terça-feira, 5 de outubro de 2021

A metafisica das mídias sociais

 

 




Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Sempre tive um senso crítico sobre assuntos diversos – que sempre me renderam censuras na oficina da AACD nos anos 90 por conta das minhas opiniões do jornalzinho que eu tinha lá – por eu achar muito tedioso ficar me pautando o que as pessoas achavam ou deixavam de achar. Isso eu via muito, não só lá, mas em todos os lugares que eu via que tinha o senso comum. Meu pai era assim, pois, minha mãe não ligava muito o que eu pensava ou fazia (claro, dependendo do que seja). A questão é – que aprendi com o professor Ortega Y Gasset – que eu sou eu, porque a vida é minha e essa vida é o que eu a vivo e sinto. As circunstâncias são o mundo (como realidade) onde eu (minha vida) estou e me vejo como um ente que me percebo. Mas, o porquê as pessoas têm um pensamento de massa?

Com o “apagão” das maiores mídias sociais que temos – Facebook, Instagram e WhatsApp – nessa segunda-feira (4), percebemos o quanto as pessoas são vulneráveis e dependem do que estão na moda. E não digo só as pessoas físicas – que usam para conversar – mas pessoas jurídicas que fazem negócio e acham que só existem essas mídias. A codependência delas, é uma coisa para se refletir diante do caos que se instala se uma delas param. Na filosofia, a massificação do pensamento e das atitudes no meio social, sempre foi uma matéria cara e discussões, sempre, acalorada. Na verdade, a massificação sempre foi um fenômeno de estado – pois se padronizou o pensamento para melhor governa e controlar a sociedade – e esse fenômeno, muitas vezes fraco outras vezes forte, sempre foi uma acomodação da massa diante de ter ou não uma mudança daquilo que estão acostumados. A mudança incomoda o meio social, mas é inevitável ela. Nunca pensaríamos, por exemplo, usar outra mídia social a não ser o Orkut a uns 15 anos atras, e, no entanto, descobrirmos o caos se o WhatsApp parar.

Heráclito – filósofo grego da antiguidade – nunca esteve tão atual em dizer que a realidade não se estagna em uma só situação, mas muda conforme os fatos vão acontecendo. O pensamento heracliano não difere dos pensamentos dos filósofos budistas – remontando o pensamento de Buda Sakiamuni – que as mudanças da realidade, é aquilo que mudamos dentro da nossa percepção. E aí esta o erro de Descartes, não somos só racionalidade (res cogitans), mas somos também sentimentos, que aliás, remontam as pesquisas de hoje. Hoje sabemos que pensamos melhor quando sentimos melhor, e assim, podemos discernir e ter empatia. O que nos fazem humanos, aliás, é a empatia. Você gostaria de ser roubado? Você gostaria de apanhar de alguém, ser assediado, ser discriminado etc.? Claro que não. Não gostamos da dor física e da dor da perda. Não aceitamos – como primatas que somos – muito bem a agressão. No entanto, não somos qualquer primata, temos consciência.

Grosso modo, posso pegar eu como exemplo e dizer que não sou minha deficiência. A deficiência é uma condição, mas não é minha essência dentro daquilo que eu sou. Sou uma pessoa, um eu vinculado dentro de uma circunstância que me cerca. Do mesmo modo, eu não sou meus perfis das mídias sociais – mesmo o porquê, isso é uma virtualização daquilo que eu sou enquanto personagem desse mundo virtual – porque eu sou muito mais do aquilo que escrevo ou reflito. Tenho meus sentimentos, tenho minhas ideias e sou aquilo que eu construí nestes anos de vida. Vivendo minhas dores e alegrias. Não posso depender daquilo que eu não sou, mas aquilo que me faz ser. E indo mais além – porque tudo é um além – não existem uma só mídia social ou uma só mídia qualquer. Existem milhares e de todos os tipos.

A pergunta existencialista do século vinte vale ainda: o porquê o ser e não o nada? Por que somos e o porquê fazemos o que todo mundo faz?


Na Livraria da Filosofia sobre Rodas 

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