sábado, 2 de fevereiro de 2019

Pessoas com deficiência que renegam a sua deficiência e renegam as outras pessoas com deficiência




Amauri Nolasco Sanches Junior

A questão das pessoas com deficiência é uma questão bem complexa e merece uma boa reflexão, porque somos uma parcela significativa da população nacional. Segundo alguns filósofos políticos e analistas, democracia não era bem o poder do povo ou liberdade plena, porque “demo” em grego, tanto poderia significar povo, como poderia significar, distrito. Então, ao invés de achar que é o poder do povo e liberdade irrestrita, é um poder distrital. Porque tem sua lógica, se é o poder do povo, por que se deve ter substitutos do povo governando? Por que o próprio povo, em assembleias, não pode tomar decisões? Claro, diante de todos os regimes que não deram certo (foram um desastre), a democracia, ainda sim, é o melhor que se pode ter atualmente. E, se queira ou não, o mundo contemporâneo, as pessoas com deficiência são cidadãos e são o povo. E as pessoas com deficiência, com as várias aberturas e uma parcela de acessibilidade (que não é ideal), podem ser políticos e defender as várias pautas que temos.

Cada um sabe as dificuldades que se encontram dentro da vida. Mas, algo me chamou atenção e vem me incomodando faz um tempo. As pessoas com deficiência que negam a luta e negam os movimentos – que a grande maioria só serve para partido político se sobrepor – mas, por outro lado, querem usar as mesmas acessibilidades conquistadas por outras pessoas com deficiência que não negaram a pauta. Por que estou dizendo isso? Por causa de uma reportagem do site Boletim da Liberdade que ao que parece, é um boletim liberal. Que além de trazer uma “bola fora” do deputado do partido NOVO, Paulo Ganime, do Rio de Janeiro, ainda, contém vários erros que são fáceis de achar.

Primeiro, o jornalista que fez a matéria (que não tem a assinatura de quem escreveu), não se atentou o significado de portador, porque se ele porta a escoliose, ele pode não portar essa escoliose. Por outro lado, a escoliose é uma curvatura da coluna cervical que se curva para um dos lados do tronco, dependendo da rotação das vertebras. Ela pode vim com a deficiência, mas, não pode ser uma deficiência e não pode deixar de portar (pode ser amenizada). Além do mais, o boletim não diz a deficiência do deputado que é um erro, porque não está divulgando o porquê a repórter perguntou aquilo para o deputado. Depois, restou a dívida em que plataforma os internautas acharam que a repórter tentou vitimizar o Ganime, pois, existe várias plataformas e nem o porquê esses internautas disseram isso. Mas, resta outras questões: esses internautas são os mesmos que param nas vagas destinadas as pessoas com deficiência? Será que são os internautas que reclamam quando o ônibus para pegar um cadeirante no ponto? Será que são as pessoas que não deixaram o motorista do ônibus ajudar o cadeirante caído? Claro, são os mesmos que doam e choram com o Teleton.

 A repórter da TV Câmara perguntou: “Deputado, a gente vê que o senhor tem uma deficiência. O senhor defende essa bandeira? ”. Não houve nenhuma vitimização, houve uma constatação dos fatos. Visivelmente, ele tem uma deficiência e não pode negar isso, tentativa de vitimização a gente vê no Teleton.

Daí houve a resposta do deputado: “Não, nem um pouco. Não tem nada a ver com a minha bandeira. Nunca militei nessa área. Fui executivo de empresas, sempre trabalhei na parte financeira, com gestão de projetos. Resolvi, em 2017, voltar ao Brasil após cinco anos fora para ser candidato pelo NOVO. É a primeira vez que o novo tem um candidato a deputado federal. Tivemos também candidato à presidência. Conseguimos eleger oito deputados e eu sou do Rio de Janeiro. Minhas pautas são relacionadas ao que acredito que é prioridade para o Brasil e para o Rio de Janeiro: segurança pública e desenvolvimento econômico. ”. Vale uma análise.

Primeiro, o deputado Ganime, disse que não era nem um pouco sua bandeira e não tinha nada a ver, mas, o mais importante é que nunca militou nessa área. Quem, num país sem acessibilidade, não sem tem saúde e tratamento de reabilitação, que não tem transporte e trabalho não “militou nessa área”? Segundo o site do partido NOVO, o deputado é formado em engenharia e economia, sempre trabalhou na área do setor privada com um grande crescimento profissional do Rio de Janeiro, França e EUA. Você já pode ver – só dá uma pesquisa no Facebook dele – que ele estudou em universidades particulares. Ora, vencer na vida por causa dos seus méritos, não tem nada de errado, às vezes, existem pessoas que não precisou da lei de cotas. Porém, pessoas que tem locomoção e pessoas que tem uma deficiência mais leve, são mais fáceis de conseguirem ter emprego. Existem amigos meus que conseguiram vencer e progredir na vida que é sim a pauta dele, porque tem consciência que existem outras pessoas com deficiência que não conseguiram e tem dificuldades. Isso se chama empatia e é um sentimento humano.

Agora, que ele queira atuar na segurança pública (que já ficou uma pauta que quase todos os deputados e políticos defendem, um pouco clichê), e no desenvolvimento econômico, certo. Mas que deixasse bem claro na sua campanha, que dissesse como a senadora do PSDB, Mara Gabrilli, deixou bem claro em sua campanha, que essa pauta ele não defende. Então, não aceite as acessibilidades e as facilidades nas empresas e no congresso ele tem, se ele é contra. Estudar e trabalhar para quem tem dinheiro é fácil, e quem não tem?





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