terça-feira, 26 de outubro de 2021

O erro da CASACOR e a autoajuda do Linkedin

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

No último sábado – como foi noticiado onde eu trabalho (aqui) – uma advogada de 30 anos, cadeirante e com paralisia cerebral, Nathalia Blagevitch Fernandez, foi literalmente expulsa da exposição porque reclamou da acessibilidade. Ora, como cursos de administração não abordam a questão de acessibilidade dentro de exposições, comércios ou empresas? Porque queremos ser uma nação “moderna”, mas temos uma cultura, ainda, do século dezenove e nem estou falando só do nosso capitalismo (selvageria da década de 20), mas de toda a cultura que ainda atrasa o desenvolvimento como nação e como desenvolvimento de uma cultura muito mais agregadora.

Nosso capitalismo – isso sempre foi assim – quer ganhar dinheiro muito rápido e sem muito esforço. Ou seja, nada funciona direito porque se quer ganhar, mas não quer investir e tem um monte de desculpas para tal. Não se tem retorno. Dentro da Lei de Cotas das pessoas com deficiência dentro das empresas, não há profissionais qualificados, sendo que na própria reportagem, a moça cadeirante e com paralisia cerebral tem diploma de advogada e conheço milhares de pessoas com deficiência com qualificação. Como resolver isso? Como podemos resolver algo a partir de uma dinâmica cultural? Educação. Em todas as áreas que se envolvem pessoas, se tinha que ter a matéria da ética e a ética é um pilar de todas as sociedades, desde os gregos antigos.

Somos filhos da cultura greco-romana e não podemos negar. Herdamos a filosofia ética e moral dos gregos e a filosofia do direito dos romanas, isso nos deu a base de formar nações com jurisdição e com uma educação ética, graças a toda a síntese de tudo isso que os iluministas fizeram da filosofia grega e o direito romano (pouco esquecidos nas catacumbas medievais). Sendo assim, a filosofia contemporânea vai se preocupar muito mais com a ética de grandes corporações e meios de gestões mais eficientes e menos “motivacionais”, porque a autoajuda só dará um verniz daquilo que está já velho e mofado. Não era melhor testar os elevadores antes da exposição? Não era melhor investir em um gerador potentes que assegurassem elevadores ou suspender aquele dia para visitações? O treinamento de funcionários – que segundo a advogada, mandaram ela calar a boca – é importante, pois, uma má conduta de um só, pode comprometer a empresa num todo. Principalmente, empresas que lidam com pessoas. Lidar com diversidade – aqui no Brasil, nem se pensa nisso – é importante, porque é um negócio e não seu “parquinho” particular.

Existem outros casos como o recente vídeo de uma gerente humilhando um funcionário na rede Carrefour – mais um caso – onde mostra que a parte de gerência ou a parte de CEO, sempre fica com aqueles que “agradam” a alta cúpula (o chamado “puxa-saco”) que é muito comum no Brasil. Quantas vezes o cargo de chefia sempre ficava com pessoas menos qualificadas para tal? Sempre o cargo de chefia ficava com aquele que se destaca e não aquele, realmente, que estuda para isso. Ai está a questão, como pessoa com deficiência (sou qualificado), tenho uma pergunta importante: se um empresário, dono de qualquer coisa e o único critério de ser um gerente é ser um puxa-saco, por que sempre usam da desculpa que não há pessoas com deficiência qualificadas?

Vendo a rede sociais Linkedin – voltada para o setor empresarial e de empreendedores – podemos ver milhares de falhas transvestidas de “mensagens” positivas ou inúmeros escritores que se aproveitam desse ar de facilidades e dão cursos como deixar sua empresa melhor. A administração é muito mais do que isso, ela mexe com a economia de mercado. Ela mexe com a sociedade que anseia aquele produto ou aquele serviço, e pouco importa se você fica vendo videozinho motivacional, pois, os maiores empresários do mundo enxergaram problemas sociais reais e não o “Mundo de Nárnia” das corporações fofinhas. Os reacionários sempre ficam no passado idealizado e os que ficam nesse “mundo de Nárnia” sempre vão fazer besteiras, porque querem moldar seu mundo naquilo que idealizam numa sociedade. A realidade fede muito mais do que mensagens de otimismo que poluem todo o Linkedin e mostram que os empresários – a elite tosca brasileira – são idealizadores de um mundo que não existe.

Pouco me importa se gostaram ou não do que escrevi, pessoas sinceras e que sabem o que estão dizendo, é um caso raro num povo que não abre um link para ler. Ora, como tudo aqui vira uma moda, existe agora algo como Gestão de Pessoas que são uma parte do RH (Recurso Humanos) que existem, inúmeros textos sobre essa matéria. Não que ela não é importante, mas, pelo que eu vi por ai, não é usada. Primeiro, ela garante que a empresa disponha dos talentos do que precisa, sendo eles qualificados e engajados. Sendo que, vai ao encontro do que disse do puxa-saco ou se esse funcionário qualificado e engajado, tem ou não uma deficiência. Ou seja, o primeiro item não é usado.

