sábado, 24 de setembro de 2022

Monark, o novo Sócrates

  



Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”.

(Sócrates)

 

O melhor filósofo que eu li, contemporâneo, que escreveu sobre Sócrates até agora foi Denis Huisman. Huisman faz um exercício mental – porque não sabemos nada de Sócrates e ele nada escreveu – onde coloca o filósofo grego como, realmente, um debatedor. Posso estar errado, mas, lendo as obras de Platão – fazendo o mesmo exercício mental de Huisman – e consigo ver alguma veracidade que estão em comum com outros autores que comentam o que Sócrates fazia. A forma irônica e como usa sua humildade como uma armadilha para amarrar seu adversário do diálogo. Muitos dizem que Sócrates é um personagem de Platão, mas, a meu ver, comediantes como Aristófanes (até hoje) não fazem anedotas com personagens. Você não escuta piadas sobre Bentinho, sobre a Narizinho e sim, de pessoas personificadas numa fama. Como dizem, Sócrates era uma figura bastante conhecida e que mexia com pessoas bastante importantes.

A questão pode ser colocada na seguinte forma: por que Sócrates escolheu essa vida de filósofo e não foi levado por outra coisa? Muitos especialistas – seguindo a tradição de Heródoto (historiador antigo) – dizem que, Sócrates foi levado a ir para o lado da filosofia por causa da pitonisa que disse que o mais sábio de Atenas era ele (na verdade, ela só respondeu o que o amigo de Sócrates tinha confirmado). Mas, confirmou ao mesmo depois e assim, ao longo da sua trajetória filosófica, ele dizia que filosofava por causa do “deus” e essa era sua missão. Missão essa de mostrar o quanto ela (a pitonisa) estava errada ao seu respeito. Sócrates foi soldado e como soldado salvou vários colegas e, talvez, tenha levado o treinamento militar para a filosofia de não fugir de um combate. Huisman diz no livro – chamado Sócrates – que a humildade dele, na verdade, seria uma questão de desarmar o adversário (se fomos, realmente, dizer que era ele mesmo nos diálogos).

O método (methodós=caminho) que Sócrates usava – segundo a tradição – é a maiêutica. A maiêutica, grosso modo, era o que ele dizia que é uma técnica (tekne) de parto de ideias (como era sua mãe parteira) onde há perguntas a serem feitas e respostas a serem dadas. A partir dessas respostas, Sócrates poderia “escalar” perguntas muito mais elaboradas até chegar na cerne da questão, mostrando, por assim dizer, uma noção que o interlocutor não sabia aquilo que ele dizia que sabia. Isso se dará entre a mera opinião (doxa) e o conhecimento (episteme). E então – segundo a apologia a Sócrates de Platão – Sócrates teria dito, primeiro, que uma vida não examinada não vale ser vivida. Segundo que ele saberia que a questão que ele trazia era que sabia da sua ignorância. Dai, pontualmente, diríamos que o conhecer a si mesmo era, na verdade, um convite para saber o seu limite (de tudo) e uma vida não examinada, não vale ser vivida.

Em dois milênios e mais alguns séculos, Sócrates passou para a posterioridade como um convite a filosofar e as inúmeras escolas que vieram depois dele, começaram a filosofia como se começou dali por diante. Huisman traz algo além (que chamamos de transcender), porque Sócrates acadêmico é muito sistemático e que, ainda, vive na sombra do seu discípulo, apaixonado, Platão. Sem dúvida, Platão amou Sócrates ao ponto de fazer todos seus diálogos, algo como um memorial. Mas, qual o intuito disso tudo? Por que Sócrates se deixou morrer por causa de uma condenação capital? Talvez, indo mais além, a imagem do filósofo que se suicida para um bem maior, seja aquilo que se chamou depois de ideal. O ideal socrático era a liberdade e não só do que eu gosto de fazer etc., mas, aquilo que as pessoas querem falar ou expressar e assim ser refutada por aquilo que ela é de verdade.

Sócrates, em nenhum momento, não disse que o outro não poderia dizer o que pensa, e sim, que as pessoas deveriam buscar o conhecimento para refletir por conta própria. Enquanto o oponente estava falando de amantes, Sócrates perguntava o que era o amor. Enquanto o oponente dizia dos atos heroicos de um herói, Sócrates perguntava o que era a virtude. Eram perguntas assertivas que desmontava a imagem que aquela pessoa tinha do que achava que sabia, e o que seria na realidade. Na verdade, Sócrates coloca que há sim, uma questão de saber enquanto conhecimento verdadeiro (episteme) e o que são meras opiniões (doxa) daquilo a partir só senso comum e aquilo que não existe. A Terra ser plana, já houve uma refutação e não existe nem discussão, mas, existem pessoas que acreditam. Sócrates perguntaria o que era forma, no sentido, para que isso.

Hoje a pergunta seria: qual o limite da liberdade? Teríamos de ter um limite da liberdade de expressão? A um ano, quando eu escrevia no Blasting News, escrevi uma reportagem sobre o Monark (Bruno Aiub) onde digo que naquele momento, o rapaz estava ganhando destaque graças ao seu questionamento. Na época – foi novembro de 2021 – Monark ainda era socio e apresentador do Flow e com o Igor. Em fevereiro desse ano – de uma forma estupida – defendeu a legalização de partidos nazistas, que no Brasil, é ilegal. É bom lembrar que o nazismo matou judeus, pessoas como eu (com deficiência) e outras tantas consideradas, esteticamente, fracas, e que eles chamavam de inferiores (eugenia). Claro, ainda hoje acontece, como a legalização de aborto em caso de crianças com Síndrome de Down no Reino Unido e em alguns ESTADOS norte-americanos – porque americanos somos todos – a família operar mulheres com deficiência o útero sem satisfação nenhuma. Se isso não é eugenia, o que seria então?

