sábado, 10 de agosto de 2024

POR QUE NÃO VOU VOTAR EM PABLO MARÇAL?



<<"Podem falar o que quiser, mas o cara é brabo, manda a real e tem o meu respeito". Não, imbecil, ele só entendeu que vc tem horror a determinado segmento e tá repetindo o q vc quer ouvir. E os caras se julgam inteligentes.>>

 

Essas falas são de um dos milhares de fakes espalhados dentro do X de Ellon Musk (estou devendo um texto sobre ele), que ser de uma pessoa covarde que não tem coragem de mostrar a cara e o nome, ou pode ser um profissional que não pode se expor. Eticamente, quando um juiz se expõem, por exemplo, ele tende a colocar sua imparcialidade em jogo. Indo mais além – como dizem os ANCAPs – poderíamos dizer ser belo e moral. Mesmo que com isso mostre verdades como está sobre Pablo Marçal.

Podemos dizer que o movimento conservador (seu termo) começa no século 19 com François-René de Chateaubriand (1768-7848) - foi um escritor, ensaísta, diplomata, realista e político francês que se imortalizou pela sua magnífica obra literária de caráter pré-romântico – e foi um movimento para restaurar o que foi destruído pela revolução francesa. Ou seja, sua filosofia social consiste em defender a manutenção das instituições sociais tradicionais em um contexto da cultura e da civilização. Ainda mais, podemos dizer que o termo, associado historicamente com a direita. Mesmo que na Wikipedia esteja: “diferentes grupos de conservadores podem escolher diferentes valores tradicionais para preservar”, um conservador deve ter em si valores que acredita e quer conservar.

Há um problema, um conservador kantiano - que defende posições patrimonialista (tradicionais) de família – defende que:  “A união sexual de acordo com a lei é o casamento (matrimonium), isto é, a união de duas pessoas de sexos diferentes para a posse por toda a vida dos atributos sexuais recíprocos.” (KANT, E. Metafísica dos Costumes, p. 122). Este pensamento kantiano, assim como alguns membros religiosos, se sentem afrontados com outras formas de união e de relacionamento amoroso entre essas pessoas. Portanto, conservadores das doutrinas morais que eles acreditam serem verdadeiras (em termos certo e errado para vida privada, como sempre foi no Brasil).

Qual a problemática? John Rawls em seu livro Liberalismo Político, diz que a questão tem a ver que numa sociedade democrática moderna não existe uma doutrina moral absolutamente verdadeira, em razão do pluralismo, moral, religioso e filosófico. Aliás, tal perspectiva ressoa nos arts. 1º, V, 3º, IV, 5º, VI, VIII e 19, I da Constituição do Brasil. Por quê? Temos uma tradição liberal progressista muito forte, só vimos que todos os nossos hinos esta liberdade. E na nossa constituição esta o respeito com o outro, não se meter nas escolhas dos outros, não pregar condutas morais que não servem ao outro.

Portanto, em uma democracia a primeira acepção do “conservadorismo” seria a problemática. Seja num âmbito privado (portanto, não poderíamos transportar para a esfera publica como se fosse a ultima palavra em termos de valores), seja porque ninguém tem o direito de impor sua vontade moral a força. Dai temos que abrir um parênteses: as questões privadas e publicas são muito confundidas no Brasil por conta do vício muito popular de achar que amizade e parentesco tem que um se meter na vida do outro, um conservador mais cético, seria contra esse tipo de coisa. Como se eu não posso ficar junto com a minha noiva – somos cadeirantes – porque outros pais de outros deficientes não querem que seu filho veja. No mesmo modo, não querem que seus filhos vejam. Estranhamente, o brasileiro tem um conceito do influenciável que, talvez, vieram de pensamentos empiristas da tabula rasa, ou acomodação de achar que nada disso tem que acontecer por causa de ter que educar seu filho.

Nisso eu concordo com os marxistas: pautas morais não deveriam ser pautas políticas. Uma coisa é sermos contra a falta de ética na política – que isto é culpa de quererem refutar Aristóteles e relativizar ate atos éticos – outra coisa é querer impor uma visão moral de casamento, impor visões religiosas (invasões de terreiro de candomblé e umbanda etc) entre outras coisas. E Pablo Marçal é um coach, professor de coisas que não existe, pessoas vão e pagam para serem humilhadas e mentiras são contadas. Não se iluda. Como disse o fake, ele fala coisas que você acredita, coisas mais do que obvias.

REFERENCIA:

Wikipédia 

Gazeta do Povo 

sábado, 3 de agosto de 2024

NICOLAS MADURO E A PODRIDÃO LATINO-AMERICANA

 




<<Duas coisas sempre me enchem a alma de

crescente admiração e respeito, quanto mais

intensa e frequentemente o pensamento delas

se ocupa: o céu estrelado acima de mim e a lei

moral dentro de mim.>>

Immanuel Kant

 

Por ser um texto político, eu poderia fazer uma reflexão sobre a famosa citação de Aristóteles – morto em 322 a. c. – sobre o homem (ser humano) ser um animal político. Mas, estamos em um mundo moderno com democracias liberais – mesmo que bolsonaristas digam ser tudo um bando de esquerdista – e com pesquisas super avançadas sobre genética e antropologia, ficamos sabendo que o ser humano é gregário  e que a sociedade é um símbolo que criou após se assentar em um lugar (deixar de ser nômade) e ter que conviver com outros clãs bem de perto. Pode ser que o ser humano tenha criado a aristocracia politica – por razões de abrir mesmo mão de sua liberdade em nome da segurança e mais estabilidade – para serem guias de um novo modo de se viver.

Cinco mil anos se passaram e chegamos a conclusão que se teve muito mais prejuízo – claro, não só – do que um maior lucro dentro do desenvolvimento da sociedades humano (se não, toda a humanidade). Kant nos coloca em uma reflexão sobre a moral – o ETHOS levado a um corpo social – onde há uma moral definida dentro de nós. Na verdade, Kant coloca a lei newtoniana em primeiro lugar (como representasse a ciências) e a lei moral como método de seguir uma conduta social (como representasse a parte ética e moral da filosofia). Em uma outra passagem, o filosofo diz que não se ensina filosofia, mas ensina a filosofar. E isso falta – em algumas análise políticas – na analise politica hoje, ate mesmo para os conhecidos filósofos. Por quê?

