quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

Olavo de Carvalho e a Matrix

 




 

O que é real? Como você define o “real”?

Se você está falando sobre o que você pode sentir, o que você pode cheirar, o que você pode saborear e ver, o real são simplesmente sinais elétricos interpretados pelo seu cérebro.

(Matrix)

 

Em algum lugar, disseram que a realidade é relativa. A relatividade tem seu limite. Quando Nietzsche disse que não existe verdades absolutas, ele não disse que em modo geral, não existem verdades dentro do que se costuma dizer, universais. Ele disse das verdades morais. Eu posso dizer se aquilo ou não seja verdade? Posso. Mas nem tudo que não vimos, não existe ou existe de forma que caiba no nosso conceito. Talvez, uma das bases de existir a filosofia seja aquilo que definimos como real, como uma realidade que percebemos dentro daquilo que vivemos.

Claro, as questões da percepção das coisas, tem fenômenos fisiológicos como descrito na frase, como sentir, como cheirar, saborear e ver que são interpretações graças a sinais elétricos, dentro do nosso cérebro. Mas, existem outros fatores que podem ser, igualmente, importantes. As pessoas se importam muito mais com a imagem – como simbolização daquilo que nos afeta – do que aquilo que é real, aquilo que está além da imagem subjetiva do objeto analisado. A realidade passa como ponto moral daquilo – dentro do nosso juízo – que acreditamos ser certos ou errados. Mas, e quando crenças reagem com a verdade? Será que a verdade tem seu ponto – construir um mundo seu – moral dentro do seu caráter subjetivo?

Olavo de Carvalho tinha suas crenças que se confundia com a filosofia que ele achava ter entendido, mas não entendeu. Nunca achou que a filosofia moderna tenha – além da antiga e a medieval – alguma serventia dentro da crença católica que tinha. Isso é muito ruim. Mesmo os filósofos cristãos – sempre lembrando que Kant era protestante – sempre criticou e analisou suas crenças (mesmo os medievais) e colocou em análise racional. Claro que, o ser humano não é feito só de decisões e pensamentos racionais, mas um filósofo só pode ser medido como filósofo, quando se analisa as suas crenças. Essas que são construídas a partir das construções morais.

Construções morais são imagens que construirmos dentro de crenças que nos ensinaram a anos, socialmente e familiarmente. Talvez, o grande desejo de Olavo era ser reconhecido como um filósofo – que, a meu ver, era apenas um intelectual – o problema é que ele nunca entendeu que aquele mundo da guerra fria tinha acabado, construiu um inimigo e fez um mito. Bolsonaro só é mais um igual o Lula, onde a patente de militar, não pode ser confundida com caráter. O brasileiro tem a mania de colocar instituições como balizas morais e não são, o que constrói uma educação (não escolarização) são bases morais universais e que visam uma ação direta. Ou seja, desde da Grécia, depois Roma, a educação era uma construção de cidadãos que poderiam cuidar da polis e ter satisfação de viver ali. Mas, parece que a nossa cultura desenvolveu o “jeitinho”, pois sempre se quer levar e explorar o outro para ganhar.

Por isso, a realidade só pode ser verdade dentro das máximas de uma consciência que sabe que tudo é temporário, que tudo não pode ser levado como verdade sem pesquisar, racionalmente.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Moro idealista e a utopia liberal

 


Sonho Liberal (foto: Google)



Todo mundo sabe – já não é nenhuma novidade – que Sérgio Moro irá se candidatar à presidência em outubro. Ele disse em entrevista no jornal Estadão:

 

“Nosso projeto é de ruptura. Arrebenta essa polarização política que não nos leva a lugar nenhum, rompe com o patrimonialismo, que nos mantém atrasados, e encerra o ciclo de baixo crescimento, que impede a prosperidade. Lula e Bolsonaro são o atraso.”

 

Realmente, quando uma sociedade está dividida, não há como se progredir e evoluir como povo. Moro não está errado. Mas, eu acho, que ele é um idealista se pensa que vai ser uma parede de parar isso, porque não vai. Lula vai usar a questão da consultoria Alvarez & Marsal, onde o TCU (Tribunal de Contas da União) abriu um processo contra ele para investigar. Assim como Bolsonaro vai usar isso também. Moro é um idealista assim como os membros do MBL (Movimento Brasil Livre), que acham que a política é feita de ações liberais e ética. e não são. Somos governados pelo Centrão a séculos. Sim, o centrão nada mais é, a elite que não quer que o Brasil mude e não vai mudar se só pensarmos na presidência da república (executivo). Não interessa se você acredita no socialismo ou no capitalismo, quem vai ditar as regras é o centrão.

Disse que “Lula e Bolsonaro são o atraso.” e não está errado. O grande problema é que as pessoas se importam muito com a imagem do que a verdade. Hoje em dia, a imagem do Lula é uma imagem de um herói que vai livrar o Brasil de um presidente negacionista e que age como um fascista. Isso não tira as coisas que o Lula fez ao longo da sua presidência. Bolsonaro é o típico político do centrão com um discurso antissistema usando o sistema para criticar o sistema, que é valido, mas não ético. E ele não é honesto. A questão é que Lula se autoalimenta do Bolsonaro e o centrão governa o Brasil, a educação é péssima. Mas, qual é a solução do Brasil? Tem que modernizar, mas se liberar as empresas – com esse capitalismo atrasado que temos – vai virar o caos e nossa economia vai para o ralo.