Hoje, Monark tem seu programa em uma outra plataforma (o YouTube o expulsou) e existem vários debates. Para continuar, existem vários parênteses que devemos abrir e analisar. Primeiro, não temos – mesmo – uma cultura de entrevista de confronto, humor “negro” (obscuro), e de conversas com várias pessoas e pessoas que você discorda. Quem dava as cartas, vamos dizer assim, era a mídia tradicional, que poderia colocar um presidente e tirar o mesmo presidente. Eram oligarcas da mídia. Tiveram que se adaptar – quase na marra – mas, não gostam da internet. Aliás, vários estudos dizem, que a internet deu vozes e os políticos não gostaram disso. Há uma responsabilidade no que você diz, porem, a meu ver, não podemos nos responsabilizar naquilo que elas entendem. Sócrates foi condenado por fazer a maioria pensar, não acreditar, de pronto, e tudo que as pessoas diziam. Será que esse era a acusação que pesava sobre ele? Será que Anito, Meleto e Licon, foram levados a isso ou o próprio ESTADO os levou como testa de ferro?

Quando estava vendo o debate entre Monark, Arthur Petry, Ricardo Ventura e Alexandre (o Negão), vi ali um debate socrático (como o Petry é comediante, ele foi com o boné do Bolsonaro e a camisa do Lula). E pensei: “será que a ideia do Monark é a mesma de Sócrates?”. Pois, a cerne de todo o problema é a liberdade, porque a questão é poder ser ate mesmo um idiota e se ele estiver cometendo um crime, ser processado nos transmites legais. O Brasil não vai virar uma Venezuela assim como, não existe força argumentativa para fortalecer um nazismo/fascismo aqui. A questão sempre foi a birra da grande mídia (e a elite que sempre mandou) com as mídias sociais, como meio de informação desde 2013. Eles não conseguem mais sustentar uma narrativa e quando sustenta, não dura muito por causa de informações vindas da internet. Isso irrita eles.

A meu ver, o pensamento libertário é um pensamento natural. Quem gosta de ficar preso? Quem gosta de falar o que as pessoas querem ouvir? Eu não me importo, por exemplo, de ser chamado de aleijado, porque eu sei que não sou. Mudar o termo deficiente para pessoa com deficiência não fez as empresas contratarem, não fez as escolas pararem de discriminarem e não fez mudar a visão de “coitadismo” que nossa sociedade nos trata. É ser bastante ingênuo que na questão da linguagem, algum preconceito sumiria. Por mais que tentem colocar o pensamento racional e sem o politicamente correto no lado fascista – aliás, obrigar a ter uma linguagem própria também faz parte da estética nazifascista – a questão semântica não pode ser uma solução, porque obrigar as pessoas a terem um comportamento também é uma ditadura.

Sócrates seria cancelado? 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Consciência política e consciência de classes

  




Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Perguntaram: “Amauri, por que a maioria das pessoas comdeficiência não vão votar na candidata que tem uma vice cadeirante?”. Primeiro, a deficiência não é uma construção, ou seja, não somos a deficiência e sim, somos o que construímos nosso caráter dentro dos valores que somos criados. Antes da deficiência (uma limitação) somos pessoas, escolhas religiosas e ideológicas e, antes de tudo, pessoa. Como todo mundo, somos construções de morais e éticas sociais. Porque, pensamentos políticos – chegando ao termo grego “politikon” que quer dizer “cidadão” – são pensamentos sociais, e como nascemos dentro da sociedade, temos que nos engajar politicamente.

Aí chegamos no cerne do problema: a consciência política. Desde o iluminismo no século 17 e 18, ter consciência era se esclarecer sobre um assunto. Ou seja, ter consciência é saber e refletir sobre esse assunto, é, pelo menos, ter uma base sobre as questões que nos envolve e envolve a política. Política vai muito além de políticos, política tem a ver com o pão que compramos, a balada que todo jovem gosta de ir (alguns PCDs também gostam) ou as órteses e próteses que usamos (por causa do seu preço). O tratamento que devemos ter (reabilitação) e, por que não, a educação e o trabalho.

Pessoas com deficiência são pessoas das classes operarias, pois, sendo liberais, socialistas ou progressistas – democratas sociais – somos uma classe e devemos nos posicionar assim. Acontece que, existem diferenças significativas entre escolher lados, porque, afinal das contas, nenhum sistema atendera interesses dos trabalhadores. Operários de direita não deveriam existir. Porque o sistema nos deixara sempre a margem – e por isso somos marginalizados – dentro de um espectro social. A questão tem que transcender a questão ideológica, e sim, colocar o indivíduo enquanto ser humano dentro das questões sociais e políticas.

O problema não é votar na Simone Tebet (MDB) por causa da sua vice Mara Gabrilli (PSDB) – que tem uma deficiência (tetraplégica) – mas, o porquê temos que votar nela. A questão passa pelo crive ideológico em asseverar a discussão da inclusão sempre colocando a pessoa no primeiro lugar, mesmo o porquê, a deficiência não nos definem. Pessoa tem a ver com personalidade, aliás, as duas palavras têm a mesma origem etimológica latina do “persona”. A “persona” eram máscaras usadas durante dramatização dos teatros e assim, a construção de um personagem (antigamente, mulheres não podiam encenar).

Ter uma personalidade é ter uma seletividade daquilo que você é e aquilo a sociedade exige. Eu não quero, por exemplo, acreditar na mesma religião que o outro, mas, tenho que respeitar a decisão de crença do outro. Não é por causa da minha deficiência que, por questões de vontade e credibilidade, ser obrigado a acreditar naquilo. Ter uma crença é algo pessoal (que volta na questão da personalidade). Além disso, ter uma personalidade é ser seletivo naquilo que as pessoas gostam (cultura de massa). Eu não gosto e não vou ver por que a maioria vê.

