terça-feira, 29 de agosto de 2023

A decadência da filosofia tupiniquim de Tiburi

 



“A vitória de uma facção política é ordinariamente o princípio da sua decadência pelos abusos que a acompanham.” — Marquês de Maricá

Desde seu princípio, a filosofia ocidental – de algum modo, a filosofia oriental também – tem buscado a verdade diante da realidade e esse real (como conhecimento da certeza) iria nos dar a felicidade. A felicidade hoje do bem-estar não pode ser confundida com a felicidade antiga no Eudaimonia, pois, a felicidade do Eudaimonia (o demônio bom ou espirito) é a vida que é boa de ser vivida. Esse é o problema, a questão da felicidade enquanto bem-estar, vem ganhando destaque não só nas mídias, como nos “instagrans da vida”, como imposição da aparência estética que moças cada vez mais novas, passam pore cirurgias o que chamam de defeito. Voltamos a questão grega – lá na região Hellas – onde o belo era muito valorizado e o racional muito pouco.

Nenhuma sociedade foi e acabou sendo racional ao ponto de serem todos seres racionais e fazendo escolhas analisando a cada momento – existem situações que não existe e não pode ser assim – e nessa análise escolher o melhor. A Àgora – praça que os gregos discutiam os problemas da polis – se discutia muito mais as festas que deveriam ou não acontecer, sendo que, os homens que discutiam não eram ignorantes. A meu ver, não era o problema dos sofistas que isso se dará na Grécia e sim, sempre o povo não gostava e não gosta, se se esforçar para melhorar e ter uma visão muito melhor da realidade que se encontra, mesmo que essa realidade seja política. Protágoras – um dos sofistas mais conhecidos da Grécia clássica – dizia que "O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são.".

Ou seja, o ser humano enquanto ser consciente daquilo que lhe rodeia como realidade, tem como base aquilo que existe (coisas que são) e aquilo que se faz  como conceitos ou não existem de fato (coisas que não são). Trazendo aquilo, talvez, que Descartes dois mil anos depois,  trouxe como o “eu sou”, a certeza daquilo que é enquanto “a medida de todas as coisas”, ou, a noção da realidade enquanto tal. Ora, se o ser humano tem a capacidade de perceber a realidade como um todo, por que ainda insiste em querer moldar realidades que não existem? Por que as ideologias nascem de uma necessidade – quase epidêmica em sociedades pós-modernas – de querer ter felicidade dependendo de outras pessoas enquanto modo de governar?

Se o ser humano é a “medida de todas as coisas” – enquanto consciência que percebe – ele pode perceber aquilo que lhe aprisiona e aquilo que te livra. Poderíamos colocar que o homem é um primata e enquanto tal, deve ter lideres para lhe dar rumos, mas, diferentes de nossos parentes biológicos, somos seres racionais e podemos mudar nossa realidade. Dai que as verdades não existem, pois, moldamos as verdades conforme aquilo que vimos todas as horas. Ai que mora o perigo: ideologias são moldadas dentro de realidades únicas e que nada tem a ver com aquilo que uma sociedade vive, muitas vezes. Quando se coloca o “TODO” tendemos sempre medir as realidades alheias como padrões e realidades como verdades subjetivas são únicas e pessoais.

A filosofa e escritora Marcia Tiburi é uma figura bastante enigmática dentro da filosofia acadêmica. Porque, quando eu conheci – nos cafés filosóficos da Rede Cultura lá em 2004 ou 2005 – ela falava muito de Nietzsche e como desenvolvia sua filosofia na luta contra a moral vigente. A chave virou quando Tiburi começa a atuar no movimento feminista de um modo muito mais efetivo, sendo – como qualquer movimento – que o movimento feminista brasileiro ter conceitos muito mais particulares. Ora, a meu ver, o movimento feminista como protagonista de direitos das mulheres é legitimo, o problema – para mim isso é em todas as militâncias – a contextualização única virar como uma coisa universal. Como “todo homem é igual”, “todo governo de direita é fascista”, “todo governo de esquerda é comunista”, etc, que coloca o “todo” como uma regra para situações particulares.

Em entrevista para o jornal Brasil de Fato, a filosofa disse:

“E aí fiz um lançamento desse livro em Maringá e recebemos ameaça de massacre lá, (por) pessoas do Movimento Brasil Livre (MBL), muito pouco criticado ultimamente, um movimento que tem como tática a agitação fascista. Também são (seus integrantes) especialistas em produzir criminalizações.”  (Tiburi, 2023)

 

Sabemos que o Movimento Brasil Livre (MBL) – sem defender o movimento – tem como ideologia o liberalismo, ora conservador, ora liberal no sentido da direita (bem restrito a moral abrasileirada como vimos no caso Artur do Val). Qual poderia ser a questão da professora Tiburi? O problema da indução da nossa cultura? Pois, faz algum tempo, que a Tiburi vem dizendo coisas estranhas e que nada tem a ver com uma filosofia de verdade e nem é a essência filosófica. Primeiro, que a ferramenta (digamos assim) que a filosofia nos apresenta é uma ferramenta de investigação seria e não uma arma para militantes. Aí entra minha máxima (ou meu pensamento), se é para ser igual todo mundo (a massa no geral), eu não fazia nem mesmo o ensino médio. O que significa isso? O estudo como tal, não pode ser classificado como só objeto de trabalho, mas também, de um exame muito mais detalhado da realidade como tal. Um acadêmico – usando a tradição platônica – teria o dever moral de fazer um exame detalhado do discurso político, religioso ou até filosófico, para ver se esse discurso não seria um embute e não passaria de uma moda. 

A filosofia é avessa a militância e moda, pois, quem discursa ou se parece como todo mundo, se perde na multidão. Voltamos a professora Tiburi e analisamos o que ela criou: o fascismo-liberal. Em uma analise muito mais detalhada – como manda a filosofia desde suas origens – vamos ver que o fascismo, desde seu idealizador Mussolini, nunca compactua no liberalismo. Isso deveria, de fato, fazer quem tem um estudo superior, fazer um exame histórico para saber que não existe nenhuma forma de colocar o liberalismo (seja moral ou econômico) como um modo de ditadura e repressão. Mesmo o porque, autores liberais iluministas criaram Estados laicos e criaram os direitos dos homens (a ideia do “bolsa família” é uma ideia de um liberal). A questão é o neoliberalismo que criou um liberalismo conservador onde duramente o mercado reprime muito mais a população e alguns dispositivos que o capitalismo neoliberal, consistem e foram usados (inicialmente) pelos fascistas e os nazifascistas. 