Por quê? Porque, podemos aprender na escola Teorema de Bhaskara, mas não se aprende nem ética, nem economia e nem pensamento crítico. Filosofia não é história dela – não só – é aprender a olhar para a realidade e entender que uma briga política, não é o bem contra o mal. Não existem bem e nem o mal, o que existe é o conhecimento e a ignorância. O conhecimento é você entender o que lhe foi informado, não é ficar negando igual um bebê mimado, é saber que aquilo seja ou não verdade. A ignorância é aquilo que achamos que sabemos, mas a maioria nem sabe o que está falando e a ética – como disse, nunca foi ensinada – é uma delas. Imagina empresários, com a elite que temos sem ética e sem uma educação nobre, seja liberado das suas obrigações empresariais? Fora que há – porque sempre há – pessoas que vão me chamar de socialista. Mas quando eu critico a elite, me refiro a elite caipira que temos, que só ter um pouquinho de poder, acha que é o rei. Ou não abriu um livro na vida. É um desperdício ético moral.

Moro acha que o discurso contra a polarização vai dar certo, pois, dará certo só, talvez, alguns anos. Mas, ainda o brasileiro não aprendeu política e como a política, bem ou mal, pode interferir com sua vida.

Amauri Nolasco Sanches Júnior

(filósofo)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Calor, baratas e Bolsonaro

 




Com a declaração do ex-ministro da educação, Abraham Weintraub – que estava nos Estados Unidos no Banco Mundial – que não decidiu sair, mas foi "expelido” e “catapultado” do governo Bolsonaro. Novo rumo na política se deve ter em conta. Essa semana, escrevi no Blasting News, que o MBL (Movimento Brasil Livre) tinha acertado com o Podemos para todos os integrantes entrarem no partido para apoiar o ex-juiz e ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, a candidatura ao governo. Weintraub quer pegar carona na política e isso é um caminho natural. A dúvida é: será que vai desbancar o PSDB forte no estado de São Paulo a mais de 20 anos? Antes do partido do Doria, o MDB era a grande força no Estado paulista, remontado, a tradição democrata paulista que o estado adora exaltar.

O problema é que quando Weintraub diz: “Eu não decidi sair. Eu fui expelido, fui catapultado do governo”, um bolsonarista pode dizer: “Ué, até agora ele não usufruiu do cargo que o governo arranjou para ele no Banco Mundial?”. Eles não vão estar errados, Weintraub estava bastante feliz com o cargo que arranjaram para ele lá no Banco Mundial. Mas, por que essas enxurradas de críticas do governo? Porque o governo não tinha planejamento nenhum, não havia o que fazer ou o que governar. Mesmo o porquê, Bolsonaro era um deputado do baixo clero e não tinha experiencia nenhuma em pegar uma nação como o Brasil.  Mesma coisa foi quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não tinha experiencia nenhuma em governar nada, nem foi prefeito, nem foi governador. A meu ver, Bolsonaro e Lula se autoalimentam na política, mas é uma conversa para um outro texto.

Claro, você pode argumentar comigo dizendo que Abraham Lincoln (presidente dos Estados Unidos morto por um homem enquanto via um espetáculo), não tinha experiencie e dizem que foi um bom presidente. Ora, Estados Unidos não é Brasil, as estruturas norte-americanas é muito diferente do que a estrutura brasileira. A república brasileira – para começar – começou com um golpe contra Dom Pedro II graças ao descontentamento, da elite por causa da abolição da escravatura. Aliás, não só a elite, mas, a maioria do nosso povo não gosta de mudanças. Mudanças sempre foram sinônimo de mudar alguns hábitos e se virar para se acostumar. O império não foi diferente. O nosso governo imperial não foi feito por “revoluções”, pois, a elite não queria perder os escravos e assim, enquanto a América Latina era republicana – imitando os Estados Unidos com o lema “América para os americanos” – o Brasil era um império com um príncipe que faria uma conciliação. O problema é que tanto o pai, quanto o filho, não fizeram o que a elite queria.

Não dá para governar uma “muvuca” dessas que a elite acha que é mais brasileiro do que os outros brasileiros, tem que ter experiencia e tem que ter “molejo” político. Como diz o professor de história, Marco Antônio Villa, temos uma elite que já no século dezenove era chamada de rastaquera, ou seja, não tem cultura, mas adora ostentar bens. O que importa ostentar bens se não tem cultura o bastante para ter uma alma nobre? Nobreza não é só uma questão de ter dinheiro e status, é saber a cultura do seu país e saber que não tem como ficar nessa para sempre, um dia o Brasil vai ter que se modernizar. Outras coisas vão substituir as velhas e se isso não acontecer, inevitavelmente, teremos guerras e revoluções. Ou o Brasil é republicano de verdade, ou o Brasil é um país oligárquico e não vai sair disso nunca mais, porque as pessoas não sabem pensar por si mesmo.

