terça-feira, 26 de outubro de 2021

O erro da CASACOR e a autoajuda do Linkedin

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

No último sábado – como foi noticiado onde eu trabalho (aqui) – uma advogada de 30 anos, cadeirante e com paralisia cerebral, Nathalia Blagevitch Fernandez, foi literalmente expulsa da exposição porque reclamou da acessibilidade. Ora, como cursos de administração não abordam a questão de acessibilidade dentro de exposições, comércios ou empresas? Porque queremos ser uma nação “moderna”, mas temos uma cultura, ainda, do século dezenove e nem estou falando só do nosso capitalismo (selvageria da década de 20), mas de toda a cultura que ainda atrasa o desenvolvimento como nação e como desenvolvimento de uma cultura muito mais agregadora.

Nosso capitalismo – isso sempre foi assim – quer ganhar dinheiro muito rápido e sem muito esforço. Ou seja, nada funciona direito porque se quer ganhar, mas não quer investir e tem um monte de desculpas para tal. Não se tem retorno. Dentro da Lei de Cotas das pessoas com deficiência dentro das empresas, não há profissionais qualificados, sendo que na própria reportagem, a moça cadeirante e com paralisia cerebral tem diploma de advogada e conheço milhares de pessoas com deficiência com qualificação. Como resolver isso? Como podemos resolver algo a partir de uma dinâmica cultural? Educação. Em todas as áreas que se envolvem pessoas, se tinha que ter a matéria da ética e a ética é um pilar de todas as sociedades, desde os gregos antigos.

Somos filhos da cultura greco-romana e não podemos negar. Herdamos a filosofia ética e moral dos gregos e a filosofia do direito dos romanas, isso nos deu a base de formar nações com jurisdição e com uma educação ética, graças a toda a síntese de tudo isso que os iluministas fizeram da filosofia grega e o direito romano (pouco esquecidos nas catacumbas medievais). Sendo assim, a filosofia contemporânea vai se preocupar muito mais com a ética de grandes corporações e meios de gestões mais eficientes e menos “motivacionais”, porque a autoajuda só dará um verniz daquilo que está já velho e mofado. Não era melhor testar os elevadores antes da exposição? Não era melhor investir em um gerador potentes que assegurassem elevadores ou suspender aquele dia para visitações? O treinamento de funcionários – que segundo a advogada, mandaram ela calar a boca – é importante, pois, uma má conduta de um só, pode comprometer a empresa num todo. Principalmente, empresas que lidam com pessoas. Lidar com diversidade – aqui no Brasil, nem se pensa nisso – é importante, porque é um negócio e não seu “parquinho” particular.

Existem outros casos como o recente vídeo de uma gerente humilhando um funcionário na rede Carrefour – mais um caso – onde mostra que a parte de gerência ou a parte de CEO, sempre fica com aqueles que “agradam” a alta cúpula (o chamado “puxa-saco”) que é muito comum no Brasil. Quantas vezes o cargo de chefia sempre ficava com pessoas menos qualificadas para tal? Sempre o cargo de chefia ficava com aquele que se destaca e não aquele, realmente, que estuda para isso. Ai está a questão, como pessoa com deficiência (sou qualificado), tenho uma pergunta importante: se um empresário, dono de qualquer coisa e o único critério de ser um gerente é ser um puxa-saco, por que sempre usam da desculpa que não há pessoas com deficiência qualificadas?

Vendo a rede sociais Linkedin – voltada para o setor empresarial e de empreendedores – podemos ver milhares de falhas transvestidas de “mensagens” positivas ou inúmeros escritores que se aproveitam desse ar de facilidades e dão cursos como deixar sua empresa melhor. A administração é muito mais do que isso, ela mexe com a economia de mercado. Ela mexe com a sociedade que anseia aquele produto ou aquele serviço, e pouco importa se você fica vendo videozinho motivacional, pois, os maiores empresários do mundo enxergaram problemas sociais reais e não o “Mundo de Nárnia” das corporações fofinhas. Os reacionários sempre ficam no passado idealizado e os que ficam nesse “mundo de Nárnia” sempre vão fazer besteiras, porque querem moldar seu mundo naquilo que idealizam numa sociedade. A realidade fede muito mais do que mensagens de otimismo que poluem todo o Linkedin e mostram que os empresários – a elite tosca brasileira – são idealizadores de um mundo que não existe.

Pouco me importa se gostaram ou não do que escrevi, pessoas sinceras e que sabem o que estão dizendo, é um caso raro num povo que não abre um link para ler. Ora, como tudo aqui vira uma moda, existe agora algo como Gestão de Pessoas que são uma parte do RH (Recurso Humanos) que existem, inúmeros textos sobre essa matéria. Não que ela não é importante, mas, pelo que eu vi por ai, não é usada. Primeiro, ela garante que a empresa disponha dos talentos do que precisa, sendo eles qualificados e engajados. Sendo que, vai ao encontro do que disse do puxa-saco ou se esse funcionário qualificado e engajado, tem ou não uma deficiência. Ou seja, o primeiro item não é usado.

Segundo: ela dará suporte na organização no alcance nas metas estabelecidas – onde a empresa quer chegar – desenvolvendo e implementando ações dentro do RH integradas na estratégia de negócio. Ou seja, vão desenvolver planos para uma implementação daquilo que vai ser estabelecido como negócio dentro da empresa. Terceiro: estabelecer um relacionamento positivo entre os que contratam e os funcionários fazendo uma confiança mutua. Eu não vi isso no Carrefour, por exemplo, que a gerente humilhou o funcionário e não contratar pessoas com alguma deficiência.

Além dessas três questões – que ainda não entendi o que de humano tem isso – ainda tem auxiliar na criação e no desenvolvimento de uma cultura de alto desempenho. O que será que essa gente entende como cultura? A cultura é entendida como os comportamentos, tradições e conhecimentos de um determinado grupo sociais, incluindo línguas, as comidas típicas, as músicas locais, as artes, as roupas, entre outros componentes. Na filosofia – que é algo que estudo bacharelado – cultura é um conjunto de manifestações humanas moldadas a partir de uma combinação entre a interpretação pessoal da realidade as muitas experiências globais. Elas são diferentes do comportamento natural do homem e podem ser transformadas a partir de algumas percepções de valor íntimo, argumentação e aperfeiçoamento. Então, o que seria uma cultura de alto desempenho dentro de uma empresa? Empresas tem que funcionar e dar o que oferecem, tratando seus funcionários como pessoas e não maquinas. O que vejo, que mesmo esse tipo de modinha estarem ai, ninguém se importa com nada e sim, ganhar dinheiro.

Por último, a gestão de pessoas vai incentivar a aplicação de uma postura ética nas relações de trabalho. A pergunta mor é: onde isso acontece? Não é isso que a gente vê nos noticiários e sabemos existir, mesmo o porquê, ter uma postura ética está além de relações de trabalho. Ética deveria ser ensinada desde o pré-primário e isso não é eu que estou dizendo, a educação de países desenvolvidos estão. Portanto, não venham com essa conversinha que estamos implantando gestão pessoal, que é tudo papo furado. No mais, posturas éticas deveriam enxergar além da deficiência, coisa que não acontece.



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