Em um exame mais elaborado, podemos afirmar – com o estudo que fizemos diante do fascismo italiano e o nazismo alemão – que quando Benito Mussolini (1883-1945), idealizou o fascismo, ele queria a volta de uma Itália romana aonde se poderia renascer a gloria de um império esquecido por muito tempo. Com isso – com ajuda de Adolf Hitler (1889-1945) que queria a pureza racial e o império de Oto II – fortalecer uma Itália devastada pela guerra e com a radio e o cinema (ainda não existia TV), uma máquina de propaganda foi criada. A corporação da propaganda – dos mesmos moldes nazifascistas – não quer dizer que algo seja nazifascista, e sim, é o que as pessoas que acreditam enxergam. A questão aqui – graças as suas crenças – são levadas ao extremo e isso molda a realidade que não existe. 

Podemos ver que, o povo brasileiro de um modo geral, não faz do estudo uma ferramenta de visão da realidade sempre enfatizando as crenças de um medo, muitas vezes, infundado que foi construído de uma ideologia. Para Karl Marx (1818-1883), a ideologia tem o significado específico e abrangente. Porque Marx via a ideologia como um conjunto de ideias, crenças e valores que são criados e promovidos pelas classes dominantes em uma sociedade. E essas ideias e crenças servem para justificar e perpetuar a estrutura de um poder existente, ocultando as contradições e desigualdades sociais. Ou seja, é um discurso que aliena as classes baixas e se diz a favor delas em nome de um ideal. Só que governos de esquerda também fazem esses discursos e por isso, Gilles Deleuze (1925-1995), disse que não existe governo de esquerda. 

A professora Tiburi deveria saber – por ser uma doutora em filosofia e artes plásticas – que a esquerda não deveria ser governo por denunciar a falta de diálogo (ainda mais em um país escravagista como o nosso), entre o povo e os nossos governantes. Como Sócrates, Platão e Aristóteles, desconfio da democracia e ainda mais, democracias representativas como a nossa, e acredito em uma democracia representativas (como as anarquias acreditam). Não sou “alarmista” como muitos e como ela, que o governo passado teríamos uma ruptura da democracia. Mesmo o porquê, era um incapacitado em governar, como não temos um presidente de verdade a muito tempo. E nem acho que "Vivemos uma ditadura miliciana", como a professora disse a alguns anos. Porque fica um discurso, mais ou menos igual, o outro lado, quando chama o PT (Partido dos Trabalhadores) de comunista e não é. 


Amauri Nolasco Sanches Jr



quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Decadência e narcisismo – como Nietzsche tinha razão diante da genealogia da moral

 






Nietzsche – filosofo alemão do século dezenove – desenvolveu uma genealogia da moral que remonta toda a trágica trajetória onde o ocidente marca a ruptura da moral greco-romana, para abraçar a moral cristã. Para ele, a moral cristã – em sua essência – não deveria ser confundida com os ensinamentos de Jesus. Pois, segundo Nietzsche, o evangelho teria morrido na cruz. Logico, que nesse contexto que o filosofo coloca, os verdadeiros ensinamentos morreram com Jesus o Cristo com ele após ser crucificado. Mas, qual a razão da critica nietzschiana? Mesmo o porque, Nietzsche era um teólogo – quase foi pastor – e um estudioso das questões linguísticas dentro da filologia e na sua essência não era um ignorante. Realmente, a historia humana era feita (dentro da politica e na religião) pessoas ressentidas de não serem o que queria ser e o que os outros são. O cristianismo – durante o período medieval com seu governo teocrático – se formou por nobres menores, pobres não podiam ser padres e não tinham dinheiro para isso. Eram os filhos mais novos que ´povoavam a vida eclesiástica.

Esses homens e mulheres eram ressentidos e formaram uma teologia de dominação com o poder politico, pois, se não fizerem o que a igreja católica queria, seriam castigados. A dominação era muito forte, pois, o império estava desfarelado em vários feudos (construídos por Carlos Magno para as pessoas não morrerem de fome a partir do ano 800 depois de Cristo) e que tudo era ao redor de uma parcela de terras e guerras constantes. E os reis bárbaros teriam que ser “amansados” e seriam “ovelhas” de uma igreja dominadora e romana. Dai, todas as humildades, feriados e todas as morais criadas a partir do cristianismo foram feitas por pessoas que não souberam viver aquilo por questões de obrigações familiares.

No mundo grego, por exemplo, não existia a humildade porque é uma invenção cristã. A meu ver, a crítica de Nietzsche vai muito na questão do moralismo barato do que a religião em si, porque tem a ver com a moral centrada na politica. A igreja como instituição foi muito política – e continua sendo, seja elas protestante ou católica – muito mais, do que uma ordem espiritual. Tanto, que na hora de querer romper com a ordem política, os iluministas não sabiam o que era espiritualidade e o que era a parte politica e religiosa. O maior erro da modernidade – e porque não a pós-modernidade – foi ter separado a filosofia da metafisica achando que a metafisica tinha a ver com questões além da realidade e não é bem assim. Dai eu rompo com Nietzsche – será que ele diria que eu era um dos maiores seguidores que ele teve? Pois, rompi com um dos únicos ídolos que sempre tive – porque não acho que foi a filosofia socrática-platonica que moldou a moral que vivemos, mas, a ordem política católica (mesmo que sejam castas protestantes). O cristianismo (seja católico ou protestante), não foi e nunca será uma ordem espiritual e fica bastante claro.

A questão que o século vinte com o rompimento da metafisica como caminho de uma verdadeira empatia com o homem (ser humano) como ele é e não uma “coisa” idealizada em virtude. Esquecemos que para sermos verdadeiros – talvez, essa é a verdade que Jesus disse – temos que conhecer a si mesmos, sendo a si mesmo como prognóstico de algo muito mais profundo. Nietzsche foi sempre socrático diante, ate mesmo, nas criticas de Sócrates e Platão e não dará para fugir disso – mesmo Marx também montou a sua metafisica de classes – e dentro da genealogia da moral, que ele tem razão e faz sentido, não há uma explicação clara e objetiva. Isso não quer dizer nada se Deus existe ou não, mas, instituições religiosas são mais politicas (mesmo o espiritismo e o budismo).