Segundo: ela dará suporte na organização no alcance nas metas estabelecidas – onde a empresa quer chegar – desenvolvendo e implementando ações dentro do RH integradas na estratégia de negócio. Ou seja, vão desenvolver planos para uma implementação daquilo que vai ser estabelecido como negócio dentro da empresa. Terceiro: estabelecer um relacionamento positivo entre os que contratam e os funcionários fazendo uma confiança mutua. Eu não vi isso no Carrefour, por exemplo, que a gerente humilhou o funcionário e não contratar pessoas com alguma deficiência.

Além dessas três questões – que ainda não entendi o que de humano tem isso – ainda tem auxiliar na criação e no desenvolvimento de uma cultura de alto desempenho. O que será que essa gente entende como cultura? A cultura é entendida como os comportamentos, tradições e conhecimentos de um determinado grupo sociais, incluindo línguas, as comidas típicas, as músicas locais, as artes, as roupas, entre outros componentes. Na filosofia – que é algo que estudo bacharelado – cultura é um conjunto de manifestações humanas moldadas a partir de uma combinação entre a interpretação pessoal da realidade as muitas experiências globais. Elas são diferentes do comportamento natural do homem e podem ser transformadas a partir de algumas percepções de valor íntimo, argumentação e aperfeiçoamento. Então, o que seria uma cultura de alto desempenho dentro de uma empresa? Empresas tem que funcionar e dar o que oferecem, tratando seus funcionários como pessoas e não maquinas. O que vejo, que mesmo esse tipo de modinha estarem ai, ninguém se importa com nada e sim, ganhar dinheiro.

Por último, a gestão de pessoas vai incentivar a aplicação de uma postura ética nas relações de trabalho. A pergunta mor é: onde isso acontece? Não é isso que a gente vê nos noticiários e sabemos existir, mesmo o porquê, ter uma postura ética está além de relações de trabalho. Ética deveria ser ensinada desde o pré-primário e isso não é eu que estou dizendo, a educação de países desenvolvidos estão. Portanto, não venham com essa conversinha que estamos implantando gestão pessoal, que é tudo papo furado. No mais, posturas éticas deveriam enxergar além da deficiência, coisa que não acontece.



sábado, 23 de outubro de 2021

As teias sociais

 





 

“Quando as pessoas adicionam seus amigos no Facebook, eles estão trabalhando de graça para as agências dos Estados Unidos.”

JULIAN ASSANGE

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Por que uma aranha tece sua teia? Muitas pessoas poderiam me responde que as aranhas tecem suas teias por causa da necessidade de se alimentar de outros insetos, onde ponde sugar o que tem dentro deles. Além disso, a aranha alimenta seu ninho com eles, deixando, comida para sua próxima geração. Isso acontece dentro da fauna terráquea por milhões de anos e isso fez com que as aranhas, ganhassem a sua sobrevivência dentro da evolução biológica. Pensando nisso – num modo bastante radical – venho refletindo o papel das redes sociais desde o Orkut e o quanto pessoas dependem dela para terem e para darem sua opinião. Porém, eu sendo platônico nesse sentido, para mim uma opinião não é um conhecimento, é mera opinião.

Essa frase de Assenge – um cara que revolucionou o anarquismo digital – poderia ser um exagero se eu lesse ela a uns 10 anos atrás, hoje venho refletindo bastante sobre o papel das redes sociais dentro da sociedade. Mas, o problema em si, não é usar essa rede social para expressar o que se pensa, o problema que existem uma gama de redes por aí e ninguém usa, só usa meia dúzia. Por que as pessoas têm um pensamento de manada, sendo elas, muito mais informada do que a 10 anos atrás? Por que redes sociais que pagam, ou que são mais leves, não são lembradas para o uso? Será que tem uma propaganda sistematizada que as pessoas acabam aderindo?

Mídias ou redes sociais são instrumentos para se falar em longa escala ou conviver com pessoas muito diversas. Conviver virtualmente é algo que se pode dizer ser um convívio? Com+viver é um compartilhamento da existência entre mim e o outro, isso pressupõem, a meu ver, uma presença entre eu e o outro. Pode ser meu perfil ser uma extensão do meu eu? Talvez. Pois, quando eu opero dentro da premissa que eu posso expressar o que penso, aquilo acaba sendo quem eu sou. O problema é adesão em massa naquilo que não te agrega em nada, nem em conhecimento (o povo não abre um link) e nem materialmente (redes que te pagam). Que logica tem você seguir todo mundo? Que logica tem você aderir o que todo mundo adere?

Vamos pensar que eu aderi ao WOWAPP – essa logica é usada desde o Orkut - e os meus amigos e parentes não, porque acham muito complicado aderirem e não tem saco para fazer cadastro. Ou, desconfiam que seus dados sejam pegos, coisas que sabemos, o Facebook já faz. Mas o Facebook tem repercussão midiática – talvez, pagando a grande mídia – e as outras mídias sociais (que muitas vezes, pagam), não tem por que não interessa, o que interessa é ficar dependente do estado. A internet, num modo geral, é um mundo anárquico que mostra como seria uma sociedade sem o estado, se pode fazer o que se quer, ter as informações que se queira, mas existem regrinhas a seguir e se não se segue, se isola. A anarquia não é a “terra de ninguém”, existem regras éticas morais que se não se seguir, a própria comunidade poderia julgar. Há erros? Pode haver, mas, com a educação escolar no alcance de todo mundo, todo mundo teria mais consciência daquilo que estaria fazendo.

Ora, então as redes sociais, assim como as aranhas, usam a lógica simples: você não pode ser isolado e é livre. Será que somos livres? Será que não há nenhum indício de agencias do estado evolvidas em redes sociais? Não sabemos. Mas, como aquele ditado espanhol diz:  “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay” (eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem). Ou seja, sempre devemos ter um “pezinho” atrás.



quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Quem não lacra não lucra? – carimbos de pensamento que tanto se usam

 


História do novo Superman terá beijo gay (Imagem: Reprodução)







Amauri Nolasco Sanches Jr

 

Uma notícia no Instagram da Jovem Pan – com o diretor da Marvel Comics – dizendo que não é o primeiro personagem gay da Marvel e não vai ser o último, por causa dos “Eternos” que tem outro personagem gay. Como, pouco tempo atrás, teve outra polemica envolvendo o filho do Superman que é bissexual e tem uma cena que mostra ele beijando outro rapaz. Tem algum problema? Para mim, que cresci sim vendo essas coisas, não tenho nenhum problema. O problema é a frase dos ditos conservadores – não são, são muito mais reacionários tradicionalistas do que conservadores de alguma coisa – que repetem como papagaios: quem lacra não lucra.

Primeiro, a frase não se usa virgula, porque quem está lacrando não esta lucrando. Depois, o termo lacrar ficou confuso e banalizado como se fosse algo pejorativo. Ou seja, o brasileiro tem uma mania de todo substantivo se virar um adjetivo. Na verdade, lacrar é você fechar alguma coisa isolando aquilo que não pode ser libertado. O selo que lacra uma carta do rei, por exemplo. Ou, lacrar um recipiente com objetos radioativos ou tóxicos. Existe, também, a gíria lacrar que quer dizer arrasar ou se dar bem. Mas, no meu tempo de jovem, lacre era o velcro que tinha sido novidade naqueles tempos e que era sinônimo de mulheres homossexuais. Como se dizia: “era a lacrada delas”, como mais antigamente, era a história das “aranhas” e as cobras, que estão até mesmo, na música do Raul Seixas.

O começo da frase, também, é bastante problemático. O “quem lacra” tem a ver com “quem arrasa” ou “quem quer se dar bem”, ou seja, estão dizendo que o fato do filho do Superman ter uma bissexualidade é uma modinha. Pode ser, mas dizer que a Marvel Comics não vai lucrar com tal ação, é ingenuidade e achar que sua opinião é importante ao máximo. E no mais, o que isso muda na sua vida? A questão pode ir muito mais a fundo (como eu adoro) e podemos dizer que, o fato de terem feito personagens homossexuais nos quadrinhos, não interfere em nada da vida das crianças se elas tiverem uma educação de verdade. Isso não é feito nas escolas, isso é feito nas famílias. Muitas pessoas tiveram pais que fumam – como meu pai sempre fumou – que não tem nenhuma aptidão ao fumo porque foram devidamente educados. E no mais, sexualidade você não força a barra para ser um homossexual porque está na moda, você é porque você nasceu assim.

Por outro lado – não dando razão a frase, claro – podemos usar o existencialismo sartríano e perguntar: se ser mulher ou ser homem é uma construção sociais (como Beauvoir disse que não se nasce mulher), o homossexual também não seria o caso? Será uma construção de uma sexualidade construída através de uma construção traumática? Porque há uma construção social, isso não há dúvida, mas a construção social não se pode ser colocado como o único fator.  Claro, o existencialismo vai refutar a essência escolástica e a noção de que nascemos com uma – mesmo assim, não acho que somos totalmente uma construção social – e que algumas características são esse tipo de coisa. Pegamos esse que vos escreve, minha deficiência não é minha natureza, são aspectos de uma consequência de um acidente dentro do parto (falta de oxigênio). O que vai determinar quem sou é a noção de personalidade que me faz ser um ser racional e emotivo, ou seja, sou um individuo que pensa e sente a realidade ao meu redor. A deficiência não me define. Mas o que eu sou me definira como noção daquilo que me faz uma pessoa que construiu toda uma noção daquilo que chamam realidade. Por outro lado – mesmo percebendo – a grande maioria não sabe, sequer, o que é realidade.