A pergunta deveria ser: por que as órteses e próteses são caras? Por que as pessoas com deficiência não têm educação e não tem emprego? Por que a lei de quotas não foi para universidades? Para pensarmos politicamente, como segmento legitimo, temos que pensar em prioridades. O que é melhor para TODAS as pessoas com deficiência? ainda mais: o que seria melhor para TODOS os cidadãos brasileiros? 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Política e deficiência – o Crip Camp que nunca tivemos

 

“Era uma utopia. Quando estávamos lá, não havia mundo externo” (Foto: Netflix)




Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Lendo uma biografia da Lourdes Guarda – grande iniciadora da luta das pessoas com deficiência – e assistindo o documentário Crip Camp, sempre fiquei em dúvida o porquê o segmento das pessoas com deficiência nunca foi unido. Lá, nos Estados Unidos, com uma cultura mais protestante e liberal, não existem movimentos leigos que possam lutar por inclusão e sim, ONGs que exigem um cadastro diferenciado. Ou, como aconteceu com a FCD (Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes), federações que podem ser como se fossem, ONGs e que poderiam ser cadastradas pelo governo. Isso se agravou com os ataques do 11 de setembro. Já no Brasil e na América Latina, os movimentos podem ser organizados e podem lutar livremente, mas, só como ONG ou Federação, eles recebem recursos para continuarem seus trabalhos. Afinal, nunca movimentos livres tiveram acesso nos Estados Unidos.

Mas, como é mostrado no documentário – a Netflix disponibilizou no YouTube – as pessoas com deficiência de lá, tendem a não se importar em trabalhar ou de ir em camps (acampamentos) para terem a chance de mostrar sua capacidade de independência. A questão sempre foi a liberdade de si mesmo diante a deficiência e não mostrar que poderíamos superar ela, poderíamos mostrar para a humanidade que somos capazes mesmo com pernas ou braços paralisados, ou sem audição e sem visão, ou até mesmo, sem movimento. O conceito de deficiência sempre foi colocado como uma doença, por causa da nossa limitação de andar ou se locomover, assim, as pessoas sempre nos colocaram como sofredoras. Sofrer por não se locomover são coisas diferentes. Por exemplo – para mostrar como essa imagem é tão forte entre a humanidade – que um líder sanguinário e cruel como Hitler, chorou ao assinar o termo de matança de pessoas com deficiência nos hospitais alemães. Biólogos renomados como Richard Dawkins, em 2015, tenham dito que uma mãe ter uma criança com síndrome de Down era desumano. Mas, afinal, o que não se pode assegurar que somos humanos?

Eu entendo esse conceito, pois, sempre nossa cultura internou as pessoas com deficiência em hospitais e – por causa da nossa cultura católica religiosa – ter essa imagem da deficiência como doença. O conceito mesmo da deficiência consiste em não eficiência de certas tarefas – que podem ser adaptadas com a reabilitação – e que isso, não é empecilho para uma vida plena e sociável. No Brasil, por causa da nossa cultura positivista – tudo deve ser feito com especialistas – o médico ou fisioterapeuta, deve ser uma espécie de guru para tudo. Mas, não é bem assim. No próprio documentário, você não vê um acompanhamento contínuo das pessoas com deficiência como aqui. No Brasil – um país do drama – há um exagero. Sempre pessoas não tem a liberdade assegurada, porque se tem a ideia da lentidão de acompanhar certas tarefas e certas coisas.

No próprio livro, muitas pessoas viam aquela mulher na maca – porque Dona Lourdes andava só na maca e nos anos que ia na FCD, pude comprovar – muitas pessoas diziam que era melhor a filha morrer do que ficar daquele jeito ou que, ela estava doente. Por causa da precariedade que sempre foi o Brasil – sendo um país muito mal administrado – a ciência dentro da medicina e o tratamento de certas doenças e deficiências, que na sua maioria, são muito vagabundas. Mas, o porquê esses “vagabundas”? Porque a política precisa de problema, porque ela vive do problema. Por que se inventou em dar, pelo SUS, cadeiras de rodas ou outros aparelhos? Na lógica do mercado, o governo jogaria mais cadeiras de rodas na sociedade, por exemplo, e normalmente, essas cadeiras de rodas iriam abaixar de preço. O mais gozado é que, as cadeiras de rodas nunca são baratas no mundo e governos subsidia muitas delas para baratear esse tipo de produto – de primeira necessidade – e o que acontece, que elas ainda são muito caras. Países pobres – como africanos e a China, por exemplo – esse tipo de item são descartados.

Na essência, a ideia (idea) da inclusão não é deliberar um corpo considerado anormal dentro da sociedade, mesmo o porquê, sempre nascemos dentro dessa mesma sociedade. A questão é a acessibilidade porque tem a ver com a liberdade, porém, liberdade também tem a ver com deveres. Essa questão de inclusão tem dois lados: um de fazer o que quiser (sem violentar o direito do outro) e ter os mesmos deveres que a sociedade impõem para o convívio. Mesmo que você não goste, se você quiser uma inclusão social, você vai ter que aceitar certas coisas que não aceitamos. Nem todo mundo vai aceitar isso sossegado. E por outro lado, se tem que levar a discussão num outro patamar: será que eu devo aceitar a deficiência?

A pergunta de ouro seria: eu sou a deficiência ou eu sou eu mesmo? Pois, a deficiência é uma condição, por outro lado, ela não te define. A definição – como todo ser humano – é que somos pessoas e antes de sermos deficientes, somos pessoas com algumas limitações. Só que essas mesmas limitações não devem atrapalhar a nossa vida, nossos sentimentos ou quem nos define dentro das crenças e nos valores que acreditamos. Afinal, quem somos? Deficientes ou pessoas que estão no mundo para serem felizes e realizarem o que querem?


 

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Jesus e a pacificação do cristão ovelha

 

Bas Uterwijk @ganbrood | Instagram


Por Amauri Nolasco Sanches Júnior


'Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada” Mateus 10:34

 

Quantas pessoas fazem as coisas sem se questionarem o porquê fazem aquilo? as pessoas em sua maioria, não reflete dentro daquilo que elas acreditam, porque acham ser a verdade, mas, a verdade tem que transcender a crença onde eu me espelho. Talvez, Jesus tenha dito, que as pessoas que seguem ele, devam transcender aquilo que ele representa e dizer não aos que querem dominar. O próprio Jesus disse para se conhecer a verdade, pois, a verdade iria nos libertar. Muito parecido com o “mate o buda” do Buda Shakyamuni onde não existe um mestre, o mestre é você mesmo. No resto do versículo, Jesus disse:

 

<<Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra;

E assim os inimigos do homem serão os seus familiares.

Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.

E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim.

Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á.>>

(Mateus 10:35-39)

 

A questão é em contestar as coisas e perguntar <<o porquê?>> das coisas e pensar se aquilo é ou não certo. Aí podemos chegar a certas coisas que os <<cristãos>> sempre fizeram e caem em contradição. No canal Isto não é filosofia – com o professor Vitor Lima – analisou o vídeo do empresário que não iria entregar marmita para uma senhora, porque ela iria votar no ex-presidente Lula. Claro que existe uma questão ética nesse ponto, porque usar uma necessidade de uma pessoa por um favor, é comprar a vontade com aquilo que precisa para viver. Ele foi educado a não questionar o porquê eu tenho que fazer isso com essa senhora que pensa diferente de mim, ele está obedecendo uma ordem ideológica sem questionar. E essa a questão: por que eu tenho que obedecer porque a pessoa é da minha família? o porquê eu tenho de obedecer sem questionar?

É uma constante no nosso povo não questionar algumas coisas e outras, adaptar à realidade conforme suas crenças. A primeira faz o nosso povo obedecer sem questionar – confundindo amor por veneração – assim, pastores, padres etc., pode quererem fazer a grande maioria fazer o que eles querem e até mesmo, o poder usando crenças religiosas. Dar um carro para um pastor faz sentido? Deus dará coisas por causa disso? Me parece muito mais logico pensar, a intenção de Jesus seria muito mais moral do que material. A meu ver, a questão da verdade em Jesus era muito mais íntima do que algo fora. Do mesmo modo, o “exame da vida” socrático e somos o que pensamos de Buda Gautama, ou outras formas filosóficas e espirituais. Jesus queria que seus seguidores, fizessem um exame íntimo para ver essa “verdade”.

O filósofo Immanuel Kant (1724-1804­), fez do cristianismo algo racional – por ser protestante – onde colocou a questão moral como uma questão de escolhas e não como algo já determinado (como toda a idade média vai se colocar). O determinismo é muito presente em nossa cultura – principalmente a brasileira – porque viemos, diretamente, de uma cultura medieval e que ainda, por uns 300 anos, se catequizou com a cartilha escolástica. Kant, veio de uma cultura protestante onde nascia o iluminismo e o iluminismo não se separava do protestantismo.  Os ateus – militante como tudo aqui – acham que o racionalismo surgiu no meio não religioso, porque confundem fanatismo com religiosidade (como se confunde religião com espiritualidade), mas, surgiu com Rene Descartes que era católico. Mas, a questão kantiana da moral é uma questão de universalização da proposta moral de fazer coisas para serem exemplo – mesmo que muitos achem uma idealização. A questão que Kant achava que o ser humano era covarde e preguiçoso está no “O que é o Iluminismo?” onde responde o que seria o iluminismo para ele.

Kant diz que o ser humano não sai da sua minoridade por causa da sua acomodação, porque é muito mais comido ser um alienado e se colocar como um “coitado” do que sair e ousar saber (sapere audi). Daí vem o mais engraçado, pois, esse ousar saber vem do ponto de reflexão que Jesus também saiu que é o saber. Porque o poder – a máquina do ESTADO – não gosta de pessoas que pensam e esse “ousar” é uma rebeldia em sair do sistema e ousar questionar as narrativas. A “espada” que Jesus nos vai trazer não é um instrumento cortante de aço, mas, o conhecimento como uma arma mortal do conformismo. Assim como Jesus e outros, Kant está dizendo que o ponto moral é construir uma identidade própria e sair do mesmo. Não fazer porque os outros estão fazendo, não achar resposta no outro e sim, em si mesmo. E com isso, construir sua própria identidade. Seu próprio ser e assim, ser um indivíduo que pensa e age conforme sua própria escolha.

Ora, no momento que se sai da tutela de alguém a liberdade e a verdade aparecem naturalmente. 

domingo, 11 de setembro de 2022

Política brasileira e os conceitos inventados

  



Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Recebi no Quora:

 

<<Para você, o que é política?>>

 

No meu conceito – isso é bastante importante para a filosofia – política tem a ver com o ato de se importar com a sociedade onde se encontramos e o que convivemos. Não adianta achar que somos individuais ao ponto e viver sozinhos, somos, ao contrário que muitos pensam, animais sociais, como bem lembrou Aristóteles. Pois, o filósofo argumenta, que somos racionais e por sermos animais racionais, somos gregários. A própria convivência tem a ver com o ato político. Isso se podia ver na Grécia no tempo de Aristóteles onde quem era ativo chamavam de <<´polites>> e que não, chamavam de <<idiotes>>. Ou seja, um <<idiota útil>> tem a ver com aquele que não se importa o que acontece, uma pessoa egoísta que não tem sua própria opinião.

A maioria das pessoas daqui – por causa da nossa cultura – tem um grande problema: primeiro, confundem análises com fatos. Com a morte da rainha britânica Elizabeth II, fiz uma análise que toda essa comoção brasileira para com a morte dela tem a ver com nossa cultura medievalista dentro da vontade de ser império ainda. Não vamos ser ingênuos, tudo foi feito para a destruição dos nossos marcos históricos e o desmonte de nossas figuras históricas. Que contém seus erros, mas, foram eles que construíram o Brasil junto com o povo, a população pobre e que se começou a criar um país. Não estou defendendo nenhuma posição, não estou querendo a volta da monarquia, é um fato.

Poderíamos dizer: ora, mas então, por que nos disseram que eles fizeram o Brasil ser colonizados? Há uma narrativa bastante difundida da guerra de classes onde há uma separação entre a elite e aqueles que trabalham, mas, no Brasil as coisas aconteceram bastante diferente. A elite que se fez aqui, eram famílias que foram mandadas para cá e não queriam vir, ou viriam e iriam embora. Nunca foram. Ou seja, nossa elite nunca teve a nobreza que deveriam ter com estudo, com os filhos que mandavam estudar ou nas universidades portuguesas ou com os monges daqui mesmo. Como se era uma cultura medievalista escolástica, o homem brasileiro estudava para ter status e paa seguir nos negócios do pai. Não existia política. A política ficava a cargo a metrópoles (Portugal), onde os homens dos engenhos mandavam impostos e o produtos da sua produção.

