Há um fenômeno interessante dentro do Brasil, quando se fala
em ter um pensamento genuíno. Sentimos isso quando o cara, mais ou menos da
minha geração, tem saudade do Aquaplay e não gosta de um X-box, ou fica
invocando piadas dos Trapalhões para justificar piadas sem graça, brincadeiras
sem nexo, ou desculpa para o seu preconceito. O Aquaplay foi bom lá atrás
quando brincávamos com ele? Sim. Mas as coisas evoluem e nada vai fazer voltar
naqueles tempos, que ao meu ver, era mais difícil com a hiperinflação, com a
pobreza mais elevada, com o poder aquisitivo bem menor e o salário
extremamente, baixo. Não estou dizendo
que hoje é o paraíso. Estou dizendo que a humanidade evolui, se podíamos falar
algumas coisas antigamente, hoje não se pode mais. Simples assim. Esse fenômeno
está no Brasil a muito tempo e vai demorar para o povo entender que as coisas
evoluem.
Mas vamos ter que explicar uma coisa. Nos últimos cinquenta
anos, a grade escolar não mudou nada e as matérias continuam as mesmas. Você
não tem como ensinar uma geração fã de K-pop – nas periferias, funk pancadão – mexe
no celular, tem o Google, tem milhares de coisas que nos trazem conhecimento. E
se no básico não se consegue prender os jovens e as crianças de hoje, imaginem
ensinar filosofia para jovens que vieram de uma cultura que o conhecimento é
pecado (do orgulho), que quem tem muito conhecimento é “nerd” e são pessoas esquisitas
e que o legais, eram as pessoas que eram bobonas, que tomam porres
intermináveis e que não tinham nada na cabeça. Não há jeito. Porque, se fomos
bastante criteriosos dentro das músicas como o funk, abrem brechas para a falta
de conhecimento e inteligência. Mas, a verdade é, que aqui no Brasil, não temos
uma tradição filosófica e que toda a discussão filosófica fica a cargo de
acadêmicos que ficam com a sua linguagem difícil (técnica), e que,
naturalmente, ninguém entende ou ninguém se interessa. Para provar isso, temos
o “filósofo” Olavo de Carvalho, que tem uma linguagem fácil e teorias
conspiratórias que, por falta de estudo e mais fácil de aceitar, e no mais, o
ser humano adora uma teoria dessa.
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Não há 13 famílias que comandam o mundo. A Pepsi Cola não coloca fetos humanos nas suas
bebidas. Não somos comandados por reptilianos e eles, não vão dominar nosso
mundo (até agora, não se sabe como seria a vida fora da Terra). A questão ultrapassa
essas fantasias de ficção cientifica – não muito, mas, isso é uma questão para
um outro texto – e passa para a teoria da responsabilidade que foi esquecida
nesse tempo que as coisas sempre são culpa dos outros. Aí aparecem textos como
“filósofos Nutellas”, “intelectuais Nutellas” e por aí vai. Não estou
escrevendo uma resposta a um artigo da Revista Bula (aqui), mas, analisarei
alguns pontos importantes que podem ser esquecidos ou não dentro da ótica
verdadeiramente, filosófica. Mas, dentro da filosofia não devemos tratar
problema como apenas, uma singela analise sem propósito nenhum.
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Primeiro, tudo virou Nutella por acharem que a marca de
creme de avelã é uma marca recente, mas, recente é a chegada no Brasil (como
tudo). A dona da marca é a Ferrero que é italiana, assim, Nutella é creme de
avelã com cacau e leite. Na verdade, a Nutella foi desenvolvida em 1963 a
partir de um outro produto, da própria Ferrero, de 1944. Atualmente, a Nutella
é vendida em mais de 75 países e no Brasil, é vendido desde 2005. Então, esse
papo que tudo que é fraco e que não tem sustentabilidade, é Nutella, é muito
furado. Porque, tanto a marca Ferrero como o próprio Nutella, são marcas
tradicionais lá fora.
Mas está é a dúvida: o que é tradicional ou não? A filosofia
em si – dês da sua essência – nunca foi tradicionalista e muito pouco, achar
que a filosofia não está certa ou errada. O único e mais mordaz da filosofia
acadêmica do nosso país, é ter perpetuado que a filosofia tinha uma cartilha e
não tem. Talvez, por herdarmos uma filosofia iluminista, que fez pensarmos, que
o filósofo deveria ser ateu, por exemplo. Ou que um filósofo tivesse aptidão de
resolver a questão da liberdade, ou nunca, absolutamente, nunca, pudesse
refutar as ideias de Marx ou de outro filósofo clássico (dentro da academia). A
academia brasileira se fechou como se fosse um “clube” fechado para pessoas
exclusivas e não para qualquer ser humano. Isso. Como se eles fossem deuses
olimpianos que estão no monte Olimpo olhando para nós e vendo como podemos se
matar por causa de merda. Então, tudo gira em livros acadêmicos, estudos
acadêmicos, coisas acadêmicas. Mas, não temos academia nenhuma, temos um
“grêmio” acadêmico.
Acontece que ser filósofo não é ser um engenheiro civil, por
exemplo, que tem que saber certos cálculos ou ter certas habilidades para
manter certas construções de pé. O filósofo tem que entender de sociedade e a
sociedade é uma grande parte da humanidade – se não for toda na hierarquia
social – quando, os colocamos, acima de uma “montanha” conceitual. Sim. Tem
alguns filósofos – como o Zaratustra de Nietzsche – desce da montanha para
olhar a sociedade de perto. Daí eu lembro da lanterna de Diógenes, O Cínico (O
Cão). Dizem que Diógenes de Sinope (Sinop hoje é a Turquia), saia pela cidade
procurando um homem honesto e que dizia a verdade, que pelo jeito, não foi possível.
Mas, pode ser uma história simbólica que pode ser interpretada como o sábio que
segura a luz da sabedoria para encontrar outros sábios para fazerem coro para a
sabedoria. Outra interpretação, é que essa lanterna é o caminho que mostra a
luz da saída de um esconderijo chamado ignorância. Ou seja, a procura de Sócrates
continua bem e firme quando começamos a ver a história de Diógenes, do homem
que quer encontrar a sabedoria, que ama a sabedoria, mas, começa a querer
procurar alguém mais sábio.
Esse é o problema, um filósofo busca a sabedoria através da
verdade. Não importa aonde ela esteja, pois, todo pensamento ou ideia, é apenas
um ponto de vista de uma realidade. Mas, o que é a realidade? Será que é a
minha realidade escrevendo esse texto ou a minha realidade é bem mais ampla? Aí
chegamos no filósofo Nutella. Porque, ao meu ver, o filósofo Nutella é o filósofo
clássico que já é notoriedade dentro de uma tradição fora do nosso país. Porque,
aqui a Nutella é uma inovação, e na tradição brasileira, doce é chocolate. Doce
é biscoito de polvilho. Bolacha recheada. Porque a realidade brasileira, não foi
realizada por uma tradição de Nutella e a realidade, aqui, que algo ser Nutella
é ser falso, ser fraco, não ser verdadeiro. Mas, o que é ser verdadeiro ou
falso? O que é ser um filósofo verdadeiro ou falso? Quando começamos a colocar verdades
dentro da filosofia e construir filósofos verdadeiros, começamos a formar
dogmas e não filosofias.
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