Por Amauri Nolasco Sanches Júnior
Existe um mantra que gosto de colocar que está em sânscrito (língua antiga hindu como temos o latim), que se chama OM SO HUM e se traduz “eu sou isto”. O que nos remete a realidade do mundo e nossa conexão com as coisas que interagem conosco – sendo boas ou más – porque existimos e percebemos essa existência. Como eu disse em alguns textos, não é que as coisas não existem – quando eles dizem ser uma ilusão – é que podemos julgar errado alguma coisa que não julgamos direito. Ou seja, a verdade não passa pelos nossos valores, a verdade é o que ela é, porque sua natureza vem com a realidade como ela é.
Uma das minhas teses – talvez, defenda em algum lugar – é que o brasileiro se fanatiza muito fácil, porque não tem figuras históricas relevantes. Todas foram desmontadas e jogadas no limbo – não que fossem santos – e não temos uma figura central onde poderíamos nos concentrar e se inspirar. Quem poderíamos dizer que tem essa identidade nacional como unidade? Sabemos que houve erros humanos com outros governantes no estrangeiro, mas, países estrangeiros não tendem a “demonizar” figuras da sua própria nação. Elizabeth I, por exemplo, teve um filho escondido – que algumas fontes dizem ser Shakespeare. Edward I taxava os escoceses ao extremo levando a revolta. Alexandre Magno (o grande), matou milhões e é tido como soberano. Até mesmo, Stálin é aclamado como herói, na Rússia, por ter livrado eles dos nazistas de Hitler. Por outro lado, todo mundo sabe o que ele fez nos gulags da vida e seus opositores (do próprio partido).
O que diríamos de Dom Pedro I do Brasil? Sabemos que tinha muitas amantes (até quem critica, talvez, não foi nenhum santinho), ele batia na rainha, ele fez trambique com a Bolívia e comprou o Acre com cavalos não puro sangue. E, sim, gritou nas margens do Ipiranga (o rio) colocando o Brasil como um país soberano entre os outros de ceroula. Com diarreia ou não – quanto Carlos Magno não deve ter cagado no seu próprio elmo? – Foi o homem que construiu um país e teve que brigar pelo país de origem dele, que, deixou seu filho de 6 anos, como regente. Foi burrice? Não sei. Mas, sem um exército constituído – mesmo com acordo do pai, Pedro teve que lutar contra os que ganhavam com a colonização – conseguiu exigir uma soberania ao Brasil e gostava do Brasil. Ficou aqui e deixou seu filho, que foi, a meu ver, o melhor soberano que tivemos. Ou não foi Dom Pedro II que trouxe tecnologias da época para o Brasil? Energia elétrica? E tentava reformar a educação do Brasil.
A questão é: eu não consegui fazer uma análise bastante fiel prol e contras? Eu não demonizei e nem glorifiquei Dom Pedro I, eu analisei como se deve ser analisado e tem mais, colocado em seu devido lugar na história brasileira. Porque, queiramos ou não, somos uma nação graças a atitude dele de ter enfrentado as forças que ainda queriam a colonização. Porque, se houvesse mesmo um acordo, então, haveria batalhas como houve? Será que Dom João IV não iria deixar bem claro ao exército português disso? claro, pode ter sido isso mesmo e, deixou o “pau come”, porque no fundo, não queria perder um país como o Brasil. Isso pode ter acontecido, porém, é bastante estranho que o pai de Pedro tenha deixado lutas acontecerem e ter morrido tantas pessoas para assegurar a liberdade do Brasil.
Há uma questão levantada nesse texto que eu quero ir mais a fundo – mesmo que muitos achem que não sou filósofo – que é questão da verdade e da liberdade. Pois, eu estou no Brasil e aqui que eu devo analisar tanto a liberdade, quanto a verdade. Porque, graças a duas correntes, somos uma nação e temos, mais ou menos, uma cultura. A verdade (veritas) veio da cultura católica escolástica e a liberdade (liberté) veio do iluminismo com um viés – no final do século dezenove – com o positivismo de Auguste Comte. A verdade – dentro da filosofia – começa com a questão socrática (de Sócrates) lá na antiguidade como uma questão religiosa na época: <<conheça a ti mesmo, conhecera o universo e os deuses>>. Ou seja, conhecer a si mesmo sempre compota a questão da existência e o porquê existe algo e não o nada (nada aqui seria o vazio mesmo). E, na patrística, Santo Agostinho vai traçar o mesmo panorama filosófico, a verdade só é alcançada num autoexame de si mesmo. Ou, se pecamos, pecamos porque desconhecemos o bem e nos moldamos diante o mundo e a vida social.