O que vimos aqui é restos da segunda guerra mundial – apesar que a revolução bolchevique foi na primeira grande guerra – e logo depois, uma guerra de narrativa entre o comunismo soviético e o capitalismo liberal americano (aqui vou me dar a liberdade de referir aos estudanenses nesse termo). E vamos ser francos: os americanos não foram tão liberais e os russos não foram tão comunistas. Na verdade, foi uma guerra fria para se ter uma “desculpa” para o desenvolvimento tecnológico bélico e serem potencias. Nesse interim, em uma analise histórica – de quem leu muitos livros disso tudo – se ganhou muito dinheiro. E nisso, com vendas de armas e ditaduras militares nos países subdesenvolvidos (que pediam dinheiro ao FMI como vassalos dos americanos), o dinheiro entrou e entrou muito fácil. Com a reconstrução europeia – os nazistas acabaram com a Europa – e o dinheiro emprestado, os americanos ganharam muito. Não foi uma questão de livrar do “comunismo”. Mesmo porque, muitos discos de música e suas capas foram censurados nos EUA, assim, podemos dizer que os americanos nunca foram tão “liberais”.

Os governos latino-americanos sempre foram frágeis, ora por causa de suas corrupções – já vinda das culturas latinas europeias – ora porque não tem um histórico democrático liberal. Sempre as nações latinas foram ou fragmentadas, ou foram regidas por reis e imperadores que eram mais vassalos da igreja católica do que outra coisa. Por isso mesmo que a ideia do estado laico – que os evangélicos não sabem que foram os protestantes que inventaram – foi adotada e com ela, o Estado liberal. A questão é: se sabe algo sobre o liberalismo? Ninguém sabe. Por isso, se tem o entendimento de só ter liberalismo na economia, que na moral se tem o conservadorismo. Ora, no lado moral temos o tradicionalismo e não o conservadorismo, pois, o conservadorismo é político.

Esse tipo de confusão fazem as pessoas acharem que todo fascista é liberal. Na história do fascismo – desde Mussolini – muitos deles vieram do lado socialista e até mesmo, alguns dizem, que o fascismo é um socialismo de direita. Então, qual a diferença? Qual a diferença de políticas fascistas e socialistas? Ora, todas essas políticas ideológicas cientificas, foram expostas e não podem ser mais apoiadas por não saber lhe dar com o questionamento contra.

Regimes como a do Nicolás Maduro, são regimes de caudilho – cidadãos que se proclamam dirigentes militares – como sempre se teve em nações subdesenvolvidas. Ignorância, pobreza e analfabetismo colaboram para serem enganados e mais empobrecidos.

sábado, 27 de julho de 2024

EMILIO SURITA E A PAUTA WOKE

 




Gilles Deleuze (1925-1995) disse sobre a filosofia:

 

““Quando alguém pergunta para que serve a filosofia, a resposta deve ser agressiva, visto que a pergunta pretende-se irônica e mordaz. (…) Não serve a nenhum poder estabelecido. A filosofia serve para prejudicar a tolice, faz da tolice algo de vergonhoso.”

 

E Deleuze tem razão, a filosofia não serve para nenhum poder estabelecido. Outro filosofo – que esqueci o nome – dizia que a etimologia já mostra o quanto a filosofia se impõem, pois, a filosofia não é amor ao poder, a filosofia não é o amor a tolice ou ao simples conhecimento, mas, o amor a sabedoria. O saber não é o mesmo do conhecer, o saber é algo natural do ser humano (por isso o ser humano é o único animal de ter consciência de si mesmo). Deleuze também fala sobre quando diz que a filosofia <<faz da tolice algo vergonhoso>>. Por isso mesmo, a meu ver, os filósofos não deveriam ter nem pretensões ideológicas e nem pretensões religiosas. Pois, a filosofia denuncia a tolice do fanatismo e da pretensão de ser um líder, um filosofo nunca é o detector dessa sabedoria.

Deleuze – em uma entrevista postada no YouTube – disse que não existe governo de esquerda, pois, se a esquerda está no poder, ela se transforma em situação e para de denunciar. Ora, não é uma verdade? eu sempre aprendi que a esquerda representava mudança e a direita representava o status quo. Ao que parece, temos conservadores que se casam várias vezes (se não tem amante), e existem de esquerda que defendem uma identidade nacional. No Brasil, pela falta de uma educação de verdade e leitura de bons livros, se confunde esquerda com comunismo e direita conservadora com tradicionalismo. E ainda pior, transformaram conservadores em defensores morais (pautas morais não são discussões politicas) e liberais em meros pensamentos econômicos, que, sem duvida nenhuma, é uma grande tolice.

O caso do Emilio Surita (Pânico) nessa semana tem a ver com uma pauta não socialista – como ele mesmo deu a entender – mas, uma pauta woke de representação. O famoso “politicamente correto”. Mas, como todo movimento, tem sua genealogia e tem a ver com o estruturalismo e pós-estruturalismo. Porque a direita – principalmente a olavista (Olavo de Carvalho) – fica pregando um discurso “Vida Intelectual”, mas, na prática, se agarra em respostas fáceis dentro de problemas muito complexos. Ora, tudo começa com a questão estruturalista, quando o linguista Ferdinand de Saussure disse que haveria um significante e o significado. Daí – com Claude Levy-Strauss – se propôs a investigar os elementos culturais e da sociedade devem ser entendido em relação às estruturas subjacentes que os sustentam. Essas estruturas são vistas como sistemas de relações que dão sentido aos elementos individuais.

Já o pós-estruturalismo surge como uma crítica ao estruturalismo. Muitos nomes da filosofia contemporânea fazem parte desse movimento como Michel Foucault, Jaques Derrida e Gilles Deleuze questionaram a ideia de estruturas fixas e universais. Eles argumentam que o significado é sempre estável e que as estruturas são construções sociais que podem ser desconstruídas para revelar suas contradições e complexidades. Já o desestruturalismo ou desconstrução tem a ver com Jaques Derrida que desenvolve uma análise crítica das estruturas de pensamento e linguagem para mostrar como elas são construídas e como podem ser desconstruídas. Mas essa desconstrução pode revelar várias ambiguidades e as múltiplas interpretações possíveis de qualquer texto ou discurso.

A questão é bem mais complexa do que imaginamos, pois se devemos desconstruir qualquer discurso que tendemos ouvir, então, os discursos do wokes podem ser desconstruídos também. Vejamos: a representação de uma deficiência, por exemplo, tende a ser uma representação daquilo que falta dentro de uma representação daquilo que seria perfeito. A deficiência acaba sendo estigmatizada como inutilidade e improdutividade. O preconceito não é um ato linguístico só de representação, seria um ato de hostilizar ou não uma pessoa diferente. A representação e o nome (termo representativo) só é um nome, para determinar tal coisa. Não tem a ver com inclusão. Inclusão é o respeito que se tem com o outro. O outro representa a realidade.