Ora, era muito distante essa história de ficar se preocupando com assuntos da metrópole. E isso durou, mais ou menos, quando Dom João IV transforma o Brasil em capital do império onde houve uma criação da imprensa e uma transformação na educação (com universidades), e no final, o Brasil se transformou num país. Mesmo assim, nossa elite queria que Dom Pedro I não libertasse o Brasil, e fizesse o Brasil colônia para eles ganharem dinheiro. Nossa monarquia liberal nunca agradou nossa elite, porque eles queriam vender para a Europa e não perder o status de ser da realeza. Vamos ser justos: da ralé da realeza portuguesa.

No século dezenove, nossa elite era chamada em Paris de <<rastaquera>>, ou seja, gastam muito, mas, não tem nenhuma cultura. E não tem mesmo, a maioria dos surgentes, não tem nem um curso de administração. Porém, eu ache que as pessoas tem o dom e isso não tem nada a ver com essência e sim, facilidade de assimilação. Assimilar é aprender e entender aquilo que se é aprendido. Portanto, o importante não é ler milhares de livros (quantidade), mas, assimilar os poucos que ler (qualidade). Só assim, teremos uma discussão política de qualidade, pois, o mais importante não é a quantidade e sim, a qualidade daquilo. Nossa elite não tem essa qualidade, ela quer ganhar e não quer investir e promoveu o golpe militar de 1889 contra Dom Pedro II, pois, a Princesa Isabel tinha soltado os escravos e teriam eles que pagar mão de obra. Quem quer pagar mão de obra?

Com isso os positivistas foram importantes para criarem uma áurea de modernização e progresso e logo depois – como tudo no Brasil é descartado quando não serve mais para uma classe – a elite e o exército descartam os positivistas. Os marxistas vão ficar com a pauta social, os liberais a econômica e assim, o Brasil forjou um pensamento que foi eternizado <<religião e política não se discute>>. Política está em tudo e religião é uma escolha pessoal, subjetiva. 


quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Dom Pedro I e a obsessão da verdade

 



Por Amauri Nolasco Sanches Júnior



Existe um mantra que gosto de colocar que está em sânscrito (língua antiga hindu como temos o latim), que se chama OM SO HUM e se traduz “eu sou isto”. O que nos remete a realidade do mundo e nossa conexão com as coisas que interagem conosco – sendo boas ou más – porque existimos e percebemos essa existência. Como eu disse em alguns textos, não é que as coisas não existem – quando eles dizem ser uma ilusão – é que podemos julgar errado alguma coisa que não julgamos direito. Ou seja, a verdade não passa pelos nossos valores, a verdade é o que ela é, porque sua natureza vem com a realidade como ela é.

Uma das minhas teses – talvez, defenda em algum lugar – é que o brasileiro se fanatiza muito fácil, porque não tem figuras históricas relevantes. Todas foram desmontadas e jogadas no limbo – não que fossem santos – e não temos uma figura central onde poderíamos nos concentrar e se inspirar. Quem poderíamos dizer que tem essa identidade nacional como unidade? Sabemos que houve erros humanos com outros governantes no estrangeiro, mas, países estrangeiros não tendem a “demonizar” figuras da sua própria nação. Elizabeth I, por exemplo, teve um filho escondido – que algumas fontes dizem ser Shakespeare. Edward I taxava os escoceses ao extremo levando a revolta. Alexandre Magno (o grande), matou milhões e é tido como soberano. Até mesmo, Stálin é aclamado como herói, na Rússia, por ter livrado eles dos nazistas de Hitler. Por outro lado, todo mundo sabe o que ele fez nos gulags da vida e seus opositores (do próprio partido).

O que diríamos de Dom Pedro I do Brasil? Sabemos que tinha muitas amantes (até quem critica, talvez, não foi nenhum santinho), ele batia na rainha, ele fez trambique com a Bolívia e comprou o Acre com cavalos não puro sangue. E, sim, gritou nas margens do Ipiranga (o rio) colocando o Brasil como um país soberano entre os outros de ceroula. Com diarreia ou não – quanto Carlos Magno não deve ter cagado no seu próprio elmo? – Foi o homem que construiu um país e teve que brigar pelo país de origem dele, que, deixou seu filho de 6 anos, como regente. Foi burrice? Não sei. Mas, sem um exército constituído – mesmo com acordo do pai, Pedro teve que lutar contra os que ganhavam com a colonização – conseguiu exigir uma soberania ao Brasil e gostava do Brasil. Ficou aqui e deixou seu filho, que foi, a meu ver, o melhor soberano que tivemos. Ou não foi Dom Pedro II que trouxe tecnologias da época para o Brasil? Energia elétrica? E tentava reformar a educação do Brasil.

A questão é: eu não consegui fazer uma análise bastante fiel prol e contras? Eu não demonizei e nem glorifiquei Dom Pedro I, eu analisei como se deve ser analisado e tem mais, colocado em seu devido lugar na história brasileira. Porque, queiramos ou não, somos uma nação graças a atitude dele de ter enfrentado as forças que ainda queriam a colonização. Porque, se houvesse mesmo um acordo, então, haveria batalhas como houve? Será que Dom João IV não iria deixar bem claro ao exército português disso? claro, pode ter sido isso mesmo e, deixou o “pau come”, porque no fundo, não queria perder um país como o Brasil. Isso pode ter acontecido, porém, é bastante estranho que o pai de Pedro tenha deixado lutas acontecerem e ter morrido tantas pessoas para assegurar a liberdade do Brasil.

Há uma questão levantada nesse texto que eu quero ir mais a fundo – mesmo que muitos achem que não sou filósofo – que é questão da verdade e da liberdade. Pois, eu estou no Brasil e aqui que eu devo analisar tanto a liberdade, quanto a verdade. Porque, graças a duas correntes, somos uma nação e temos, mais ou menos, uma cultura. A verdade (veritas) veio da cultura católica escolástica e a liberdade (liberté) veio do iluminismo com um viés – no final do século dezenove – com o positivismo de Auguste Comte. A verdade – dentro da filosofia – começa com a questão socrática (de Sócrates) lá na antiguidade como uma questão religiosa na época: <<conheça a ti mesmo, conhecera o universo e os deuses>>. Ou seja, conhecer a si mesmo sempre compota a questão da existência e o porquê existe algo e não o nada (nada aqui seria o vazio mesmo). E, na patrística, Santo Agostinho vai traçar o mesmo panorama filosófico, a verdade só é alcançada num autoexame de si mesmo. Ou, se pecamos, pecamos porque desconhecemos o bem e nos moldamos diante o mundo e a vida social.

