sábado, 12 de janeiro de 2019

Pessoas com deficiência e a desigualdade do benefício do Loas (Previdência)




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Amauri Nolasco Sanches Junior

O BPC/Loas é um benefício que são cadastradas pessoas com deficiência que não podem trabalhar. O valor desse benefício é um salário mínimo (como se uma pessoa com deficiência gastasse um salário mínimo por mês). Segundo o meu colega e jornalista, Jairo Marques, o pente-fino passado  pegou 2 milhões desses benefícios de forma irregular e no meio desses benefícios, devem haver algumas pessoas com deficiência que trabalham ou tendo algumas atividades remuneradas. Essas informações foram cruzadas com dados fiscais. E ele faz algumas perguntas: será que o benefício é justo e precisa continuar? Vai se abrir mão do pagamento pelo “bem” maior do país? Uma cadeirante que ganha o teto da Previdência pode dar palestras de R$ 15 mil reais? E termina a reflexão dizendo, que é o momento importante para se saber qual rumo as coisas irão tomar e que rumos nós tomaremos (o post dele linkado AQUI).

Duas coisas eu sempre questionei: (1) é a Lei de Cotas das empresas que governo nenhum deu jeito de funcionar (esse também não vai fazer nada); (2) que esses benefícios atrelados com a previdência, porque sempre vai dar cagada e são usados o dinheiro de Previdência. Vamos ser bastante sinceros, se existe uma lei que não tem punições severas, ela pode continuar? A questão não é se você contratar ou não as pessoas com deficiência, a questão é, que você não pode discriminar deficiência e enquanto não forem atuadas pessoas que discriminam os cadeirantes (que muitas pessoas não contratam por ser cadeirante), a lei não vai funcionar mesmo. Pelo contrário, existem meios para ficar mais difícil as pessoas com deficiência serem contratadas tendo que mandar laudos médicos. Muitas pessoas dizem, que esses laudos médicos são para a empresa se adequar as pessoas com deficiência, mas, todos nós sabemos que não é bem assim. A questão é o “filtro” das deficiências menos visíveis e que tem menor acessibilidade no meio de trabalho (como mesas, banheiros acessíveis, programas para cegos, legendas para surdos e etc), e as deficiências mais visíveis que podem causar mal-estar num primeiro momento, tem mais necessidade de acessibilizar o ambiente de trabalho e tal.

Acontece, que há alguns problemas nessa questão. Existem leis que obrigam TODOS os prédios a serem adaptados para pessoas com deficiência, tendo ou não, alguma pessoa com deficiência ali. Isso é um ato ético e como um ato ético, deveria ser respeitado. Por outro lado, quem não queria um salário bem maior e poder comprar uma cadeira de rodas melhor ou produzir como outra pessoa qualquer? O problema do Brasil não é as pessoas com deficiência ou outras pessoas que recebem um salário mínimo da Previdência e sim, funcionários públicos que recebem salários integrais, regras que não condizem com a realidade brasileira, pessoas da política que tem duas ou três aposentadorias acumuladas. Fora, que esses 2 milhões de pessoas com deficiência que entraram no pente-fino, uma boa parte foi por causa de atividades remuneradas (como se o cara não pudesse vender balas num farol para complementar seu salário mínimo), então, por que essa cadeirante (que a gente sabe muito bem quem), que ganha o teto total desse benefício (R$ 5.645,80) e faz palestras, não perdem esse benefício, se é uma regra dentro do BPC/Loas? Nós, como muitos países desiguais, somos levados a termos castas e achamos que não temos.

Na Índia, por exemplo, há o sistema de castas a séculos e a religião de lá foi feita nesse sistema. Mesmo que o cristianismo pregue a igualdade – como o Mestre Jesus pregou – nós sabemos que não há nenhuma igualdade. Até arrisco dizer que toda essa teologia cristã, nada tem a ver com qualquer ensinamento de Jesus e tudo foi feito, como uma tentativa de perpetuar o império romano. Voltando a Índia, lá pelo menos se assume que há esse sistema, muito embora, o budismo nasceu de uma necessidade de questionamento desse sistema (como Jesus questionou o sistema judaico). No Brasil, se acreditamos que não há sistemas de castas, não há pessoas que são beneficiadas mais do que, as outras e entramos em minha outra questão.

Se olharmos os outros países, a questão da deficiência é muito mais sossegada (nem tanto, mas, não é igual aqui). As ruas são mais acessíveis na maioria da Europa e nos EUA, tem transporte adaptável, tem como as pessoas com deficiência se locomoverem. As regras são obedecidas porque as pessoas são punidas severamente, e não é só na questão da vaga de estacionamento, é em tudo. Tem mais educação e teve um maior trabalho de inclusão e reabilitação. Então, as pessoas podem trabalhar, podem andar na rua (as cadeiras motorizadas são subsidiadas pelo governo e não dadas), podem ter uma vida comum. A ajuda do governo vem separado, quando há um sistema previdenciário. Portanto, não é questão da Previdência e nem um (beneficio) e sim, ajudar para essas pessoas tenham as mesmas oportunidades que as outras pessoas.

Vivemos num país que as pessoas não são educadas para serem éticas e sim, verem somente o “seu”, só que estamos numa sociedade e gostando ou não, temos que seguir algumas regras de convívio. Isso faz parte do que Aristóteles chamava de etiqueta. Etiqueta não é coisa só da elite e muito menos, coisa de saber onde fica os talheres, onde fica o vinho, mas, como respeitar o outro dentro de uma sociedade. Você respeitar uma autoridade é cautela, você respeitar mulheres gravidas, cadeirantes, entre outras pessoas, é ético. Isso é etiqueta. Quando você consegue fazer uma palestra e custa R$ 15 mil reais, sabendo que existe pessoas que recebem da Previdência, um salário mínimo, você não iria abrir mão? Será que essa cadeirante, não consegue dar essas palestras por estar direto na mídia? Sim, porque há cadeirante que faz stand-up e não ganha nem a metade.

É só uma reflexão mesmo.


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