A discussão sobre a pauta woke (ou politicamente correto), tem a ver com a representação. Uma imitação pode ser considerada como uma representação da persona da pessoa? Ou pode ser considerada como uma caricatura? Do mesmo modo, a representação de drags queens na santa ceia não pode ser ofensivo, porque é uma representação daquilo que pode ter um simbolismo (como a partilha do pão [corpo] e o vinho [sangue] de Jesus o Cristo). Ai nós desconfiamos que essas defesas tem a ver com discursos ideológicos – seja lá que lado você defenda – onde um lado defende o outro como discurso político e não defesas de posições politicas de tradição (qual a tradição brasileira mesmo?) ou contradição.  

 


quarta-feira, 24 de julho de 2024

O SAMURAI DE OLHOS AZUIS E O PROBLEMA DA VERDADE

 

 


Nesses dias assistindo a seria O Samurai de Olhos Azuis (da Netflix) me deparei em uma nova proposta de animação e numa nova maneira de construção de animação. Ora, quem sabe um pouco de gráfico (por eu ser publicitário também) com certeza os gráficos foram feitos por computação gráfica. Mas, a história é muito bem construída e mostra um Japão invadido por europeus gananciosos no século quinze e dezesseis, que não queriam só comercializar suas especiarias, mas, queria também dominar o oriente (como acabaram fazendo com o capitalismo ocidental). Isso também é mostrado na série Shogun (que ainda não vi).

Mizu é um espadachim habilidoso e achava que só isso bastava para ser um samurai. Por ter nascido de olhos azuis em um Japão que não queria ser colonizado – quem quer? – foi sempre hostilizado como uma aberração (como, recentemente, se descobriu que olhos azuis é uma anormalidade do ser humano). Mas, também, era fruto de uma violência contra sua mãe por um europeu britânico e era uma menina, porém, sua mãe a criou como um menino. Sem spoiler (vejam a serie na Netflix), vamos ao foco do texto: a verdade. será que a vingança de Mizu era uma verdade universal ou subjetiva?

No livro O Problema da Verdade de Jacob Bazarian – um livro que estou lendo em e-book no notebook – ele explora a questão da Teoria do Conhecimento. Então, no primeiro capítulo, ele faz a seguinte pergunta: <<Qual o motivo determinante dessa aspiração natural ao conhecimento?>>, pois, segundo ele <<Aristóteles considerava que o desejo do saber, a curiosidade espontânea para o conhecimento é inato do homem, isto é, inerente à natureza humana. Ele afirmava que “ foi a admiração que moveu os primeiros pensadores às especulações filosóficas”>>. Mas, ficaremos na pergunta, pois, faz parte sobre a Mizu e sua vingança sobre seu nascimento. Por que temos a aspiração de conhecer a realidade e curiosidade de conhecer mais?

Mizu por estar numa posição de “diferente” – porque não existia japonês com olhos azuis – ela se sentia menos e tinha que aprender a arte da espada para se sentir grande. Só que um samurai (mesmo Ronin) não era só a katana, mas, também teria que aceitar o preceito da honra que faz parte do bushido. O bushido é literalmente “o caminho do guerreiro” que seria um conjunto de código de condutas e o modo de vida de um samurai (muito parecido com o Código Jedi da saga Star Wars). Muito parecido com o conceito do cavalheirismo (dos cavaleiros medievais), o bushido define alguns parâmetros para os samurais viverem e morrerem com honra. Tem origem de um código moral dos samurais, enfatiza frugalidade, fidelidade, artes marciais, mestria e honra, até mesmo a morte (muitos optavam o suicídio do que ser capturado). O código moral foi influenciado pelo budismo, xintoísmo e confucionismo, o bushido foi um código que moldou toda a casta guerreira japonesa por séculos. Mesmo os ronins (samurais sem clãs ou mestres).

Mizu só descobriu isso após Ringo – o cozinheiro sem as mãos – dizer que ela não era um samurai de verdade, pois, não tinha honra. Só queria uma vingança, mas, Ringo queria ser “grande” e tentou outro mestre (que praticamente, criou Mizu). O “pai das espadas” era cego, mas muitos o procuravam para fazer suas katanas e o fazia como ninguém. Como? O tempo da martelada. Conhecer o som era importante para saber como fazer e moldar a espada, como um limiar de uma vocação. Ringo, sem as mãos, era um cozinheiro habilidoso e fazia macarrões como ninguém. Mas, gostava da ideia de se transformar em um guerreiro, que na visão dele, era ser “grande”. Nesse caso, conhecer é superar dificuldades de que nos encontramos. Por eu andar numa cadeira de rodas, sei como rodar as rodas e tomar o controle. Tem pessoas que se sentam em uma cadeira e não sabem.

O conhecimento tem a ver com a realidade (aquilo que a consciência capta) e então, talvez, possa ter uma realidade objetiva (que existe independente da sua consciência) e uma realidade subjetiva (que existe dependente da sua consciência). Mizu poderia ter relavado os bullyings que sofreu, o que sua dor fez foi moldar seu caráter em vingar e querer matar seu pai biológico. Ora, a dor fez outra coisa, fez com que ela aprendesse a arte da katana, ser um samurai ronin, ser habilidosa em alguma coisa. Como Ringo pode amarrar sua faca no final do braço (no lugar da mão) e cozinhar, como o “pai das espadas” e com o barulho da martelada saber o tempo certo de cada modelagem. A questão que nesse intuito, sempre teremos que aprender a nos adaptar dentro daquilo que nos adaptamos melhor.

Platão no diálogo Teeteto, Sócrates inicia o diálogo com a pergunta: “O que é o conhecimento?”. Será que essa pergunta tem resposta? Nesse diálogo, tudo gira na frase de Protágoras (sofista) que dizia que “o homem é a medida de todas as coisas”. Platão pergunta através de Sócrates como um problema: estamos falando do homem como individuo ou como espécie? Mesmo porque, o objetivo de Platão é a alma, pois, em sua crença, o mundo em que o corpo está é um teatro de sombras (como no Mito da Caverna). Porque, enquanto olhamos as coisas e nos enganamos, podemos fechar os olhos e nos voltar para nós mesmos (conhecer a si mesmo), para nossa alma. Onde Platão diz que está a realidade. Ou seja, o filosofo grego nos diz que devemos abandonar a experiencia (o sensível). No platonismo, a alma seria o conhecimento, pois se baseia em aspectos universais, por outro lado, o corpo seria a doxa (o que falam de...).

