Amar
não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.
Amauri Nolasco Sanches Junior
Ando lendo bastante os grupos de
pessoas com deficiência e fico nas minhas reflexões sobre o amor.
Mas, não é qualquer amor e sim, o amor das pessoas com deficiência.
O que diferencia desses amores? Nada. O que é diferente é a questão
familiar muito forte aqui ainda. Temos dois obstáculos nesse
requisito: a veneração familiar (talvez, por sermos latinos) e o
capacitismo (por termos uma cultura cristã).
Por sermos uma cultura latina –
que veio desde Roma e talvez, até mesmo, na cultura grega – as
famílias são veneradas como instituições. Nos países
anglo-saxões, por exemplo, é muito natural, filhos saírem das
casas dos seus pais e irem em outros lugares, ou em outras cidades.
Os filhos com deficiência são ensinados a terem uma vida “quase”
normal – existe mães e pais que subprotegem, mas, não há uma
veneração familiar e geralmente, os filhos se rebelam – porque
tem a consciência que um dia morrerão. Muitas vezes, há muito mais
uma questão cômoda na família, do que uma questão de amor e
respeito. Quem gostaria de ser subprotegido por causa de uma
dificuldade? Dificuldades todo mundo tem, ou elas estão em
evidências, ou elas estão não evidentes. Por outro lado, todo o
ser humano se adapta conforma a sua dificuldade e isso, fez a nossa
espécie (homo sapiens), serem o topo da evolução animal. Porém, a
nossa cultura moral, muitas vezes, constroem imagem dentro de crenças
que não cabem mais dentro de um espectro moderno. Não estou dizendo
a visão moderna do senso comum – que é transar, talvez, no meio
da rua, ter cabelo colorido e toda essas coisas – mas, uma visão
moderna de aceitar tanto os avanços tecnológicos (sem um certo
romantismo) e aceitar os avanços morais que não cabem no mundo de
hoje. E isso não tem a ver com esquerda e direita.
Junto com essa veneração familiar
– que não quer dizer que não sou a favor da família – vem o
aspecto de olhar a deficiência como uma doença, um fardo que
ninguém quer carregar. E não quer mesmo. Mas, nascemos com uma
deficiência e temos que conviver com ela sempre pondo na cabeça,
que o mundo não é como desejamos ser, não vai melhorar, só vai
ficar mais cômodo. Não somos sofredores e gostamos de tudo que as
outras pessoas gostam e até acho, que as pessoas com deficiência
não deveriam ter um lado ideológico e nem um lado religioso. Mesmo
o porquê, nenhum partido faz pautas sobre a deficiência, porque não
dará a eles maior visualização, que aliás, esse texto não terá
nenhum. Os partidos estão preocupados com pautas maiores e que
causam polêmicas, porque nosso povo é vagabundo, e não gosta de
ler nada. Partidos esquecem das suas ideologias por causa de votos.
E o que eu leio nos grupos são cada
vez mais – acho que porque o mertiolate parou de arder – essa
geração de pais acharem sofredor terem filhos com deficiência,
cada vez vão protegendo eles demais não deixando eles namorarem,
não deixando eles casarem, não deixando eles terem uma vida.
Moralmente, isso é bastante sério, acho que o nosso povo não
avançou tanto quanto deveria ter avançado e ainda, por incrível
que pareça, temos uma mentalidade medieval. Nossa deficiência é um
fardo e temos que contar com a caridade cristã, que a meu vir, é um
modo bastante ridículo. Mas o que esperar de um povo que ainda mata
o namorado da filha por causa de ciuminho (como se a filha fosse uma
propriedade dele), mutilam um menino por causa de um pensamento
ideológico fascisgenêro (termo que inventei, juntando fascismo com
gênero)? Aliás, o caso que o homem que matou o ator e sua família,
é apenas o reflexo da veneração da família.
O capacitismo – como toda a
discriminação e preconceito – não são detectados em todos os
momentos e todas as circunstancias. É um conjunto de preceitos e
atitudes que discriminam as pessoas que tem alguma deficiência –
seja ela qual for – e que coloca, essa pessoa como um fardo social
ou familiar. Vivemos ainda um atraso bastante forte no requisito de
inclusão das pessoas com deficiência – com ajuda do poder publico
que não libera transporte acessível, não libera saúde e as UBSs
estão barrando pedidos de aparelhos, não respeita a lei de cotas
colocando um monte de exame médico e etc – porque temos uma moral,
bastante, antiga. Não temos o hábito de achar que os filhos erram,
que mesmo eles não tendo deficiência, vão sofrer. Não é porque
temos deficiência que não se vai sofrer, assim com as crianças
vão sofrer. O mundo não é um paraíso.
Ainda com todo esse contexto, ainda
as pessoas com deficiência ainda não sabem dizer não. Eu acho tão
gostoso dizer não. Como não tenho. Como não vou fazer. Como não
vou te pagar a mais. O não é purificador. O não te salvara do mal.
O não te livra a alma. Quando você vê, as pessoas nem tentam fazer
nada que você não queira, porque você disse não. Se você deve
200 e a pessoa te cobra 500 você diz não. Quando você quer que seu
namorado vai na sua casa e aparece problemas, você diz não em tudo
que os problemas acabaram. Quando Deus fez o homem do primata, ele
disse não para as outras espécies. O não é a grande sacada do
universo e se você não disser não, não vão viver.
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