Nesse interim, existem carimbos de pensamentos (como salientou o prof. Vitor Lima no canal Isto não é filosofia), que são usados em memes e são usados para alienação politica. O “kamarada” soviético (que é o companheiro petista), o “Heir Hitler” nazista, o “Dulce” fascista etc, tiveram o mesmo impacto dentro da noção de carimbos de pensamento. Músicas populares também são carimbos de pensamento, assim como, esta frase. O “quem lacra não lucra” é um dos carimbos ideológicos de pensamentos que o governo bolsopetista inventou, como também “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” que é nacionalista evangélico. O Brasil não é laico? O Brasil não contém várias nacionalidades? O Brasil está acima de tudo não é amar a nação brasileira, é dizer que o estado brasileiro está acima de todas as instituições e isso é perigoso. Não sou a favor de nenhuma ditadura, nem a democrática.


sábado, 16 de outubro de 2021

Era só uma cadeira...

 

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Por que, nós com deficiência, temos que sempre em estar nas tutelas dos médicos e dos fisioterapeutas para, até mesmo, comprar uma simples cadeira de rodas? Sempre temos que que ter laudos médicos para tudo (empregos, concursos, escolas etc.)? temos uma cultura positivista. O positivismo nasce na França no século dezenove e é um pensamento filosófico e foi muito usado no século vinte. Foi desenvolvida pelo filósofo Auguste Comte e defendia que o conhecimento científico era o único conhecimento valido. Ou seja, qualquer pensamento supersticioso, religioso e teológico, num modo geral, não deve ser levado em consideração, pois – segundo o positivismo – não podem contribuir para o desenvolvimento da humanidade. Assim sendo, o positivismo, vai valorizar a ciência o materialismo e o mundo humano em contraponto a metafisica e ao mundo espiritual.

Leia também: Corpos de mãe e filho paraplégico foram encontrados sem vida

Podemos dizer que o pensamento positivista esta dividido em duas vertentes: uma vertente seria a vertente cientifica e busca sempre efetivar uma divisão das ciências, e do outro a orientação psicológica, linha teórica da sociologia que vai investigar toda a natureza humana existente. Será mesmo que vai investigar a natureza humana através da psicologia ou na metafisica? Pois, hoje em dia, as filosofias materialistas – o positivismo, existencialismo e o socialismo/comunismo – estão sendo questionadas no mundo filosófico (mesmo que neguem alguns) por causa da forma que olham o ser humano. Nós, que temos deficiência, segundo essas filosofias (menos o existencialismo que é muito mais profundo), não teríamos utilidade dentro da sociedade e a parte humana (que para elas é irrelevante) fica num segundo plano.

Leiam Também: Bolsonaro ironiza Xuxa e continua seu suicídio politico

O socialismo científico (assim como uma parte do liberalismo) gira em torno da economia e como o ser humano desenvolve dentro de uma sociedade industrial. Mas, há um problema – que muitos acham ser um humanismo, mas é uma análise muito simplista – o ser humano não é só sociedade e não é só economia (embora, dependa dela para a sobrevivência). Há outros fatores que formam o ser humano, como o caráter. Uma deficiência, por exemplo, forma um caráter ou é parâmetro para dizer se aquela pessoa tem ou não caráter? Claro que não. Desde os gregos, a educação vem sendo uma grande colaboradora para moldar o caráter do ser humano, pois, educação vem do latim “educare” que vem do grego “ethos” que muito antigamente, queria dizer casa. O caráter seria nossa casa? O que somos?

A pergunta mais primordial da filosofia é: o que somos? Porque, antes mesmo de achar respostas do que ganhamos e do que queremos ser – dentro da sociedade capitalista – a pergunta mais importante é o que somos, daí, você pode definir o que se acredita. Acreditar é você usar sua definição de mundo (que muitos chamam de intuição), é diferente da fé que usa só a esperança para definir o que se espera, pois, acreditar tem a ver com a subjetividade de uma realidade, fé é imaginar o que poderá ser ou não. Quando você começa a conhecer a si mesmo – como forma de um autoexame – você pode acredita sim numa realidade a partir dos valores que foi ensinado a você. A questão é: será que isso esta mesmo te fazendo enxergar a realidade como ela é mesmo?

Se o termo grego (ethos) a questão era determinar o modo espiritual que o povo grego via a sua sociedade e os seus costumes – um grego, naquela época, era um grego de verdade – o termo latino (educare) era para mostrar aos mais jovens a realidade. Como os romanos viviam e como era ser um romano. Ou seja, os costumes se era para seguir e ser regra (muito embora, nem todo mundo seguia). Então, quando você diz ser ético e moral – ética é de foro íntimo e moral é de foro social – você está dizendo sobre educação e você aceitar o outro como ele é e não criar regras subjetivas morais, tem a ver com educação.