Não podemos deixar de comparar o platonismo (que veio do lado mais místico do pitagorismo) com preceitos budistas. Mas há uma diferença: para Platão há uma realidade superior e que tudo pode ser ilusão, para Buda a ilusão não é ruim. Ela só é vazia. Por isso o não apego aquilo que não somos nós, porque aquilo não nos pertence e é impermanente. Mizu se iludi que matando seu pai vai trazer paz, mas sem essa ilusão, Mizu era só mais uma mulher usada e hostilizada por ter olhos azuis (uma aberração). Sem a ilusão Ringo era só mais um cozinheiro. Buda, assim como Jesus Cristo (um homem são não precisa do medico), mostra que a ilusão (assim como o sonho) não vai durar para sempre, um dia acaba e voltamos para o real. Platão diz que o corpo é a prisão da alma.

Nesse caso, o conhecimento (episteme) tem a ver com aquilo que queremos saber para ter certezas, ter certeza que somos humanos e não seres aberrantes ou não humanos. Os olhos azuis de Mizu fez ela superar a condição ilusória de tradições milenares que as mulheres não teriam habilidades, não teria meios de guerrear e buscar sua meta. Mesmo que essa meta é a morte do seu pai, que acredita, gerou a sua dor.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

OS SABERES DAS REDES E EPISTEMOLOGIA DO COMENTARIO

 






A primeira regra da internet: não leia os comentários.

WiFi Ralph: Quebrando a Internet

 

Poderemos começar com a nossa investigação com a seguinte pergunta: o que deveria ser um comentário? Um comentário pode ser um conjunto de várias observações que uma pessoa pode fazer sobre um determinado fato, no nosso caso dessa análise, poderemos dizer que um comentário pode ser uma observação sobre algo lido ou visto.  E essas observações podem funcionar como um parecer ou uma análise mais técnica ou crítica que alguém pode fazer sobre certos assuntos em questão. Nesse caso, um comentário pode trazer dados inéditos sobre o assunto posto ou mais indicações relacionadas ao tópico proposto. A comunicação desse comentário pode ser oralmente (no caso de não ser virtual ou uma resposta em vídeo de um outro vídeo), ou escrito e nesse interim, na popularização da internet, os comentários são mais fáceis de se propagar.

Na internet – ou o mundo virtual – houve um crescimento de um novo fenômeno que atribui um novo significado para o comentário: o de tecer críticas abusivas sobre pessoas (e não sobre o assunto). Uma pessoa pode até estar certa em um assunto, mas, dependendo do seu viés religioso ou político, acaba sendo hostilizada por isso e não por causa do assunto discutido. Nesse caso, não mais poderíamos definir como sinônimo de comentário, uma interpretação, escolio, nota, paráfrase etc., pois, o outro passa ser muito mais importante do que o assunto. Porque, o outro atrapalha eu convencer os demais aos valores que me proponho a propagar. O outro, como diria Sartre, é o inferno. Isso implica dizer que, nesse caso, pode parecer um comentário crítico, mas, só passa a ser crítico quando é um comentário argumentativo, onde a pessoa expõe suas observações de modo mais critico sobre dado assunto.

Nesse contexto, a crítica filosófica tende sempre a perguntar: estamos na era do ódio gratuito ou a era critica? Pois, uma coisa é saber criticar argumentando certos assuntos com propriedade, nesse caso, há de se ter conhecimento sobre o assunto proposto, do outro, com a falta de educação tanto dos limites éticos e morais familiares, como aulas de interpretação textual e de gramática na educação escolar; transformam as redes em não troca de saberes, mas, um ringue de luta. Mesmo porque, o discurso de ódio se caracteriza em uma expressão verbal ou escrita que promove hostilidade, preconceito ou intolerância. Ele pode ser usado como uma estratégia de manipulação e desinformação. Nesse caso, muito usado por fanáticos (de todo tipo), a desinformação traz um viés de confirmação da sua própria crença.

No nosso caso – nessa critica filosófica – analisamos e compreendemos questões fundamentais (profundas) das questões do mundo. E por tentar compreender o objeto da análise, podemos dizer, que a critica filosófica pode compreender o discurso de ódio. Ou melhor, ao fazer uma crítica filosófica, não poderemos expressar nossa opinião pessoal (apesar que, temos várias críticas sobre essa visão que não cabe nesse texto) e sim, com argumentos lógicos e racionais.  nesse contexto temos que analisar se um discurso filosófico, pode ser totalmente logico ou racional. Na verdade, a logica (para sermos rigorosos) são pontos simétricos que permeiam dentro da realidade matemática como ponto de convergência. Análises textuais são formas de expressão de um pensamento único e subjetivos, sempre contextualizando algo.

Então o discurso de um comentário tem que ser contextualizado sempre com uma linguagem clara e objetiva, como o exemplo que recebi no vídeo na rede de vídeos curtos Kwai: << quase teve um surto no meu coração ao ver ess>> onde a frase não foi terminada e o contexto foi escrito confusamente. Gramaticalmente, podemos dizer que a questão não tem nem mesmo concordância, pois o “quase teve um surto” não concorda com “no meu coração”. No mais, filosoficamente, a questão da frase de ter um sujeito que pratica a ação e a ação que é o predicado. Ora, voltando ao discurso de ódio (que poderíamos dizer que é um discurso crítico do senso comum), se deve a falta dentro da escolaridade de um senso crítico dos discursos que ouvimos por ai.

Comentário como “deficiente tem o direito de se escrever na AACD” ou “crianças autistas devem estudar em escolas especiais, porque atrapalham a turma”, tem um contexto especifico de singularidade temporal que poderemos chamar de reacionarismo. Isto não é, de modo algum, um modo conservador de pensar. Nesse interim, a crítica filosófica deve ser feita dentro dos parâmetros singulares da cultura brasileira. Nisso, a academia de filosofia vê com muito preconceito esse tipo de manifestação cultural virtual – que muitos usam a teoria critica da Escola de Frankfurt para nomear como algo da cultura pop, como se a cultura pop, não seja também detetora de alguns saberes – e assim, abriram brechas para manifestações filosóficas nocivas como o olavismo.

