Amauri Nolasco Sanches
Junior
Imagine você abrir o seu Facebook e se deparar com um vídeo de
um garotinho andando – ao que parece, o garotinho tem a mesma deficiência que a
minha, paralisia cerebral – e no fundo, um hino evangélico. O que você sentiria
em ser usado por igrejas para ficar propagando uma religião que só pensa nos
bens materiais? Quem me conhece sabe que não tenho nada contra nenhuma religião,
acho até, que o momento da graça é um momento de comunhão com a consciência do
Eterno. Mas gosto das religiões que não tem outros seres ou desculpas, para ficar
fugindo dos seus atos imorais. Eu gosto de religiões como o budismo e o
espiritismo que não joga no outro o que é culpa da sua ignorância,
principalmente, quando não há ignorância. O deputado Eduardo Cunha, que está
preso por corrupção, era evangélico e não teve escrúpulos de fazer o que ele
fez.
Uma religião nunca te dará condições ético-morais para
conviver como ser humano e sim, a educação. Os protestantes de lá de fora já constataram
que o melhor até mesmo para sua religião é a educação e o conhecimento, porque
conhecendo e se conhecendo, vamos sempre crescer e evoluir. Mas existe uma
grande diferença entre a religião e a espiritualidade, porque você, por
exemplo, pode ser um espiritualista e ler Lutero ou Santo Agostinho muito
tranquilamente sem nenhum viés religioso. Aliás, uma das coisas mais bonitas
que li nas redes sociais foi, que Jesus gostava de pessoas e não de religiões. Mas
sabemos muito bem, que as pessoas ditas cristãs, ao longo da história humana,
sempre mataram aqueles que não concordavam com sua religião. Comunidades inteiras
foram queimadas e dizimadas por causa de um pensamento religioso que quis se o
predominante. Sabemos muito bem, que Jesus iria ser contra essa barbárie toda.
Sabemos também, que nós, pessoas com deficiência, somos
explorados pela religião e isso é fato. Quantas pessoas com deficiência foram exploradas
nas igrejas para pedirem esmolas na idade média? Quantas pessoas com deficiência
foram mortas nas fogueiras da santa inquisição acusadas de serem demônios? A imperfeição
sempre foi um ponto importante para alimentar crenças como demônios ou
criaturas demoníacas, que eram só, deuses celtas ou da antiguidade, mostrados
como demônio para a igreja prevalecer como hegemônica. Só vê os faustos romanos
ou o miniaturo grego que foram demonizados. Até o deus celta “Gama Ray”, foi
posto como uma das aparências do demônio, e seres que eram vistos como seres imperfeitos,
foram taxados de serem demônios. Claro, o Eterno como onisciente, onipresente e
onipotente não pode ter deixado “escapar” um plano, de um querubim que tinha
inveja do ser que o Eterno amou mais. Na verdade, nem sabemos o propósito da
vida e porque ele foi criado e queremos achar, que um ser angelical, posa
sofrer inveja de um simples e reles ser humano.
As imperfeições são só os conceitos humanos, pois, dentro do
universo conhecido não há perfeição ou imperfeição, há a existência e a inexistência.
Tudo tem uma forma e tudo é o que ele tem que ser, porque a lei da evolução não
é o mais forte sobrepondo o mais fraco, mas, o mais apto a se adaptar ao meio
que vive. Isso não quer dizer o mais sarado, o mais perfeito, o mais morais e
etc, vão perpetuar. Os neandertais eram humanos fortes, porém, não perpetuaram
e alguns foram incorporados no DNA do homo sapiens e outros foram extintos. Outra
coisa, a heterossexualidade não é a única maneira de perpetuar seus genes – sendo
o homossexualismo uma pratica normal da Grécia antiga e nem por isso terminaram
as famílias – existem pessoas que não se casaram ou não tiveram filhos e seus
genes foram perpetuados pelos sobrinhos ou primos. Então, todos os argumentos são
destruídos dentro do conhecimento e esse conhecimento faz a diferença. Eu sou
um ser destruídos de ídolos.
O que me incomoda é algo muito mais profundou. Uma coisa que
eu coloquei no meu tratado sobre o capacitismo. Enquanto as pessoas fazem esses
vídeos fofinhos, onde parece que nossas vidas é um paraíso, as UBSs da
prefeitura de São Paulo não têm médico (na Vila Nova Iorque), não cuidam das
pessoas com deficiência e não querem fazer pedidos de cadeira (no Jardim Elba).
Depois de três faltas no serviço ATENDE+, nós perdemos o serviço (mesmo se
justificarmos). Entidades exploradores como o Cantinho da Esperança (jardim São
Roberto), entidades que fazem programas nos infantilizando como o Teleton,
existem entidades que acorrentam e prendem as pessoas com deficiência e outras
coisas mais. Quem desses religiosos fazem vídeo denunciando esse tipo de
pratica no Brasil? Qual religioso faz um vídeo das mesmas pessoas que doam para
o Teleton, param nas vagas destinadas as pessoas com deficiência? Sentam ou
ficam no box do ônibus e, muitas vezes, nem deixam o cadeirante subir? Ou somos
explorados dentro das igrejas para a promoção das mesmas? Qual religioso faz um
vídeo desse?
Por outro lado, a culpa disso tudo não é só da cultura e da
atitude social e também, de algumas pessoas com deficiência que aceitam
passivamente, alguns pontos para não contrariar as pessoas. Para ganharem com
isso prestígio, ganharem sempre relevância dentro do segmento. Eu sou uma espécie
de vilão do segmento, aquele que enxerga muito além do que é me imposto.
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