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Amauri Nolasco Sanches
Junior
Num desabafo, uma amiga disse que há pessoas com deficiência
que não a favor da lei de cotas – que obrigam as empresas a contratarem 5% de
pessoas com deficiência entre seus funcionários – porque acham que há uma
diferenciação de um trabalhador com deficiência e sem a deficiência. Claro, se
fomos bem racionais, nós estamos fazendo com que as empresas nos olhem como
pessoas incapazes de assegurar e competir num mercado de trabalho,
extremamente, competitivo. Só que, tem um outro lado (sempre existe um outro
lado), as empresas ainda trabalham com conceitos arcaicos que não cabem mais
nos dias atuais, como não se adequarem as pessoas com deficiência, acharem que
por serem deficientes, são um “problema”. Porém, existe uma outra coisa, quando
você não tem diploma universitário, as empresas ligam mais para você, elas
contratam mais, elas se interessam mais. Mas lá, no órgão governamental (onde
deveria ter uma fiscalização rígida), as mesmas empresas alegam não haver qualificação
dentro da área. Não é uma contradição? Será mesmo que eles querem pessoas com
deficiência qualificados ou não querem para pagar menos ao que pagam para
pessoas sem nenhuma deficiência?
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Respondi a essa amiga que quem é contra, na sua maioria,
trabalha numa empresa de um conhecido ou da própria família. Então, para essas
pessoas, é algo extremamente fácil porque existe alguém que sempre vai arranjar
trabalho para ele e ele não vai ficar sem emprego. O que falta nesse caso, é a empatia
de ver que existe outras pessoas com deficiência que tem deficiências severas,
que as empresas – dentro de uma lógica arcaica – enxergam com um problema e não
como uma pessoa em potencial. Mas, é um segmento (pessoas com deficiência)
muito estranho, ao mesmo tempo que escrevem verdades, não querem se comprometer
com nada. Eu sou uma pessoa verdadeira, se falo é para valer, se é para só
fazer um “desabafo”, prefiro não escrever. Enfim. A questão fica em torno de qualificação
num país – oitava economista mundial – que não investe em nada, o ensino
escolar e quando tem que cortar, cortam a verba da educação e da pesquisa
cientifica. Como fica? Como se vai exigir em qualificação das pessoas com
deficiência se não tem nem educação de verdade?
Isso está acima de ideologias políticas. Porque a
deficiências estão além das crises, e com as crises, são convites para
mudanças. Mas, as pessoas são muito resistentes a mudança e as mudanças, são
retardadas por causa disso. Eu te garanto que em toda a história da humanidade,
a questão da mudança tem tanta importância, que se não acontecesse, ainda
estávamos morando nas cavernas. Acontece, que as pessoas se acostumam daquilo
que é mais cômodo. A deficiência, voltando ao assunto, não vai ser revertido e
não vamos desaparecer por conta que a sociedade nos trata como um problema
secundário. Mesmo o porquê, a previdência que foi criada como um modelo ideal,
está ruindo por conta de anos de corrupção. Não vai adiantar todo mundo –
dentro do Brasil – querer ter um benefício e esse benefício trará dor de
cabeça, não dará o poder aquisitivo nem para comprar uma cadeira de rodas. E
uma questão fica no ar: se nós estudamos, nos especializamos, pagamos livros,
pagamos cursos, por que temos que ganhar menos que uma pessoa que o pai pagou
todo o curso? Não adianta fazer média, a maioria das pessoas que estão nas áreas
mais bem pagas do mercado (como publicidade e TI), o pai ou o governo pagou
todo o curso, o retorno para as pessoas com deficiência, é zero.
Umas das coisas que temos que parar de argumentar é que
queremos uma chance, não queremos só uma chance, foi todo um investimento
dentro da nossa capacitação. Dentro da escrita, por exemplo, investi pesado
para aprender a nova ortografia, investi em livros para fazer textos melhores,
investi numa internet melhor (sim, eu pago internet), então não dá para ter
esse papinho de bobo e achar que estamos, eternamente, ajudando a humanidade. Claro,
que podemos colaborar com a humanidade. Mas, não vamos ser hipócritas, queremos
um salário e uma oportunidade boa. Todo mundo quer, por que nós seriamos
diferentes? Por que não podemos ser bem-sucedidos profissionalmente?
Percebemos, também, que há uma cobrança muito grande por causa da deficiência.
Nomes como Stephen Hawking – morto sesse ano – nos remetem a essa cobrança de
sermos exemplos e não reclamarmos.
Mas, se nós temos que ser qualificados, por que será que
vejo vários erros em matérias de jornais? Por que temos que ter qualificação,
se vejo várias pessoas que nem sabem escrever? Não esquecemos – que já disse
nesse texto – que não há uma educação de verdade, ao ponto, de pessoas nem
saberem escrever a própria língua. Ora, se há jornalistas que erram na escrita,
se existem pessoas que escrevem errado nas redes sociais, então, não há razão de
existência. E outra coisa, estão pedindo laudo médico junto com o currículo, que
é errado. Por que temos que provar nossa deficiência? Por que temos que ser
aquilo que não somos, para agradar setores que não exigem qualificação?
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