sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Eu não escrevo para os Lacradores da Superação

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Esse é o maior exemplo de Lacrador da Superação 





Amauri Nolasco Sanches Junior

Outro dia, eu vi uma pergunta interessante de um grupo de cadeirante, chamado, Cadeirantes do Brasil, que dizia se o cadeirante se incomoda em viagens ou casa de parentes. Eu fiz uma reflexão no meu Facebook, dizendo que eu não aguento viajar e ficar horas dentro de um ônibus ou num carro – que para um cadeirante, é uma tortura. Ainda, eu disse que num avião é muito pior, porque eu fico muito chato quando eu quero mijar, cagar e comer, e dependo das outras pessoas para isso. Por outro lado, a polêmica foi que eu disse que não vou na casa de parentes, porque tem muito degrau, eu tenho que levar meu “mijador” e não tem barras no banheiro e eu não durmo além da minha cama. Se eles sabem que tem parente com deficiência, sabe que não pode ter degrau. Me chamaram de chato, porém, eu só expus uma reflexão.

Acontece, que eu tenho uma ética e não duas. Uma das características do meu ceticismo é ter a plena certeza que não ponho ninguém mais especial do que as outras pessoas, então, não protejo nem parente e muito menos, amigos. Nós estamos vendo esse tipo de coisa dentro do governo que protegem seus parentes. Ora, se queremos uma inclusão mais eficiente, por que eu não deveria cobrar dos meus parentes? Muito pior, que eles me conhecem desde quando nasci (eu tenho minha deficiência dês do meu parto). A questão é que as pessoas com deficiência, não fazem isso porque querem bem os familiares, muito delas querem que a família que se foda, a questão é que elas têm medo de perder as “vantagens” de ser o “exemplo de superação”. Como é da nossa cultura, sempre alguma coisa vira uma desculpa para não confrontar e não ser o chato da história. A ética fica de lado quando o caso é comigo ou com alguém que eu goste, alguém que eu conheço e por aí vai.

Por que coloquei esse nome e escrevi tudo isso? Para mostrar que não faço o que ninguém quer e não escrevo textos fáceis. Não faço do meu blog um apanhado de tuites e morro de raiva de ver textos com parágrafos pequenos, porque o povo e a geração milênio, ficou vagabunda. Vagabunda de abrir um link. Vagabunda para ter um senso crítico. Vagabunda de conhecer outras coisas. Vagabunda para pensar além da caixinha. Descordo do Umberto Eco, o filósofo italiano que morreu recentemente, ter dito que a internet deu voz aos idiotas. Os idiotas sempre tiveram nas ruas das periferias e dirigindo grandes empresas, achando que o mundo é um grande parque temático tipo Disneylândia. Não deveríamos ver as ferramentas ao invés de ver quem usa. Acho mesmo, que a internet deixou uma boa parte da humanidade vagabunda. Criamos uma geração covarde, que não quer saber de estudar nada, ler nada e se sentem do direito de opinar naquilo que nem sequer, sabe o que estão dizendo. Falta brio, como disse o professor Clovis de Barros Filho, para criar a capacidade crítica de ler pelo menos uma linha difícil. Discutir aquilo com propriedade e não como pessoas perdidas no meio de um tiroteio.

Vejo meus amigos engajados que escrevem suas ideias e vejo a grande maioria, concordaram apenas. Sem uma ideia. Sem discuti o assunto. Aliás, muitas pessoas com deficiência acham que uma discussão de ideias é uma briga. Então, aquelas que gostam de escutar “exemplo de superação” ou aquelas que gostam de tirar uma graninha lacrando. Eu chamo de Lacradores da Superação. Estão nos esportes. Estão na mídia e não percebem que colaboram com o capacitismo. O capacitismo pode ser sim, lacrador. O capacitismo está em não falar o que pensa. Aceitar uma piada que não gostou. Capacitismo é desistir de um texto antes de entender, capacitismo é tudo que tem de inútil na humanidade. E ainda, aceitar que agencias de emprego, peçam laudo médico.

Eu vou continuar a colocar os filósofos nos meus textos. Vou continuar colocando ideias e coisas difíceis. Porque tem o Google para isso e sinto muito, eu não escrevo para você, Lacrador da Superação.


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