A pandemia do Coronavírus – que causa o Covid-19 e outras variantes – mostrou muito isso. Bolsonaro é um soldado e soldado é condicionado em fazer o que o comando quiser e isso atrapalha o raciocínio, tanto é, que ficou bem claro que a elite estava enchendo o saco dele por causa do fechamento das indústrias. Depois, viram que era muito mais barato – trabalho de escritório, principalmente – e começaram a preferir esse tipo de contrato. E advinha o que está acontecendo? Toda a elite está com Lula. Não que sou eleitor do Bolsonaro, não é isso. Mas, como disse, a elite desvirtua para depois achar seu presidente que vai fazer tudo que querem com um discurso populista.

Quando o Brasil vai mudar? um mistério muito grande que não há resposta nenhuma. 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

Filosofia funkeira e os militantes sacanas



Uma coisa é você acreditar e colocar na sua cabeça – isso já teve enumeras vezes na história humana – outra é pregar para converter outras pessoas. A questão é: a vacina não tem como dar errado, porque já deu tudo errado e as coisas andaram para o desastre eminente. Primeiro, porque no meio da um surto viral vai até lá fazer negócio, como se nada estivesse acontecendo e transforma o mundo inteiro em um perfeito “puteiro”, porque os bonitinhos quiseram fazer negócio. Daí por diante, o errado vai ser agravando cada vez mais, porque começa a aparecer vestígios de Coronavírus por todo o mundo (a Itália foi muito pior). Minha dúvida é: se a China é tão comunista assim, por que manter negócio com eles? Por que tantas nações – a nossa também – diz que o vírus é chinês, mas não questiona o porquê as pessoas insistiram em ir lá em seus escritórios?

Segundo, negar que existam vírus ou doenças serias é um sinal de neuropatologia grave. A doença existe e milhões de pessoas já morreram no mundo e para defenderem uma narrativa – sempre é a ideia do líder que sabe tudo e pode nos guiar para o paraíso – começam a defender discursos e ideias, completamente, doidas. Como se pegassem exceções e fizessem como regras e as regras fizessem exceções. No caso, a grande maioria não tivera complicações, não se sabe o porquê essa narrativa para defender um discurso não verdadeiro e que prejudica, por muito, os mais pobres. A verdade não pode ser vista, porque o ser humano não sabe lhe dar com a incerteza, porque na essência, não lhe damos muito com aquilo que não temos uma resposta única.

Terceiro, deu errado porque o Brasil tem sua própria ética. A essência brasileira – isso você enxerga muito bem na periferia – sempre foi em querer ter razão, tanto é, que as narrativas estão claras que são jogadas nas redes sociais para confundirem e controlarem a grande massa que não pensa, não lê e tem um grande déficit de educação (aliás, a educação do Brasil sempre foi bem vagabunda). Ter a sua própria ética é seguir aquilo que lhe interessa, aquilo que não se sabe se é uma verdade ou algo para confundir. Desde o império – forjada pela grande elite rastaquera do Brasil, pinta de nobre e mente de ignorante que nessa pandemia tem ajudado a criar variantes com festinhas, cruzeiros e festas funk – tem colocado a educação como um mal e não um bem, mas, um povo ignorante é muito pior que uma bomba atômica.

E a quarta questão, deu errado porque todas as formas de governo possíveis, deram errado no século 20. O que nos resta? Vimos ao longo do século 20, ascensões e quedas de regimes que não eram nem para saírem do papel, como o socialismo e o liberalismo. Por quê? São duas utopias antagônicas. O socialismo visa um mundo de igualdade econômica, mas se esquecemos que o ser humano está ficando com uma vida, cada vez mais, estressantes e que ensina as novas gerações, que o ser humano não presta. Existe maldade? Muita maldade. Mas existe também, bondade sincera e que fazem do mundo algo respirável. Os discursos que vimos por aí – como o homem é um pecador, o homem é traidor etc. – vem de instituições de controle e que por séculos ditaram as regras e quando dá alguma coisa de errado, começam a ter mecanismos que reforçam uma defesa.

O socialismo postula que o ser humano é levado a comprar por necessidade daquilo, que no fundo, é uma coisa supérflua. Mas, qual é o critério em dizer se aquilo ou não seja supérfluo? Será mesmo que existe guerra de classe ou falta de ética? Talvez, Marx e Engels, se esqueceram que nem sempre as coisas funcionam só no intuito econômico e no mais, quando você começa a ler obras como O Capital, se começa a achar que é só uma análise do capitalismo e não uma teoria política. Como diz um professor de filosofia que eu sigo, não se deve ler uma obra filosófica como um manual. Porque várias delas falam em um modo geral, mas cada ser humano pensa e age como deve agir naquele momento para sobreviver na melhor maneira possível.