O olavismo veio do filosofo e escritor Olavo de Carvalho e defende um regresso para algumas sabedorias antigas e a vida intelectual. Por outro lado, seu lado polemico começa a propagar o negacionismo (a negação pura e simples) como se a filosofia fosse um monte de “crianças birrentas”. Indagar é diferente de negar. Negar vacinas não são um meio de indagar qual é o papel farmacêutico dentro da saúde da humanidade, mas, devemos perguntar qual a relação desse mercado com o capitalismo onde tudo é ganho e lucro. Perguntar é indagar. Por outro lado, queiramos ou não em admitir, a humanidade vive hoje muito mais do que vivia a tempos atras e muitas doenças foram quase radicadas. O olavismo traz – importado dos Estados Unidos – teorias que foram jogadas para atrapalhar a concorrência de um laboratório do outro, por outro lado, negar a eficácia de uma vacina não é pressuposto de indagar das coisas mais substanciais: qual o real papel das pesquisas medicas?

Com tudo, isso podemos dizer que o olavismo é uma antifilosofia. Entendemos como antifilosofia, a crença que as coisas eram melhores no passado – também observamos, em maior parte da nossa cultura, um reacionarismo puro onde sempre havia um passado que era melhor que hoje – e que as filosofias medievais (encabeçada pela Igreja Católica) é muito melhor do que a contemporânea. Só que isso sim, não é filosofia. Não que os medievais não tenham importância – como Santo Agostinho ou Tomás de Aquino – mas, o olavismo não rompe a tradição religiosa e coloca um reacionarismo dentro do conservadorismo que não existe. Ou seja, o problema não é o pensamento católico, o problema é não fazer uma critica ao filósofos medievais e pensar como eles.

Outra problemática poderemos apontar com uma questão: por que antifilosofias apareceram, como o olavismo, na internet nos últimos tempos? Será que as filosofias acadêmicas (com seus preconceitos) não facilitaram um modo de escrever e analisar distanciando da maioria, como a ciência acadêmica? São dúvidas pertinentes que tem a ver com o modo que a grande maioria enxerga a filosofia, como algo distante e, na verdade, sempre foi assim. a história da escrava trácia rindo do filosofo Tales de Mileto, ilustra bem isso. O filosofo pensa tanto e está sempre olhando o céu, que não presta atenção no caminho. A filosofia não se atem a realidade. O que você vê pode ou não ser a realidade e nem tudo que vimos é o que parece, poderemos definir a filosofia como uma quebra das correntes ideológicas vigentes. Então, o filosofo está bem mais familiarizado com a realidade.

Mas, dentro da filosofia, a realidade não pode ser definida só como um “buraco” no caminho, como no exemplo de Tales, que poderíamos cair. Há uma fronteira muito sutil entre a realidade enquanto subjetiva e objetiva, que se pode ter entre aquilo que existe e aquilo que imaginamos existir. Como na frase em um grupo de filosofia na rede Facebook: <<Segundo a filosofia tudo que não conheces não existe>>. Nessa frase, podemos nos perguntar: “segundo” qual “filosofia”? porque o “tudo” se torna genérico ao ponto de uma aporia. A questão é: conhecemos tudo? Temos ideia do tudo? E o “que não conheces não existe” tem um tom de afirmação e a filosofia não trabalha com afirmações, ela trabalha com dúvidas e duvidando, chegaremos à verdade (ou não). A séculos atras, se conhecia só cisnes brancos e só pensava que existia cisnes brancos, mas, quando exploraram a Australia, lá tinha cisnes negros. Então, se eu não vejo ou percebo, não existe? Podem dizer “Ah, estamos falando em um modo da linguagem”.  Neste caso, poderemos usar a filosofia da linguagem (ou Teoria dos Jogos) de Wittgenstein.

A famosa frase de Wittgenstein, que devemos ler direto do livro, diz assim: << "O que pode ser dito pode ser dito claramente; e o que não pode falar, deve se calar">>. O modo de expressão é o modo do entendimento, sem se entender o que é dito, não se expressa nada. Nesse caso, quando o sujeito diz <<Segundo a filosofia (aqui faltou a virgula) tudo que não se conheces (outra virgula) não existe>> não expressa nada, porque não esta claro qual a filosofia que diz isso e é uma afirmação (sendo estranho para a filosofia). Segundo o filosofo austríaco-britânico, se não está claro o que se diz diante de uma afirmação, não se diz nada. Portanto, se deve calar diante da sua ignorância.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

A BANALIZAZÃO DAS REDES SOCIAIS E O BOICOTE DA ELIANA

 


Há uma imagem que circula nas redes sociais – principalmente, no X – mostrando uma foto da apresentadora Eliana segurando o logotipo da Rede Globo com a bandeira comunista no lado esquerdo. Esta escrito:

 “BOICOTE TOTAL A ESSA ESQUERDISTA DEBOCHADA, QUE DEPOIS DE ANOS NO SBT,  SAIU ESNOBANDO TODO MUNDO E FOI PRA GLOBO LIXO, ACHANDO QUE TEM PÚBLICO PARA AUMENTAR A AUDIÊNCIA DA TV ESTATAL OFICIAL”.

 

 

Em uma empresa que você acha que ganha menos que você acha que deve ganhar, se troca de empresa. A questão desse escrito é ideológica politica, porque todo mundo faz isso e ninguém diz nada. Pior, pergunte para quem compartilhou a imagem o que seria comunismo e vamos ficar sem nenhuma resposta, pois, o povo sempre escutou o galo cantar e nunca se soube onde ele estava cantando. E o termo “esquerdista”, até onde eu sei, foi usado por Lenin para chamar algumas alas que chamou de “infantis” do próprio marxismo que não se encaixavam em sua idealização da revolução bolchevique. Ou seja, a maioria dos brasileiros não pesquisam e acabam usando termos comunistas. Por outro lado, existe o termo “Globo lixo” – assim como existe o termo PIG (Partido da Imprensa Golpista) criado pelo jornalista Paulo Henrique Amorim, que a maioria dos lulopetistas usam – como destratar algumas mídias que não se encaixam na sua ideologia politica ou religiosa.

Ora, a pessoa acha que com essa imagem o povo vai deixar de assistir a apresentadora? Há uma diferença bastante significativa onde há um fato (a apresentadora ir para a Rede Globo) e o que se criou como fato (ela ser esquerdista debochada e a Globo ser estatal). São pautas bolsonaristas, assim como, há pautas lulopetistas. E a discussão se aprofunda mais quando pensamos em um simulacro e a simulação, pegando essa questão que tem a ver com a consciência e o mundo que formamos através das crenças formadas pelo discurso.