Já Santo Tomas de Aquino – que foi importante na escolástica – concorda com Aristóteles, pois, toda a verdade só é conhecida, coma ciência. Pois, a inteligência do ser humano só conhece seu esplendor através da verdade. Portanto, o homem só pode constatar sua inteligência se for pela capacidade de procurar a verdade. Por exemplo, uma flor existe porque eu sei que flores existem e estou vendo uma (se tivesse em um jardim), pois, se eu sei, é porque existem evidências. Aqui, sendo a verdade buscada, sempre achamos que sabendo de certas verdades, nos tornamos mais inteligentes. Mas, calma ai: Aristóteles, certamente, não disse que um cavalo era um cavalo porque eu vejo um cavalo – pois, os gregos no tempo dele, achavam que tudo eram seres – mas, existia uma substancia (ousia) cavalo. Para nossa cultura, saber que Dom Pedro I ter dado o grito da independência é ser mais inteligente, pois, se acha que só porque se sabe isso, se é inteligente.

Por outro lado, tem outra questão: se Dom Pedro I fez tudo isso, sua essência (substância) era essa. Ou seja, a construção da nossa cultura foi em cima desse pensamento, pois, tudo contém uma substância. Até mesmo o caráter (ETHOS) onde existe uma cronologia dentro da capacidade de escolhas que fazemos e temos, sendo assim, a natureza dos seres são sua real verdade. Por isso <<todo homem é igual>>, que <<se ele faz com a mãe, vai fazer comigo>>, ou <<minissaia é coisa de vagabunda>> etc. Sempre existe uma certa essência dentro de todo mundo – o homem tem a substância de serem estupradores, se ele fizer isso com uma pessoa vai fazer com todas, todas as mulheres que usam certas roupas são promiscuas. Porque se sabe da verdade e se sabe que aquela é a essência. Daí o contrário dos ditos <<cristãos>>, contra as verdades relativas. Porque as verdades são escolhas e para eles, algumas escolhas têm a ver com demônios.

Daí chegamos na liberdade. Muitos seres humanos são avessos a liberdade porque adoram colocar a culpa no outro dos próprios erros. O que temos que entender aqui é, que se a verdade é uma questão de generalização de um conceito – pelo menos aqui no Brasil – a liberdade é bastante iluminista e tem a ver com a ciência e com as filosofias progressistas e liberais (se queira ou não). Por isso mesmo, ser conservador aqui no Brasil deveria ser de um liberalismo-progressista. Até mesmo os impérios foram liberais, de certa forma. Mas, grosso modo, o liberalismo não é só econômico ou o que a esquerda adora jogar – nem mesmo tem a ver com a Escola de Chicago – se liberal tem a ver com pautas sociais e morais também. Na tradição mundial – até as pautas norte-americana – o liberalismo veio com a reforma protestante e nada tem a ver com o protestantismo brasileiro. Aliás, o conservadorismo brasileiro é católico – não existe conservador protestante e sim, tradicionalista.

Se nos gregos antigos liberdade seria autonomia, hoje – desde o começo da era moderna – liberdade depende do individualismo e da felicidade de cada sem ferir a liberdade do outro. Então, a liberdade moderna tem a ver com uma individualidade autônoma e que tem a ver com a moral social dentro da ética dos próprios valores. As leis, por exemplo, nascem de necessidades sociais de demandas socioeducativas. Se concordamos ou não, depende de quem elegemos no legislativo. E tem outra coisa, já repararam que todos os hinos têm liberdade? Aqui liberdade tem a ver com progresso. A bandeira – que tem a frase inspirada em Comte <<O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim>> e que se nega a importância da filosofia – tem o <<ordem e progresso>> como base de uma filosofia construída na liberdade.

Ordem vem do latim <<ordo>> que quer dizer colocação. O conceito de ordem – dentro da filosofia – seria colocar as coisas em seu devido lugar, ou seja, colocar algo segundo onde deve estar aquilo. Isso não é o contrário de mudança, mas, isso é a questão de se ter um caminho determinado aonde se quer chegar. Ter um equilíbrio sobre aquilo. Ordem e progresso não se anulam, pois, se tem que ter uma ordenação para se chegar um fim. Segundo a filosofia da história, o termo vem do latim progressus e quer dizer <<um avanço>> é a ideia que o mundo pode se tornar melhor no que diz respeito a ciência, tecnologia, modernização, liberdade, democracia, qualidade de vida etc. Progresso sempre esteve associado a ideia ocidental da mudança monótona de uma tendencia em uma linha reta. Por isso mesmo <<ordem e progresso>>, havia um plano de modernização do Brasil que nunca se concretizou graças a outros interesses, questões muito mais pessoais.

Devemos comemorar a independência do Brasil?




domingo, 4 de setembro de 2022

Bolsonaro e Lula – A mídia brasileira idiotizando a grande massa






Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Existem canais no YouTube, que não dão sua opinião ou demonstram seriamente e escolhem de uma forma irônica, algum assunto que avalia como um problema para uma sociedade. Essa forma de crítica – que muitas pessoas colocam como acidas – não é novidade e pode atrair bastante público, por causa da forma como trata o assunto. Esse é a questão do canal Felca (linkado aqui) e a forma irônica que trata, não só as questões da mídia num modo geral, mas, também, trata outros canais que para ele, não trazem o conhecimento e só tratam as questões de uma forma tosca e sem noção nenhuma da realidade. Em um tom de brincadeira e muito sarcasmo – típico de filósofos cínicos como Diógenes de Sinope – analisa até mesmo, as falas sem sentido nenhum dos apresentadores (alguns com atitudes insanas), e do público, que batem palmas para as insanidades e desgraças alheias.