O liberalismo foi pior, porque se acreditou que se poderia juntar liberdade com conjunturas conservadoras. O tradicionalismo acabou com o liberalismo. Isso foi porque o protestantismo norte-americano – porque somos todos americanos – começou a colocar o liberalismo, muito importante para o capitalismo, em modo socialista. Oi? A questão ficou assim: as tradições norte-americanas – como se tivessem tradições milenares – devem ser preservadas e tudo que prega mudança se deve colocar no campo da esquerda. Só que se os Estados Unidos é uma nação livre, foi por causa dos libertários. Os tradicionalistas sempre quiseram ficar colônia britânica, como aqui, os tradicionalistas sempre quiseram ser colônia de Portugal.

Quem, realmente, quer acabar com isso tudo?


Homenagem ao Batoré

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Mundo sem significado

 



Lembro que quando eu era um garotinho nos anos 80, acreditávamos em heróis que passavam nas novelas e esses heróis sempre nos davam referência daquilo que deveríamos seguir dentro da sociedade. Gozado, que assistia os filmes de heróis – o que eu mais gostava era o Superman – e imaginava eu protegendo quem amava e encontrar um grande amor. Me chamaram de romântico – na época não entendi – mas aquilo era o meu ideal de mundo, pois, sempre via que as pessoas sentem que existem significados. Nós não julgávamos as pessoas e nem tinha como saber, só tínhamos a mídia para saber as informações (só agora tenho uma biografia do Superman e como foi criado e o porquê foi criado).

Saber de uma verdade não quer dizer que sabemos da verdade de fato, mesmo o porquê, a imprensa especula para melhor vender ou ter mais cliques hoje em dia. Vivemos em total anomia. O termo quer dizer, entre outras coisas, aquilo que não tem mais regras ou leis, até mesmo, ter algum significado. Porque as pessoas, cada vez mais, estão com suas próprias regras e essas regras nem sempre são tão sociais. Por isso mesmo, o sociólogo Sigmund Bauman, começou a dizer que o mundo pós-moderno é um mundo líquido. Por causa da facilidade que os encontros e os desencontros acontecem, pois, o mundo está muito louco e esta um mundo que não tem mais significado.

Platão, em sua alegoria da caverna, dizia que lá havia os teóricos das sombras, aqueles que teorizavam o que seriam as sombras. Mas, não eram os que encontraram a verdade, a realidade de fato, porque não saíram da caverna. Porque ainda teriam as correntes. Muitos explicaram as correntes como ideologias, religiões etc. Prefiro algo bem mais simples: as correntes são conceitos dentro da realidade da nossa visão e não aquilo que é. Heráclito – filósofo da physys – dizia que a água muda cada vez que você entre num rio. Já Parmênides – outro filósofo da physys – diz que o ser é o que é e ele não muda. Ai vale uma explicação: o ser para os gregos dessa época, era tudo que existia naquele momento, ou seja, esse teclado que faz eu escrever esse texto é um ser. Portanto, para Parmênides, o teclado não muda. Mas, se ele cair no chão e quebrar? Se ele apagar as letras? Há ai, uma mudança do estado de novo para um estado de velho, ou seja, o tempo faz o serviço de desgastar o ser.

Talvez, poderemos dizer que algumas coisas demoram para mudar e outras coisas mudam muito rápido. O amor de verdade – de mãe e pai ou amor em alguém que dure – tem um significado eterno e pode eternizar um sentimento. Talvez, ainda, o termo “amor de verdade” seja um termo errado e não explica várias coisas. A meu ver – falando em amor romântico – se você separou depois de muito pouco tempo e se separa mesmo (seja qual tempo for), não era amor, era só um tesão qualquer. Nada contra o tesão, porque o tesão ajuda o querer a outra pessoa, mas, não só isso alimenta a relação dos dois em dado momento. E o amor acontece uma vez só.

Por causa, exatamente, na questão de não se acreditar nada mais em nada, as pessoas acham que não existe amor nenhum. Pior do que isso, as pessoas acham aquilo que não sabem, não estudaram ou não são especialistas. Não são, não entendem ironias, não entendem memes, não entendem alegorias e isso é muito mal. Nietzsche iria colocar como um niilismo negativo, isso é uma visão de mundo onde as pessoas não sabem ou não querem ver que existem coisas que não dominamos, não sabemos se existem ou não e o outro você não domina, não tem como dominar. Uma unanimidade sempre foi e sempre será burra. Sempre será desonesta e sempre será tola.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

(filósofo/escritor/TI/publicitário)




sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Brasileiro e a ética de chamar mulher de ‘vagabunda’ e fazer meme de criança

 





Duas notícias que eu fiz que me fizeram repensar muito a ética: uma foi o radialista chamar a Ivete Sangalo de “vagabunda”, e a outra é as muitas imagens associadas a bebê Alice. Podemos fazer a seguinte pergunta: se pode esperar ética de um povo que não tem estudo nenhum? Poderíamos responder que não, pois, através do conhecimento que se pode passar aquilo que se pode e aquilo que não pode ser feito. Mas, afinal, o que deve ser olhado como certo ou errado? Nem tudo é relativo. Matar, por exemplo, pode ser considerado algo errado porque você está violando a vida de outro e privando do direito de viver (primordial dentro dos direitos humanos). Cadê a ética nesse caso?

Minha mãe sempre me ensinou que mesmo que uma mulher tiver um comportamento ou ser uma prostituta, nunca deveríamos chamar ela de “vagabunda”. Demorei para entender que esse xingamento era o pior xingamento para a mulher – por causa da nossa moral – pois, são mulheres (como um estereotipo de vender o próprio corpo para ganhar dinheiro) que não tem compromisso porque vendem o corpo. Um filósofo colocaria a questão: se o corpo é uma propriedade do próprio individuo, será que é imoral vender ele para obter ganhos? O grande publico diria que sim, pois, mesmo que o corpo seja da mulher, existem ponto morais que não podem ser ignorados. Esses pontos morais são muito mais religiosos do que sociais.

A questão é muito além daquilo que é a questão moral, pois, a questão moral tem a ver com a ética. A ética, dentro da filosofia, seria uma ferramenta que mediaria a questão moral dentro de um questionamento muito mais amplo. Seria, moralmente, aceito um homem chamar uma mulher de “vagabunda” porque ofendeu ele dizer para o Bolsonaro “tomar no cu”? A questão é: precisava fazer tudo isso? Poderia ter dito que aquilo que eles fizeram no show dela – Sangalo e o público – era não aceito por ser tratar de um presidente da república e não precisaria xingar a cantora baiana de “vagabunda”. Ser uma coisa só pode ser percebida no seu próprio conceito, conceitos que são construídos a partir de vários valores que recebemos. Desde os gregos, seres humanos educam a próximas gerações segundo a cultura que somos inseridos e desde Platão, quem não tem uma educação solida tem tendencia de desrespeitar os outros. Ou seja, pessoas mal-educadas tendem a impor suas posições porque são levadas a adoração de um ídolo, um alicerce dentro dos seus valores. Porem, quais valores podemos esperar de um povo que não sabe ouvi aquilo que não se concorda? Por que tende ofender o outro sem fazer ofensas? Porque somos um povo passional, nossa história não nega isso.

Não se avalia as coisas de uma maneira racional, de uma maneira não “apaixonada”. Não à toa, a nossa sociedade não gosta das pessoas que não tomam um lado, que não tem uma religião específica, pois, as pessoas querem uma definição para ficarem e acharem meios de tentarem te ofender. Aí tem um outro lado, porque se eu me ofender, estou dizendo que a pessoa está certa e ela consegue o que ela quer. Claro, no caso da Ivete Sangalo, ela poderia tomar medidas judiciais contra o radialista, mas, em um momento particular não precisamos ficar nervosos.

No caso do bebê Alice – a menininha do comercial do Itaú – onde depois do comercial com a Fernanda Montenegro virou meme, a coisa fica mais dentro da ética. Daí eu pego a pergunta do site Universa (UOL) para juntos raciocinar: É permitido criar memes com a imagem de uma criança? Na reportagem que eu escrevi, eu coloco o que o advogado especialista na área diz, mas aqui vou tentar dar uma racionalizada segundo a filosofia. Alice não pode se defender porque é uma criança de 2 anos e não tem juízo para saber distinguir a realidade, portanto, isso fica a cargo da sua mãe e da justiça. Uma imagem fora de contexto pode acarretar traumas psicológicos no futuro, dependendo como ela vai lhe dar com a situação. Qual seria o valor – do mesmo modo do radialista – fazer um meme para fazer uma gracinha de adversários políticos ou religiosos? Isso não seria uma espécie de assédio moral? Alice pode crescer sem nem perceber ou lembrar que um dia fez um comercial com a Fernanda Montenegro, mas, as imagens vão ficar nas redes social. A situação parecida da coreana que virou meme e é só uma criança.

Longe de mostrar um caminho, devemos ver que a redes sociais se tornaram políticas e nocivas, que poderiam conter bastante conteúdo informativo, mas, que não pode ter solução visível.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Bolsonaro e o analfabetismo funcional

 




Não podemos negar que há um grande déficit na educação – não só do Brasil – mas de forma geral. As pessoas começaram a serem neuróticas e acharem que o mundo é uma grande conspiração que muitos, espionam as pessoas e tem as informações da sua vida. Claro que tem as informações, por que será que existem CPF (Cadastro de Pessoas Físicas)? Todos os departamentos financeiros procuram se você não tem um nome sujo, ou que você não tem ficha suja. Mas, a sensação de que temos uma vida privada é só uma sensação, nada mais.

Com as redes sociais as pessoas acham que sabem muito mais do que sabem, já comentam só de olhar o nome da matéria. Quem em sã consciência pode comentar uma notícia só pelo nome? Isso mostra como as pessoas estão apressadas em comentar e receber uma curtida e se errar, dane-se, o importante é a curtida. Isso mostra como as pessoas estão cada vez mais analfabetas funcionais, como se elas saibam de alguma coisa que as outras pessoas não saibam, não tenham noção das besteiras que estão dizendo. Não acho que tanta informação tenha melhorado a humanidade – mesmo o porquê, as pessoas estão negando coisas básicas por não ter estudo nenhum – mas, deixou ela muito mais neurótica por não ter filtro. Não se teve uma educação de se ter uma visão crítica, uma visão se aquela informação faz sentido.