Com o aparecimento da internet – como fenômeno tecnológico – sonhávamos com um mundo mais livre e com bastante liberdade. Foi o que o filosofo italiano Umberto Eco disse, a internet deu vazão aos idiotas. A questão é que, se antigamente as idiotices eram ditas em balcões de bares ou portões das casas periféricas e hoje, as idiotices são ditas (de forma errada) em comentários e vídeos. Dai nasce a hipocondria moral, pois, a extrema-direita e a esquerda woke, sempre darão a pauta da critica e o cancelamento. Toda hipocondria é um medo de doença, talvez, hipocondria moral seja um conceito criado para responder essa idiotice na internet. Se outrora sonhávamos com um mundo cyber anarquista – sendo liberto para o conhecimento e relações humanas sem conceitos morais ou estéticos – agora vimos que a internet foi muito idealizada e a moral humana vazou para dentro da pureza libertaria das questões relacionadas. Ateus impondo ateísmo para religiosos. Religiosos arrotando religiosidade moralista nas redes (a favor da família mesmo vendo que a mãe e narcisista), a extrema-direita (um nazifascismo vagabundo) usou um espaço ausente de acadêmicos que poderia fazer diferença. Os reacionários viraram os novos revolucionários e quiserem mudar a ordem woke a força.

Ditaduras militares não são justas e não farão justiça (mesmo que uma parcela ache ao contrário) e a linguagem não acabara com o preconceito e nem com a discriminação. E daí uma pergunta é inevitável: a felicidade existe? Se ela existe isso tem a ver com a questão do mundo de hoje? Como disse tempos atras, o ser humano é o único animal que gosta de ser enjaulado. Troca a liberdade por uma certeza, mas, concordando com Sartre, somos condenados a sermos livres no sentido de nos colocar no limiar das escolhas. Ter liberdade nem sempre é agradável e requer coragem de assumir a culpa dessa escolha, o que existe é, que sempre nossas escolhas são culpa dos outros. E as pessoas terceirizam a questão das escolhas e o impacto que essas escolhas fazem em nossas vidas, que por um momento, sabem que são suas.  A decadência humana sempre foi infantilizar o ser humano para melhor manipular e quando ele vê um mundo outro, quando (digamos assim) a Matrix não funciona mais, se tem que reprogramar o sistema. A esquerda woke sabe que tem um sistema (mesmo eles rindo), e esse sistema pode usar a ultradireita e pode usar a onda woke. Vai depender da ocasião.

Então, o que nos falta? Personalidade. Quando o pensamento moderno colocou a verdade como algo subjetivo – em alguns casos, acertada – colocou que nada tem uma resposta definitiva. A definição não seria definida, pois, não há nada a ser definido. Daí tem um problema: tudo se dará sempre por definição, mesmo nos erros. Uma árvore é uma árvore porque se definiu como uma árvore, a definição de árvore fica clara. No intuito moral, você matar para roubar um objeto é errado (por privar o outro por causa de um bem) e isso é errado, mesmo que, acabássemos com a propriedade, como sonham os socialistas.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior




quinta-feira, 17 de agosto de 2023

O que é isto – filosofar?

 





 

Não se ensina filosofia; ensina-se a filosofar.

Immanuel Kant

 

 

Poderíamos começar nosso texto dizendo que filosofar é uma maneira de refletir, mas, ao longo da nossa história, filosofar e filosofia tem a ver com refletir mais afundo o modo que se vive. Não interessa se você vive em uma kombi velha, ou se você vive em um palácio, a questão é sair daquilo que chamamos de superficial. Em outros termos, o filosofar faz as pessoas refletirem o que estão fazendo com as suas vidas. A questão sempre recai dentro daquilo que chamamos de tirar o ser humano da postura de banalização – como a maioria dos entretenimentos hoje e as redes sociais proporcionam – que são o fetiche da cultura. Existe a coisa “raiz” e existe a coisa banalizada.

Por que há uma banalização de uma cultura? As questões se identificam dentre de cada cultura, como a cultura funk (carioca) pode ter vindo de uma cultura sexualizada de canais populares como o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), onde a sexualização e a sexualidade eram mostradas em programas no domingo a tarde. Ou, os programas da Rede Globo, onde ajudantes de palco eram caracterizadas seminuas. A sexualização e a sexualidade enquanto meio de prazer – enquanto prazer entre duas pessoas – sempre foi usada como meio de alienação e uma fetichização do corpo como desejo não pensante e de uma forma imediata de prazer e felicidade. Enquanto, épocas do passado o sexo e a sexualização era proibidos por causa de uma moralidade barata, hoje a banalização faz com que o jovem tenha menos vontade de fazer corpo a corpo.

A questão da banalização não pode ser vista como um diagnóstico do entretenimento – como se o entretenimento não pudesse refletir junto com o divertimento – mas, a questão da critica enquanto movimento de reflexão do próprio movimento de ver a realidade. Daí a frase de Kant faz sentido, pois, enquanto ensinar, a filosofia só pode mostrar um certo caminho e esse caminho é filosofando. Antes de Kant, Descartes mostra o quanto ele construiu o método – que veio do grego methodós que queria dizer caminho – para se chegar no “eu sou”. Anarquistas imaturos chamam nossa sociedade de kantiana, mas há um erro enorme, pois, nossa sociedade não tem um discernimento logico ao ponto de ser obra de Kant. A moralização social – como errou Nietzsche em dizer ser o cristianismo – veio da necessidade de uma certeza que ninguém tem do pensamento vitoriano (da Rainha britânica Vitoria no século dezenove).

Análises críticas são análises profundas e tem a ver, muitas vezes, não em análises construídas com ideologias alheiras, mas, um estudo histórico dentro da determinação de se criar um conceito. Uma cultura pode ser criada com uma maneira de expor um pensamento (como a música), mas isso tem a ver, muitas vezes, com o modo que se desenvolveu a educação. Como aqui é um pais onde a pobreza é acentuada, muitos pais trabalham longas jornadas e os filhos ficam a mercê de mídias e de outros meios de se educar. Não há um modo certo ou errado, há um modo não planejado de educação. Escolas não são educadoras (não moralmente) e sim, escolarizar para criar um convívio social. Ou seja, criam cidadãos.

O primeiro diagnostico de uma educação pobre é não entender um misero post e ler de um modo ideológico, ou querer ganhar dinheiro a qualquer custo. Digo educação no modo literal, ou melhor, educação vem com o exemplo da família, pois, o primeiro modo socializante é a família. Se você trata um filho como investimento, quando você não paga pensão por vingança, ou coisas parecidas, a juventude pegara seu exemplo e jogara contra a própria família. Ou se cria filhos sem ter o mínimo de uma cultura de verdade – só músicas sem o menor conteúdo reflexivo – fara falta quando ele construir seus valores. O que está acontecendo é que a juventude começou a achar que o mundo deve ser liquido graças a tecnologia, e não os pais, pegam um exemplo errado.