Ora, parece que a mídia brasileira, tem uma preferência para casos de desgraça humana como modo de colocar medo na população, como se isso deixasse o povo mais dócil. Chegamos ao comportamento de manada, que o filósofo Nietzsche dizia ser, pessoas que fazem o que todo mundo faz e reage como todo mundo reage. Claro, isso tem a ver com a necessidade de ser aceito por todo mundo, mesmo sabendo que aquilo não é verdade ou que aquilo não vai trazer conhecimento nenhum. A diferenciação de um ato pode determinar que você é e como você reage a realidade onde se encontra, pois, você é único no universo e não pode achar que ser igual o outro seja importante. Ou seja, ter personalidade, porque tudo que o ESTADO (vide governo), mais odeia é o conhecimento e uma personalidade forte.

A questão é: será a grande maioria milhões de <<cyphers>> iguais do filme Matrix? O personagem Cypher do primeiro filme, sabe o que é o software Matrix e como remonta uma realidade que não existe mais. Porem, as maquinas tem que ser alimentadas e devem dar o corpo humano um motivo para viver. Tentativas anteriores não deram certo porque era um mundo muito perfeito, mas, deveria ter problemas e que não deveria ser tão perfeito. Cypher, talvez, achasse chato receber ordens de Morpheus, ou achava horrível a gororoba que ele comia sendo não ter nenhuma coisa gostosa. Dentro da Matrix, tudo era uma ilusão – são sensações estimuladas via neural por dispositivos de sonhos – mas era melhor do que aquilo. Mas, onde viver em ilusão pode ser tão bom?

Nas filosofias yogis ou budistas, não existe a mentira e sim, ilusão. Mas, não é que as pessoas estão na ilusão que existem uma outra realidade ou que os objetos não existem, é que elas estão julgando através de um ego falso. O problema não é o ego-personalidade (aquele que é), mas o ego dentro de uma realidade que só foi construída através de ilusões de falsos julgamentos. As pessoas e os objetos são o que são e não vai mudar porque você está nessa ilusão, pode mudar porque há uma necessidade de mudança. Mas, não é que não exista a mudança ou ela não é importante, o que eles estão dizendo, é quando damos muito mais importância com a verdade do objeto do que achamos dele. O achismo sempre vai ser uma mera opinião. Dai vem a liberdade e a verdade.

Para os gregos – de um modo geral – o conceito de liberdade (eletheia) tinha mais a ver com a autonomia. Na era moderna, a questão de liberdade seria muito além da autonomia, porque tem a ver com quem somos e o porquê eu teria que fazer certas escolhas. Se na antiguidade os filósofos buscavam a verdade (alitheia), para os filósofos modernos – mesmo que também buscamos, de certo modo, a verdade – a verdade e a liberdade têm uma outra conotação. Chegou ate os contratualistas – que acreditam em um contrato social – que acreditavam que o ser humano nasceu em sociedade e tem que cumprir esse contrato. Mas, quem disse que queremos esse contrato? Quem disse que necessitamos desse contrato? Daí chegamos na ideia de que o sistema se comporta como um ser morfológico (que muda de forma conforme a necessidade), e as necessidades que tem naquele momento.

Há todo uma questão de idiotizar a sociedade desde sempre, mas, no Brasil isso é muito explicito. E isso – querendo ou não – passa pela mídia ensinando jovens e pessoas alienadas em serem idiotizados e acharem que o importante não são as escolhas, mas, o consumo puro e simples. Por que eu acharia legal uma pessoa que vai todo final de semana em uma balada? Por que eu acharia legal, pessoas irem em uma feira de tecnologia só para encontra seus amiguinhos? Pagamos um alto preço de se ter uma personalidade – por isso mesmo, filósofos são solitários – porque a grande maioria gosta de frases feitas, frases que constrói ou dizem reforços para suas próprias crenças. Mas, cuidado, há uma importância dentro das crenças que fazem o ser humano buscar cada vez mais, a verdade. Sem o fator do fanatismo, as crenças podem dar um reforço moral dentro de certos assuntos.

Daí chegamos no vídeo do Visão Libertaria, a questão da liberdade – além da verdade – tem a ver com a felicidade (Eudaimonia). Será que o sistema não usa meios midiáticos para dominar? 

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Vi a aula da Marilena Chauí e não fiquei marxista

  




Por Amauri Nolasco Sanches Júnior



Quando você estuda filosofia aprende duas coisas: que o modo filosófico faz com que você pesquise, a filosofia faz seu senso crítico aumentar. Outra coisa, são conceitos que gostamos e estudamos. Platão na Grécia clássica, colocou como ideia (idea), que seria as formas dos seres – que os gregos colocavam como tudo que existe – e que seria uma cópia de formas verdadeiras que estão no mundo das ideias. A questão do conceito é algo recente, mas, não muito importante. O filósofo Gilles Deleuze dizia, que o filósofo gosta de conceitos e esses conceitos são os nomes que damos as coisas que dividem a realidade que nos cercam. Porém, a meu ver, as ideias platônicas não são diferentes do que os conceitos, pois, a questão da ideia – segundo o filósofo francês Paul Riceur – veio do termo popular (na época do filósofo grego) idea que quer dizer contorno. Ou seja, toda a ideia é um contorno daquilo que as pessoas pensam ou constroem como uma referência da realidade onde vive.

Na onde entra a ideologia? A questão da ideologia seria a mesma questão de alguns conceitos da filosofia, há vários conceitos desde quando ela foi construída como ciência. Sim, a própria Chauí mostra que, ideologia é uma espécie de “ciência das ideias” e foi construída pelo pensador e filósofo Destutt de Tracy, no séc. XIX. O conceito de ideologia muda quando Napoleão Bonaparte chama De Tracy e seus seguidores de ideólogos, assim, colocando a ideologia como uma forma de distorcer a realidade. Anteriormente, tanto na era clássica, como na idade média, ideologia eram pensamentos e ideias de uma sociedade toda. Portanto, a ideologia seria uma ciência dentro de um estudo das ideias de uma sociedade inteira.

