sábado, 16 de outubro de 2021

Era só uma cadeira...

 

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Por que, nós com deficiência, temos que sempre em estar nas tutelas dos médicos e dos fisioterapeutas para, até mesmo, comprar uma simples cadeira de rodas? Sempre temos que que ter laudos médicos para tudo (empregos, concursos, escolas etc.)? temos uma cultura positivista. O positivismo nasce na França no século dezenove e é um pensamento filosófico e foi muito usado no século vinte. Foi desenvolvida pelo filósofo Auguste Comte e defendia que o conhecimento científico era o único conhecimento valido. Ou seja, qualquer pensamento supersticioso, religioso e teológico, num modo geral, não deve ser levado em consideração, pois – segundo o positivismo – não podem contribuir para o desenvolvimento da humanidade. Assim sendo, o positivismo, vai valorizar a ciência o materialismo e o mundo humano em contraponto a metafisica e ao mundo espiritual.

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Podemos dizer que o pensamento positivista esta dividido em duas vertentes: uma vertente seria a vertente cientifica e busca sempre efetivar uma divisão das ciências, e do outro a orientação psicológica, linha teórica da sociologia que vai investigar toda a natureza humana existente. Será mesmo que vai investigar a natureza humana através da psicologia ou na metafisica? Pois, hoje em dia, as filosofias materialistas – o positivismo, existencialismo e o socialismo/comunismo – estão sendo questionadas no mundo filosófico (mesmo que neguem alguns) por causa da forma que olham o ser humano. Nós, que temos deficiência, segundo essas filosofias (menos o existencialismo que é muito mais profundo), não teríamos utilidade dentro da sociedade e a parte humana (que para elas é irrelevante) fica num segundo plano.

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O socialismo científico (assim como uma parte do liberalismo) gira em torno da economia e como o ser humano desenvolve dentro de uma sociedade industrial. Mas, há um problema – que muitos acham ser um humanismo, mas é uma análise muito simplista – o ser humano não é só sociedade e não é só economia (embora, dependa dela para a sobrevivência). Há outros fatores que formam o ser humano, como o caráter. Uma deficiência, por exemplo, forma um caráter ou é parâmetro para dizer se aquela pessoa tem ou não caráter? Claro que não. Desde os gregos, a educação vem sendo uma grande colaboradora para moldar o caráter do ser humano, pois, educação vem do latim “educare” que vem do grego “ethos” que muito antigamente, queria dizer casa. O caráter seria nossa casa? O que somos?

A pergunta mais primordial da filosofia é: o que somos? Porque, antes mesmo de achar respostas do que ganhamos e do que queremos ser – dentro da sociedade capitalista – a pergunta mais importante é o que somos, daí, você pode definir o que se acredita. Acreditar é você usar sua definição de mundo (que muitos chamam de intuição), é diferente da fé que usa só a esperança para definir o que se espera, pois, acreditar tem a ver com a subjetividade de uma realidade, fé é imaginar o que poderá ser ou não. Quando você começa a conhecer a si mesmo – como forma de um autoexame – você pode acredita sim numa realidade a partir dos valores que foi ensinado a você. A questão é: será que isso esta mesmo te fazendo enxergar a realidade como ela é mesmo?

Se o termo grego (ethos) a questão era determinar o modo espiritual que o povo grego via a sua sociedade e os seus costumes – um grego, naquela época, era um grego de verdade – o termo latino (educare) era para mostrar aos mais jovens a realidade. Como os romanos viviam e como era ser um romano. Ou seja, os costumes se era para seguir e ser regra (muito embora, nem todo mundo seguia). Então, quando você diz ser ético e moral – ética é de foro íntimo e moral é de foro social – você está dizendo sobre educação e você aceitar o outro como ele é e não criar regras subjetivas morais, tem a ver com educação.

Daí você pode dúvida do modo tecnocrata com que o positivismo trata de modo bem científico – muito parecido como fundamentalistas religiosos – a ciência de um modo geral. Eu quero fazer filosofia, por que vou fazer técnico de informática numa escola técnica? Quero estudar arte ou sociologia, por que enchem as escolas técnicas de cursos de tecnologia? Educação, tecnicista positivista, pois não se pensa mais em vocação, não se pensa mais o trabalho intelectual e ai entre as pessoas com deficiência. Por quê? Porque poderíamos ter um trabalho intelectual muito mais proveitoso (quem gosta, claro), para melhorar a imagem social de pessoas que sofrem, pessoas que não são uteis para a sociedade. Daí, além do positivismo de Comte, temos o materialismo de Marx que vem ao encontro da pratica. Mesmo o porquê, os filósofos marxistas acham que o trabalho intelectual é coisa de burguês.

Um lado temos o pensamento tecnicista do positivismo, por outro lado, temos o materialismo histórico da prática e nunca do trabalho intelectual marxista. Ou seja, numa síntese disso poderemos dizer que tudo que não for útil se deve ter tirado da sociedade, não há espaço para “máquinas com defeito”. Claro, que o capitalismo absorveu isso muito rápido, pois, ele se molda conforme tudo aquilo que lhe deixa ativo. Ainda mais, o capitalismo atrasado da América Latina. O que acontece aqui? Tudo é o médico. Se queremos trabalhar, temos que ter um laudo médico. Se queremos casar, um especialista vai dizer e se existem secretarias de pessoas com deficiência, na maior parte, são médicos e tecnocratas que cuidam dessas secretarias. Atrapalhando e deixando tudo nas mãos de um tecnocrata que nada tem de prático nos cuidados das pessoas com deficiência. Num modo geral, somos escondidos debaixo do tapete.


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