Daí você pode dúvida do modo tecnocrata com que o positivismo trata de modo bem científico – muito parecido como fundamentalistas religiosos – a ciência de um modo geral. Eu quero fazer filosofia, por que vou fazer técnico de informática numa escola técnica? Quero estudar arte ou sociologia, por que enchem as escolas técnicas de cursos de tecnologia? Educação, tecnicista positivista, pois não se pensa mais em vocação, não se pensa mais o trabalho intelectual e ai entre as pessoas com deficiência. Por quê? Porque poderíamos ter um trabalho intelectual muito mais proveitoso (quem gosta, claro), para melhorar a imagem social de pessoas que sofrem, pessoas que não são uteis para a sociedade. Daí, além do positivismo de Comte, temos o materialismo de Marx que vem ao encontro da pratica. Mesmo o porquê, os filósofos marxistas acham que o trabalho intelectual é coisa de burguês.

Um lado temos o pensamento tecnicista do positivismo, por outro lado, temos o materialismo histórico da prática e nunca do trabalho intelectual marxista. Ou seja, numa síntese disso poderemos dizer que tudo que não for útil se deve ter tirado da sociedade, não há espaço para “máquinas com defeito”. Claro, que o capitalismo absorveu isso muito rápido, pois, ele se molda conforme tudo aquilo que lhe deixa ativo. Ainda mais, o capitalismo atrasado da América Latina. O que acontece aqui? Tudo é o médico. Se queremos trabalhar, temos que ter um laudo médico. Se queremos casar, um especialista vai dizer e se existem secretarias de pessoas com deficiência, na maior parte, são médicos e tecnocratas que cuidam dessas secretarias. Atrapalhando e deixando tudo nas mãos de um tecnocrata que nada tem de prático nos cuidados das pessoas com deficiência. Num modo geral, somos escondidos debaixo do tapete.


Acessem: Liberdade e Deficiência (Telegram) e (WhatsApp)


terça-feira, 12 de outubro de 2021

Dos tempos da AACD

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Quem me acompanha sabe muito bem que fiz tratamento na instituição AACD (Associação a Assistência a Criança Deficiente [que na época era “defeituosa”]) e que estou cheio de críticas dos anos que estive lá, mas, esse texto não é sobre a instituição da menininha muletante.  A questão é a minha formação como militante e aquele que sempre lutou e continua lutando, para que as pessoas com deficiência estejam inclusas dentro da sociedade. Se em pleno 2021 as coisas são difíceis – porque o Brasil nunca avança – imagina nos anos muito loucos 80. Na verdade, me lembro que me sentava na minha cadeirinha azul – naquele tempo não tinha cadeira de rodas para crianças – e via o que eu gostava na televisão, era do Mario Fofoca ao palhaço Bozo. Conforme eu fui crescendo eu fui mudando meus gostos e como eu via o mundo – nem percebia minha deficiência – e fui me moldando.

Meu primeiro contato com a instituição foi em 1982, pois antes eu fazia tratamento no SESI. Naquele tempo, onde o Brasil estava saindo de uma ditadura militar, não existiam muitas instituições que tratavam pessoas com deficiência e isso perdurou até os anos 2000. Porque as medidas da AACD de acharem ser a “majestade” graças as redes sociais, foras desmascaradas e devidamente posta em evidências por aqueles que passaram por isso. No mais, se começou a ser criados medidas de inclusão escolar e medidas para reabilitação. A questão é, nos anos 80 a instituição ainda recebia bastante isentivo dos vários governos e que não precisava se preocupar com a concorrência. Então, pelo que me lembro, entrei nas classes especiais que tinham no colégio Rodrigues Alves aqui na Avenida Paulista – um colégio, aliás, tombado pelo patrimônio histórico – em 1983, com mais ou menos, 8 anos de idade (nesse momento sofri minha segunda cirurgia no joelho). Errei a hora do lanche e quase tomei lanche no meio da aula, quando as atendentes entravam na classe para ver se alguém queria comprar alguma coisa na cantina. Comi muito brotinho (fatias de pizza).

Não sinto saudade nenhuma desse tempo, para ser sincero, só alguns momentos ou algumas pessoas, pois, tive motoristas me enchendo o saco e garotas me desprezando. Minha pré-adolescência foi muito difícil, mesmo o porquê, tive minha primeira namorada e mais nada. Na minha cabeça – imatura – se meus amigos tinham conseguido, por que não eu não iria conseguir? Anos depois, entendi que havia muito mais em jogo, pois, eu era bonzinho e tímido. Não tinha o ar safado e de espontaneidade que todo rapaz brasileiro tem. Naquele tempo, o capacitismo era muito forte e uma menina de 13 ou 14 anos num iria chegar e apresentar um namorado com deficiência, ou, até mesmo, para sua mãe. Mesmo assim, não via a deficiência como um obstáculo, mas vi naquele momento uma sociedade utilitarista (onde as pessoas devem ter utilidade senão deveriam estar em casa) e que via as pessoas com deficiência como “coitados”. Mas, por outro lado, vi o embrião da luta das pessoas com deficiência de serem inclusas e vários amigos fizeram palestras ou fizeram manifestos para garantir nosso direito. Muitos deles tiveram comigo na FCD (Fraternidade Cristã de Deficientes).