Primeiro, a televisão sexualizou e quebrou valores para propagar a ideia capitalista – de um capitalismo rastaquera (sem cultura ou educação nenhuma) que não sabe como ter e propagar uma cultura sem querer ver vantagem disso – de individualizar e alienar através da ideia da felicidade e de um “mundo melhor”. Resta saber, quem iria morar nesse mundo melhor? Onde estavam representados a educação? A questão olavista (Olavo de Carvalho) que havia um plano de desmantelar a cultura graças a uma agenda gramscista não procede, não que não houve uma esquerdização midiática, mas, o capital atrasado do Brasil vê a questão da educação de um modo escravagista. Educar para que? Por que se tem que investir em educação? Nem mesmo donos de empresas – na sua grande maioria – tem um estudo serio de administração e gere as empresas para ele próprio (como se ele não fosse um agente social).

Como agentes políticos, o brasileiro parou no tempo. O ditado: em política e religião não se discuti, gerou um povo que não usa a política de um modo coletivo. Usa para causas próprias e de um modo, completamente, ideológico porque vê nisso alguma vantagem. Modifica ideologias políticas. Teorias cientificas. Modo de enxergar várias coisas só por causa de um proposito: ter alguma razão. Se é insignificante com essa educação – entre a sexualização, o futebol ou a política retorcida – resta a rede social como modo de querer que os outros aceitem o que ele pensa. Acha estar com a verdade. Mas, qual a verdade? A verdade que lhe agrada o ego, ou a realidade de um fato? Um fato não pode ser mudado, já a verdade pode ser mudada.

A questão – que vimos dentro de um diagnostico maior da internet – é que nossa cultura gosta muito de analisar pessoas e não ideias, pensando que pessoas possam se ofender. Ora, um povo que não analisa uma frase simples, não pode entender coisas complexas, coisas que a filosofia nos impem na sua reflexão logica. A pergunta “o que é isto – filosofar?” se amplifica a partir do emaranhado que se criou diante da sua historia. E se você disto “isto”, você quer demonstrar alguma coisa, pois, o “o que isto” tende a olhar o que esta sendo indicado. O homem-massa orteguiano tendem a absorver o limite social fácil repetindo frases e pensamentos que não são seus e sim “ovos de cuco” – a ave cuco coloca os ovos no ninho dos outros para os outros chocarem – onde repetem em infinitos posts querendo ter razão. Nada de novo e nada de original dentro do patamar mais profundo.

O homem-massa – aqui o homem é referida a humanidade como um todo – tendem a pensar coletivamente e com bastante superficialidade, mesmo que esse pensamento seja contra o pensamento coletivo. Muitos anarquistas são levados a pensamentos que os outros chamam de nazistas só pelo fato de os outros dizerem, mesmo que eles sejam contra as questões que a maioria tende a seguir.  O famoso “copia” e “cola”. Mas, esse “copiar” depende de uma crença previa intelectual que pode ou não ser valida dentro da realidade (não da verdade), porque as ideologias – seguindo Marx – são na maioria projetos de controle de informação e os governos de esquerda (mesmo eu não acreditando em governos de esquerda) também usam. O “nazismo”, “comunismo” etc, se transformou em símbolos do inimigo que se quer derrotar que, muitas vezes, não existe. É mera opinião.

Concordando com Platão, opinião não é um conhecimento embasado dentro de uma serie de informações. A opinião – em sua essência – demonstra um impulso de algo que somos, muitas vezes, levados a responder imediatamente. Nos grupos facebookianos são grupos de pessoas que podem ter aprendido sobre filosofia – da historia – mas não do filosofar que é da importância do limiar da filosofia em si.

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

terça-feira, 15 de agosto de 2023

Bolsonaro, Lula e o brasileiro (trágica novela do Brasil)

 



Errar é humano. Culpar outra pessoa é política.

Hubert H. Humphrey

 

 

 

Poderíamos analisar dentro da filosofia a importância do meme dentro de uma cultura virtual – como a pixação foi importante dentro da sociedade por séculos – que remontam imagens desenhadas em muros desde a antiga Roma. Isso pode ser comprovado com varias imagens dentro de uma pesquisa no Google. O caso é: com a repercussão do caso da atriz Larissa Manoela (22), vários memes envolvendo o caso – que, como ouros artistas mirins, rompeu com os pais por causa de dinheiro – foram feitos e eles envolvem varias temas, mas, politica foi o que mais teve. Compartilhei um que o pai estava escrito (Bolsonaro) e a mãe estava escrito (Lula) e a filha, Larissa, estava escrito (brasileiro).

Muitos fazerem críticas – embasadas em meras opiniões subjetivas e sem embasamento de um estudo mais elaborado – e pouco se analisou sob a ótica da política além da polarização. Tenho uma máxima que é: se é para pensar e agir como todo mundo (a maioria da sociedade) não iria estudar nem mesmo o ensino médio, porque o estudo lhe dará muito mais elementos para fazer críticas embasadas. Isto é, com o estudo você tem mais conhecimento e repertorio para uma analise muito mais profunda da política e de outros assuntos. Por isso mesmo (uma dúvida legítima), não entendo como professores – muito pior de filosofia que estudam a sociedade e as culturas – terem uma só posição diante da política e da ideologia predominante, pois, estudaram e convivem a população muito mais do que ideólogos ou políticos. Além, claro, quando você estuda história, pode enxergar algo muito além e descobre que há diferença entre o político e a política. Politica não são pessoas e sim, visões criticas da sociedade que podem ou não, aprovarem a conduta de políticas públicas.

Muitos desconhecem minha posição política por eu preferir analisar as coisas em uma ótica bem mais neutra. Mas, claro que tenho uma posição política, sou libertário (não o que chamo de anacobobos que jogaram o libertarianismo na direita olavista, principalmente, o Instituto Mises Brasil), e tenho uma posição muito arquem do economista heterodoxo norte-americano da Escola Austríaca Murray Rochard, pois, lutamos contra a esquerda, mas os conservadores tiraram a política verdadeira da essência da democracia. Ao contrario do que a esquerda prega por ai – muitos liberais também pregam – a democracia não é só eleições. As eleições são uma parte da democracia. E as democracias modernas tanto a norte-americana como a brasileira, tem base muito mais no progressismo liberal. Por isso que não existe conservadorismo liberal, porque não há como mudar alguma coisa conservando essas mesmas coisas. E, por outro lado, há muita confusão em ser tradicionalista e conservador.

