Amauri Nolasco Sanches Junior
A questão das pessoas com deficiência é uma questão bem
complexa e merece uma boa reflexão, porque somos uma parcela significativa da população
nacional. Segundo alguns filósofos políticos e analistas, democracia não era
bem o poder do povo ou liberdade plena, porque “demo” em grego, tanto poderia
significar povo, como poderia significar, distrito. Então, ao invés de achar
que é o poder do povo e liberdade irrestrita, é um poder distrital. Porque tem
sua lógica, se é o poder do povo, por que se deve ter substitutos do povo
governando? Por que o próprio povo, em assembleias, não pode tomar decisões? Claro,
diante de todos os regimes que não deram certo (foram um desastre), a
democracia, ainda sim, é o melhor que se pode ter atualmente. E, se queira ou não,
o mundo contemporâneo, as pessoas com deficiência são cidadãos e são o povo. E
as pessoas com deficiência, com as várias aberturas e uma parcela de
acessibilidade (que não é ideal), podem ser políticos e defender as várias pautas
que temos.
Cada um sabe as dificuldades que se encontram dentro da
vida. Mas, algo me chamou atenção e vem me incomodando faz um tempo. As pessoas
com deficiência que negam a luta e negam os movimentos – que a grande maioria só
serve para partido político se sobrepor – mas, por outro lado, querem usar as
mesmas acessibilidades conquistadas por outras pessoas com deficiência que não negaram
a pauta. Por que estou dizendo isso? Por causa de uma reportagem do site
Boletim da Liberdade que ao que parece, é um boletim liberal. Que além de
trazer uma “bola fora” do deputado do partido NOVO, Paulo Ganime, do Rio de
Janeiro, ainda, contém vários erros que são fáceis de achar.
Primeiro, o jornalista que fez a matéria (que não tem a
assinatura de quem escreveu), não se atentou o significado de portador, porque
se ele porta a escoliose, ele pode não portar essa escoliose. Por outro lado, a
escoliose é uma curvatura da coluna cervical que se curva para um dos lados do
tronco, dependendo da rotação das vertebras. Ela pode vim com a deficiência,
mas, não pode ser uma deficiência e não pode deixar de portar (pode ser
amenizada). Além do mais, o boletim não diz a deficiência do deputado que é um
erro, porque não está divulgando o porquê a repórter perguntou aquilo para o
deputado. Depois, restou a dívida em que plataforma os internautas acharam que
a repórter tentou vitimizar o Ganime, pois, existe várias plataformas e nem o porquê
esses internautas disseram isso. Mas, resta outras questões: esses internautas são
os mesmos que param nas vagas destinadas as pessoas com deficiência? Será que são
os internautas que reclamam quando o ônibus para pegar um cadeirante no ponto? Será
que são as pessoas que não deixaram o motorista do ônibus ajudar o cadeirante caído?
Claro, são os mesmos que doam e choram com o Teleton.
A repórter da TV Câmara
perguntou: “Deputado, a gente vê que o senhor tem uma deficiência. O senhor
defende essa bandeira? ”. Não houve nenhuma vitimização, houve uma constatação dos
fatos. Visivelmente, ele tem uma deficiência e não pode negar isso, tentativa
de vitimização a gente vê no Teleton.
Daí houve a resposta do deputado: “Não, nem um pouco. Não tem
nada a ver com a minha bandeira. Nunca militei nessa área. Fui executivo de
empresas, sempre trabalhei na parte financeira, com gestão de projetos. Resolvi,
em 2017, voltar ao Brasil após cinco anos fora para ser candidato pelo NOVO. É a
primeira vez que o novo tem um candidato a deputado federal. Tivemos também candidato
à presidência. Conseguimos eleger oito deputados e eu sou do Rio de Janeiro. Minhas
pautas são relacionadas ao que acredito que é prioridade para o Brasil e para o
Rio de Janeiro: segurança pública e desenvolvimento econômico. ”. Vale uma análise.
Primeiro, o deputado Ganime, disse que não era nem um pouco
sua bandeira e não tinha nada a ver, mas, o mais importante é que nunca militou
nessa área. Quem, num país sem acessibilidade, não sem tem saúde e tratamento
de reabilitação, que não tem transporte e trabalho não “militou nessa área”? Segundo
o site do partido NOVO, o deputado é formado em engenharia e economia, sempre
trabalhou na área do setor privada com um grande crescimento profissional do
Rio de Janeiro, França e EUA. Você já pode ver – só dá uma pesquisa no Facebook
dele – que ele estudou em universidades particulares. Ora, vencer na vida por
causa dos seus méritos, não tem nada de errado, às vezes, existem pessoas que não
precisou da lei de cotas. Porém, pessoas que tem locomoção e pessoas que tem
uma deficiência mais leve, são mais fáceis de conseguirem ter emprego. Existem amigos
meus que conseguiram vencer e progredir na vida que é sim a pauta dele, porque
tem consciência que existem outras pessoas com deficiência que não conseguiram
e tem dificuldades. Isso se chama empatia e é um sentimento humano.
Agora, que ele queira atuar na segurança pública (que já ficou
uma pauta que quase todos os deputados e políticos defendem, um pouco clichê),
e no desenvolvimento econômico, certo. Mas que deixasse bem claro na sua
campanha, que dissesse como a senadora do PSDB, Mara Gabrilli, deixou bem claro
em sua campanha, que essa pauta ele não defende. Então, não aceite as
acessibilidades e as facilidades nas empresas e no congresso ele tem, se ele é
contra. Estudar e trabalhar para quem tem dinheiro é fácil, e quem não tem?
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