quinta-feira, 13 de junho de 2019

#BrasilFeudal: dia dos namorados e a deficiência








Amar não é olhar um para o outro, é olhar juntos na mesma direção.

Amauri Nolasco Sanches Junior

Ando lendo bastante os grupos de pessoas com deficiência e fico nas minhas reflexões sobre o amor. Mas, não é qualquer amor e sim, o amor das pessoas com deficiência. O que diferencia desses amores? Nada. O que é diferente é a questão familiar muito forte aqui ainda. Temos dois obstáculos nesse requisito: a veneração familiar (talvez, por sermos latinos) e o capacitismo (por termos uma cultura cristã).
Por sermos uma cultura latina – que veio desde Roma e talvez, até mesmo, na cultura grega – as famílias são veneradas como instituições. Nos países anglo-saxões, por exemplo, é muito natural, filhos saírem das casas dos seus pais e irem em outros lugares, ou em outras cidades. Os filhos com deficiência são ensinados a terem uma vida “quase” normal – existe mães e pais que subprotegem, mas, não há uma veneração familiar e geralmente, os filhos se rebelam – porque tem a consciência que um dia morrerão. Muitas vezes, há muito mais uma questão cômoda na família, do que uma questão de amor e respeito. Quem gostaria de ser subprotegido por causa de uma dificuldade? Dificuldades todo mundo tem, ou elas estão em evidências, ou elas estão não evidentes. Por outro lado, todo o ser humano se adapta conforma a sua dificuldade e isso, fez a nossa espécie (homo sapiens), serem o topo da evolução animal. Porém, a nossa cultura moral, muitas vezes, constroem imagem dentro de crenças que não cabem mais dentro de um espectro moderno. Não estou dizendo a visão moderna do senso comum – que é transar, talvez, no meio da rua, ter cabelo colorido e toda essas coisas – mas, uma visão moderna de aceitar tanto os avanços tecnológicos (sem um certo romantismo) e aceitar os avanços morais que não cabem no mundo de hoje. E isso não tem a ver com esquerda e direita.
Junto com essa veneração familiar – que não quer dizer que não sou a favor da família – vem o aspecto de olhar a deficiência como uma doença, um fardo que ninguém quer carregar. E não quer mesmo. Mas, nascemos com uma deficiência e temos que conviver com ela sempre pondo na cabeça, que o mundo não é como desejamos ser, não vai melhorar, só vai ficar mais cômodo. Não somos sofredores e gostamos de tudo que as outras pessoas gostam e até acho, que as pessoas com deficiência não deveriam ter um lado ideológico e nem um lado religioso. Mesmo o porquê, nenhum partido faz pautas sobre a deficiência, porque não dará a eles maior visualização, que aliás, esse texto não terá nenhum. Os partidos estão preocupados com pautas maiores e que causam polêmicas, porque nosso povo é vagabundo, e não gosta de ler nada. Partidos esquecem das suas ideologias por causa de votos.
E o que eu leio nos grupos são cada vez mais – acho que porque o mertiolate parou de arder – essa geração de pais acharem sofredor terem filhos com deficiência, cada vez vão protegendo eles demais não deixando eles namorarem, não deixando eles casarem, não deixando eles terem uma vida. Moralmente, isso é bastante sério, acho que o nosso povo não avançou tanto quanto deveria ter avançado e ainda, por incrível que pareça, temos uma mentalidade medieval. Nossa deficiência é um fardo e temos que contar com a caridade cristã, que a meu vir, é um modo bastante ridículo. Mas o que esperar de um povo que ainda mata o namorado da filha por causa de ciuminho (como se a filha fosse uma propriedade dele), mutilam um menino por causa de um pensamento ideológico fascisgenêro (termo que inventei, juntando fascismo com gênero)? Aliás, o caso que o homem que matou o ator e sua família, é apenas o reflexo da veneração da família.
O capacitismo – como toda a discriminação e preconceito – não são detectados em todos os momentos e todas as circunstancias. É um conjunto de preceitos e atitudes que discriminam as pessoas que tem alguma deficiência – seja ela qual for – e que coloca, essa pessoa como um fardo social ou familiar. Vivemos ainda um atraso bastante forte no requisito de inclusão das pessoas com deficiência – com ajuda do poder publico que não libera transporte acessível, não libera saúde e as UBSs estão barrando pedidos de aparelhos, não respeita a lei de cotas colocando um monte de exame médico e etc – porque temos uma moral, bastante, antiga. Não temos o hábito de achar que os filhos erram, que mesmo eles não tendo deficiência, vão sofrer. Não é porque temos deficiência que não se vai sofrer, assim com as crianças vão sofrer. O mundo não é um paraíso.
Ainda com todo esse contexto, ainda as pessoas com deficiência ainda não sabem dizer não. Eu acho tão gostoso dizer não. Como não tenho. Como não vou fazer. Como não vou te pagar a mais. O não é purificador. O não te salvara do mal. O não te livra a alma. Quando você vê, as pessoas nem tentam fazer nada que você não queira, porque você disse não. Se você deve 200 e a pessoa te cobra 500 você diz não. Quando você quer que seu namorado vai na sua casa e aparece problemas, você diz não em tudo que os problemas acabaram. Quando Deus fez o homem do primata, ele disse não para as outras espécies. O não é a grande sacada do universo e se você não disser não, não vão viver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário