sábado, 27 de março de 2021

O fascismo facebookiano da vantagem ideológica

 




Menos emoção e mais razão.

Gabriela Prioli





Em 399 a.c., um senhor ateniense estava num tribunal por causa de acusações de corromper a juventude com sua filosofia. Seu nome? Sócrates. Ele preferiu tomar cicuta do que negar a filosofia e a busca da verdade, que inaugurou dizendo, para nos conhecemos do que conhecer o mundo. Isso é bem simples, não podemos conhecer nada se não conhecer os nossos limites da nossa própria ignorância ou atestando nossa existência – é uma procura ontológica (porque não, metafísica) do ser enquanto ser, enquanto ente que pensa – que vai ser aperfeiçoado com o aluno de Platão (que se preocupou mais em juntar Heráclito com Parmênides), Aristóteles. Mas, o que incomodou no discurso socrático que levou o poder a condenar aquele senhor que fazia varias perguntas? A verdade. Verdade (alethéia) para o grego, não é a mesma verdade que temos, era uma verdade muito mais profunda que abarca tudo. O kosmos era a realidade como um todo. 

Mas, colocamos tudo como algo relativo, o ser humano fica sem nenhuma referencia daquilo que os gregos chamavam de ETHOS. Uns traduzem como ética e outros, como os romanos, traduziram como costumes. ETHOS era muito mais do que ética ou moral, que entendemos hoje, pois, era a alma da polis (cidade-estado) e que cada cidadão (politike) tinha o dever de passar para a geração seguinte os preceitos da sociedade. Claro, nem todo mundo tinha direito de ter uma educação e a maioria era, completamente, ignorante. A educação para todos só começa no seculo dezenove e dá uma melhorada – num tanto vagabunda em algumas nações – no século vinte, ainda, dos anos 50 em diante. Partindo para o pressuposto que a ética é a alma da polis (no nosso caso, na nação), a educação deveria ser uma prioridade e não essa educação técnica que já se mostrou ineficaz, pois, crianças e jovens, nem sabem escrever direito, mas digo da educação como melhorar as próximas gerações de ter cidadania e amar onde vive. E não adianta a escola ensinar ética, se o próprio pai ensina a ter vantagem. 

O termo vantagem sempre foi um especilho para o brasileiro ter ética, porque se há vantagem, não pode ter atos éticos. Vantagem vem do francês AVANTAGE, que quer dizer, ter proveito ou que faz diferença a favor, que por sua vez, veio de outro termo AVANT que quer dizer estar antes, ou à frente de algo ou alguém. Quando um cidadão diz que é vantagem algo, ele quer dizer que quer passar a frente de alguém ou receber algo que alguém deveria receber antes dele. As desculpas são variadas, desde políticos terem mais direito do que o cidadão, até alguns setores da própria população. Isso – como eu disse num outro texto que ninguém leu – coloca em xeque toda a democracia liberal como narrativa e nos faz perguntar se há, realmente, algum regime que possa nos dar o que precisamos. Dias desses fui bloqueado no Facebook porque eu disse o termo “idiota” que um engenheiro da programação ou um verificador, sabe (ou deveria saber) que o termo idiota pode significar que a pessoa é tola ou vaidosa. Na verdade, o termo idiota vem do grego IDIOTIKE que queria dizer uma pessoa que não se preocupava com a polis, o egoismo. Um engenheiro de programação não saber disso é o cúmulo da educação ruim que temos nas universidades, pois, são contratados daqui que cuidam dos perfis brasileiros. 

Mas, desde Platão, a democracia sempre foi um regime estranho com certas nuances de tirania, pois, dizem haver uma certa liberdade, porém, você tem que fazer dessa liberdade o que eles querem. O próprio Facebook tem uma chamada na sua entrada, dizendo que você pode falar o que você quiser. Não pode. O politicamento correto – que veio com uma leva de falácias que o preconceito acaba graças a um discurso – vem cerceando a liberdade que as pessoas têm de querer dizer o que pensa, claro, sem ser violento. Qual a diferença em dizer deficiente ou pessoa com deficiência, se a falta de respeito continua a mesma? O que importa o termo que somos chamados se nem nós somos prioridade dentro da vacinação, se está na Lei Brasileira de Inclusão? Então, as democracias liberais estão em xeque e não ha nada para colocar no lugar, porque todas falharam, todas só foram construídas em cima de opressão, seja lá qual for. E não se enganem, governos liberais matam na mesma proporção dos governos socialistas e fascistas, a única diferença é que tem um verniz de liberdade.

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