Eu confesso que no primeiro momento do filme, não simpatizei
com a história e nem com o enredo – quase previsível – que remete a política. O
filme não tirou de mim nenhum riso, porém, me fez ver alguns lances bastante
interessantes que nos fazem refletir. Talvez, minha análise apressada num
primeiro momento, não me fez ver o obvio: o filme fala de poder. Li em algum
lugar, que muitas pessoas acham que o importante é o dinheiro, mas, não é, é o
poder. Se fomos analisar minuciosamente, o poder cega que chega lá e se pensa
que se tem a solução do mundo. As maiores corporações hoje – e no filme mostra –
acham que podem opinar em tudo e acham que podem progredir o ser humano e o
mundo através da tecnologia. Claro, o empresário do filme é uma versão cômica daquilo
que os donos dessas corporações acham que são, que mesmo eu sendo contrário ao socialismo/comunismo,
também não abro as pernas para o capitalismo.
No primeiro momento – e ao longo do filme – vimos uma
incredibilidade com a ciência. Por quê? Porque as pessoas desejam certezas e não
probabilidade, mas, a ciência é feita de probabilidade que pode conter margens
de erro. As pessoas acham que a ciência cura, fara o ser humano um animal indestrutível
e não vai. A ciência vai fazer o ser humano ter uma vida, mais ou menos, confortável
e segura, mas não vai dar ao ser humano certezas e curas milagrosas. Claro,
temos a parte financeira de venda e compra como qualquer empresa, porque
existem outras pesquisas em andamento. Li uma vez, que essas pesquisas sobre
pelos no sovaco da barata, é na verdade uma pesquisa para mostrar que a ciência
está funcionando e financiamentos muito mais “gordos” chegarem aos laboratórios.
Por outro lado, essa incredibilidade da ciência é a promessa exagerada entre o século
19 a o 20, que a ciência iria salvar a humanidade. Tivemos duas guerras mundiais
cientificas, tivemos duas bombas atômicas destruindo duas cidades japonesas –
nunca soltam na capital, já repararam? – e no mais, não se evoluiu muito. Claro,
minha deficiência agradece tratamentos melhores, cadeira de rodas melhores, o
direito humano de ser tratado como um ser humano, porém, verdades tem que ser
ditas.
Quando eu era pequeno – nos anos 80 – nos prometeram um
mundo onde carros poderiam falar, ou eles poderiam voar, tecnologias iriam ser
criadas para ajudar a sociedade a ser mais dinâmica e evoluída. Não aconteceu. Se
por um lado o mundo apocalíptico de um Mad Max não aconteceu – seja por petróleo
ou água – o paraíso de um futuro todo automático como no Jacksons ou De Volta
para o Futuro também não aconteceu. Não se consegue eliminar um vírus sequer,
como podemos evoluir em tecnologia? O sonho iluminista que através do
conhecimento o ser humano iria evoluir moralmente, “molhou” como dizem. O século
passado, vimos atrocidades graças ao conhecimento químico, físico e político. Vimos
testes nucleares, vimos a degradação do planeta em nome de um progresso desfrutado
por eles. Diante disso, a ciência do “achismo” e ideológica vence e semeia
diante das redes sociais.
O filme joga na nossa cara que grandes empresários do “bem” –
que nem constrói direito um sistema operacional, mas quer dar palpite em vacina
ou a poluição do mundo – são, na verdade, financiadores de governo. O governo,
dentro do filme, preferiu ouvir ele do que os cientistas. E foram eles que
descobriram o cometa. Claro, é uma imagem caricaturada como uma boa comedia,
mas mostra como grandes corporações – mesmo tecnológicas – exigem dos governos
que financiam, medidas que o beneficiem. Como o cometa ter materiais para fazer
celulares. Como o asteroide de ouro que a NASA (National Aeronautics and Space
Administration) quer explorar em nome da “ciência”, que sabemos – porque somos instruídos
– não é bem para a ciência da humanidade. Se anticoncepcionais de baratas –
sim, eles estavam analisando anticoncepcionais para diminuir baratas no mundo –
não deram certo, como exploração de asteroides iriam dar?
Aí temos que voltar na questão da moral e do conhecimento. Enquanto
Sócrates e Platão pensavam que a ética (ethos) iria vir do conhecimento, Aristóteles
disse que ela era aprendida. Entramos na educação. Antes de tudo – como é
mostrado no filme – Aristóteles diz que somos animais (porque nos mexemos e
temos necessidades) sociais que podemos escolher por causa da nossa racionalidade.
Ou seja, a ética vem com o aprendizado da felicidade (Eudaimonia), mas não é
qualquer felicidade, é a felicidade de se harmonizar com todos. Ora, o
cientista teve a escolha de não entrar no governo (como secretário da ciência)
teve a escolha de não ter um caso com a apresentadora de TV, teve a escolha de não
deixar sua família. São escolhas difíceis, mas como diria outro filósofo – do século
20 – Sartre, somos condenados a sermos livres. Nossas escolhas determinam a
vida que queremos e o que somos. Aliás, o que somos além de algoritmo?
Talvez o pessoal não saiba, mas tenho diploma de Técnico de Informática
e tenho muita autoridade para entender a questão do algoritmo tanto do filme, quanto
a discussão por ai. Vamos pensar, porque não dói: por que o pessoal fica preso
nos algoritmos? Por que os donos das grandes corporações de redes sociais – que
alguns chamam de mídias sociais – podem saber o que pensamos, o que compramos
etc.? Como no filme – de forma bastante caricaturada – o dono da corporação de
celulares (seria uma junção de todos), sabe até mesmo como as pessoas vão morrer.
Podemos ver que há um exagero de comedia, mas, me parece que é uma crítica, também,
a tanto documentários que tratam no assunto. Por que não fico preso em
algoritmos (bolhas)? Porque sei como opera um algoritmo, sei o quanto é
prejudicial ter um lado para defender (sempre) e no fim, as grandes mídias sociais
te fazem o produto. Nunca comprei porque apareceu no e-mail, no Facebook ou em
outro lugar, comprei porque pesquisei e encontrei. Ouço a música que tenho
vontade. E uso o algoritmo ao meu favor, sempre.
E tem a crítica das mídias (como disse, as redes sociais são
mídias também). A muito tempo eu não ligo uma televisão para assistir qualquer
coisa, por não gostar e não ter paciência mais. Na verdade, não acho necessário,
porque sabemos ser tudo armado. No filme, a mídia só queria ser entretenimento,
no caso do Brasil, a mídia é catastrófica e só gosta de dar notícia ruim. Culpa
dela? Não. Um povo que tem verdadeira atração por velório, você espera uma mídia
melhor? No mais, a mídia norte-americana é muito manipuladora do que a nossa.
No mais, o filme tem um roteiro fraco e sem atrativos.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
(2022)