Logo depois eu fui para a OAT (Oficina Abrigada de Trabalho), onde eu vi que se a sociedade puder, ela realmente, jogara as pessoas com deficiência num porão. Ganhávamos muito pouco, aprendíamos muito pouco e ainda, não poderíamos fazer nada. Minha segunda namorada foi lá e a mãe dela foi a pior experiência que eu tive na minha vida, porque não teve vergonha nenhuma de impedir de mim entrar na casa dela com minha mãe e com meu irmão levando. Aprendi que as famílias acham que é um favor deixaram namorar e se você não for bonzinho, elas não deixam mais. Vi muitos relacionamentos terminarem por causa desse pensamento, o meu terminou e durante dois anos eu não quis mais nada com ninguém. Mas, ainda na oficina, vi outra coisa: a censura e o quanto as pessoas acham – porque esse pensamento ainda não terminou – que estão fazendo um favor fazerem coisas para nós e não estão, estão exercendo uma profissão. Não podíamos falar o que pensávamos e nem namorar quem quiséssemos. Como poderíamos ter liberdade lá?

Se hoje eu sou um cara esclarecido foi por causa da minha mãe, pois minha mãe sempre me isentivou ler e a escrever (até pagou para fazerem uma antologia num texto meu que nunca chegou até a mim). Meu pai que comprou livros e meu esforço de estudar assuntos, relativamente, complexos e de dificuldade filosófica. Hoje estou fazendo bacharelado de filosofia e sou noivo, com um movimento. Não foi o paraíso e não sinto saudade nenhuma.



#noticia #deficiencia #cadeiraderodas #anitta #felipeneto

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Fome e o atraso num Brasil pobre e atrasado

 






Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

A pergunta que deveríamos fazer é: o porquê o Brasil não se moderniza? Pois, temos contrastes muito grandes entre a tecnologia acessível para todos – até um mendigo tem celular, mesmo que a esquerda não queira admitir – e ao mesmo tempo, pessoas procurando restos de carne em frigorifico no estado carioca. O que faz o Brasil não progredir e sempre ser tão caro viver num país que tudo deveria ser muito mais barato? A modernização não chegou ainda no Brasil, porque não interessa modernizar o Brasil ou as América Latina, pois somos um tipo de feudo do mundo. Se lá nas outras nações são criadores de tecnologias, criadores de teorias cientificas – com mentes e trabalho das nações como a índia, Brasil ou algum país da América Latina – aqui nas nossas terras, somos fornecedores de comida e somos os plantadores do mundo. Quantas vezes os políticos nos venderam para o estrangeiro desenvolvido? Não que devemos exaltar mais nossa nação – mesmo o porquê, todas as nações são humanas e importantes – mas devemos ver que políticos politiza decisões por causa do poder e do dinheiro. O poder e o dinheiro movem o mundo de hoje.

Talvez, indo bem longe, podemos pegar a analogia dos jedis e os siths, dos filmes da franquia Star Wars (Guerras na Estrela). Os jedis eram guardiões da Força e queriam que ela fosse usada só para o bem e para a liberdade – muito embora, as regras eram muito rígidas e deram margem de romperem a República Galáctica – e os siths usavam a Força como meio para consegui o poder e dominar, cada vez mais, as outras pessoas e ensinarem a evolução. Mas a evolução não é o meio para chegar ao bem no conhecimento? Ora, o mestre Yoda, num discurso dele, disse que a Força seria única e que a escolha seria de cada um. Tanto é isso, ele próprio convertia os raios dos siths em raios jedi. Os jedis não gostavam de política ou de políticos, mas os siths gostavam e queriam dominar – como Palpatine conseguiu dominar – para espalhar o que chamou de evolução.

A meu ver, a evolução não pode andar com o poder, porque o poder é estagnado e a evolução é progressista. O conhecimento sempre vai progredir o universo, porque recebemos milhares e milhares de bits de informação dele (universo). Por isso, dizer que os siths tem o objetivo o poder pelo poder por causa da evolução da técnica da Força, não faz nenhum sentido e chega a ser contraditório. Pois, como eu disse, o poder não deve ter mudanças para se perpetuar no poder, porque ele precisa estagnar o progresso para instalar uma espécie de alienação. Por isso que países que tem índices de educação baixo – como o Brasil – tendem sempre ao governo que quer o poder pelo poder e não progredir para melhor desenvolver o ser humano que lá vive. Ou seja, bem ou mal, os jedis preferiam o conhecimento e alguns se enveredaram no lado escuro para conhecer o problema. A problemática toda – desde Sócrates, Platão e Aristóteles no mundo ocidental – sempre foi o porquê de ter o lado obscuro da Força.