Por outro lado, a questão é: críticas devem ser feitas, pois, não estamos nos tempos dos faraós ou dos imperadores romanos onde os governantes eram tido como deuses. Estamos numa nação, antes de tudo, laica  e que políticos não tem nada a ver com posições políticas (como não há políticos libertários como nos EUA). Porque, como disse Ortega, a demagogia é a ruina do intelectual. Ou seja, não sou demagogo e nem devo ser partidário para agradar o público. Um filosofo e um amante do saber, quer encontrar esse saber e começa lançar luz em todos os cantos para encontrar, para sair da caverna e não mais enxergar meras sombras. Não deve e nem pode ter uma posição.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior



segunda-feira, 14 de agosto de 2023

A ideologia de Ortega y Gasset

 


O filosofo grego Aristóteles (morto em 322 a.c) disse que o ser humano era um ser social como as abelhas, mas, que diferenciava por sermos racionais. Não seguimos nossos líderes “cegamente” como as abelhas, pois, por termos consciência, somos animais de escolhas múltiplas. As abelhas obedecem a rainha por causa de vibrações e feromônios e terem uma predeterminação genética. Poderíamos pensar que Aristóteles – por acreditar em uma essência – associou nós com as abelhas por acreditar que a nossa essência seja muito parecida. Mas, não é, pois, mesmo que por milhares de anos tenhamos desenvolvido entre o sistema de clãs com sistemas do próprio Estado, ainda somos capazes de diferenciar uma coisa da outra.

Daí entra o que chamamos hoje de polarização – que a esquerda insiste em dizer que existe o perigo do fascismo (que para mim, morreu com Mussolini) e o socialismo soviético (que também morreu com Stalin) – temos exageros muito fortes dentro do espectro politico porque a grande maioria não sabe o que é política. Com a internet a tendencia era melhorar, mas, ao que parece, a dicotomia piorou bastante nos últimos tempos. A meu ver, ódio é ódio e não existe ódio do bem ou ódio do mal, pois, ainda estamos dicotomizando algo humano que é quase genético. Parentes de espécie como bonobos, por exemplo, são pacíficos e não brigam com frequência por causa de nada. Porém, o que podemos ver, é o ser humano que não hesita em fazer qualquer coisa para ter razão (aqui o emprego de razão quer dizer aquilo que ele pensa),

Antes mesmo de adentrarmos na essência do texto, uma ultima analise deve ser feita. O professor Vitor Lima (do canal Isto Não é Filosofia) gravou uma serie de vídeos importantes que remetem a conjuntura do espectro da politica de agora. O primeiro sobre o policial assassinado que lança a questão se a operação policial era legal ou uma vingança – o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (PL) disse, no Flow podcast, que não foi o caso – e que, segundo o que penso, lança uma outra questão da causa e do efeito (que terá um outro texto, talvez). O segundo é sobre o ódio na visão do filosofo espanhol José Ortega y Gasset, onde ele ate usa a frase da Gabriela Prioli analisando se há “mais razão e menos emoção”. E ai que chegamos na questão: o ser humano usa muito mais a razão do que a emoção?  

Professor Vitor – no vídeo – nos traz uma reflexão da frase famosa de Ortega que diz: "Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim". Que, segundo a reflexão, se você quiser se entender como pessoa tem que se entender a luz das circunstâncias nas quais se insere (ou vive). Sem a circunstância que está inserido, você não é nada. Pois, pelo menos, um ser humano você não é. Se você é também você – partindo do principio cartesiano do eu sou – você entende que a chave é você mesmo. Daí entender a circunstancias é entender as variáveis que te cercam. Ai poderemos ate mesmo, ir para sociologia, geografia, para historia etc. Mas, só poderemos entender geral se entendermos as circunstâncias. Por isso mesmo, Ortega usa o jargão.

Pois, para o Ortega, quando você joga no mundo a fantasia – dentro do parâmetro do que você é – você projeta dentro das circunstâncias no qual você foi projetado a acreditar (que muitos vão chamar de condicionamento) que aquilo é verdade. Daí entra a dor e o medo. Porque a dor e o medo são coisas que você projeta dentro de uma realidade e ai entra a frase da Prioli, não existe razão e emoção, existe as coisas juntas dentro de uma circunstância única humana. Há e deve haver – isso vem da Grécia antiga e na filosofia budista – um equilíbrio para se encontrar dentro daquilo.

Dai entramos no terceiro vídeo da série de três vídeos: a analise do comediante de esquerda Tiago Santineli. Será que seu ódio poderia ser classificado como ódio do bem ou do mal? Será que ele pode e o Leo Lins não pode? Parece, aparentemente, que o professor Vitor vai ao encontro o que é uma filosofia de verdade. Pois, mesmo sendo de esquerda (social-democrata), ele lança luz a uma questão de analisar o vídeo do Léo Lins e do Tiago Santineli do mesmo jeito. Pois, se um foi preconceituoso com as minorias que não tem voz, o outro pregou a morte para quem pensa diferente dele e que lança uma outra questão: a esquerda pode matar quem pensa diferente? Será que isso também não é uma ditadura?

Daí vou muito mais além do professor Vitor, vou dar voz a Ortega dizer:

“Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral. Ademais, a persistência destes qualificativos contribui não pouco a falsificar mais ainda a “realidade” do presente, já fala de per si, porque se encrespou o crespo das experiências políticas a que respondem, como o demonstra o fato de que hoje as direitas prometem revoluções e as esquerdas propõem tiranias.” (Ortega y Gasset, Rebelião das Massas)

Poderemos ler esse paragrafo dentro da quarta parte do prefacio da obra de Ortega Rebelião das Massas – que ele escreve para a edição francesa – que muitos irão dizer, que o filosofo espanhol errou em dizer isso da esquerda e da direita. Mas, contudo, se olharmos bem o cenário pós-guerra fria, o mesmo cenário perdura. Isso ocorre – a Guerra Fria é consequência da segunda guerra mundial – porque ainda estamos sofrendo com muitos pensamentos que vem do lado norte americano e do lado russo (Putin é filho direto da guerra fria).

Na verdade, estamos sofrendo um “efeito colateral” tanto das políticas quanto das informações da guerra fria e nesse contexto, Ortega parece bastante atual. A direita se tornou algo revolucionário e a esquerda se tornou algo conservadora pela sua manutenção do poder, assim como aparece da música Admirável Chip Novo da Pitty (que foi baseada da obra de Adous Huxley Admirável Mundo Novo) “Mas lá vêm eles novamente/Eu sei o que vão fazer/ Reinstalar o sistema”. O sistema enquanto controlador de impulsos humanos para se propagar e se manter – com seu próprio interesse – inibe a parte crítica das ideologias que são criadas para um maior controle.

