Não se ensina filosofia; ensina-se a filosofar.
Immanuel Kant
Poderíamos começar nosso texto dizendo que filosofar é uma
maneira de refletir, mas, ao longo da nossa história, filosofar e filosofia tem
a ver com refletir mais afundo o modo que se vive. Não interessa se você vive
em uma kombi velha, ou se você vive em um palácio, a questão é sair daquilo que
chamamos de superficial. Em outros termos, o filosofar faz as pessoas
refletirem o que estão fazendo com as suas vidas. A questão sempre recai dentro
daquilo que chamamos de tirar o ser humano da postura de banalização – como a
maioria dos entretenimentos hoje e as redes sociais proporcionam – que são o
fetiche da cultura. Existe a coisa “raiz” e existe a coisa banalizada.
Por que há uma banalização de uma cultura? As questões se
identificam dentre de cada cultura, como a cultura funk (carioca) pode ter
vindo de uma cultura sexualizada de canais populares como o SBT (Sistema
Brasileiro de Televisão), onde a sexualização e a sexualidade eram mostradas em
programas no domingo a tarde. Ou, os programas da Rede Globo, onde ajudantes de
palco eram caracterizadas seminuas. A sexualização e a sexualidade enquanto
meio de prazer – enquanto prazer entre duas pessoas – sempre foi usada como
meio de alienação e uma fetichização do corpo como desejo não pensante e de uma
forma imediata de prazer e felicidade. Enquanto, épocas do passado o sexo e a
sexualização era proibidos por causa de uma moralidade barata, hoje a
banalização faz com que o jovem tenha menos vontade de fazer corpo a corpo.
A questão da banalização não pode ser vista como um diagnóstico
do entretenimento – como se o entretenimento não pudesse refletir junto com o
divertimento – mas, a questão da critica enquanto movimento de reflexão do
próprio movimento de ver a realidade. Daí a frase de Kant faz sentido, pois, enquanto
ensinar, a filosofia só pode mostrar um certo caminho e esse caminho é
filosofando. Antes de Kant, Descartes mostra o quanto ele construiu o método –
que veio do grego methodós que queria dizer caminho – para se chegar no “eu
sou”. Anarquistas imaturos chamam nossa sociedade de kantiana, mas há um erro
enorme, pois, nossa sociedade não tem um discernimento logico ao ponto de ser
obra de Kant. A moralização social – como errou Nietzsche em dizer ser o
cristianismo – veio da necessidade de uma certeza que ninguém tem do pensamento
vitoriano (da Rainha britânica Vitoria no século dezenove).
Análises críticas são análises profundas e tem a ver, muitas
vezes, não em análises construídas com ideologias alheiras, mas, um estudo
histórico dentro da determinação de se criar um conceito. Uma cultura pode ser
criada com uma maneira de expor um pensamento (como a música), mas isso tem a
ver, muitas vezes, com o modo que se desenvolveu a educação. Como aqui é um
pais onde a pobreza é acentuada, muitos pais trabalham longas jornadas e os
filhos ficam a mercê de mídias e de outros meios de se educar. Não há um modo
certo ou errado, há um modo não planejado de educação. Escolas não são
educadoras (não moralmente) e sim, escolarizar para criar um convívio social.
Ou seja, criam cidadãos.
O primeiro diagnostico de uma educação pobre é não entender
um misero post e ler de um modo ideológico, ou querer ganhar dinheiro a
qualquer custo. Digo educação no modo literal, ou melhor, educação vem com o
exemplo da família, pois, o primeiro modo socializante é a família. Se você
trata um filho como investimento, quando você não paga pensão por vingança, ou
coisas parecidas, a juventude pegara seu exemplo e jogara contra a própria
família. Ou se cria filhos sem ter o mínimo de uma cultura de verdade – só músicas
sem o menor conteúdo reflexivo – fara falta quando ele construir seus valores.
