segunda-feira, 14 de agosto de 2023

A ideologia de Ortega y Gasset

 


O filosofo grego Aristóteles (morto em 322 a.c) disse que o ser humano era um ser social como as abelhas, mas, que diferenciava por sermos racionais. Não seguimos nossos líderes “cegamente” como as abelhas, pois, por termos consciência, somos animais de escolhas múltiplas. As abelhas obedecem a rainha por causa de vibrações e feromônios e terem uma predeterminação genética. Poderíamos pensar que Aristóteles – por acreditar em uma essência – associou nós com as abelhas por acreditar que a nossa essência seja muito parecida. Mas, não é, pois, mesmo que por milhares de anos tenhamos desenvolvido entre o sistema de clãs com sistemas do próprio Estado, ainda somos capazes de diferenciar uma coisa da outra.

Daí entra o que chamamos hoje de polarização – que a esquerda insiste em dizer que existe o perigo do fascismo (que para mim, morreu com Mussolini) e o socialismo soviético (que também morreu com Stalin) – temos exageros muito fortes dentro do espectro politico porque a grande maioria não sabe o que é política. Com a internet a tendencia era melhorar, mas, ao que parece, a dicotomia piorou bastante nos últimos tempos. A meu ver, ódio é ódio e não existe ódio do bem ou ódio do mal, pois, ainda estamos dicotomizando algo humano que é quase genético. Parentes de espécie como bonobos, por exemplo, são pacíficos e não brigam com frequência por causa de nada. Porém, o que podemos ver, é o ser humano que não hesita em fazer qualquer coisa para ter razão (aqui o emprego de razão quer dizer aquilo que ele pensa),

Antes mesmo de adentrarmos na essência do texto, uma ultima analise deve ser feita. O professor Vitor Lima (do canal Isto Não é Filosofia) gravou uma serie de vídeos importantes que remetem a conjuntura do espectro da politica de agora. O primeiro sobre o policial assassinado que lança a questão se a operação policial era legal ou uma vingança – o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas (PL) disse, no Flow podcast, que não foi o caso – e que, segundo o que penso, lança uma outra questão da causa e do efeito (que terá um outro texto, talvez). O segundo é sobre o ódio na visão do filosofo espanhol José Ortega y Gasset, onde ele ate usa a frase da Gabriela Prioli analisando se há “mais razão e menos emoção”. E ai que chegamos na questão: o ser humano usa muito mais a razão do que a emoção?  

Professor Vitor – no vídeo – nos traz uma reflexão da frase famosa de Ortega que diz: "Eu sou eu e minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim". Que, segundo a reflexão, se você quiser se entender como pessoa tem que se entender a luz das circunstâncias nas quais se insere (ou vive). Sem a circunstância que está inserido, você não é nada. Pois, pelo menos, um ser humano você não é. Se você é também você – partindo do principio cartesiano do eu sou – você entende que a chave é você mesmo. Daí entender a circunstancias é entender as variáveis que te cercam. Ai poderemos ate mesmo, ir para sociologia, geografia, para historia etc. Mas, só poderemos entender geral se entendermos as circunstâncias. Por isso mesmo, Ortega usa o jargão.

Pois, para o Ortega, quando você joga no mundo a fantasia – dentro do parâmetro do que você é – você projeta dentro das circunstâncias no qual você foi projetado a acreditar (que muitos vão chamar de condicionamento) que aquilo é verdade. Daí entra a dor e o medo. Porque a dor e o medo são coisas que você projeta dentro de uma realidade e ai entra a frase da Prioli, não existe razão e emoção, existe as coisas juntas dentro de uma circunstância única humana. Há e deve haver – isso vem da Grécia antiga e na filosofia budista – um equilíbrio para se encontrar dentro daquilo.

Dai entramos no terceiro vídeo da série de três vídeos: a analise do comediante de esquerda Tiago Santineli. Será que seu ódio poderia ser classificado como ódio do bem ou do mal? Será que ele pode e o Leo Lins não pode? Parece, aparentemente, que o professor Vitor vai ao encontro o que é uma filosofia de verdade. Pois, mesmo sendo de esquerda (social-democrata), ele lança luz a uma questão de analisar o vídeo do Léo Lins e do Tiago Santineli do mesmo jeito. Pois, se um foi preconceituoso com as minorias que não tem voz, o outro pregou a morte para quem pensa diferente dele e que lança uma outra questão: a esquerda pode matar quem pensa diferente? Será que isso também não é uma ditadura?

Daí vou muito mais além do professor Vitor, vou dar voz a Ortega dizer:

“Ser da esquerda é, como ser da direita, uma das infinitas maneiras que o homem pode escolher para ser imbecil: ambas, com efeito, são formas da hemiplegia moral. Ademais, a persistência destes qualificativos contribui não pouco a falsificar mais ainda a “realidade” do presente, já fala de per si, porque se encrespou o crespo das experiências políticas a que respondem, como o demonstra o fato de que hoje as direitas prometem revoluções e as esquerdas propõem tiranias.” (Ortega y Gasset, Rebelião das Massas)

Poderemos ler esse paragrafo dentro da quarta parte do prefacio da obra de Ortega Rebelião das Massas – que ele escreve para a edição francesa – que muitos irão dizer, que o filosofo espanhol errou em dizer isso da esquerda e da direita. Mas, contudo, se olharmos bem o cenário pós-guerra fria, o mesmo cenário perdura. Isso ocorre – a Guerra Fria é consequência da segunda guerra mundial – porque ainda estamos sofrendo com muitos pensamentos que vem do lado norte americano e do lado russo (Putin é filho direto da guerra fria).

Na verdade, estamos sofrendo um “efeito colateral” tanto das políticas quanto das informações da guerra fria e nesse contexto, Ortega parece bastante atual. A direita se tornou algo revolucionário e a esquerda se tornou algo conservadora pela sua manutenção do poder, assim como aparece da música Admirável Chip Novo da Pitty (que foi baseada da obra de Adous Huxley Admirável Mundo Novo) “Mas lá vêm eles novamente/Eu sei o que vão fazer/ Reinstalar o sistema”. O sistema enquanto controlador de impulsos humanos para se propagar e se manter – com seu próprio interesse – inibe a parte crítica das ideologias que são criadas para um maior controle.

Se houve um tempo em que a direita esteve no poder no mundo – desde a queda da bastilha na França – a esquerda (seja ela extrema ou não) manda no mundo hoje e estabelece a ondem política e social. Isso poderia ser diagnosticado como culpa das ditaduras militares? Talvez. Mas, antes de tudo, concordando com o filosofo francês Gilles Deleuze, não há governo de esquerda, porque a esquerda é a própria voz da critica enquanto base popular. O sistema se adapta, mas, é um só. Não há saída dentro de uma ilusão maior em narrativas que tem linguagem popular e sedutora. Bem-vindo a Matrix. Como no filme, há uma ilusão armada dentro de um contexto maior e muito mais salientado dentro daquilo que o sistema almeja.

Amauri Nolasco Sanches Jr

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