Se houve um tempo em que a direita esteve no poder no mundo – desde a queda da bastilha na França – a esquerda (seja ela extrema ou não) manda no mundo hoje e estabelece a ondem política e social. Isso poderia ser diagnosticado como culpa das ditaduras militares? Talvez. Mas, antes de tudo, concordando com o filosofo francês Gilles Deleuze, não há governo de esquerda, porque a esquerda é a própria voz da critica enquanto base popular. O sistema se adapta, mas, é um só. Não há saída dentro de uma ilusão maior em narrativas que tem linguagem popular e sedutora. Bem-vindo a Matrix. Como no filme, há uma ilusão armada dentro de um contexto maior e muito mais salientado dentro daquilo que o sistema almeja.

Amauri Nolasco Sanches Jr

terça-feira, 8 de agosto de 2023

Contra os acadêmicos – defesa de uma filosofia isenta

 




Muitos que leem filosofia – muitos poucos entendem – acham que a filosofia nasceu como uma forma sofisticada e presumidamente predominantes de muito poucos que adoram colocá-la entre as doutrinas de mistérios. Mas, não são nada disso. A questão desde minha tenra infância – onde fui sempre incentivado a ler de tudo um pouco como coisas de criança e já pegava coisas de adulto – sempre tive uma coisa de curiosidade que minha mãe sempre incentivava e nunca me podou. Eu não ligava para os outros. Claro, havia leituras que não eram apropriadas de crianças (como poesia adulta), por outro lado, ela não proibia leituras de outros livros. Eu lia e folheava um livro de Freud que meu pai tinha – não me lembro qual – por causa de um trabalho escolar que tinha que fazer. Ou, até mesmo, o livro do Tarzan – sim, eu li o livro do rei das selvas – que ate usei para escrever uma redação de quatro páginas (sempre tive facilidade na escrita). De outro modo, minha escola incentivava do mesmo modo a leitura de livros e até tive Meu Ipê Amarelo, Manual do Professor Pardal e até mesmo, li Fernão Capelo Gaivota. Minha aptidão de ter sempre foi a curiosidade e lia de tudo sem achar que a leitura era para se fazer alguma coisa e ate mesmo, livros exotéricos, livros das grandes literaturas e livros de literatura nacional (confesso que não me interessei muito).

Mas, quando eu comecei a ler filosofia (já lia e gostava e gosto de filosofia oriental), com o primeiro livro que eu ganhei (Apologia a Sócrates) o mundo se abriu. Com a entrada da internet – com seus fóruns e discussões que me fizeram abrir a consciência de muitos outros escritores – a questão da filosofia foi de um “alargamento” de pensamento e me deu um senso crítico muito maior de ser mais seletivos. Algumas teorias caíram, vamos dizer, para a categoria de ficção cientifica assim como, outras vão cair na categoria de besteiras da internet. Mas, com tudo, eu ainda mantive meu olhar cético até mesmo para algumas partes da filosofia no quesito de academismo e na ciência no cientificismo.

Meu ceticismo acadêmico tem a ver com o problema da indução. Há muitos problemas da filosofia, mas, um dos piores (ou o pior) é o problema da indução porque a indução tem a ver com aquilo que você acredita ser a verdade. Mas, como Sócrates nos mostrou, a filosofia tem que ser isenta das suas crenças pessoais se quisermos ser isentos e encontrar a verdade. A modernidade e a pós-modernidade nos mostrou que a verdade não existe e sim, existem verdades subjetivas. A meu ver, essas mesmas verdades subjetivas tem a ver com a indução, mas, por outro lado, há uma outra verdade que é a realidade última que podemos evoluir o bastante para chegar. Resta o problema da escolha, ou escolheremos ficar como estamos (com rupturas diversas), ou resolvemos os problemas que assolam a humanidade. A verdade fica entre aquilo que achamos ser uma realidade e aquilo que é de fato, pois, a realidade tem a ver com aquilo que é (ou aparenta ser concreto).

A questão é: pode a filosofia ser isenta de fatores ideológicos políticos ou sistemas religiosos? Não. Não se as pessoas usarem o pseudo em lugares e modos errados, e cometer o erro de muitos acadêmicos: isto não é filosofia. O que seria filosofia, então? Para os acadêmicos – que em muito se distanciaram do proposito platônico – tem a ver com certos conceitos e certas coisas que só fazem parte das leituras deles. Como eu disse em um texto no Instagram, por eu fazer o tão sonhado bacharelado em filosofia, sou cobrado em ter conceitos que eu não tenho. Dai há um conflito interessante em uma mensagem que recebi de um colega: “Broh, o mais tem em redes sociais são textinhos de enem . É tão bizarro e ele tentam expurgar dessa forma e se achando . Porra é feio e ridículo!!!!!”.

Isso demonstra como as pessoas não estão conhecendo a filosofia – como se o filosofo fosse um guardião de uma arca sagrada – pois, ensinam que a filosofia de verdade só tem a ver com filosofias da certeza. Ora, se tivemos certeza, não é filosofia.  Se queira ou não, a filosofia é a busca da verdade seja ela de um modo social (como conhecimentos condicionados), ou a busca de conhecer nossa própria natureza. Ou seja, o tão aclamado conhecer a si mesmo. O que seria esse “textinho de Enem”? será que não devemos analisar textos de Enem? Como eu disse lá em cima – esse fato é imensamente interessante – não tenho limites em ler, por exemplo, posso ler um Kant e um Paulo Coelho. Posso ler pastores com suas doutrinas (ate mesmo a Biblia) e posso ler revistas satanistas. Como a filosofia me deu bastante senso crítico, eu não tenho nenhuma crença definida.  

Sim, crença. A partir do momento que você não sabe da verdade e a verdade tem que ser encontrada (essa verdade tem a ver com a realidade), tendemos a crer em algumas verdades subjetivas. Marxistas e liberais tendem a achar que tudo se resume a economia. Pessoas religiosas acham que a verdade esta dentro das escrituras “sagradas” dessas religiões. Ate mesmo o ateísmo acaba sendo uma crença, porque você acredita que a verdade só esta na matéria. Mas, com bilhões de estrelas, com bilhões de galáxias, com teorias não provadas ainda e que há grandes mistérios a serem desvendados, como poderemos ter alguma certeza? A certeza acadêmica cientifica é arrogante e tem certezas de que só são crenças subjetivas.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Platão e a pseudofilosofia que não existiu

 









É notório como a internet abriu muitas oportunidades para se conhecer quase tudo, por outro lado, há informações de pessoas que tendem ao cientificismo que colocam a filosofia ou como um pensamento que deve (no sentido de dever mesmo) ter conotações cientificas ou, como o físico Mario Bunge, que há uma pseudofilosofia. Conheci o senhor Bunge (físico argentino) pelo blog Universo Racionalista – seu fundador é um seguidor do pensador argentino – onde há um verbete no seu dicionário de filosofia (feito por vozes da sua cabeça) onde ele tenta refutar o filosofo alemão, Martin Heidegger (1889-1976) dizendo que Heidegger fazia uma pseudofilosofia. Ora, há uma diferença entre aquilo que eu não entendo e aquilo que não é filosofia, são coisas diferentes.