Já Santo Tomas de Aquino – que foi importante na escolástica – concorda com Aristóteles, pois, toda a verdade só é conhecida, coma ciência. Pois, a inteligência do ser humano só conhece seu esplendor através da verdade. Portanto, o homem só pode constatar sua inteligência se for pela capacidade de procurar a verdade. Por exemplo, uma flor existe porque eu sei que flores existem e estou vendo uma (se tivesse em um jardim), pois, se eu sei, é porque existem evidências. Aqui, sendo a verdade buscada, sempre achamos que sabendo de certas verdades, nos tornamos mais inteligentes. Mas, calma ai: Aristóteles, certamente, não disse que um cavalo era um cavalo porque eu vejo um cavalo – pois, os gregos no tempo dele, achavam que tudo eram seres – mas, existia uma substancia (ousia) cavalo. Para nossa cultura, saber que Dom Pedro I ter dado o grito da independência é ser mais inteligente, pois, se acha que só porque se sabe isso, se é inteligente.
Por outro lado, tem outra questão: se Dom Pedro I fez tudo isso, sua essência (substância) era essa. Ou seja, a construção da nossa cultura foi em cima desse pensamento, pois, tudo contém uma substância. Até mesmo o caráter (ETHOS) onde existe uma cronologia dentro da capacidade de escolhas que fazemos e temos, sendo assim, a natureza dos seres são sua real verdade. Por isso <<todo homem é igual>>, que <<se ele faz com a mãe, vai fazer comigo>>, ou <<minissaia é coisa de vagabunda>> etc. Sempre existe uma certa essência dentro de todo mundo – o homem tem a substância de serem estupradores, se ele fizer isso com uma pessoa vai fazer com todas, todas as mulheres que usam certas roupas são promiscuas. Porque se sabe da verdade e se sabe que aquela é a essência. Daí o contrário dos ditos <<cristãos>>, contra as verdades relativas. Porque as verdades são escolhas e para eles, algumas escolhas têm a ver com demônios.
Daí chegamos na liberdade. Muitos seres humanos são avessos a liberdade porque adoram colocar a culpa no outro dos próprios erros. O que temos que entender aqui é, que se a verdade é uma questão de generalização de um conceito – pelo menos aqui no Brasil – a liberdade é bastante iluminista e tem a ver com a ciência e com as filosofias progressistas e liberais (se queira ou não). Por isso mesmo, ser conservador aqui no Brasil deveria ser de um liberalismo-progressista. Até mesmo os impérios foram liberais, de certa forma. Mas, grosso modo, o liberalismo não é só econômico ou o que a esquerda adora jogar – nem mesmo tem a ver com a Escola de Chicago – se liberal tem a ver com pautas sociais e morais também. Na tradição mundial – até as pautas norte-americana – o liberalismo veio com a reforma protestante e nada tem a ver com o protestantismo brasileiro. Aliás, o conservadorismo brasileiro é católico – não existe conservador protestante e sim, tradicionalista.
Se nos gregos antigos liberdade seria autonomia, hoje – desde o começo da era moderna – liberdade depende do individualismo e da felicidade de cada sem ferir a liberdade do outro. Então, a liberdade moderna tem a ver com uma individualidade autônoma e que tem a ver com a moral social dentro da ética dos próprios valores. As leis, por exemplo, nascem de necessidades sociais de demandas socioeducativas. Se concordamos ou não, depende de quem elegemos no legislativo. E tem outra coisa, já repararam que todos os hinos têm liberdade? Aqui liberdade tem a ver com progresso. A bandeira – que tem a frase inspirada em Comte <<O amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim>> e que se nega a importância da filosofia – tem o <<ordem e progresso>> como base de uma filosofia construída na liberdade.
Ordem vem do latim <<ordo>> que quer dizer colocação. O conceito de ordem – dentro da filosofia – seria colocar as coisas em seu devido lugar, ou seja, colocar algo segundo onde deve estar aquilo. Isso não é o contrário de mudança, mas, isso é a questão de se ter um caminho determinado aonde se quer chegar. Ter um equilíbrio sobre aquilo. Ordem e progresso não se anulam, pois, se tem que ter uma ordenação para se chegar um fim. Segundo a filosofia da história, o termo vem do latim progressus e quer dizer <<um avanço>> é a ideia que o mundo pode se tornar melhor no que diz respeito a ciência, tecnologia, modernização, liberdade, democracia, qualidade de vida etc. Progresso sempre esteve associado a ideia ocidental da mudança monótona de uma tendencia em uma linha reta. Por isso mesmo <<ordem e progresso>>, havia um plano de modernização do Brasil que nunca se concretizou graças a outros interesses, questões muito mais pessoais.
Devemos comemorar a independência do Brasil?
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