Por Amauri Nolasco Sanches
Júnior
Perguntaram: “Amauri, por que a maioria das pessoas comdeficiência não vão votar na candidata que tem uma vice cadeirante?”. Primeiro,
a deficiência não é uma construção, ou seja, não somos a deficiência e sim,
somos o que construímos nosso caráter dentro dos valores que somos criados. Antes
da deficiência (uma limitação) somos pessoas, escolhas religiosas e ideológicas
e, antes de tudo, pessoa. Como todo mundo, somos construções de morais e éticas
sociais. Porque, pensamentos políticos – chegando ao termo grego “politikon” que
quer dizer “cidadão” – são pensamentos sociais, e como nascemos dentro da
sociedade, temos que nos engajar politicamente.
Aí chegamos no cerne do problema: a consciência política. Desde
o iluminismo no século 17 e 18, ter consciência era se esclarecer sobre um
assunto. Ou seja, ter consciência é saber e refletir sobre esse assunto, é,
pelo menos, ter uma base sobre as questões que nos envolve e envolve a política.
Política vai muito além de políticos, política tem a ver com o pão que
compramos, a balada que todo jovem gosta de ir (alguns PCDs também gostam) ou as
órteses e próteses que usamos (por causa do seu preço). O tratamento que
devemos ter (reabilitação) e, por que não, a educação e o trabalho.
Pessoas com deficiência são pessoas das classes operarias,
pois, sendo liberais, socialistas ou progressistas – democratas sociais – somos
uma classe e devemos nos posicionar assim. Acontece que, existem diferenças significativas
entre escolher lados, porque, afinal das contas, nenhum sistema atendera
interesses dos trabalhadores. Operários de direita não deveriam existir. Porque
o sistema nos deixara sempre a margem – e por isso somos marginalizados –
dentro de um espectro social. A questão tem que transcender a questão ideológica,
e sim, colocar o indivíduo enquanto ser humano dentro das questões sociais e políticas.
O problema não é votar na Simone Tebet (MDB) por causa da
sua vice Mara Gabrilli (PSDB) – que tem uma deficiência (tetraplégica) – mas, o
porquê temos que votar nela. A questão passa pelo crive ideológico em asseverar
a discussão da inclusão sempre colocando a pessoa no primeiro lugar, mesmo o
porquê, a deficiência não nos definem. Pessoa tem a ver com personalidade,
aliás, as duas palavras têm a mesma origem etimológica latina do “persona”. A “persona”
eram máscaras usadas durante dramatização dos teatros e assim, a construção de
um personagem (antigamente, mulheres não podiam encenar).
Ter uma personalidade é ter uma seletividade daquilo que você
é e aquilo a sociedade exige. Eu não quero, por exemplo, acreditar na mesma religião
que o outro, mas, tenho que respeitar a decisão de crença do outro. Não é por
causa da minha deficiência que, por questões de vontade e credibilidade, ser
obrigado a acreditar naquilo. Ter uma crença é algo pessoal (que volta na questão
da personalidade). Além disso, ter uma personalidade é ser seletivo naquilo que
as pessoas gostam (cultura de massa). Eu não gosto e não vou ver por que a
maioria vê.
A pergunta deveria ser: por que as órteses e próteses são caras?
Por que as pessoas com deficiência não têm educação e não tem emprego? Por que a
lei de quotas não foi para universidades? Para pensarmos politicamente, como
segmento legitimo, temos que pensar em prioridades. O que é melhor para TODAS
as pessoas com deficiência? ainda mais: o que seria melhor para TODOS os cidadãos
brasileiros?
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