Foto: HÉLVIO |
Minha aversão aos fogos de artifícios aumentou quando eu vi
minha sobrinha, que tem autismo, chorar e ter ataques por causa do barulho das
bombas. Uma questão se faz dentro da ética: por que nosso povo gosta tanto de
fogos sendo só barulho? Quando Orwell vai definir o caráter do povo inglês em
um dos seus artigos – Inglaterra, sua Inglaterra – ele diz que os italianos não
conseguem fazer nada em silencio, eu vi que aqui tem muito da cultura italiana.
Porque somos latinos, uma cultura que veio da Itália como império romano, uma
cultura derivada da greco-romana. Realmente, não há uma nação tão romana quanto
o Brasil, mesmo tenho outras etnias que resultaram em nossa sociedade.
Historiadores poderiam dizer que isso é claro, fomos
colonizados pela igreja católica. A igreja católica – por ser romana – tem muito
da cultura romana. A teologia da igreja tem muito das filosofias gregas,
principalmente, Platão e Aristóteles. Ou seja, somos platônicos-aristotélicos. Se
nossa sociedade gosta do idealismo de um outro mundo que vai ser melhor do que
esse, ao mesmo tempo, gostamos de uma prática e não teórico. E foi aqui que
teve grande aceitação o positivismo tecnocrata de Auguste Comte e o pensamento
de Karl Marx, pois são filosofias idealizadas, por outro lado, são filosofias práticas
e burocráticas. Mesmo todo mundo dizendo que nossa bandeira não será vermelha –
na verdade, a nossa bandeira é positivista, porque a frase “ordem e progresso” tem
origem da frase de Comte: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o
Progresso por fim.” – algumas coisas se herdou do marxismo, como a crítica pela
crítica e que o trabalho intelectual não é trabalho.
Uma das críticas mais feitas de Marx é que ele nunca
trabalhou, mas se fomos investigar mais a fundo, sim, ele trabalhou. Ele escreveu
e fez estudos sobre a questão do socialismo/comunismo. A crítica deveria ser
mais elaborada como os países que adotaram o socialismo, ou o porquê o socialismo
soviético ruiu. Mas, antes de tudo, a essência da noção de sociedade somos herdeiros
da cultura francesa do mesmo modo dos portugueses, assim como, tanto a França como
Portugal, herdaram a cultura latina. Podemos concluir que fogos pode ser herança
de povos latinos. Porém, quando são fogos de decorativos e que mostra beleza, você
até entende, mas e quando são só barulho, no caso, rojão ou bombas?
O rojão tem uma história particular dentro da minha vida,
porque, quando o Corinthians ganhava, sempre escutava rojões. Acontece, que
sempre imaginava rojões como mini botijões de gás que se pendurava em balões e
se jogava. Mais tarde, ao longo da vida, aprendi que são tubos que se acende o
pavio e um outro tubo, com pólvora, sai e estoura no ar. Mesmo assim, nunca
achei nenhuma graça disso e só me fez assustar (por causa da minha deficiência),
e ao longo dos anos, só vi desgraça envolvendo isso. Que graça tem as pessoas fazerem
barulho por barulho? Que graça tem estourar coisas ou até mesmo, bombas que
podem ferir as pessoas? Nenhuma. Se quer mascarar a vida medíocre que se leva e
não se pensa antes de fazer. Ou seja, a sociedade brasileira gosta de fazer o
que os outros fazem, para pertencer a uma turma.
Quando você está lendo em um canto ou brinca consigo mesmo, você
é uma pessoa sozinha. Por que não se pode ficar em silencio sozinho? Meu pai
fica na janela desligado tudo e pensando com seu cigarro na janela da parte de
baixo – eu fico na parte de cima – meditando sobre coisas ou somente, ouvindo
os passarinhos nas arvores (aqui tem bastante graças o parque do Carmo). Eu gosto
de escrever, à vezes, em meio do silencio, ler no silencio para entender melhor
e gosto de fazer meditação. A sociedade brasileira, em sua maioria, odeia o
silencio porque não suporta ficar consigo mesmo. Vão lembrar que o governo governa
para si – sendo de esquerda ou direita – vão lembrar que trabalham para
enriquecer os mesmos, pagar impostos para sustentar empresas estatais que não funcionam,
políticos que fazem leis para se beneficiarem. E o que resta a um povo que não abre
um livro para ler e aprender nem a ideologia que adota? Soltar rojões para se
sentirem em um momento de felicidade, bombas para extravasar aquilo que queria
ser o que não são.
E isso desde muito jovem. Esses dias escrevi uma reportagem –
quem quiser ler clica (aqui) – que um moleque de 14 anos matou uma menininha de
4 anos de idade porque jogou uma bomba na janela do quarto da casa da menina. Vai
ser indiciado, perdeu a casa (invadiram e puseram fogo na casa da família dele)
e ainda, vai perder anos da vida dele. Por que soltar bombas daquelas na rua? Por
que se educa as crianças a fazerem isso? Teimosia. Nossa sociedade é teimosa e
tem sérios problemas de gostar de leis e não querer seguir essas leis, ou seja,
os outros devem seguir elas e não ele. Por outro lado, há uma grande dificuldade
em entender aquilo que é ético e aquilo que não é ético. As aulas de filosofia
nas escolas, não abarca a ética como ela é e sim, abarca (em sua maioria) a história
da filosofia. Isso torna a filosofia chata.
No caso do menino teimoso (porque os vizinhos tinham dito
para ele parar), poderíamos nos perguntar: o porquê ele fez isso, sendo que
imagens das câmeras mostram, que ele jogou mesmo no outro lado do muro da casa?
Você deve estar dizer: porque o menino é mal-educado e não quis parar de fazer
o que está fazendo e deu o que deu. Outros devem estar dizendo: ele,
provavelmente, não sabia o que estava fazendo. Ora, quando você solta fogos –
mesmo para expressar a sua alegria – está dizendo que nesse momento não tem ética,
a sociedade é você, sua vontade deve prevalecer e todo mundo acha bonito aquilo.
Só que não. Bichos de estimação ficam agitados. Crianças com autismo choram. E,
como nesse caso, podem causar dor e morte a muitas famílias. Os contra-argumentos
que se colocam, não podem sustentar uma ação porca por si só, porque além de
tudo, suja o quintal e os telhados dos vizinhos. A pergunta que fica no ar é:
isso é uma ética cidadã?
Amauri Nolasco Sanches Júnior
(1/01/2022)
Excelente reflexão!fogos de artificios são além de perigos inúteis.
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