sai da caverna quebrando as correntes, ele não vai embora, mas, volta para fazer os outros seres humanos enxergarem essa realidade também.


O conhecer a si mesmo, poderia ser o “eu sou” que confronta com “você é”. Assim, saindo das amarras patrísticas e escolásticas (embora, não se distanciou muito), o filósofo francês, Descartes (Cartesius em latim), disse a frase base da existência humana, o “eu penso, logo eu existo”. A realidade pode mudar (Heráclito), mas, o “eu” tem que existir como é (Parmênides). Ou seja, posso duvidar da realidade, mas, não posso duvidar que eu existo. Eu sou. Então, se eu sou, não posso saber se tudo é, porque tudo é transitório demais para ter uma natureza, mas, o “eu” não muda e não transito entra a realidade e o sonho. É um exercício semântico e lógico. A realidade só é termos que conhecemos cada objeto e objetivo.

Mas o que é o objeto e o objetivo? A maçã vermelha é um objeto (muito gostoso), o objetivo e comer essa maçã. A questão é que para comer essa maçã vermelha, temos que ter dois fatores para alcançar o objetivo: ter a vontade de alcançar o objeto e como vai fazer isso. A existência da maçã é importante e aonde podemos achar a maçã. Mas, o porquê disso? Da vontade. Sempre quando queremos alguma coisa, isso tem a ver com o gosto e a vontade faz, esse objeto gostoso ou não gostoso. Daí entramos em Espinosa (a vontade) e Nietzsche (a vontade da potência), e ainda, Marx (o fetiche da mercadoria).

Para Espinosa, o “Ser” tem o sentido de uma parcela finita da potência infinita de Deus, o “Ser” é uma potência ativa de afetar e ser afetado. Portanto, a vontade é a capacidade de afirmar e de negar coisas em seu geral, antes mesmo, que elas se tornarem coisas especificas. Ainda, segundo Espinosa, é um ente universal, aquilo que é comum a todos os desejos particulares, por conseguinte, não importa peculiaridade alguma. Quando temos consciência do que queremos. Enquanto não temos tal consciência, eis a vontade em sua abertura absoluta. Isso se chama “conatus” (esforço), que seria a essência atual de um ser. a potência que parte de nós mesmo, da nossa própria essência para criar as devidas condições de persistir em nosso próprio ser. Podemos dizer, que nós não possuímos o “conatus” e sim, somos o “conatus”, e tudo que existe como uma essência a realizar esforços para permanecemos em nosso ser enquanto podemos. Ou seja, para o filósofo, cada “coisa” (no sentido de objeto enquanto existente), se esforça (conatus) enquanto um ser existente em si (que se move e é movido), e tem a preservação em seu ser.

Espinosa está dizendo – diferente que se acha que o filósofo era ateu – essa energia seria uma potência de Deus onde ele existe (por si mesmo) e age. Para Espinosa, nenhuma coisa que tenha algo que possa ser destruída, que, por ventura, possa ser retirada da sua existência. Sabemos que a maçã é por causa da essência da maçã, e a vontade de ir até o objeto (maçã), pelo desejo. O desejo nada mais é, do que a essência do agir em sua total essência. Daí, entramos na vontade da potência de Nietzsche.

Se para Espinosa, existe um esforço para viver – que aliás, o conatus não é uma força externa, mas, uma força interna – Nietzsche vai dizer que existe a Vontade de Potência (em alguns momentos, Poder), que nos dará o choque de duas forças. Para Nietzsche, a Vontade de Potência não é algo criado e sim, um advento da própria realidade dentro do mundo e, também, um resultado da própria potencialização da vontade (a força do poder íntimo). São, simplesmente, todos os processos da vida em movimento. Assim, o bom é tudo que faz crescer a vida enquanto existência a realidade, o ruim (ele não diz mal, por uma questão moral), são os valores morais que não deixam viver. Os pensamentos são a pluralidades dessas forças que interagem. Porque, segundo Nietzsche, há um conflito de forças que sempre vão querer uma dominar a outra, assim, cada força tem por natureza, querer expandir sua energia. E, ao contrário de Espinosa, em Nietzsche não há nenhuma força metafisica (Deus/deuses) e sim, um conflito eterno entre forças da própria natureza. Então, ao contrário de Descartes, ele não coloca como nosso próprio pensamento, mas, uma força que pensa por nós mesmos. Na verdade, quem faz nós pensarmos é alguma energia que nos impulsiona ao pensamento, ou seja, pelo que percebi, Nietzsche diz que já no universo uma energia que reflete e que faz nós refletimos através dela.