A ideia (forma) se desenvolveu segundo o filosofo Jean Baudrillard e tem a ver com a realidade onde estamos. Dizem as “lendas” do mundo cinematográfico, que todo mundo que trabalhou no filme Matrix, tiveram de ler esse livro (como há várias referências dele no filme) para entender a ideia central do filme; o livro se chama Simulacro e Simulação. A ideia é simples: um simulacro é uma cópia ou representação de algo que não possui uma realidade original. São como imagens, símbolos ou objetos que representam elementos que nunca existiram ou que não têm mais equivalência com a realidade. Por exemplo, uma pintura de uma sereia ou um ícone religioso é um simulacro, pois não representam algo concreto no mundo real. Já a simulação é a criação de algo que não existe na realidade, mas é apresentado como se fosse real. É como uma imitação ou encenação de um processo ou evento. Por exemplo, um filme ou um videogame é uma simulação, pois cria um mundo fictício com suas próprias regras e personagens.

Mas há um terceiro termo: a hiper-realidade. O filosofo criou o termo para designar quando uma apresentação (simulacro) se torna mais importante do que a própria realidade. no exemplo do boicote, o simulacro esta na representação de um ato que a pessoa acha que esta fazendo pela sua causa – a libertação do Brasil do suposto comunismo – onde a realidade se confunde com a hiper-realidade.  Nas redes sociais, as imagens e representações – entre a “coisa” e a “representação” – que são criadas pelos usuários pode distorcer a percepção da vida real, gerando uma busca desenfreada pela aprovação e validação. Ou seja, todas as postagens visam reforçar as crenças de tanto quem posta, quanto quem curti a postagem. Por que a imprensa ou pessoas das mídias causam polemicas?

Todo reacionário é um revolucionário medroso. Ele, no fundo, tem medo das mudanças do mundo e não se conforma com essas mudanças, por outro lado, um revolucionário precisa de forças internas e externas para derrubar o status quo. Ou seja, dois lados de uma mesma moeda. O reacionário tem medo das mudanças e o revolucionário culpa o outro daquilo que não consegue mudar. E as redes sociais – não só as redes, mas toda a internet – reforça essas crenças para manter o funcionamento delas e ganhar com isto. Nas redes, você é o produto.

Amauri Nolasco Sanches Júnior – bacharel em filosofia, TI, publicitário e cadeirante

sábado, 29 de junho de 2024

MANUAL PARA O NERD REDPILL – O CONCEITO DA FORÇA

 




 

Não há emoção, há paz.

Não há ignorância, há conhecimento.

Não há paixão, há serenidade.

Não há caos, há harmonia.

Não há morte, há a Força.

(O Código Jedi)

 

 

Há uma discussão nos grupos de fãs de Star Wars (eu gosto, mas não me considero fã), onde mudaram o preceito da Força, pois, as bruxas (The Acolyte) dizem que é um fio que liga todas as coisas. Os jedis – filósofos e guardiões da paz e da república – interpretam a força (no livro O Caminho Jedi) como: “...a FORÇA é um campo energético criado por todas as coisas vivas". Ou seja, não há nenhuma diferença dentro do que as bruxas disseram, mas, tem a ver com a linguagem da questão. Porque, segundo o Mestre Bowspritz, as células – através dos midi-chlorians – canalizam (fluem) a energia da Força. Mesmo porque, segundo o mestre, “nós não bebemos a tigela, mas sim a sopa que ela contém”.

Mas, existem dois conceitos básicos dela dentro da história: a Força Viva e a Força Unificadora. Que consistem em:

 

 – “A Força Viva é criada através de todos os seres vivos. Quando seres morrem, um Jedi pode sentir através da Força Viva. Quando muitos morrem de uma só vez, a perda de energia pode chocar ou até mesmo derrubar um Jedi. Todas as habilidades tangíveis da Força - como correr, saltar, aguçar os sentidos, mover objetos ou acalmar emoções alheias - são técnicas pelas quais os Jedi se tornam agentes da Força Viva.”

– “A Força Cósmica é um vasto poder cósmico e transcendente e que determina a vontade da Força. Ao meditar com a Força Cósmica, pode-se vislumbrar o passado e os possíveis futuros, e obter informação sobre o destino.”

 

Como vimos (através da Wikipedia e confirmado aqui no O Caminho Jedi), as bruxas não sentem a Força Viva e sim a Força Unificadora ou Cósmica. Ainda no O Caminho Jedi:

“A Força Unificadora é um vasto poder cósmico. Vocês (os iniciados) ainda não conseguem senti-la, mas, com paciência e reflexão, sentirão. A Força Unificadora são as estrelas e galáxias, a superfície agitada do tempo e do espaço. Ela é a voz que sussurra sobre seus destinos, e podem ter certeza; a Força tem vontade própria. Dialogar com a Força Unificadora é deixar o corpo em caráter temporário, para caminha  pelo passado ou ver o futuro. Alguns ancestrais acreditam ser possível transcender a morte” (Jedi, O Caminho p. 36)

Ou melhor, há uma questão bastante importante quando fazemos uma critica dentro de uma obra literária ou cinematográfica: primeiro, trazer elementos que possam colaborar com que estamos dizendo, segundo, ter em mente que meras opiniões não são conhecimentos e sim, achismos levados ao impulso de responder rápido. Requer estudo e pesquisa. Mesmo com conceitos como esse de ficção cientifica que para entender, temos que saber que seu criador George Lucas gostava ou gosta, de filmes de samurais. Por outro lado, Lucas disse em uma entrevista que:

 

Não acho que “Guerra nas Estrelas” seja profundamente religioso. Acho que a saga juntou todos os aspectos que a religião representa e tentou destilar isso em uma coisa mais moderna e mais acessível em que as pessoas possam se apegar para aceitar o fato de que há um mistério maior lá fora.

Quando eu tinha 10 anos eu perguntei para minha mãe. “Se existe um só Deus, por que há tantas religiões?” E desde então, eu reflito sobre essa questão. A conclusão que eu cheguei é que todas as religiões são verdadeiras… Elas apenas veem a mesma coisa sob diferentes aspectos.

A religião é, basicamente, um repositório para fé. A fé é a “liga” que nos mantém juntos como uma sociedade. Fé na nossa cultura… no nosso mundo… ou qualquer outra coisa em que estamos tentando nos apoiar. É uma parte muito importante, eu acho… que nos permite continuar estáveis, em equilíbrio.

Eu coloquei a Força nos filmes… para despertar um certo tipo de espiritualidade nos jovens. É mais uma crença em Deus do que em qualquer sistema religioso. A verdadeira questão é fazer a pergunta! Porque se você não tem interesse suficiente nos mistérios da vida… Para fazer a pergunta “Existe ou não um Deus?”… Para mim, essa é a pior coisa que pode acontecer. Se perguntar a um jovem se existe um Deus, ele disser que não. Acho que você deve ter uma opinião sobre isso.”. (Blog: Sociedade Jedi)

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – bacharel em filosofia, TI, publicitário e cadeirante



sexta-feira, 28 de junho de 2024

SINDROME DE LINKEDIN - NAS CORPORAÇÕES HÁ INCLUSÃO?

 





Eu vi isso no LinkedIn do perfil Talento Incluir:

 

“E se alguém dissesse para você que 44% das empresas enfrentam dificuldades na contratação de pessoas com deficiência devido ao despreparo do RH, você acreditaria?’”

 

Sim, podemos dizer que acreditamos e temos prova como as empresas, assim como a sociedade, enxergam as pessoas com deficiência como pessoas infantilizadas e inúteis. Mas, há uma outra visão que a Lei de Cotas (com várias críticas em sua composição) tem que passar socialmente: o profissional com deficiência existe e está muito preparado para assumir seu posto onde foi qualificado (muitas vezes, isso não acontece). Muitas vezes, o profissional de RH (recursos humanos) tende a não ser preparado de lhe dar com o profissional com deficiência, nem na hora de uma entrevista (averiguação da qualificação) nem na hora a lhe dar suporte de adaptações adequadas dentro da empresa.

Hoje, mesmo que alguns conceitos dentro do capitalismo brasileiro seja atrasado, se deve adequar as questões de lei (legislativas) dentro do que chamamos de diversidade. Não, diversidade não é “coisa de comunista”. Nem “coisa da cultura woke”. Aliás, os webcomunistas e os wokes, tem atrapalhado um pouco nossa luta pela inclusão, por acharem que a luta é deles, mas, como a filosofa Djamila Ribeiro disse em um livro, temos lugar de fala. A frase <nada sobre nós, sem nós>, diz muito esse “lugar de fala”. E pelo que vimos nas nossas pesquisas, as feministas no final dos anos 80 tiveram papel importante em cunhar uma filosofia que colocasse a deficiência na discussão, e como ela esta em toda parte da sociedade, as empresas tem que se adequar dentro da sociedade no qual estão inseridas. Daí, em várias críticas; há um conceito que o capitalismo brasileiro é bastante atrasado.

O atraso tem duas origens: uma é os vícios que nossa sociedade tem que são evidentes (como a filosofia “menos esforço, mais lucro”), outro é que por ser diferente, não vai trabalhar como as outras pessoas. Mesmo que o Brasil foi colonizado na modernidade, sua modernização industrial só começa nos anos 30 com o governo Vargas. Por quê? Por causa da nossa elite rastaquera (quando iam para a França, os franceses diziam que a elite brasileira não tinha cultura e, pelo jeito, continua não ter), o Brasil se arrasta em modelos antigos e em uma cultura empobrecida e emburrecida para ter seus próprios interesses (gerando a corrupção). A não fiscalização da Lei de Cotas tem a ver com isso, quando o conceito de medicalização chega em 1926 com o projeto Pestalozzi, se cria um conceito de não utilidade da pessoa com deficiência enquanto ele não for “curado”. Só que há um porém: deficiências não são curadas.

Nem a deficiência é uma situação e sim, uma condição. A nosso ver, não aceitamos a questão da deficiência como um símbolo, porque ela é real. Sendo real, está na sociedade e pode acontecer com qualquer um. As empresas estão contratando para não pagarem a multa, não é uma questão de aceitação da diversidade. E isso começa com a questão da aceitação da realidade: muitos dos conceitos fantasiosos vem da “síndrome de LinkedIn” onde tudo é maravilhoso, cheio de frases motivacionais, mas que não discute a raiz ética do problema. Pois, inclusão não é só uma questão de “conscientização”, é uma questão de mostrar que as pessoas com deficiência são qualificadas. Que apesar da deficiência, temos muito a oferecer como profissionais e isso tem a ver com o profissional do RH.

As empresas tem que se adequar dentro do que se chama de Gestão de diversidade e inclusão, pois, em um mercado cada vez mais composto de investidores e consumidores, a questão da diversidade e inclusão pode ser um diferencial e um avanço. Mas, muitas empresas levam só como uma questão de imagem e não realizam na pratica – já viu um jornalista ou um publicitário cadeirante? – gerando uma desconfiança da própria sociedade. Em uma ida ao shopping, por exemplo, há muito pouco vendedores com deficiência ou atendentes com deficiência. Muito poucas pessoas com deficiência tem cargos de gerencia, ou do próprio RH. E o preparo do profissional para lhe dar com a deficiência como algo concreto, é qualificar esses profissionais desde a entrevista.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior – Bacharel em Filosofia, publicitário e técnico de informática

quinta-feira, 27 de junho de 2024

INFLENCIADOR DO CAPACITISMO

 

 




"Eu não imaginava que uma criança que tem 10% do cérebro funcionando fosse tão chata e pudesse me dar tanto problema. A vontade, às vezes, é de largar na porta do orfanato e deixar alguém se virar, alguém tomar conta",

(Pai Capacitista)

 

 

Já faz alguns anos que uma questão é repetida: vale a pena tudo por causa de uma curtida? O influenciador, Igor de Oliveira (24), fazia conteúdos pela internet expondo sua filha com paralisia cerebral, Sofia (2). Acontece que, Igor para ter engajamento e mais dinheiro, apelava para o sarcástico e para pedir doações, teria enganado seu publico. Primeiro, em alguns áudios, teria dito ter comprado um carro e sua ex-mulher teria feito uma operação plástica (hoje chamado de procedimento estético). Depois, em um ato de querer mais engajamento, teria proferido falas desse tipo sobre sua filha propagando a desinformação e desrespeito com deficientes não só pela internet, mas, em todo território nacional. O blog Vencer Limites nos trouxe dias atras, reportagem de uma mulher com surdes, negra e analfabeta, que desde sua infância era mantida como doméstica (em caso de escravidão),

Como é mostrado na frase acima citada pelo G1, a paralisia cerebral (como a deficiência que eu tenho) não usa 10% da capacidade cerebral. É uma deficiência psicomotora que afeta a postura, os movimentos e toda e a fala (bastante lenta). Ou seja, a paralisia cerebral não pode ser tratada como algo do tipo como usar 10% do nosso cérebro e como não tivéssemos consciência, pois, se não tivéssemos consciência, não tínhamos o entendimento e não estaria escrevendo esse texto. O que ocorre – e Foucault já tinha alertado sobre no livro Os Anormais – existe a cultura do monstro que define o que é e o que não é normal. E isso começa no século 18 com o meio jurídico definindo o criminoso como um sujeito com o corpo deforme, o pecaminoso que esta contra as leis sociais e as leis naturais. E Foucault lança ate uma pergunta: “Qual é o grande monstro natural que se oculta detrás de um gatuno?” e ele responde: “O monstro é, paradoxalmente — apesar da posição-limite que ocupa, embora seja ao mesmo tempo o impossível e o proibido —, um princípio de inteligibilidade. No entanto esse princípio de inteligibilidade é propriamente tautológico, pois é precisamente uma propriedade do monstro afirmar-se como monstro, explicar em si mesmo todos os desvios que podem derivar dele, mas ser em si mesmo ininteligível.” (Foucault, pag 44 PDF, 2024).