Prefiro acreditar nas filosofias mais antigas – tanto a socrática-platônica como a filosofia budista – que dizia que o bem sempre é o conhecimento (a dissipação do medo) e o mal é a ignorância (a potencialização do medo), porque o mal dissipa a luz daquilo que deveria clarear. Na franquia, fica claro nas histórias, que mesmo com regras rígidas os jedis buscavam o conhecimento e só aqueles que poderiam buscar esse conhecimento poderiam ser um jedi. Como Platão dizia que o bem maior é sempre andar nas sendas do conhecimento, sempre as auroras que luminosidade serão eliminadoras do medo. O mal, na verdade, é o medo. Pessoas com medo de qualquer coisa, sempre vão ser pessoas que serão propagadoras de violência, preconceito e o ódio num modo geral. O próprio mestre Yoda disse que o medo leva ao ódio e ao ódio se vai para o lado escuro da Força. Os filósofos budistas dizem isso também, pois, tudo é uma questão de escolhas e muitas dessas escolhas são feitas pela ignorância. Não existe uma entidade maligna ou benigna e sim, aquele que conhece a luz ou conhece a escuridão.

Trazendo para nosso mundo e nossa realidade, podemos ver um mundo onde seres humanos estão apáticos com outros seres e com o verdadeiro conhecimento. Estamos vendo um niilismo – desde o século dezenove – muito grande de relativizar questões éticas e morais, que não se deveria acontecer. Não deveríamos descuidar da natureza como acontece, não deveríamos preferir ser ignorantes e acomodados, não deveríamos achar normal a violência e o descaso. Por isso mesmo, os filósofos budistas dizem que quando você é ignorante você é preso num ego, mas um ego falso. Na verdade, ego quer dizer eu, o eu que somos verdadeiramente graças ao conhecimento de nós mesmos.  As políticas do estado sempre são alimentadas pelo medo de inimigos, que muitas vezes, nem existem e só servem para separar ainda mais o povo. A massa não pode ser congênita contra o poder, ela deve apoiar o poder e todos viram massa de manobra.

Qual é a solução do Brasil? Educação.



terça-feira, 5 de outubro de 2021

A metafisica das mídias sociais

 

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Sempre tive um senso crítico sobre assuntos diversos – que sempre me renderam censuras na oficina da AACD nos anos 90 por conta das minhas opiniões do jornalzinho que eu tinha lá – por eu achar muito tedioso ficar me pautando o que as pessoas achavam ou deixavam de achar. Isso eu via muito, não só lá, mas em todos os lugares que eu via que tinha o senso comum. Meu pai era assim, pois, minha mãe não ligava muito o que eu pensava ou fazia (claro, dependendo do que seja). A questão é – que aprendi com o professor Ortega Y Gasset – que eu sou eu, porque a vida é minha e essa vida é o que eu a vivo e sinto. As circunstâncias são o mundo (como realidade) onde eu (minha vida) estou e me vejo como um ente que me percebo. Mas, o porquê as pessoas têm um pensamento de massa?

Com o “apagão” das maiores mídias sociais que temos – Facebook, Instagram e WhatsApp – nessa segunda-feira (4), percebemos o quanto as pessoas são vulneráveis e dependem do que estão na moda. E não digo só as pessoas físicas – que usam para conversar – mas pessoas jurídicas que fazem negócio e acham que só existem essas mídias. A codependência delas, é uma coisa para se refletir diante do caos que se instala se uma delas param. Na filosofia, a massificação do pensamento e das atitudes no meio social, sempre foi uma matéria cara e discussões, sempre, acalorada. Na verdade, a massificação sempre foi um fenômeno de estado – pois se padronizou o pensamento para melhor governa e controlar a sociedade – e esse fenômeno, muitas vezes fraco outras vezes forte, sempre foi uma acomodação da massa diante de ter ou não uma mudança daquilo que estão acostumados. A mudança incomoda o meio social, mas é inevitável ela. Nunca pensaríamos, por exemplo, usar outra mídia social a não ser o Orkut a uns 15 anos atras, e, no entanto, descobrirmos o caos se o WhatsApp parar.

Heráclito – filósofo grego da antiguidade – nunca esteve tão atual em dizer que a realidade não se estagna em uma só situação, mas muda conforme os fatos vão acontecendo. O pensamento heracliano não difere dos pensamentos dos filósofos budistas – remontando o pensamento de Buda Sakiamuni – que as mudanças da realidade, é aquilo que mudamos dentro da nossa percepção. E aí esta o erro de Descartes, não somos só racionalidade (res cogitans), mas somos também sentimentos, que aliás, remontam as pesquisas de hoje. Hoje sabemos que pensamos melhor quando sentimos melhor, e assim, podemos discernir e ter empatia. O que nos fazem humanos, aliás, é a empatia. Você gostaria de ser roubado? Você gostaria de apanhar de alguém, ser assediado, ser discriminado etc.? Claro que não. Não gostamos da dor física e da dor da perda. Não aceitamos – como primatas que somos – muito bem a agressão. No entanto, não somos qualquer primata, temos consciência.