Nossos desejos são apenas, um espelho da nossa consciência que já está desejando que são apenas, as forças que estão inconscientes. Também, existem os corpos orgânicos e inorgânicos que sentem, as duas forças estarem em conflito. Assim, essas forças que estão em conflito, dominam o homem e são as forças ativas e reativas. As forças reativas são a má consciência e são as forças conservadoras e as forças ativas, são as forças criadoras. A grosso modo, você vai tomar banho em um dia frio, a força reativa diz que está muito frio e que você poderá pegar uma gripe. Mas, a força ativa vai te dizer que precisara tomar um banho para ficar mais quente, colocar uma roupa melhor e mais cheirosa. Trocando em miúdes, como dizem, as forças que te impulsionam a fazer aquilo são ativas a não, são reativas. Nietzsche vai dizer que as forças que se duelam, são a causa do universo.

Por último, a ideia de Marx do fetiche da mercadoria para chegar onde quero chegar sobre a ideia da vontade. Segundo o dicionário, fetiche seria “objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto”, portanto, é um objeto que damos importância além do que ele é. Como os santos e estatuas de deuses dos tempos antigos, que eram objetos de barro ou de outro material, que dávamos como importantes e como os deuses ou santos estivessem, lá. Marx, em seu livro “O Capital” disse que o produto, quando é terminado, tem seu valor determinado por fatores irreais e infundados. Ou seja, o produto tem seu valor determinado como se não fosse fabricado por mãos humanas. Pela visão dele, parece que as mercadorias pareciam ter ganhado vida própria e ser um fator determinante, na sociedade que tem a posse dessa mercadoria, tem um padrão social e quem não tem a posse dessa mercadoria, não possui. Diante disso, isso como devemos ressaltar em um contexto social, histórico e político, implicara direta ou indiretamente, na vida de cada indivíduo que vivem nesse ambiente.

Resumindo, o patrão por mais subjetivo que seja, pode ser coisificado, no cotidiano do sujeito, o levando estímulos depressivos e a vários transtornos e desconfortos psicológicos. Segundo os marxistas – porque Marx faleceu antes de esgotar o tema do fetichismo – o capitalismo aliena o povo para ter esse “fetiche” para a mercadoria. O que é mais caro, um sanduiche no McDonald´s ou da barraquinha da esquina? Lógico, segundo os marxistas, são os sanduíches do McDonald´s, que na publicidade, vai fazer que convença a comprar esse. Instiga o desejo da maioria. Assim, para os marxistas, não é algo interno o desejo, mas, algo externo e tem a ver com a alienação.

Daí entramos no nome do texto. Acontece, que a vontade não é algo só externo e tem a ver com uma certa ignorância, tem a ver com nossos desejos. Mas de onde vem esse desejo? Por exemplo, eu posso ter desejo em uma coxinha de um real no Ragazzo, mesmo sendo “bombardeado”, com anúncios do McDonald´s que são bem mais caros. Não há alienação de escolha, há se deixar ou não se alienar e isso, tem a ver com a alegoria da caverna. O que levou o ser humano quebrar as correntes e sair da caverna? Uma é o espanto de duvidar das sombras e a vontade – como conatus – de explorar o caminho atrás da fogueira e sair dessa caverna (mudança). Mesmo Nietzsche ser contra a racionalidade socrática-platônica – que pode ser um equívoco do filósofo que pode ter lido Platão como um pensamento cristão e não um pensamento grego – a saída do ser humano da caverna é sim, a vontade de potência (ou poder). Porque a quebra de correntes e a saída da caverna é uma força ativa – ou não? – para criar uma outra realidade e não para conservar a outra realidade, que era as sombras.

O homem que sai da caverna sai de uma realidade e vai para uma outra realidade que move a sua consciência, que vai ao encontro da sua vontade de ir além daquela verdade. Portanto, mesmo a importância que alguns escritos tenham sido de Marx, o desejo dele de colocar a culpa num fator externo, foi muito mais forte. Nós, como seres racionais e conscientes, só vamos sair disso tudo nos conscientizando da nossa própria força. A questão não é achar que uma elite, que também é humana e como bem demostrou Hegel (não Engels), os senhores são muito mais escravos do que o próprio escravo, possa ditar nossas vontades. Pode deixar a grande maioria alienada sem educação – escravos de um discurso de vantagem para si mesmo – mas, isso acontece, porque essa mesma maioria, se deixa alienar. A maioria é passiva.

Portanto, para terminar minha explanação, ouvi em algum lugar, que toda essa filosofia era só nota de rodapé da filosofia platônica e isso, é mais do que evidente.



Amauri Nolasco Sanches Junior – formado em filosofia pelo FGV e também publicitário e técnico de informática e escritor freelance no jornal Blasting News


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