Ou seja, Foucault lança algo bastante emblemático dentro das premissas estruturais do corpo, pois, o corpo em si é um comunicador também que precisa ser compreendido. Se alguém não corresponde nessa comunicação (simplista, por natureza), tende sempre a fazer uma leitura de rejeitar esse corpo e dizer que aquilo não pode ser humano. Não pode corresponder a capacidade humana de conter consciência. se cria o “monstro humano” como algo subjetivo de uma leitura rasa e sem proposito (como esta, por exemplo, na obra O Corcunda de Notre-Dame de Victor Hugo). O “monstro humano” começa em Roma quanto a lei pater fazia do chefe da família um juiz, um executor e quem poderia ou não ser normal. O deficiente é um “monstro humano” por não se adequar aquilo que se acha ser natural.

Em uma critica bastante rigorosa, poderemos dar razão ao rapaz quando ele diz: <"O engajamento não vem com a verdade. A verdade não engaja e a verdade não vende">.  A “verdade” não agrada porque temos uma sociedade que se alimenta das ilusões e acha que aquilo é verdade por causa de uma imagem, mas, nem sempre uma imagem é verdadeira. Outra coisa importante é que, fomos educados em que as telas são só entretenimento e não se pode ter um momento de aprendizado.  A verdade não agrada. A verdade matou Sócrates e Jesus. A verdade não pode nos dar ilusões e sim, a verdade nos mostra como fomos enganados com ilusões. Como disse Nelson Rodrigues: “mintam por misericórdia”.

Mesmo porque, se olharmos com bastante atenção o porque ele atingiu esse nível de doações, tem a ver com a visão assistencialista que ainda persiste com a questão da deficiência. isso tem a ver – no fundo – com as instituições que sempre cuidaram das pessoas com deficiência e a alimentação da ideia que ela é uma doença, e essas instituições, curavam. No caso de deficiências permanentes como paralisia cerebral, as instituições só podem amenizar as limitações que elas causam dentro da falta de oxigenação cerebral, porem, não há nenhuma cura. Mesmo que possamos ter engenharias genéticas – como controle de nascimentos por vitro – vai haver combinações aleatórias, contingências.  A determinação do que é perfeito ou não, tem a ver com a condição humana de não lhe dar com a incerteza do universo.

Amauri Nolasco Sanches Junior

– Bacharel em Filosofia, publicitário e técnico de informática

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

O MEDO DE SER VOCÊ MESMO

 




O medo é o caminho para o lado negro. O medo leva a raiva, a raiva leva ao ódio, o ódio leva ao sofrimento.

 Mestre Yoda



Amauri Nolasco Sanches Junior 


Mesmo com livros excelentes como Star Wars e a filosofia - tem muito mais filosofia ocidental e a antiga, muito pouco moderna - temos que ir à filosofia oriental e antigas ocidentais, para entender essa frase do Mestre Yoda. Porque, sempre vamos ter que lembrar, muitas coisas dos jedi, lembram os budistas zen. Na minha leitura, os jedi tem a ver com os valores antigos e os preceitos de uma vida mais harmoniosa, os sith tem a ver com o moderno, o material pelo medo da morte, pelo esquecimento de ser mais um dentro da FORÇA. Ou seja, os jedi são os guardiões da paz e da tranquilidade ao ponto de dizerem para não se apegar a nada, os sith faz o contrário, querem que seus sentimentos atinjam o poder. Mas, com uma ironia que é das histórias de heróis e da humanidade, os dois lados  desejam a liberdade. 

Os jedi, personificado na imagem do Mestre Yoda, tem como meta de liberdade se livrar das ilusões de um universo material. Na verdade, os jedi - isso se vê muito no universo expandido - não gostam da política (mas devem ser políticos) e só agem como guardiões da república por causa da liberdade. Já os sith, querem impor a liberdade que eles acham que deve ser implantada. Quem tem razão? Nenhum lado. Porque a paz só é alcançada quando descobrimos como e quem somos. Claro, o medo do Mestre Yoda tem a ver com a perda, e o apego faz com que não vemos que a outra pessoa tem liberdade. Será que somos libertos? 

Sócrates de Atenas (morto em 399 a. c.), se apropriou da descrição do Templo de Delfos - onde a pitonisa disse ao seu amigo que ele era o sábio de Atenas - e repetiu como um lema que acreditava. Conhecer a ti mesmo tem a ver com examinar a vida e suas atitudes sem medo de ser injusto com as pessoas, e ao longo da história, tanto filósofos quanto lideres espirituais (apesar que eu vejo a filosofia como um meio para alcancar a espiritualidade) sempre disseram isso: a pós-modernidade não é um meio para se buscar isso. Lembro a frases de Nietzsche: “O que diz sua consciência? – ‘torne-se aquilo que você é’” (Nietzsche – Gaia Ciência, §270). Ora, não é muito diferente do que Sócrates repetia do Oráculo - aliás, alguns pesquisadores dizem que Nietzsche tem o mesmo modo que Sócrates (Platão, na verdade) faz sua filosofias, portanto, combate Sócrates com o modo socrático - ser você mesmo tem a ver em assumir a natureza das suas próprias crenças e quem você é. 

Vimos nos últimos tempos pessoas que não sabem lidar com a realidade - não julgo suas motivações e nem suas doenças psíquicas - pois, a realidade tem a ver com a aceitação que há um problema e deve ser resolvido. E se, realmente, as almas são eternas? E se não há só esse plano material, como dizem as religiões? Daí entramos na frase do Mestre Yoda, porque o medo gera a raiva por causa da autodefesa, por ter a ver com a ignorância.  Na verdade, desde a antiguidade, estamos sempre debruçados no tema conhecimento e ignorância, que no mais, tem a ver com a realidade e ilusão. O mundo de hoje, com tanto conhecimento na nossa mão, as pessoas continuam na ignorância. Por que? Pelo medo da mudança?