domingo, 3 de outubro de 2021

Somos obrigados a amar nossa família?

 





Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Recebi essa pergunta num grupo de filosofia: “Vocês acham que é obrigado amar sua família?” e fiquei refletindo muitas coisas. Primeiro, segundo a antropologia, a ideia de um homem e de uma mulher ter uma casa e ter filhos (prole) apareceu junto com a agricultura. Antes, éramos seminômades e com clãs caçando e colhendo aquilo que se era encontrado para comer. Na verdade, muito antes do ser humano ser caçador, ele comia restos de animais mortos que algum predador deixava no caminho das suas caçadas. Na verdade, as mulheres começaram com a agricultura e escolhiam os homens para sua prole – os mais aptos – e, também, queriam dar certeza para ele que aquela prole era dele. Entre certezas e incertezas, a família tirou o ser humano do nomadismo e colocou ele no limiar da tecnologia e não, o ser humano não é monogâmico porque tem tendências para tal, mas uma questão adaptativa para sobrevivência e consciência. Os filhos tinham que ser mais fortes e tinham que prover seu sustento.

Alguns antropólogos dizem, que a ideia de se apegar afetivamente um com o outro (que chamamos amor), se configurou aí nessa transição. Num filme muito antigo (1981), “A Guerra do Fogo”, mostra o domínio do fogo e por outro lado, as diversas culturas naquele tempo e como o ser humano, evoluiu na reprodução. No final do filme, o protagonista que deveria procurar o domínio do fogo e trazer para sua tribo, aprende a transar olhando nos olhos da mulher e fazendo melhor. Aprendendo com outras culturas. Ou seja, a questão familiar, talvez, tenha se configurado a partir do coito afetivo, onde os dois poderiam olhar o que um poderia sentir pelo outro. A questão é: onde a família entra nisso? Por que, hoje em dia, somos aversos a família e por que não conseguimos mais dialogar com a família? Isso tem a ver, talvez, com o número crescente de pessoas depressivas, ansiosas que não se apegar as pessoas afetivamente.

Quando você obriga ou se obriga, você está sendo coagido a fazer aquilo que você não quer fazer. E amar é um afeto que se cultiva, não se impõem. Mesmo na questão familiar. Quando não há uma troca de afeto nos dois lados, não há um vínculo afetivo e nem vai se apegar. A meu ver, amor não é veneração e a família aqui no Brasil, é venerada e não amada. O pai pode bater na mãe, trair a mãe e ainda sim, os filhos se apegar ao pai como a figura dele fosse sacrossanta e não é bem assim, as coisas não são tão simples. Lá atras quando a sociedade começou a se configurar – como estava dizendo – o ser humano, talvez, começou a configurar a família como uma proteção do mundo e das coisas. Ter a certeza, que a prole estava bem de saúde e psicologicamente, apta a certos desafios que o mundo trouxe. Mas foram tantas regras, tantas pessoas que se acharam melhores do que as outras – por causa de religiões, ideologias e até mesmo, governantes – que se esqueceu essa afetividade e esse compromisso ancestral de se cuidar dos filhos como o futuro.

Com o niilismo do século vinte – não tem nada a ver com Nietzsche – se perdeu a essência da questão afetiva porque se acredita no nada. Responderam errado os existencialistas, responderam que entre o ser e o nada se sobrava o nada e não o ser. Mas, o que seria da realidade sem o ser? Se a existência precede a essência como podemos escolher? A família, seja como ela se configure, é um conjunto de afetos que se auto entendem entre si e fazem desse entendimento algo para criar cidadãos que não sejam traumatizados, não sejam ansiosos e pessoas que respeitam os outros.




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