Ou seja, há uma concepção positiva de ideologia e outra negativa. A positiva é, em um primeiro momento, a ideologia ser um conjunto de ideias que pretende explicar a realidade e as transformações sociais. Assim, nesse sentido, seria um sinônimo de doutrina ou ideário em geram e tem a função de orientar a ação social de indivíduos e de grupos. No Brasil, a ideologia tem um caráter descritivo (ela pode explicar como as coisas são de fato) e é normativa (como deveria ser). O uso dela levou a sensação de positividade de ideologia como qualquer visão de mundo ou algum pensamento filosófico. Por isso, a ideologia vai abranger toda uma esfera cultural, incluindo a ciência, e pode ser vista como um intermediário necessários entre os indivíduos.

A questão ideológica como questão indumentaria de conceitos, não está livre de se contaminar de termos ou processos que não existem. Ora, se a ideologia é um processo de desenvolvimento de um entendimento social, esse entendimento, pode ser um processo de escolhas dessa mesma sociedade. A questão é que a esquerda marxista esqueceu da forma positiva de estudo da sociedade e num modo crítico – que é valido quando essa crítica não se fanatiza – tomou como base, refutando o liberalismo (inventaram até mesmo um neoliberalismo), que só o capitalismo criou a ideologia.

Para Karl Marx, há um modo negativo da ideologia, porque ela é construída em cima de distorções de pensamento como manipulação de certas coisas dentro da luta entre classes. Tudo começa no livro que Marx escreve com seu amigo Engels, onde criticam algumas posturas de alguns filósofos alemães por fazerem a separação a produção de ideias da produção de condições sociais. Ou seja, os componentes ideológicos de superestruturas seriam formados por julgamentos necessariamente enganadores através da distorção da compreensão da realidade social. Grosso modo, há uma linguagem e um discurso que faz as pessoas se conformarem com a vida que levam e o que os governos fazem como manipulação. Logico, que isso tem a ver com os interesses burgueses de manter a classe trabalhadora – que eles chamam de proletariado – sempre em produção e onde estão. Ai que esta o problema, desde quando essa teoria se materializou, o mundo teve um governo socialista e se mostrou muito arquem do que Marx criticava dentro do capitalismo da época.



Daí está o problema da aula de ideologia da professora Marilena Chauí. Como gosto de filosofia e não de filósofos, posso analisar muito à vontade. Primeiro, a questão da ideologia dela passa muito só na visão marxista, e isso, bem ou mal, não dará uma visão a mais e ficando o problema. Mesmo o porquê, ideologia – num modo geral – tem a ver muito dentro do pensamento social. E o que ela trouxe, foi uma só visão da questão, uma questão que também foi explorada não só na URSS, mas, nos governos de esquerda incluindo do PT (Partido dos Trabalhadores) onde ela é filiada e cofundadora. Será a lista de jornalistas que criticavam o governo petista, não seria o mesmo ódio que ela disse no caso da ideologia capitalista? Stálin matar opositores para o bem dele e do partido soviético (que era comunista), era esse mesmo ódio e tinha o mesmo interesse? Temos que se opor ao Bolsonaro com dignidade e verdade, não venham com mentiras para esconder inverdades e coisas que sabemos ser argumentos que não cabem mais. Marx foi importante em sua época. A URSS provou que o poder corrompe e que o ESTADO inchado não suporta nada, nem mesmo, uma ação efetiva dentro de uma iniciativa válida.

A questão é: qual a serventia do ESTADO além de sugar tudo que temos pelo suposto bem de uma suposta felicidade? Se Marx tiver certo – de um modo ou de outro, filósofos estão – as ideologias discursam sempre quando há interesses. Isso desde quando o ser humano inventou os governos e o ESTADO como um todo, a escravização ideológica sempre foi uma amarra dentro da liberdade. Pois bem, se há um governo que quer obrigar a consumimos o que acha ser supérfluo, isso não seria interesse de ideias que não concordo? Ou que grande parcela não concorda? são questões entre aberto e que há hiatos dentro de ideias que as pessoas não sabem escolher, alguém tem que escolher por elas, e aí, tem a questão da práxis. Ou, se preferir, a tekné.

Só um parêntese, a Chauí não explicou que o marxismo – graças a frase de Marx dizendo que filósofos teriam que mudar o mundo – não gosta da intelectualidade e nem de intelectuais. Por isso mesmo, a questão marxista de que a intelectualidade tem a ver com a prática, tem um viés bastante aristotélico em dizer que a ética só pode ser praticada. Mas, se não há teoria, como haveria a prática? Para temos uma efetividade na construção de um prédio, por exemplo, se não tivermos uma planta e todo um estudo do terreno, o prédio pode cair e matar pessoas. O que se tem que entender dentro da questão de Aristóteles é uma refutação de Platão quanto a questão do mundo das ideias e a metafisica das formas.

Acontece, se queira ou não, estamos na era da técnica. Junto com a técnica se teve o avanço das tecnologias e essas tecnologias – segundo os marxistas – se começou ideologizando o mundo e o modo que as pessoas pensam. Manipulando e colocando a grande maioria em alienação – como se os governos socialistas não fizessem isso – colocando acima do bem da humanidade, em interesses. A praxiologia – ciência que estuda a razão dos atos ou ação – seria uma metodologia que tenta explicar a arquitetura logica de uma ação humana. É comum relacionar com a obra do economista Ludwig von Mises e seus seguidores da Escola Austríaca. Segundo Mises, podemos dizer que a praxiologia é o estudo dos fatores que levam um indivíduo a atingirem seus propósitos.

O que consiste? A vontade. Se eu quero escolher comer no Macdonald, quem vai dizer que é supérfluo? O ESTADO não tem que dizer nada sobre a vida das pessoas, ele deve fazer com que a vida em sociedade tem que andar, mais ou menos, com liberdade. E liberdade consiste em ter ou não vontade. Imagine uma internet aqui em São Paulo com a Telesp? Uma linha de telefone era mais cara que uma casa, que aliás, quem podia comprar até alugava. O fato é que, a ética aristotélica, tem muito a ver com a vontade e com aquilo que você aprende e se os marxistas não entenderem isso, vai ficar difícil.