O que está acontecendo é que a juventude começou a achar que o mundo deve ser
liquido graças a tecnologia, e não os pais, pegam um exemplo errado.
Primeiro, a televisão sexualizou e quebrou valores para
propagar a ideia capitalista – de um capitalismo rastaquera (sem cultura ou
educação nenhuma) que não sabe como ter e propagar uma cultura sem querer ver
vantagem disso – de individualizar e alienar através da ideia da felicidade e
de um “mundo melhor”. Resta saber, quem iria morar nesse mundo melhor? Onde
estavam representados a educação? A questão olavista (Olavo de Carvalho) que
havia um plano de desmantelar a cultura graças a uma agenda gramscista não
procede, não que não houve uma esquerdização midiática, mas, o capital atrasado
do Brasil vê a questão da educação de um modo escravagista. Educar para que?
Por que se tem que investir em educação? Nem mesmo donos de empresas – na sua
grande maioria – tem um estudo serio de administração e gere as empresas para
ele próprio (como se ele não fosse um agente social).
Como agentes políticos, o brasileiro parou no tempo. O
ditado: em política e religião não se discuti, gerou um povo que não usa a política
de um modo coletivo. Usa para causas próprias e de um modo, completamente,
ideológico porque vê nisso alguma vantagem. Modifica ideologias políticas.
Teorias cientificas. Modo de enxergar várias coisas só por causa de um
proposito: ter alguma razão. Se é insignificante com essa educação – entre a
sexualização, o futebol ou a política retorcida – resta a rede social como modo
de querer que os outros aceitem o que ele pensa. Acha estar com a verdade. Mas,
qual a verdade? A verdade que lhe agrada o ego, ou a realidade de um fato? Um fato
não pode ser mudado, já a verdade pode ser mudada.
A questão – que vimos dentro de um diagnostico maior da
internet – é que nossa cultura gosta muito de analisar pessoas e não ideias,
pensando que pessoas possam se ofender. Ora, um povo que não analisa uma frase
simples, não pode entender coisas complexas, coisas que a filosofia nos impem
na sua reflexão logica. A pergunta “o que é isto – filosofar?” se amplifica a
partir do emaranhado que se criou diante da sua historia. E se você disto “isto”,
você quer demonstrar alguma coisa, pois, o “o que isto” tende a olhar o que
esta sendo indicado. O homem-massa orteguiano tendem a absorver o limite social
fácil repetindo frases e pensamentos que não são seus e sim “ovos de cuco” – a ave
cuco coloca os ovos no ninho dos outros para os outros chocarem – onde repetem
em infinitos posts querendo ter razão. Nada de novo e nada de original dentro
do patamar mais profundo.
O homem-massa – aqui o homem é referida a humanidade como um
todo – tendem a pensar coletivamente e com bastante superficialidade, mesmo que
esse pensamento seja contra o pensamento coletivo. Muitos anarquistas são levados
a pensamentos que os outros chamam de nazistas só pelo fato de os outros dizerem,
mesmo que eles sejam contra as questões que a maioria tende a seguir. O famoso “copia” e “cola”. Mas, esse “copiar”
depende de uma crença previa intelectual que pode ou não ser valida dentro da
realidade (não da verdade), porque as ideologias – seguindo Marx – são na
maioria projetos de controle de informação e os governos de esquerda (mesmo eu não
acreditando em governos de esquerda) também usam. O “nazismo”, “comunismo” etc,
se transformou em símbolos do inimigo que se quer derrotar que, muitas vezes, não
existe. É mera opinião.
Concordando com Platão, opinião não é um conhecimento
embasado dentro de uma serie de informações. A opinião – em sua essência –
demonstra um impulso de algo que somos, muitas vezes, levados a responder
imediatamente. Nos grupos facebookianos são grupos de pessoas que podem ter
aprendido sobre filosofia – da historia – mas não do filosofar que é da importância
do limiar da filosofia em si.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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