terça-feira, 9 de março de 2021

O machismo evangélico e as mulheres com deficiência

 




<E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.>




Os mais radicais – aquelas que analisam de uma forma, completamente, ideológica – diz que o patriarcado (o machismo é uma ideia vitoriana) começa com essa passagem bíblica que eu coloquei. Mas eu tenho uma visão, bastante, diferente. Porque essa passagem é a consequência e não a causa de toda uma cultura, pois, a origem do patriarcado remontam um povo chamado “aryas” que vieram, como tudo indica, da Europa Central. Outros pesquisadores, dizem, que vieram da região do que se chama hoje de Irã e naquele tempo, entre Irã e Iraque, se tinha a Pérsia. O importante é salientar, que os aryas invadiram a região grega, indiana e do oriente médio e difundiu uma outra cultura, onde a mulher não era mais cultuada e as lideres perderam seu papel (muito embora, se vê no Ilíada de Homero, a submissão de Helena, mas é papo para outro texto), porque o homem deve ser o chefe, o homem deve tomar a decisão e ser o líder. Depois disso, não se foi o mesmo (embora os nórdicos tinham uma outra relação com suas mulheres, assim como, os espartanos). 

A questão vai muito a fundo. Mesmo o porquê, a questão de Deus é uma questão do qual deus tenha ganhado na batalha de deuses dos antigos hebreus, pois, muito antes do deus abraâmico (Iawé) ser proclamado como um deus único, haviam muitos deuses no pantalão hebraico. Mesmo a própria Bíblia, usa Elohim como Deus, mas Elohim é um termo para deuses , porque é no plural. Então, que deus mesmo está se referindo a Bíblia? O Deus desconhecido de todas as religiões do mundo. Deus não pode ser definido, mas o homem (como ser humano), presa de uma referência dentro de tudo para encaixar do que ele chama de realidade. Mas a questão é: o que é a realidade? Por que temos a vida e o porquê, temos a consciência dessa vida? Porque, de alguma forma, todos os livros sagrados tiveram uma história e foram escritos de forma alegórica, por causa de perseguições e tudo mais. Do mesmo modo, não há como saber (e não deveríamos discutir isso) se os fenômenos descritos na Bíblia são verdadeiros. E as escrituras sagradas – todas e de todos os tempos – não são livros de ciência, mas podemos colocar como uma metáfora científica. 

É claro que dentro desse versículo há uma questão machista e que impõem uma imagem de segregação e submissão da mulher, pois, nos estudos mais aprofundados, a primeira mulher de Adão, Lilith, era do mesmo pó que foi feito o homem. Mas, Lilith não aceitou muito bem a imposição do homem de ficar em cima dela na hora do sexo e foi embora. Casou com um demônio (alguns dizem Belzebu, outros dizem o próprio Lúcifer), mas, dai por diante, ela atormenta a humanidade por serem descendentes de Adão. Só que Deus viu que Adão ficou só e resolveu fazer a mulher dos “ossos e carne” de Adão e assim, ser um derivado dele. Adão vem de “adam” que é a terra vermelha e Eva vem de “havá” que é ser vivente, ou seja, o ser vivente que veio da terra vermelha. Como assim? Mas, a questão fica bem pior, porque a serpente convence Eva a comer o fruto do pecado. Mas, que pecado é esse? Se fosse o sexo, não se haveria descendentes – algumas seitas exotéricas defendem que existiam outros casais no Eden, mas Eva e Adão desconectaram com a parte divina que até, para ter filhos, se tinha que pedir permissão. 

Ora, enquanto a Lilith é a “vagabunda” que largou Adão e foi embora do Eden (dizem outras seitas que a serpente era ela), Eva é a traidora de Deus e ainda a sedutora que fez Adão comer o fruto do pecado. Ou seja, Adão foi uma vítima das duas, só que não. No caso da Lilith, ele poderia deixar ficar por cima, por que não? No caso da Eva ele poderia dizer não para ela, por que não? Só que isso ficou na psique humana muito forte pelo poder (porque o poder sempre usou a espiritualidade da escuridão usando o medo), e tanto é assim, que Maria Madalena era uma discípula de Jesus e Pedro começou a dizer que ela era prostituta. A imagem da mulher é de sedutora e faz o homem pecar e a culpa sempre não foi dele, ele é levado ao pecado. A igreja romana usou muito isso na idade média em diante – a religião islâmica faz de forma pior – de sempre controlar a sexualidade, por ser um concorrente direto. O ápice disso foi a era vitoriana. Mas, com a questão do luteranismo (Lutero) dele achar que não há interpretação na bíblia (com os neopentecostais e pentecostais isso ficou pior) e assim, só vale o que está escrito. E muito pior, os pentecostais e os neopentecostais, começaram a seguir muito mais o velho testamento. 

Daí, depois dessa viagem – necessária para entender – podemos dizer que, enquanto as pessoas com deficiência foram vistas pela igreja romana como incapazes e que não poderiam ter “alma” - graças a uma leitura errada platônica aristotélica – s protestantes achavam que eram demônios. A inquisição protestante foi muito pior que a da ICAR, pois colocou tudo que era diferente como algo do demônio. Não é a toa, que varias igrejas protestantes eram a favor do nazismo e no mundo inteiro, são a favor de governos fascistas ou ditatoriais (aqui apoiaram a intervenção de 64). O machismo impera lá dentro – existem relatos que muita gente mais velha seduz ou tenta seduzir meninas mais novas ou assediam meninas com deficiência – por causa dessa passagem que eu coloquei e que se colocam como cristãos. Jesus não era a favor disso. Jesus tinha sua mãe como seguidora, Maria Madalena (que os gnósticos colocam como esposa dele), tinha Marta e outras mulheres em sua volta. Além de ter salvado a mulher adultera do apedrejamento. Ora, os protestantes são mesmos cristãos ou são judeus? Deveriam tomar uma posição quanto a isso, porque o próprio Jesus disse, não podem seguir duas coisas ao mesmo tempo. 

Além do mais, há um preceito dentro do velho testamento que pessoas “defeituosas” não podem subir ao altar de Deus. Jesus fez os “defeituosos” andarem. Viram a diferença? Mas, muitas famílias seguem a risca e o povo lá dentro tem muito preconceito com as pessoas com deficiência e é muito pior quando é mulher. Mulher não tem sexualidade, mulher tem que se submeter ao homem e os irmãos têm que cuidar da honra, sendo, que a honra das irmãs dos outros eles não respeitam. Imaginem isso com uma mulher com deficiência? Onde se fazem o que querem, se ela se ofender eles viram a cara, se ela falar alguma coisa ela está errada, se ela transar ela é uma “vagabunda”. Fora que eles tem horror de estarem expostos para não estragar a sua imagem de “santos”. E muito mais, pois se a mulher com deficiência dizer não para a mãe – que muitas vezes faz chantagem emocional – ela é mal-agradecida, ela é culpada de todas as doenças e problemas que essa mãe tem. A mãe é a vítima e a mulher com deficiência que quer uma vida independente, é a culpada, é a rebelde. Do mesmo modo viam Lilith como uma “vagabunda” ou Eva como uma pecadora, pois, não se contesta sua mãe, porque se confunde contestar com veneração. 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

2 comentários:

  1. Temos que trabalhar para esse preconceito acabe de uma vez por todas.

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  2. Mas com relação ao Primeiro Testamento, temos que olhar com os olhos da época. O povo seguia as leis de Moisés. Na época era normal o apedrejamento, ato que no segundo testamento Jesus fez o povo compreender que era errado, haja visto a passagem com Maria Madalena

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