quarta-feira, 20 de outubro de 2021

Quem não lacra não lucra? – carimbos de pensamento que tanto se usam

 


História do novo Superman terá beijo gay (Imagem: Reprodução)







Amauri Nolasco Sanches Jr

 

Uma notícia no Instagram da Jovem Pan – com o diretor da Marvel Comics – dizendo que não é o primeiro personagem gay da Marvel e não vai ser o último, por causa dos “Eternos” que tem outro personagem gay. Como, pouco tempo atrás, teve outra polemica envolvendo o filho do Superman que é bissexual e tem uma cena que mostra ele beijando outro rapaz. Tem algum problema? Para mim, que cresci sim vendo essas coisas, não tenho nenhum problema. O problema é a frase dos ditos conservadores – não são, são muito mais reacionários tradicionalistas do que conservadores de alguma coisa – que repetem como papagaios: quem lacra não lucra.

Primeiro, a frase não se usa virgula, porque quem está lacrando não esta lucrando. Depois, o termo lacrar ficou confuso e banalizado como se fosse algo pejorativo. Ou seja, o brasileiro tem uma mania de todo substantivo se virar um adjetivo. Na verdade, lacrar é você fechar alguma coisa isolando aquilo que não pode ser libertado. O selo que lacra uma carta do rei, por exemplo. Ou, lacrar um recipiente com objetos radioativos ou tóxicos. Existe, também, a gíria lacrar que quer dizer arrasar ou se dar bem. Mas, no meu tempo de jovem, lacre era o velcro que tinha sido novidade naqueles tempos e que era sinônimo de mulheres homossexuais. Como se dizia: “era a lacrada delas”, como mais antigamente, era a história das “aranhas” e as cobras, que estão até mesmo, na música do Raul Seixas.

O começo da frase, também, é bastante problemático. O “quem lacra” tem a ver com “quem arrasa” ou “quem quer se dar bem”, ou seja, estão dizendo que o fato do filho do Superman ter uma bissexualidade é uma modinha. Pode ser, mas dizer que a Marvel Comics não vai lucrar com tal ação, é ingenuidade e achar que sua opinião é importante ao máximo. E no mais, o que isso muda na sua vida? A questão pode ir muito mais a fundo (como eu adoro) e podemos dizer que, o fato de terem feito personagens homossexuais nos quadrinhos, não interfere em nada da vida das crianças se elas tiverem uma educação de verdade. Isso não é feito nas escolas, isso é feito nas famílias. Muitas pessoas tiveram pais que fumam – como meu pai sempre fumou – que não tem nenhuma aptidão ao fumo porque foram devidamente educados. E no mais, sexualidade você não força a barra para ser um homossexual porque está na moda, você é porque você nasceu assim.

Por outro lado – não dando razão a frase, claro – podemos usar o existencialismo sartríano e perguntar: se ser mulher ou ser homem é uma construção sociais (como Beauvoir disse que não se nasce mulher), o homossexual também não seria o caso? Será uma construção de uma sexualidade construída através de uma construção traumática? Porque há uma construção social, isso não há dúvida, mas a construção social não se pode ser colocado como o único fator.  Claro, o existencialismo vai refutar a essência escolástica e a noção de que nascemos com uma – mesmo assim, não acho que somos totalmente uma construção social – e que algumas características são esse tipo de coisa. Pegamos esse que vos escreve, minha deficiência não é minha natureza, são aspectos de uma consequência de um acidente dentro do parto (falta de oxigênio). O que vai determinar quem sou é a noção de personalidade que me faz ser um ser racional e emotivo, ou seja, sou um individuo que pensa e sente a realidade ao meu redor. A deficiência não me define. Mas o que eu sou me definira como noção daquilo que me faz uma pessoa que construiu toda uma noção daquilo que chamam realidade. Por outro lado – mesmo percebendo – a grande maioria não sabe, sequer, o que é realidade.

Nesse interim, existem carimbos de pensamentos (como salientou o prof. Vitor Lima no canal Isto não é filosofia), que são usados em memes e são usados para alienação politica. O “kamarada” soviético (que é o companheiro petista), o “Heir Hitler” nazista, o “Dulce” fascista etc, tiveram o mesmo impacto dentro da noção de carimbos de pensamento. Músicas populares também são carimbos de pensamento, assim como, esta frase. O “quem lacra não lucra” é um dos carimbos ideológicos de pensamentos que o governo bolsopetista inventou, como também “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” que é nacionalista evangélico. O Brasil não é laico? O Brasil não contém várias nacionalidades? O Brasil está acima de tudo não é amar a nação brasileira, é dizer que o estado brasileiro está acima de todas as instituições e isso é perigoso. Não sou a favor de nenhuma ditadura, nem a democrática.


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