Há, com certeza, uma questão de aquilo que não é logico e não pode ser considerado algo filosófico, e há filosofias que não entendemos. Heidegger é um deles. Mas, Platão foi muito refutado na era moderna e pós-moderna, por servir de base de uma construção da teologia cristã e como foi a base da metafisica ocidental. Porem temos que separar Platão usado na teologia da igreja, e Platão filosofo da Grécia antiga, pois, há diferenças bastante acentuadas diante de varias coisas aqui. Isso – de fato – tem uma parcela de culpa a filosofia de Nietzsche que não conseguiu fazer essa distinção, porque mesmo que temos uma tentativa da filosofia platônica de colocar um princípio da Diade (como uma dualidade que não é dois) e o Uno (o único sem ser o numero um) o Demiurgo não é o Deus cristão. Assim como o Motor Imovel de Aristóteles. Como disse, são tentativas de explicação de Platão a filosofia de Parmênides (o ser não muda) e de Heráclito (o ser muda).

Segundo Giovanni Reale no seu livro “Convite a Platão” diz:

 

“Para os gregos a questão metafisica por excelência é “por que existe a multiplicidade?”, ou, melhor, “por que e como o múltiplo deriva do uno?”. Ora, a novidade trazida por Platão no plano da protologia está exatamente nessa tentativa de “justificação” radical e última da multiplicidade em geral em função dos Princípios do Uno e da Díade indefinida e de sua estrutura bipolar.  A “Díade” ou ”Dualidade indeterminada”, não é, obviamente, o número dois, assim como o Uno, no sentido de Princípio, não é o número um.”

Ora, não há nenhuma diferença, por exemplo, da astronomia onde há lacunas como um ponto intenso (intensidade imensa) pode explodir e variar varias coisas-elementos dentro do universo. Pois, a multiplicidade tem a ver com nossa realidade onde há uma gama de elementos e esses elementos derivam outros elementos. Ai está a explicação de Platão onde há uma Diade (que seria o pensamento do Demiurgo) onde há o puro e incorruptível (as ideias) e o corruptível (a realidade e os seres). Fácil de confundir com a teologia cristã, mas, há uma outra coisa. Os dois princípios tem um estatuto metafisico, pois, são metamatemáticos. Segundo Reale, a “Diade” é o princípio raiz da multiplicidade dos seres. Porque essa multiplicidade é concebida como “dualidade de grande-e-pequeno” no sentido em que é “infinita grandeza” e “infinita pequenez” como algo indefinido.

A meu ver, há uma grande arrogância dentro do cientificismo em pregar verdades que não existem, como o blog Universo Racionalista gosta de arrotar, por exemplo. Como o verbete do senhor Bunge no post do blog:

 

“a pseudofilosofia é algo que soa como filosófico, mas não é por carecer de sentido, ser trivial ou estar completamente em desacordo com a maior parte do conhecimento científico ou tecnológico. Exemplo: “O InSein [ou estar-em] é […] a expressão formal existencial do ser do Dasein [Ser-aí], que tem a condição essencial do ser-no-mundo” (M. Heidegger). Gertrude, você está na cozinha? Ah, sim. Bem, então você está-no-mundo!”

Segundo o físico – não pode ser chamado de filosofo porque não é formado em filosofia – a pseudofilosofia seria algo como se não houvesse citações cientificas e tecnológicas. Que, a meu ver, é uma definição muito problemática, porque varias obras do próprio Heidegger, cita tanto termos científicos como coisas tecnológicas. Aliás, Heidegger é o filosofo que mais debruçou na técnica como meio humano de tentar se superar. Frasezinha básica do filosofo: “A ciência não pensa”. Ou seja, a ciência tem elementos lógicos e protocolos muito mais rigorosos do que a filosofia, pois, eu posso filosofar fotos do Instagram só usando elementos morais e estéticos e isso não vai deixar de ser filosofia. No caso do exemplo anedótico, Gertrude esta na cozinha porque ela está falando e assim, ela está no mundo como ele também estava.

A questão pode ir bem mais além (como ouvi em um vídeo): todos esses estudiosos falam em pseudofilosofia, mas, por que será que ninguém debate o ponto ético da pobreza do mundo? Por que será que ninguém debate da ciência bélica que pode exterminar a humanidade inteira? Dai se começa a metafisica da ética, a metafisica do ser enquanto ser e não coisas que vivem no mundo. Platão trouxe uma questão datada (dos gregos daquela época), mas, temos que trazer para o campo moral e dizer se existe o BEM como princípio moral ou teológico, ou o princípio do MAL em um princípio moral ou teológico. Daí chegamos a questão do conhecimento (como libertar o ser humano) e a ignorância (ignorar o sumo bem como principio do justo).

Qual é a questão? A questão tanto de pseudofilosofia, como pseudociência, cai em um problema subjetivo de interpretação. Detectei esse problema graças a um livro sobre a teoria da simulação – onde toda a realidade, na verdade, seria uma simulação de um supercomputador extraterrestre – onde o escritor e teórico era um programador de jogos. A meu ver, a questão da subjetividade – como visão de mundo – tem muito a ver com a visão de similaridade entre aquilo que eu acredito e aquilo que é de fato. Como o físico argentino – e muito outros cientistas – que acham que a filosofia deveria ter termos científicos, isso também acontece. Ai começamos a reter dentro de nós uma coisa muito maior que mera ideia.

O termo correto seria induzir. Induzimos algo a parecer – no sentido de modificação de algo – para parecer aquilo que eu acredito dentro de qualquer ideia. E temos que entender a etimologia de ideia. Ideia vem do grego “eidos” que em um primeiro momento – segundo o filosofo francês Paul Ricoeur – era o contorno de uma figura e Platão buscou esse termo já popular. Mas, ao que parece, ele já estava sobredeterminado: queria dizer um contorno interno, como também, mostraria o contorno externo. Ou seja, desde o princípio “eidos” mostra uma forma visível. Porém, Platão tinha a questão de sublimar “eidos” e colocar entre o mundo sensível com o mundo inteligível (seria a contemplação). Segundo Ricoeur, próprio termo “eidos” é capaz dessa transposição.

