quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Consciência política e consciência de classes

  




Por Amauri Nolasco Sanches Júnior

 

Perguntaram: “Amauri, por que a maioria das pessoas comdeficiência não vão votar na candidata que tem uma vice cadeirante?”. Primeiro, a deficiência não é uma construção, ou seja, não somos a deficiência e sim, somos o que construímos nosso caráter dentro dos valores que somos criados. Antes da deficiência (uma limitação) somos pessoas, escolhas religiosas e ideológicas e, antes de tudo, pessoa. Como todo mundo, somos construções de morais e éticas sociais. Porque, pensamentos políticos – chegando ao termo grego “politikon” que quer dizer “cidadão” – são pensamentos sociais, e como nascemos dentro da sociedade, temos que nos engajar politicamente.

Aí chegamos no cerne do problema: a consciência política. Desde o iluminismo no século 17 e 18, ter consciência era se esclarecer sobre um assunto. Ou seja, ter consciência é saber e refletir sobre esse assunto, é, pelo menos, ter uma base sobre as questões que nos envolve e envolve a política. Política vai muito além de políticos, política tem a ver com o pão que compramos, a balada que todo jovem gosta de ir (alguns PCDs também gostam) ou as órteses e próteses que usamos (por causa do seu preço). O tratamento que devemos ter (reabilitação) e, por que não, a educação e o trabalho.

Pessoas com deficiência são pessoas das classes operarias, pois, sendo liberais, socialistas ou progressistas – democratas sociais – somos uma classe e devemos nos posicionar assim. Acontece que, existem diferenças significativas entre escolher lados, porque, afinal das contas, nenhum sistema atendera interesses dos trabalhadores. Operários de direita não deveriam existir. Porque o sistema nos deixara sempre a margem – e por isso somos marginalizados – dentro de um espectro social. A questão tem que transcender a questão ideológica, e sim, colocar o indivíduo enquanto ser humano dentro das questões sociais e políticas.

O problema não é votar na Simone Tebet (MDB) por causa da sua vice Mara Gabrilli (PSDB) – que tem uma deficiência (tetraplégica) – mas, o porquê temos que votar nela. A questão passa pelo crive ideológico em asseverar a discussão da inclusão sempre colocando a pessoa no primeiro lugar, mesmo o porquê, a deficiência não nos definem. Pessoa tem a ver com personalidade, aliás, as duas palavras têm a mesma origem etimológica latina do “persona”. A “persona” eram máscaras usadas durante dramatização dos teatros e assim, a construção de um personagem (antigamente, mulheres não podiam encenar).

Ter uma personalidade é ter uma seletividade daquilo que você é e aquilo a sociedade exige. Eu não quero, por exemplo, acreditar na mesma religião que o outro, mas, tenho que respeitar a decisão de crença do outro. Não é por causa da minha deficiência que, por questões de vontade e credibilidade, ser obrigado a acreditar naquilo. Ter uma crença é algo pessoal (que volta na questão da personalidade). Além disso, ter uma personalidade é ser seletivo naquilo que as pessoas gostam (cultura de massa). Eu não gosto e não vou ver por que a maioria vê.

A pergunta deveria ser: por que as órteses e próteses são caras? Por que as pessoas com deficiência não têm educação e não tem emprego? Por que a lei de quotas não foi para universidades? Para pensarmos politicamente, como segmento legitimo, temos que pensar em prioridades. O que é melhor para TODAS as pessoas com deficiência? ainda mais: o que seria melhor para TODOS os cidadãos brasileiros? 

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