Grosso modo, posso pegar eu como exemplo e dizer que não sou minha deficiência. A deficiência é uma condição, mas não é minha essência dentro daquilo que eu sou. Sou uma pessoa, um eu vinculado dentro de uma circunstância que me cerca. Do mesmo modo, eu não sou meus perfis das mídias sociais – mesmo o porquê, isso é uma virtualização daquilo que eu sou enquanto personagem desse mundo virtual – porque eu sou muito mais do aquilo que escrevo ou reflito. Tenho meus sentimentos, tenho minhas ideias e sou aquilo que eu construí nestes anos de vida. Vivendo minhas dores e alegrias. Não posso depender daquilo que eu não sou, mas aquilo que me faz ser. E indo mais além – porque tudo é um além – não existem uma só mídia social ou uma só mídia qualquer. Existem milhares e de todos os tipos.

A pergunta existencialista do século vinte vale ainda: o porquê o ser e não o nada? Por que somos e o porquê fazemos o que todo mundo faz?


Na Livraria da Filosofia sobre Rodas 

domingo, 3 de outubro de 2021

Somos obrigados a amar nossa família?

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Recebi essa pergunta num grupo de filosofia: “Vocês acham que é obrigado amar sua família?” e fiquei refletindo muitas coisas. Primeiro, segundo a antropologia, a ideia de um homem e de uma mulher ter uma casa e ter filhos (prole) apareceu junto com a agricultura. Antes, éramos seminômades e com clãs caçando e colhendo aquilo que se era encontrado para comer. Na verdade, muito antes do ser humano ser caçador, ele comia restos de animais mortos que algum predador deixava no caminho das suas caçadas. Na verdade, as mulheres começaram com a agricultura e escolhiam os homens para sua prole – os mais aptos – e, também, queriam dar certeza para ele que aquela prole era dele. Entre certezas e incertezas, a família tirou o ser humano do nomadismo e colocou ele no limiar da tecnologia e não, o ser humano não é monogâmico porque tem tendências para tal, mas uma questão adaptativa para sobrevivência e consciência. Os filhos tinham que ser mais fortes e tinham que prover seu sustento.

Alguns antropólogos dizem, que a ideia de se apegar afetivamente um com o outro (que chamamos amor), se configurou aí nessa transição. Num filme muito antigo (1981), “A Guerra do Fogo”, mostra o domínio do fogo e por outro lado, as diversas culturas naquele tempo e como o ser humano, evoluiu na reprodução. No final do filme, o protagonista que deveria procurar o domínio do fogo e trazer para sua tribo, aprende a transar olhando nos olhos da mulher e fazendo melhor. Aprendendo com outras culturas. Ou seja, a questão familiar, talvez, tenha se configurado a partir do coito afetivo, onde os dois poderiam olhar o que um poderia sentir pelo outro. A questão é: onde a família entra nisso? Por que, hoje em dia, somos aversos a família e por que não conseguimos mais dialogar com a família? Isso tem a ver, talvez, com o número crescente de pessoas depressivas, ansiosas que não se apegar as pessoas afetivamente.

Quando você obriga ou se obriga, você está sendo coagido a fazer aquilo que você não quer fazer. E amar é um afeto que se cultiva, não se impõem. Mesmo na questão familiar. Quando não há uma troca de afeto nos dois lados, não há um vínculo afetivo e nem vai se apegar. A meu ver, amor não é veneração e a família aqui no Brasil, é venerada e não amada. O pai pode bater na mãe, trair a mãe e ainda sim, os filhos se apegar ao pai como a figura dele fosse sacrossanta e não é bem assim, as coisas não são tão simples. Lá atras quando a sociedade começou a se configurar – como estava dizendo – o ser humano, talvez, começou a configurar a família como uma proteção do mundo e das coisas. Ter a certeza, que a prole estava bem de saúde e psicologicamente, apta a certos desafios que o mundo trouxe. Mas foram tantas regras, tantas pessoas que se acharam melhores do que as outras – por causa de religiões, ideologias e até mesmo, governantes – que se esqueceu essa afetividade e esse compromisso ancestral de se cuidar dos filhos como o futuro.

Com o niilismo do século vinte – não tem nada a ver com Nietzsche – se perdeu a essência da questão afetiva porque se acredita no nada. Responderam errado os existencialistas, responderam que entre o ser e o nada se sobrava o nada e não o ser. Mas, o que seria da realidade sem o ser? Se a existência precede a essência como podemos escolher? A família, seja como ela se configure, é um conjunto de afetos que se auto entendem entre si e fazem desse entendimento algo para criar cidadãos que não sejam traumatizados, não sejam ansiosos e pessoas que respeitam os outros.