O fato é que ideia (eidos) sempre vão ser formas daquilo que formamos na mente (ou consciência) e podemos substituir fatos por outras formas. A indução acontece. Mas, na filosofia, o que seria a indução? A generalização. Ai começa o problema da indução, quando generalizam alguma coisa para provar seu ponto de vista. Ou seja, o “todo” é usado como termo de reforço de indução. Por exemplo, “todo homem é igual”, “toda a esquerda é comunista” etc, são reforços daquilo que você quer provar. Isso acontece graças a questão das crenças e subjetividades que rodam nossa consciência. Como o começo do verbete do Bunge: ““a pseudofilosofia é algo que soa como filosófico, mas não é por carecer de sentido, ser trivial ou estar completamente em desacordo com a maior parte do conhecimento científico ou tecnológico.”. isso, a rigor, é uma indução.

Nem sempre filosofias mais profundas – e nem acho que pseudo cabe na filosofia – são e devem ser consideradas pseudofilosofia.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Cachorrinhos podem sair, cadeirantes não

 



A um tempo atras eu escrevi sobre a questão de que os cachorros podem ir ao shopping e pessoas com deficiência não, no intuito de alertar para certas praticas um pouco esquisitas. Primeiro, todas as pessoas acham que nós não temos que ir em Shoppings, porque isso atrapalharia os “bonitinhos” a conversarem no meio do corredor, iriam atrapalhar pessoas a ficarem andando e olhando para nada e ate mesmo, derrubarem sorvete no chão e achar que a faxineira é a sua empregada (nem mesmo se ela fosse, não seria obrigada a aguentar tamanha mal educação a brasileira).  Pouca coisa mudou, pois, as pessoas ainda usam elevadores para pessoas com deficiência, ainda param em vagas exclusivas e ainda acham que o mundo gira em torno de seus fedidos umbigos (muito poucos cachorros vão no shopping hoje). Pessoas com deficiência ainda são hostilizados e pessoas ainda andam devagar como se fosse “pirraça” de estarmos ali, demonstração de amor ainda são verificadas como condutas imorais.

Levar um cachorro para cagar em um shopping é moral? Ficar batendo em uma cadeira de rodas enquanto ele come ou conversar incomodando que esta na mesa é uma conduta moral? Muitos colegas meus insistem em dizer que a sociedades são kantianas que descordo, pois, o ruim não é levar a moralidade ao estremo, o ruim é achar que o mundo é só seu. Esse é o problema da nossa cultura. Se fala muito mais do que se faz e esse fazer tem a ver com Aristóteles que disse a ética uma virtude bem mais pratica do que teórica. Pelo menos a sociedade brasileira, confunde muito a questão da ética e da moral, no sentido de entender certas nuances entre os dois. Ética vem do grego ETHOS que era como caráter (no primeiro momento era casa de homens e no segundo muda para caráter, que ate faz sentido), mas, concordo com Werner Jaeger quando ele fala que o ETHOS tem a ver com o espirito grego. Moral vem do latim Mor (plural mores) que queria dizer costumes e tinha a ver com os costumes romanos.

Hoje – nas sociedades pós-modernas – a filosofia fez da ética uma ferramenta de estudo da moral, no sentido de medir qual seria a moral daquela sociedade. Além disso, Aristóteles disse que o ser humano é um animal social (zoo politikon pode ser traduzido como animal cívico, corrigindo um erro de traduzir animal político) e que por ele ser racional, tende a entender e mudar as sociedades conforme as necessidades. Porem, achava que as abelhas tendiam a ser a mesma coisa, mas, não tem a menor semelhança. Mesmo o porque, o ser humano inventou um mundo antinatural para se adequar e para que a maioria não sofra tanto, que, muitas vezes, é um erro mortal. Por outro lado, animais como eu, minha noiva e muitos amigos, iriam morrer ou serem devorados facilmente. A deficiência é a dificuldade do corpo para algumas funções, mas, temos consciência (completa ou parcialmente).

Meios de amenizar situações dentro da própria dificuldade foi a forma que se encontrou para se preservar a vida de quem tem uma deficiência, pois, se criou o direito do ser humano a vida e nós como seres humanos temos o direto a vida. A sociologia nos mostra – talvez a biologia também – nos mostra que não somos os únicos animais com consciência, porque há outros animais com certa consciência. Acontece que construímos realidades artificiais e artifícios de dar aos seres iguais a nós, dignidade e uma melhor vida possível e isso quer dizer, ter uma vida como todo mundo.

Particularmente, não gosto do termo inclusão, pois, temos que incluir aquilo que esta fora da sociedade e não estamos. Nascemos dentro dessa sociedade, o termo mais correto deveria ser aceitação. Porque acetar pessoas em condições que vão se adaptando conforme a sua dificuldade, é aceitar que existem seres humanos diferentes e não existe uma igualdade dentro da sociedade humana. A meu ver, há uma dificuldade muito acentuada em entender isso por causa do desejo da certeza, porque se há uma padronização do ser humano, há uma certeza que o padrão de vida que escolheu (padronizado com os outros) seja intocável. Ora, os preconceitos começam com a padronização e a questão de antipatia do outro (como, por exemplo, a acusação que os judeus mataram Jesus gerando um antissemitismo generalizado que culminou na segunda guerra mundial), na arrogância que o mundo foi feito para você.

A questão de políticas públicas para pessoas com deficiência são assuntos não discutidos porque não interessam a grande maioria – porque vimos isso, ate mesmo, dentro da imprensa – que nos vê como “eternas crianças” ou como “sofredores eternos”. Mas, o preconceito tem raízes muito mais antigas nos remetendo a nossa parte pré-histórica que ainda resiste, a parte de estranhar pessoas ou coisas diferentes do que as nossas de padronização do corpo. Humanos são humanos. A igualização é o reflexo da ideologia do mundo moderno de colocar resoluções cientificas em coisas milagrosas e não é, a ciência trabalha em tentativa e erro e se aprende com esses erros.

Seja no transporte precário e pobre – como no ATENDE + (Sptrans) que demoramos 2 meses para conseguir aqui em São Paulo – que não se tem nenhuma garantia, seja na saúde, estamos muito arquem daquilo que deveria ser prioritário. UBSs (Unidades Básicas de Saúde) não prestam saúde básica para todo mundo, mas, para pessoas com deficiência só cadeiras de rodas quebradas e atendimentos porcos. Nem mesmo as carrocinhas de cachorro são assim e são de boa qualidade, nosso transporte são de péssima qualidade.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior