
Amauri Nolasco Sanches Junior
Outro dia em um grupo do Facebook, Mistura Inclusiva, um
colega escreveu que havia alguns posts de pessoas com deficiência (na maioria,
cadeirante), procurando um companheiro que ficasse ao seu lado. O que achei
interessante foram as perguntas que ele escreveu – que logicamente, as pessoas não
leram – que fazem a gente ter uma certa reflexão não só na parte das pessoas
com deficiência, mas, num conjunto geral da cultura humana nessa área. Também é
lógico, que o meu colega, não está condenando que faz isso, até acha bom, mas, ele
lança uma reflexão dentro do que chamamos de romantismo hollywoodiano. Será, com
tantos assassinatos, o ser humano é educado em ouvir outro? Será que não idealizamos
demais as coisas e achamos que o outro deve ser o que nós queremos que ele
seja? A questão deve, sem dúvida nenhuma, ser refletida dentro de uma ótica além
do que estamos acostumados.
Primeiro, há uma certa confusão no senso comum em relação ao
amor platônico. O amor imaginativo (aquele que está no mundo das ideias) seria
um amor figurativo, idealizado dentro de uma visão da normalidade interativa social.
Platão achava que só poderíamos nos relacionar com pessoas que completassem
aquilo que falta em nós mesmo, que eu acho, uma tremenda bobagem. Só que com a
igreja católica romana adotar a filosofia platônica, adotou essa parte
ensinando que casamos para nos completar em um só. O ser humano é completo
(tanto, que usamos “ser” na nomenclatura, que quer dizer completo), é filho do
Criador e casamos ou temos algum relacionamento, exatamente, para somar alguma
coisa. O cético Hume, tinha uma ideia bastante interessante, dizendo que as
ideias são associativas. Segundo o filósofo, temos as ideias “semelhantes”, as
ideias “contiguidade” (no tempo e no espaço) e as ideias de causa e efeito. As ideias
semelhantes seriam as ideias originais, como se você está escrevendo, você tem
que ver uma semelhança lógica entre as ideias do filósofo e as suas. Ainda,
quando eu falo das ideias do filósofo, eu estou conversando com acerca do
outro, que seria a contiguidade. E quando eu estou escrevendo esse texto, estou
com uma ideia (causa) que quero me expressar (efeito).
Sempre idealizamos as pessoas perfeitas. Sempre achamos que
deve ter uma vida perfeita para ser feliz. Que temos que ter um corpo perfeito
para ser um homem ou uma mulher, apaixonante e interessante para ter um
relacionamento. Mas, minha dúvida seria: será que as pessoas não são felizes
sendo sozinhas? Será que temos que achar o par perfeito para ser felizes com a
pessoa? Muitas pessoas me acham chato por questionar certas situações do
cotidiano, mas, sempre acho que esses questionamentos se fazem pertinentes. Talvez,
essa busca do outro é sempre associada aos filmes de Hollywood que sempre
mostra que o herói vence, que o herói fica com a mocinha no final, se não fica,
jura amor eterno. Há em mim uma certa dúvida associada dentro desse tema, porque
tem a ver com as perguntas do meu colega.
A primeira pergunta é: será que estamos preparados para
isso? Porque as pessoas com deficiência no geral, acham que são adolescentes
pelo resto da vida. Acham que o mundo é cor-de-rosa e acham que as pessoas têm
que pensar como essa maioria. Sou cético na capacidade humana de ter consciência
de si mesmo – como acontece no filme Bird Box que estou devendo um texto – porque
ele sempre foge de si indo em balada, indo com amigos em qualquer lugar e
nunca, nunca mesmo, fica sozinho em silêncio ou lendo livros ou que queira. Pior
é a maioria das pessoas com deficiência que são levadas a pensarem assim, a
estarem assim por causa que a única coisa a serem ensinadas, são a assistir à televisão.
Daí entra a ideia de Hume de associação.
Todos os posts são de pessoas que “querem” um relacionamento
com alguém. Querem ou desejam? A ideia associativa entre o querer, o desejo e o
relacionamento por um momento de felicidade, tem a ver com o prazer. Ora, isso não
está associado entre filmes e novelas? Temos a ideia semelhante do mocinho (o
ser humano ideal), que tem que provar seu heroísmo para conquistar a mocinha (o
outro) para ser feliz para sempre com ela (o prazer). Aqui temos a semelhança,
temos a contiguidade e temos a causa e efeito. Mas a questão é: o mocinho
estava preparado para deixar seu heroísmo pela felicidade eterna com a mocinha?
Será que o desejo do mocinho é um desejo momentâneo?
A segunda pergunta é: será que é o que quer um
relacionamento ou a pessoa quer preencher alguma coisa dentro dela? O amor platônico,
além de ser um amor ideal, ainda é a busca daquilo que não existe dentro de você.
Se há um preenchimento a ser feito, então, não quer um amor e sim, uma idealização
daquilo que seria felicidade. Daí entramos na outra pergunta: será que isso não
passa de uma carência? Será que dependemos do outro para dar a felicidade e o
prazer de sermos completos? Ora, se há uma dependência, estamos colocando no
outro a felicidade que só vai ser conquistada com a nossa percepção. Da nossa noção
de realidade e fantasia. Não existe, pelo menos na atual humanidade, uma
felicidade eterna. Não existe duas pessoas que se amam que não briguem, que não
se sujem na hora da transa (sim, pessoas com deficiência transam), não existem
casais sempre compactuando com as mesmas ideias
Por outro lado, não adianta ter um relacionamento quando não
estamos bem conosco, vai fazer você e a outra pessoa sofrer por causa da sua carência.
Porque, pelo menos dentro das minhas ideias, a felicidade deve ser compartilhada
e não procurada no outro.
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