![]() |
Esse é o maior exemplo de Lacrador da Superação |
Amauri Nolasco Sanches Junior
Outro dia, eu vi uma pergunta interessante de um grupo de
cadeirante, chamado, Cadeirantes do Brasil, que dizia se o cadeirante se
incomoda em viagens ou casa de parentes. Eu fiz uma reflexão no meu Facebook,
dizendo que eu não aguento viajar e ficar horas dentro de um ônibus ou num
carro – que para um cadeirante, é uma tortura. Ainda, eu disse que num avião é
muito pior, porque eu fico muito chato quando eu quero mijar, cagar e comer, e
dependo das outras pessoas para isso. Por outro lado, a polêmica foi que eu
disse que não vou na casa de parentes, porque tem muito degrau, eu tenho que
levar meu “mijador” e não tem barras no banheiro e eu não durmo além da minha
cama. Se eles sabem que tem parente com deficiência, sabe que não pode ter
degrau. Me chamaram de chato, porém, eu só expus uma reflexão.
Acontece, que eu tenho uma ética e não duas. Uma das características
do meu ceticismo é ter a plena certeza que não ponho ninguém mais especial do
que as outras pessoas, então, não protejo nem parente e muito menos, amigos. Nós
estamos vendo esse tipo de coisa dentro do governo que protegem seus parentes. Ora,
se queremos uma inclusão mais eficiente, por que eu não deveria cobrar dos meus
parentes? Muito pior, que eles me conhecem desde quando nasci (eu tenho minha deficiência
dês do meu parto). A questão é que as pessoas com deficiência, não fazem isso
porque querem bem os familiares, muito delas querem que a família que se foda,
a questão é que elas têm medo de perder as “vantagens” de ser o “exemplo de superação”.
Como é da nossa cultura, sempre alguma coisa vira uma desculpa para não confrontar
e não ser o chato da história. A ética fica de lado quando o caso é comigo ou
com alguém que eu goste, alguém que eu conheço e por aí vai.
Por que coloquei esse nome e escrevi tudo isso? Para mostrar
que não faço o que ninguém quer e não escrevo textos fáceis. Não faço do meu
blog um apanhado de tuites e morro de raiva de ver textos com parágrafos pequenos,
porque o povo e a geração milênio, ficou vagabunda. Vagabunda de abrir um link.
Vagabunda para ter um senso crítico. Vagabunda de conhecer outras coisas. Vagabunda
para pensar além da caixinha. Descordo do Umberto Eco, o filósofo italiano que
morreu recentemente, ter dito que a internet deu voz aos idiotas. Os idiotas
sempre tiveram nas ruas das periferias e dirigindo grandes empresas, achando
que o mundo é um grande parque temático tipo Disneylândia. Não deveríamos ver
as ferramentas ao invés de ver quem usa. Acho mesmo, que a internet deixou uma
boa parte da humanidade vagabunda. Criamos uma geração covarde, que não quer
saber de estudar nada, ler nada e se sentem do direito de opinar naquilo que
nem sequer, sabe o que estão dizendo. Falta brio, como disse o professor Clovis
de Barros Filho, para criar a capacidade crítica de ler pelo menos uma linha difícil.
Discutir aquilo com propriedade e não como pessoas perdidas no meio de um
tiroteio.
Vejo meus amigos engajados que escrevem suas ideias e vejo a
grande maioria, concordaram apenas. Sem uma ideia. Sem discuti o assunto. Aliás,
muitas pessoas com deficiência acham que uma discussão de ideias é uma briga. Então,
aquelas que gostam de escutar “exemplo de superação” ou aquelas que gostam de
tirar uma graninha lacrando. Eu chamo de Lacradores da Superação. Estão nos
esportes. Estão na mídia e não percebem que colaboram com o capacitismo. O capacitismo
pode ser sim, lacrador. O capacitismo está em não falar o que pensa. Aceitar uma
piada que não gostou. Capacitismo é desistir de um texto antes de entender,
capacitismo é tudo que tem de inútil na humanidade. E ainda, aceitar que
agencias de emprego, peçam laudo médico.
Eu vou continuar a colocar os filósofos nos meus textos. Vou
continuar colocando ideias e coisas difíceis. Porque tem o Google para isso e
sinto muito, eu não escrevo para você, Lacrador da Superação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário