Amauri Nolasco Sanches
Jr
Uma notícia no Instagram da Jovem Pan – com o diretor da
Marvel Comics – dizendo que não é o primeiro personagem gay da Marvel e não vai
ser o último, por causa dos “Eternos” que tem outro personagem gay. Como, pouco
tempo atrás, teve outra polemica envolvendo o filho do Superman que é bissexual
e tem uma cena que mostra ele beijando outro rapaz. Tem algum problema? Para
mim, que cresci sim vendo essas coisas, não tenho nenhum problema. O problema é
a frase dos ditos conservadores – não são, são muito mais reacionários tradicionalistas
do que conservadores de alguma coisa – que repetem como papagaios: quem lacra não
lucra.
Primeiro, a frase não se usa virgula, porque quem está
lacrando não esta lucrando. Depois, o termo lacrar ficou confuso e banalizado
como se fosse algo pejorativo. Ou seja, o brasileiro tem uma mania de todo
substantivo se virar um adjetivo. Na verdade, lacrar é você fechar alguma coisa
isolando aquilo que não pode ser libertado. O selo que lacra uma carta do rei,
por exemplo. Ou, lacrar um recipiente com objetos radioativos ou tóxicos. Existe,
também, a gíria lacrar que quer dizer arrasar ou se dar bem. Mas, no meu tempo
de jovem, lacre era o velcro que tinha sido novidade naqueles tempos e que era sinônimo
de mulheres homossexuais. Como se dizia: “era a lacrada delas”, como mais
antigamente, era a história das “aranhas” e as cobras, que estão até mesmo, na música
do Raul Seixas.
O começo da frase, também, é bastante problemático. O “quem
lacra” tem a ver com “quem arrasa” ou “quem quer se dar bem”, ou seja, estão dizendo
que o fato do filho do Superman ter uma bissexualidade é uma modinha. Pode ser,
mas dizer que a Marvel Comics não vai lucrar com tal ação, é ingenuidade e
achar que sua opinião é importante ao máximo. E no mais, o que isso muda na sua
vida? A questão pode ir muito mais a fundo (como eu adoro) e podemos dizer que,
o fato de terem feito personagens homossexuais nos quadrinhos, não interfere em
nada da vida das crianças se elas tiverem uma educação de verdade. Isso não é
feito nas escolas, isso é feito nas famílias. Muitas pessoas tiveram pais que
fumam – como meu pai sempre fumou – que não tem nenhuma aptidão ao fumo porque
foram devidamente educados. E no mais, sexualidade você não força a barra para
ser um homossexual porque está na moda, você é porque você nasceu assim.
Por outro lado – não dando razão a frase, claro – podemos usar
o existencialismo sartríano e perguntar: se ser mulher ou ser homem é uma construção
sociais (como Beauvoir disse que não se nasce mulher), o homossexual também não
seria o caso? Será uma construção de uma sexualidade construída através de uma construção
traumática? Porque há uma construção social, isso não há dúvida, mas a construção
social não se pode ser colocado como o único fator. Claro, o existencialismo vai refutar a essência
escolástica e a noção de que nascemos com uma – mesmo assim, não acho que somos
totalmente uma construção social – e que algumas características são esse tipo
de coisa. Pegamos esse que vos escreve, minha deficiência não é minha natureza,
são aspectos de uma consequência de um acidente dentro do parto (falta de oxigênio).
O que vai determinar quem sou é a noção de personalidade que me faz ser um ser
racional e emotivo, ou seja, sou um individuo que pensa e sente a realidade ao
meu redor. A deficiência não me define. Mas o que eu sou me definira como noção
daquilo que me faz uma pessoa que construiu toda uma noção daquilo que chamam realidade.
Por outro lado – mesmo percebendo – a grande maioria não sabe, sequer, o que é
realidade.
Nesse interim, existem carimbos de pensamentos (como
salientou o prof. Vitor Lima no canal Isto não é filosofia), que são usados em
memes e são usados para alienação politica. O “kamarada” soviético (que é o companheiro
petista), o “Heir Hitler” nazista, o “Dulce” fascista etc, tiveram o mesmo
impacto dentro da noção de carimbos de pensamento. Músicas populares também são
carimbos de pensamento, assim como, esta frase. O “quem lacra não lucra” é um dos
carimbos ideológicos de pensamentos que o governo bolsopetista inventou, como também
“Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” que é nacionalista evangélico. O Brasil
não é laico? O Brasil não contém várias nacionalidades? O Brasil está acima de
tudo não é amar a nação brasileira, é dizer que o estado brasileiro está acima
de todas as instituições e isso é perigoso. Não sou a favor de nenhuma ditadura,
nem a democrática.
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