Muitos acham que encontrara a realidade. Mas, será mesmo que sabemos o que é a realidade? Muitos podem dizer que a realidade é tudo que vimos ou tocamos, mas a realidade é muito mais do que vimos e tocamos e ter a ver com a linguagem. Eu posso ver minha bolinha antiestresse na minha frente, porém, posso estar enganado se essa bolinha existe ou não. Outro exemplo é esse texto, posso ver esse texto, você pode ler esse texto, mas não podemos tocar esse texto até imprimimos ele. Aristóteles – filósofo grego da antiguidade – diria que ele tem potencialidade de existir de verdade, pois, como disse, poderíamos imprimir ele. Então, a realidade não existe? Será que sonhos são realidades e as realidades são sonhos? É a indagação cartesiana – de Rene Descartes – que podemos estar sonhando sendo que as sensações são iguais (realmente, temos as mesmas sensações). Se você acha que vê a realidade, pode ser, que você vê a realidade das narrativas que contam.

Como escritor e filósofo – também publicitário e programador – narrativas são histórias para te convencer daquilo que querem convencer. Um exemplo bastante popular – acho que até hoje – e quem estuda é escravo do sistema e é nerd, quem não estuda é que é o rebelde da resistência. Só que não é bem assim, hoje sabemos – pelo menos quem tem senso crítico – que as pessoas que não estudam ou lê, são muito mais fáceis de manipular. Você não ler uma manchete porque não colabora com que você acredita e sem falar que, em muitos casos, a ansiedade de ter curtidas é muito mais forte. Como dar crédito a um povo desses? Como achar que um povo que faz do político um ídolo, tudo acaba em religião e dar opiniões apaixonadas, pode escolher nossos governantes?

A realidade é muito mais complexa do que meia dúzia de frases prontas que só são frases de carimbo de pensamento. Sócrates não disse “sei que nada sei” como Maquiavel não disse “os fins justificam os meios”, mas as pessoas sempre vão repetir porque alguém disse que eles disseram e não disseram. Dizer ou não dizer são conjunturas de linguagem dentro de um ponto de convergência da realidade e o que você acredita, ou seja, não adianta dizer que eles não disseram aquilo, pois, não vão acreditar. Por quê? Por causa da crença. Um ateu tem a crença de um crente, assim como um religioso pode se fanatizar ao ponto de distorcer aquilo. No fundo, Sartre tem razão em dizer que somos presos em nossa própria liberdade.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

(05/01/2022)




segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Análise sobre ‘Não Olhe para cima’

 






Eu confesso que no primeiro momento do filme, não simpatizei com a história e nem com o enredo – quase previsível – que remete a política. O filme não tirou de mim nenhum riso, porém, me fez ver alguns lances bastante interessantes que nos fazem refletir. Talvez, minha análise apressada num primeiro momento, não me fez ver o obvio: o filme fala de poder. Li em algum lugar, que muitas pessoas acham que o importante é o dinheiro, mas, não é, é o poder. Se fomos analisar minuciosamente, o poder cega que chega lá e se pensa que se tem a solução do mundo. As maiores corporações hoje – e no filme mostra – acham que podem opinar em tudo e acham que podem progredir o ser humano e o mundo através da tecnologia. Claro, o empresário do filme é uma versão cômica daquilo que os donos dessas corporações acham que são, que mesmo eu sendo contrário ao socialismo/comunismo, também não abro as pernas para o capitalismo.

No primeiro momento – e ao longo do filme – vimos uma incredibilidade com a ciência. Por quê? Porque as pessoas desejam certezas e não probabilidade, mas, a ciência é feita de probabilidade que pode conter margens de erro. As pessoas acham que a ciência cura, fara o ser humano um animal indestrutível e não vai. A ciência vai fazer o ser humano ter uma vida, mais ou menos, confortável e segura, mas não vai dar ao ser humano certezas e curas milagrosas. Claro, temos a parte financeira de venda e compra como qualquer empresa, porque existem outras pesquisas em andamento. Li uma vez, que essas pesquisas sobre pelos no sovaco da barata, é na verdade uma pesquisa para mostrar que a ciência está funcionando e financiamentos muito mais “gordos” chegarem aos laboratórios. Por outro lado, essa incredibilidade da ciência é a promessa exagerada entre o século 19 a o 20, que a ciência iria salvar a humanidade. Tivemos duas guerras mundiais cientificas, tivemos duas bombas atômicas destruindo duas cidades japonesas – nunca soltam na capital, já repararam? – e no mais, não se evoluiu muito. Claro, minha deficiência agradece tratamentos melhores, cadeira de rodas melhores, o direito humano de ser tratado como um ser humano, porém, verdades tem que ser ditas.

Quando eu era pequeno – nos anos 80 – nos prometeram um mundo onde carros poderiam falar, ou eles poderiam voar, tecnologias iriam ser criadas para ajudar a sociedade a ser mais dinâmica e evoluída. Não aconteceu. Se por um lado o mundo apocalíptico de um Mad Max não aconteceu – seja por petróleo ou água – o paraíso de um futuro todo automático como no Jacksons ou De Volta para o Futuro também não aconteceu. Não se consegue eliminar um vírus sequer, como podemos evoluir em tecnologia? O sonho iluminista que através do conhecimento o ser humano iria evoluir moralmente, “molhou” como dizem. O século passado, vimos atrocidades graças ao conhecimento químico, físico e político. Vimos testes nucleares, vimos a degradação do planeta em nome de um progresso desfrutado por eles. Diante disso, a ciência do “achismo” e ideológica vence e semeia diante das redes sociais.

