Amauri Nolasco Sanches Júnior
No último sábado – como foi noticiado onde eu trabalho (aqui)
– uma advogada de 30 anos, cadeirante e com paralisia cerebral, Nathalia
Blagevitch Fernandez, foi literalmente expulsa da exposição porque reclamou da
acessibilidade. Ora, como cursos de administração não abordam a questão de
acessibilidade dentro de exposições, comércios ou empresas? Porque queremos ser
uma nação “moderna”, mas temos uma cultura, ainda, do século dezenove e nem
estou falando só do nosso capitalismo (selvageria da década de 20), mas de toda
a cultura que ainda atrasa o desenvolvimento como nação e como desenvolvimento
de uma cultura muito mais agregadora.
Nosso capitalismo – isso sempre foi assim – quer ganhar
dinheiro muito rápido e sem muito esforço. Ou seja, nada funciona direito
porque se quer ganhar, mas não quer investir e tem um monte de desculpas para
tal. Não se tem retorno. Dentro da Lei de Cotas das pessoas com deficiência dentro
das empresas, não há profissionais qualificados, sendo que na própria reportagem,
a moça cadeirante e com paralisia cerebral tem diploma de advogada e conheço milhares
de pessoas com deficiência com qualificação. Como resolver isso? Como podemos
resolver algo a partir de uma dinâmica cultural? Educação. Em todas as áreas que
se envolvem pessoas, se tinha que ter a matéria da ética e a ética é um pilar
de todas as sociedades, desde os gregos antigos.
Somos filhos da cultura greco-romana e não podemos negar. Herdamos
a filosofia ética e moral dos gregos e a filosofia do direito dos romanas, isso
nos deu a base de formar nações com jurisdição e com uma educação ética, graças
a toda a síntese de tudo isso que os iluministas fizeram da filosofia grega e o
direito romano (pouco esquecidos nas catacumbas medievais). Sendo assim, a
filosofia contemporânea vai se preocupar muito mais com a ética de grandes corporações
e meios de gestões mais eficientes e menos “motivacionais”, porque a autoajuda só
dará um verniz daquilo que está já velho e mofado. Não era melhor testar os
elevadores antes da exposição? Não era melhor investir em um gerador potentes
que assegurassem elevadores ou suspender aquele dia para visitações? O treinamento
de funcionários – que segundo a advogada, mandaram ela calar a boca – é importante,
pois, uma má conduta de um só, pode comprometer a empresa num todo. Principalmente,
empresas que lidam com pessoas. Lidar com diversidade – aqui no Brasil, nem se
pensa nisso – é importante, porque é um negócio e não seu “parquinho”
particular.
Existem outros casos como o recente vídeo de uma gerente
humilhando um funcionário na rede Carrefour – mais um caso – onde mostra que a
parte de gerência ou a parte de CEO, sempre fica com aqueles que “agradam” a
alta cúpula (o chamado “puxa-saco”) que é muito comum no Brasil. Quantas vezes
o cargo de chefia sempre ficava com pessoas menos qualificadas para tal? Sempre
o cargo de chefia ficava com aquele que se destaca e não aquele, realmente, que
estuda para isso. Ai está a questão, como pessoa com deficiência (sou
qualificado), tenho uma pergunta importante: se um empresário, dono de qualquer
coisa e o único critério de ser um gerente é ser um puxa-saco, por que sempre usam
da desculpa que não há pessoas com deficiência qualificadas?
Vendo a rede sociais Linkedin – voltada para o setor empresarial
e de empreendedores – podemos ver milhares de falhas transvestidas de “mensagens”
positivas ou inúmeros escritores que se aproveitam desse ar de facilidades e dão
cursos como deixar sua empresa melhor. A administração é muito mais do que isso,
ela mexe com a economia de mercado. Ela mexe com a sociedade que anseia aquele
produto ou aquele serviço, e pouco importa se você fica vendo videozinho motivacional,
pois, os maiores empresários do mundo enxergaram problemas sociais reais e não o
“Mundo de Nárnia” das corporações fofinhas. Os reacionários sempre ficam no
passado idealizado e os que ficam nesse “mundo de Nárnia” sempre vão fazer
besteiras, porque querem moldar seu mundo naquilo que idealizam numa sociedade.
A realidade fede muito mais do que mensagens de otimismo que poluem todo o
Linkedin e mostram que os empresários – a elite tosca brasileira – são idealizadores
de um mundo que não existe.
Pouco me importa se gostaram ou não do que escrevi, pessoas
sinceras e que sabem o que estão dizendo, é um caso raro num povo que não abre
um link para ler. Ora, como tudo aqui vira uma moda, existe agora algo como
Gestão de Pessoas que são uma parte do RH (Recurso Humanos) que existem, inúmeros
textos sobre essa matéria. Não que ela não é importante, mas, pelo que eu vi
por ai, não é usada. Primeiro, ela garante que a empresa disponha dos talentos
do que precisa, sendo eles qualificados e engajados. Sendo que, vai ao encontro
do que disse do puxa-saco ou se esse funcionário qualificado e engajado, tem ou
não uma deficiência. Ou seja, o primeiro item não é usado.
Segundo: ela dará suporte na organização no alcance nas
metas estabelecidas – onde a empresa quer chegar – desenvolvendo e
implementando ações dentro do RH integradas na estratégia de negócio. Ou seja, vão
desenvolver planos para uma implementação daquilo que vai ser estabelecido como
negócio dentro da empresa. Terceiro: estabelecer um relacionamento positivo
entre os que contratam e os funcionários fazendo uma confiança mutua. Eu não vi
isso no Carrefour, por exemplo, que a gerente humilhou o funcionário e não contratar
pessoas com alguma deficiência.
Além dessas três questões – que ainda não entendi o que de
humano tem isso – ainda tem auxiliar na criação e no desenvolvimento de uma
cultura de alto desempenho. O que será que essa gente entende como cultura? A cultura é entendida como os comportamentos, tradições e conhecimentos de um
determinado grupo sociais, incluindo línguas, as comidas típicas, as músicas
locais, as artes, as roupas, entre outros componentes. Na filosofia – que é
algo que estudo bacharelado – cultura é um conjunto de manifestações humanas
moldadas a partir de uma combinação entre a interpretação pessoal da realidade as
muitas experiências globais. Elas são diferentes do comportamento natural do
homem e podem ser transformadas a partir de algumas percepções de valor íntimo,
argumentação e aperfeiçoamento. Então, o que seria uma cultura de alto desempenho
dentro de uma empresa? Empresas tem que funcionar e dar o que oferecem,
tratando seus funcionários como pessoas e não maquinas. O que vejo, que mesmo
esse tipo de modinha estarem ai, ninguém se importa com nada e sim, ganhar
dinheiro.
Por último, a gestão de pessoas vai incentivar a aplicação de
uma postura ética nas relações de trabalho. A pergunta mor é: onde isso
acontece? Não é isso que a gente vê nos noticiários e sabemos existir, mesmo o porquê,
ter uma postura ética está além de relações de trabalho. Ética deveria ser
ensinada desde o pré-primário e isso não é eu que estou dizendo, a educação de países
desenvolvidos estão. Portanto, não venham com essa conversinha que estamos
implantando gestão pessoal, que é tudo papo furado. No mais, posturas éticas
deveriam enxergar além da deficiência, coisa que não acontece.