Sim,
eu sei de onde venho! Insatisfeito como o fogo, ardo para me
consumir. Aquilo que toco torna-se chama, e em carvão aquilo que
abandono. Sou fogo, com certeza!
—
Friedrich
Nietzsche
Amauri Nolasco Sanches Junior
Queiramos ou não, um relacionamento
com duas pessoas com deficiência sempre foi difícil. Ainda mais,
quando essas duas pessoas são cadeirantes. Dois aspectos devem ser
analisados nesse escopo: a idolatria familiar e a sexualidade das
pessoas com deficiência. Pois, eu acho, que as pessoas com
deficiência são tão levados a imagem de inúteis ou fracassados,
que tem um sentimento de dependência. A idolatria das pessoas com
deficiência com a família, sempre parte do sentimento de
dependência e o medo de não ter ajuda para qualquer coisa.
Na verdade, a idolatria sempre vem
numa cultura decadente onde os fracos sempre dominam os fortes,
aqueles que não se submetem a cultura da decadência. Toda cultura
decadente renega a vida, renega seus verdadeiros valores para colocar
os valores dos fracos, aqueles que invejam os que caem do abismo
dançando. Todo moralismo vem da decadência dos verdadeiros valores
humanos e tudo começa com o cristianismo na idade média, onde
deveríamos ser castos e puros para irmos para o Céu sem nenhum
pecado. Agora podemos perguntar: o que é o pecado? Será mesmo, Deus
que criou todo o cosmo – com todas as galáxias, planetas e seres
vivos – vai se importar com condutas humanas que só se referem ao
ser humano? Qual o critério de se achar digno – porque querem
botar pensamentos na infinita consciência do Eterno – de se
colocar como criterioso das faltas humanas? O pecado é a dominação
do instinto humano em vez de educar, coloca medo de um futuro que
pode e não pode. Sempre é o “tu deves” ou “tu não deves”.
Um sujeito que sabe da sua dignidade
e sabe da sua convicção – que não é maria-vai-com-as-outras –
sabe dos valores que o regem e então, sabe que não deve fazer.
Nietzsche tinha uma frase ótima para isso que era: “O que diz sua
consciência? – ‘torne-se aquilo que você é’””.
Exatamente. Se você sabe o que você é, não procura o
reconhecimento alheiro e sabe do que os valores que te regem. Eu não
vou em puteiros, por exemplo, porque sei que não é o valor que me
rege e não gosto desse tipo de ambiente. Não gosto das músicas da
maioria, porque eu sei o que gosto e não vou ouvir por causa do
reconhecimento dos outros. Nas redes sociais está todo mundo a
procura de reconhecimento, seja com deficiência ou sem deficiência.
Acontece, que a idolatria é uma submissão a decadência da
consciência moral em que, se sentindo fraco, tem que se apoiar no
mais forte.
Devemos amar a família e não
idolatrar ele. Isso é culpa da nossa cultura latina – que veio da
romana – de sempre querer os familiares perto. Também, de achar
que a família é uma instituição e não de indivíduos autônomos
que voluntariamente, podem cuidar ou não, por amor a pessoa. Lá
fora é bem assim. Por isso mesmo a inclusão foi muito mais fácil –
também tem a questão da educação exemplar – porque não se tem
uma cultura do apego e da idolatria. A questão é: será que as
pessoas com deficiência não alimentam isso? Será que uma parte da
cultura capacitista da nossa cultura não é alimentada por causa da
idolatria para não perder o conforto? Dai vai muito além, porque
temos duas culturas bem significativas.
A sexualidade da mulher é um tabu
ainda – vide o pai da moça que matou a família do ator –
porque temos ainda uma cultura machista. O fraco acha que é forte
criando uma cultura dominadora, mas, nessa história toda, a mulher é
a mais forte. A título de exemplo, eu não fiquei ofendido porque
a gamer (sei lá, como se refere) falou que “todo homem é um
lixo”, porque eu sei que não sou. Assim como, as feministas
chamarem todos os homens de estupradores em potencial, pois, eu não
sou e sei muito bem, que nunca estupraria nenhuma mulher. Quem sabe
da sua natureza, não se ofende com pequenas coisas. Diante disso, a
mulher com deficiência é pior ainda, pois, a subproteção vai
sempre atrapalhar como mulher. Não é só com a mulher. O homem com
deficiência – até mesmo, com homossexualismo – tem esse tipo de
coisa, ele alimenta isso e a a família dá um monte de coisa para
alimentar o seu conforto. Tenho muitos amigos assim.
A sexualidade esquecida porque temos
uma cultura que trata as pessoas com deficiência como se fosse
crianças. Por outro lado, por termos uma cultura machista, a mulher
é muito mais vigiada do que o homem. Mulheres com deficiência não
podem fazer nada, suas irmãs podem ir na balada ou transar até
cansar. Ou seja, a infantilização das pessoas com deficiência e
muito mais no lado da mulher, onde há uma subproteção mais
significativa. Só de falar desse assunto, só de viver esse assunto,
gera milhares de especilhos para ficarem nervosos. Somos tratados
como crianças crescidas com deficiência. Mas, milhares de amigos
casaram, viveram milhares de dificuldades e venceram. Sempre tem a
ver com a quebra do paradigma dessa conduta, paradigmas esses que
nunca foram a realidade, nunca deveriam ser regra nenhuma. Só é
humano demasiado humano.