O filme joga na nossa cara que grandes empresários do “bem” – que nem constrói direito um sistema operacional, mas quer dar palpite em vacina ou a poluição do mundo – são, na verdade, financiadores de governo. O governo, dentro do filme, preferiu ouvir ele do que os cientistas. E foram eles que descobriram o cometa. Claro, é uma imagem caricaturada como uma boa comedia, mas mostra como grandes corporações – mesmo tecnológicas – exigem dos governos que financiam, medidas que o beneficiem. Como o cometa ter materiais para fazer celulares. Como o asteroide de ouro que a NASA (National Aeronautics and Space Administration) quer explorar em nome da “ciência”, que sabemos – porque somos instruídos – não é bem para a ciência da humanidade. Se anticoncepcionais de baratas – sim, eles estavam analisando anticoncepcionais para diminuir baratas no mundo – não deram certo, como exploração de asteroides iriam dar?

Aí temos que voltar na questão da moral e do conhecimento. Enquanto Sócrates e Platão pensavam que a ética (ethos) iria vir do conhecimento, Aristóteles disse que ela era aprendida. Entramos na educação. Antes de tudo – como é mostrado no filme – Aristóteles diz que somos animais (porque nos mexemos e temos necessidades) sociais que podemos escolher por causa da nossa racionalidade. Ou seja, a ética vem com o aprendizado da felicidade (Eudaimonia), mas não é qualquer felicidade, é a felicidade de se harmonizar com todos. Ora, o cientista teve a escolha de não entrar no governo (como secretário da ciência) teve a escolha de não ter um caso com a apresentadora de TV, teve a escolha de não deixar sua família. São escolhas difíceis, mas como diria outro filósofo – do século 20 – Sartre, somos condenados a sermos livres. Nossas escolhas determinam a vida que queremos e o que somos. Aliás, o que somos além de algoritmo?

Talvez o pessoal não saiba, mas tenho diploma de Técnico de Informática e tenho muita autoridade para entender a questão do algoritmo tanto do filme, quanto a discussão por ai. Vamos pensar, porque não dói: por que o pessoal fica preso nos algoritmos? Por que os donos das grandes corporações de redes sociais – que alguns chamam de mídias sociais – podem saber o que pensamos, o que compramos etc.? Como no filme – de forma bastante caricaturada – o dono da corporação de celulares (seria uma junção de todos), sabe até mesmo como as pessoas vão morrer. Podemos ver que há um exagero de comedia, mas, me parece que é uma crítica, também, a tanto documentários que tratam no assunto. Por que não fico preso em algoritmos (bolhas)? Porque sei como opera um algoritmo, sei o quanto é prejudicial ter um lado para defender (sempre) e no fim, as grandes mídias sociais te fazem o produto. Nunca comprei porque apareceu no e-mail, no Facebook ou em outro lugar, comprei porque pesquisei e encontrei. Ouço a música que tenho vontade. E uso o algoritmo ao meu favor, sempre.

E tem a crítica das mídias (como disse, as redes sociais são mídias também). A muito tempo eu não ligo uma televisão para assistir qualquer coisa, por não gostar e não ter paciência mais. Na verdade, não acho necessário, porque sabemos ser tudo armado. No filme, a mídia só queria ser entretenimento, no caso do Brasil, a mídia é catastrófica e só gosta de dar notícia ruim. Culpa dela? Não. Um povo que tem verdadeira atração por velório, você espera uma mídia melhor? No mais, a mídia norte-americana é muito manipuladora do que a nossa.

No mais, o filme tem um roteiro fraco e sem atrativos.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

(2022)

sábado, 1 de janeiro de 2022

Fogos e ética

 



Foto: HÉLVIO




Minha aversão aos fogos de artifícios aumentou quando eu vi minha sobrinha, que tem autismo, chorar e ter ataques por causa do barulho das bombas. Uma questão se faz dentro da ética: por que nosso povo gosta tanto de fogos sendo só barulho? Quando Orwell vai definir o caráter do povo inglês em um dos seus artigos – Inglaterra, sua Inglaterra – ele diz que os italianos não conseguem fazer nada em silencio, eu vi que aqui tem muito da cultura italiana. Porque somos latinos, uma cultura que veio da Itália como império romano, uma cultura derivada da greco-romana. Realmente, não há uma nação tão romana quanto o Brasil, mesmo tenho outras etnias que resultaram em nossa sociedade.

Historiadores poderiam dizer que isso é claro, fomos colonizados pela igreja católica. A igreja católica – por ser romana – tem muito da cultura romana. A teologia da igreja tem muito das filosofias gregas, principalmente, Platão e Aristóteles. Ou seja, somos platônicos-aristotélicos. Se nossa sociedade gosta do idealismo de um outro mundo que vai ser melhor do que esse, ao mesmo tempo, gostamos de uma prática e não teórico. E foi aqui que teve grande aceitação o positivismo tecnocrata de Auguste Comte e o pensamento de Karl Marx, pois são filosofias idealizadas, por outro lado, são filosofias práticas e burocráticas. Mesmo todo mundo dizendo que nossa bandeira não será vermelha – na verdade, a nossa bandeira é positivista, porque a frase “ordem e progresso” tem origem da frase de Comte: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim.” – algumas coisas se herdou do marxismo, como a crítica pela crítica e que o trabalho intelectual não é trabalho.

Uma das críticas mais feitas de Marx é que ele nunca trabalhou, mas se fomos investigar mais a fundo, sim, ele trabalhou. Ele escreveu e fez estudos sobre a questão do socialismo/comunismo. A crítica deveria ser mais elaborada como os países que adotaram o socialismo, ou o porquê o socialismo soviético ruiu. Mas, antes de tudo, a essência da noção de sociedade somos herdeiros da cultura francesa do mesmo modo dos portugueses, assim como, tanto a França como Portugal, herdaram a cultura latina. Podemos concluir que fogos pode ser herança de povos latinos. Porém, quando são fogos de decorativos e que mostra beleza, você até entende, mas e quando são só barulho, no caso, rojão ou bombas?

O rojão tem uma história particular dentro da minha vida, porque, quando o Corinthians ganhava, sempre escutava rojões. Acontece, que sempre imaginava rojões como mini botijões de gás que se pendurava em balões e se jogava. Mais tarde, ao longo da vida, aprendi que são tubos que se acende o pavio e um outro tubo, com pólvora, sai e estoura no ar. Mesmo assim, nunca achei nenhuma graça disso e só me fez assustar (por causa da minha deficiência), e ao longo dos anos, só vi desgraça envolvendo isso. Que graça tem as pessoas fazerem barulho por barulho? Que graça tem estourar coisas ou até mesmo, bombas que podem ferir as pessoas? Nenhuma. Se quer mascarar a vida medíocre que se leva e não se pensa antes de fazer. Ou seja, a sociedade brasileira gosta de fazer o que os outros fazem, para pertencer a uma turma.

Quando você está lendo em um canto ou brinca consigo mesmo, você é uma pessoa sozinha. Por que não se pode ficar em silencio sozinho? Meu pai fica na janela desligado tudo e pensando com seu cigarro na janela da parte de baixo – eu fico na parte de cima – meditando sobre coisas ou somente, ouvindo os passarinhos nas arvores (aqui tem bastante graças o parque do Carmo). Eu gosto de escrever, à vezes, em meio do silencio, ler no silencio para entender melhor e gosto de fazer meditação. A sociedade brasileira, em sua maioria, odeia o silencio porque não suporta ficar consigo mesmo. Vão lembrar que o governo governa para si – sendo de esquerda ou direita – vão lembrar que trabalham para enriquecer os mesmos, pagar impostos para sustentar empresas estatais que não funcionam, políticos que fazem leis para se beneficiarem. E o que resta a um povo que não abre um livro para ler e aprender nem a ideologia que adota? Soltar rojões para se sentirem em um momento de felicidade, bombas para extravasar aquilo que queria ser o que não são.

E isso desde muito jovem. Esses dias escrevi uma reportagem – quem quiser ler clica (aqui) – que um moleque de 14 anos matou uma menininha de 4 anos de idade porque jogou uma bomba na janela do quarto da casa da menina. Vai ser indiciado, perdeu a casa (invadiram e puseram fogo na casa da família dele) e ainda, vai perder anos da vida dele. Por que soltar bombas daquelas na rua? Por que se educa as crianças a fazerem isso? Teimosia. Nossa sociedade é teimosa e tem sérios problemas de gostar de leis e não querer seguir essas leis, ou seja, os outros devem seguir elas e não ele. Por outro lado, há uma grande dificuldade em entender aquilo que é ético e aquilo que não é ético. As aulas de filosofia nas escolas, não abarca a ética como ela é e sim, abarca (em sua maioria) a história da filosofia. Isso torna a filosofia chata.

No caso do menino teimoso (porque os vizinhos tinham dito para ele parar), poderíamos nos perguntar: o porquê ele fez isso, sendo que imagens das câmeras mostram, que ele jogou mesmo no outro lado do muro da casa? Você deve estar dizer: porque o menino é mal-educado e não quis parar de fazer o que está fazendo e deu o que deu. Outros devem estar dizendo: ele, provavelmente, não sabia o que estava fazendo. Ora, quando você solta fogos – mesmo para expressar a sua alegria – está dizendo que nesse momento não tem ética, a sociedade é você, sua vontade deve prevalecer e todo mundo acha bonito aquilo. Só que não. Bichos de estimação ficam agitados. Crianças com autismo choram. E, como nesse caso, podem causar dor e morte a muitas famílias. Os contra-argumentos que se colocam, não podem sustentar uma ação porca por si só, porque além de tudo, suja o quintal e os telhados dos vizinhos. A pergunta que fica no ar é: isso é uma ética cidadã?

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

(1/01/2022­)