quinta-feira, 17 de agosto de 2023

O que é isto – filosofar?

 





 

Não se ensina filosofia; ensina-se a filosofar.

Immanuel Kant

 

 

Poderíamos começar nosso texto dizendo que filosofar é uma maneira de refletir, mas, ao longo da nossa história, filosofar e filosofia tem a ver com refletir mais afundo o modo que se vive. Não interessa se você vive em uma kombi velha, ou se você vive em um palácio, a questão é sair daquilo que chamamos de superficial. Em outros termos, o filosofar faz as pessoas refletirem o que estão fazendo com as suas vidas. A questão sempre recai dentro daquilo que chamamos de tirar o ser humano da postura de banalização – como a maioria dos entretenimentos hoje e as redes sociais proporcionam – que são o fetiche da cultura. Existe a coisa “raiz” e existe a coisa banalizada.

Por que há uma banalização de uma cultura? As questões se identificam dentre de cada cultura, como a cultura funk (carioca) pode ter vindo de uma cultura sexualizada de canais populares como o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), onde a sexualização e a sexualidade eram mostradas em programas no domingo a tarde. Ou, os programas da Rede Globo, onde ajudantes de palco eram caracterizadas seminuas. A sexualização e a sexualidade enquanto meio de prazer – enquanto prazer entre duas pessoas – sempre foi usada como meio de alienação e uma fetichização do corpo como desejo não pensante e de uma forma imediata de prazer e felicidade. Enquanto, épocas do passado o sexo e a sexualização era proibidos por causa de uma moralidade barata, hoje a banalização faz com que o jovem tenha menos vontade de fazer corpo a corpo.

A questão da banalização não pode ser vista como um diagnóstico do entretenimento – como se o entretenimento não pudesse refletir junto com o divertimento – mas, a questão da critica enquanto movimento de reflexão do próprio movimento de ver a realidade. Daí a frase de Kant faz sentido, pois, enquanto ensinar, a filosofia só pode mostrar um certo caminho e esse caminho é filosofando. Antes de Kant, Descartes mostra o quanto ele construiu o método – que veio do grego methodós que queria dizer caminho – para se chegar no “eu sou”. Anarquistas imaturos chamam nossa sociedade de kantiana, mas há um erro enorme, pois, nossa sociedade não tem um discernimento logico ao ponto de ser obra de Kant. A moralização social – como errou Nietzsche em dizer ser o cristianismo – veio da necessidade de uma certeza que ninguém tem do pensamento vitoriano (da Rainha britânica Vitoria no século dezenove).

Análises críticas são análises profundas e tem a ver, muitas vezes, não em análises construídas com ideologias alheiras, mas, um estudo histórico dentro da determinação de se criar um conceito. Uma cultura pode ser criada com uma maneira de expor um pensamento (como a música), mas isso tem a ver, muitas vezes, com o modo que se desenvolveu a educação. Como aqui é um pais onde a pobreza é acentuada, muitos pais trabalham longas jornadas e os filhos ficam a mercê de mídias e de outros meios de se educar. Não há um modo certo ou errado, há um modo não planejado de educação. Escolas não são educadoras (não moralmente) e sim, escolarizar para criar um convívio social. Ou seja, criam cidadãos.

O primeiro diagnostico de uma educação pobre é não entender um misero post e ler de um modo ideológico, ou querer ganhar dinheiro a qualquer custo. Digo educação no modo literal, ou melhor, educação vem com o exemplo da família, pois, o primeiro modo socializante é a família. Se você trata um filho como investimento, quando você não paga pensão por vingança, ou coisas parecidas, a juventude pegara seu exemplo e jogara contra a própria família. Ou se cria filhos sem ter o mínimo de uma cultura de verdade – só músicas sem o menor conteúdo reflexivo – fara falta quando ele construir seus valores. O que está acontecendo é que a juventude começou a achar que o mundo deve ser liquido graças a tecnologia, e não os pais, pegam um exemplo errado.

Primeiro, a televisão sexualizou e quebrou valores para propagar a ideia capitalista – de um capitalismo rastaquera (sem cultura ou educação nenhuma) que não sabe como ter e propagar uma cultura sem querer ver vantagem disso – de individualizar e alienar através da ideia da felicidade e de um “mundo melhor”. Resta saber, quem iria morar nesse mundo melhor? Onde estavam representados a educação? A questão olavista (Olavo de Carvalho) que havia um plano de desmantelar a cultura graças a uma agenda gramscista não procede, não que não houve uma esquerdização midiática, mas, o capital atrasado do Brasil vê a questão da educação de um modo escravagista. Educar para que? Por que se tem que investir em educação? Nem mesmo donos de empresas – na sua grande maioria – tem um estudo serio de administração e gere as empresas para ele próprio (como se ele não fosse um agente social).

Como agentes políticos, o brasileiro parou no tempo. O ditado: em política e religião não se discuti, gerou um povo que não usa a política de um modo coletivo. Usa para causas próprias e de um modo, completamente, ideológico porque vê nisso alguma vantagem. Modifica ideologias políticas. Teorias cientificas. Modo de enxergar várias coisas só por causa de um proposito: ter alguma razão. Se é insignificante com essa educação – entre a sexualização, o futebol ou a política retorcida – resta a rede social como modo de querer que os outros aceitem o que ele pensa. Acha estar com a verdade. Mas, qual a verdade? A verdade que lhe agrada o ego, ou a realidade de um fato? Um fato não pode ser mudado, já a verdade pode ser mudada.

A questão – que vimos dentro de um diagnostico maior da internet – é que nossa cultura gosta muito de analisar pessoas e não ideias, pensando que pessoas possam se ofender. Ora, um povo que não analisa uma frase simples, não pode entender coisas complexas, coisas que a filosofia nos impem na sua reflexão logica. A pergunta “o que é isto – filosofar?” se amplifica a partir do emaranhado que se criou diante da sua historia. E se você disto “isto”, você quer demonstrar alguma coisa, pois, o “o que isto” tende a olhar o que esta sendo indicado. O homem-massa orteguiano tendem a absorver o limite social fácil repetindo frases e pensamentos que não são seus e sim “ovos de cuco” – a ave cuco coloca os ovos no ninho dos outros para os outros chocarem – onde repetem em infinitos posts querendo ter razão. Nada de novo e nada de original dentro do patamar mais profundo.

O homem-massa – aqui o homem é referida a humanidade como um todo – tendem a pensar coletivamente e com bastante superficialidade, mesmo que esse pensamento seja contra o pensamento coletivo. Muitos anarquistas são levados a pensamentos que os outros chamam de nazistas só pelo fato de os outros dizerem, mesmo que eles sejam contra as questões que a maioria tende a seguir.  O famoso “copia” e “cola”. Mas, esse “copiar” depende de uma crença previa intelectual que pode ou não ser valida dentro da realidade (não da verdade), porque as ideologias – seguindo Marx – são na maioria projetos de controle de informação e os governos de esquerda (mesmo eu não acreditando em governos de esquerda) também usam. O “nazismo”, “comunismo” etc, se transformou em símbolos do inimigo que se quer derrotar que, muitas vezes, não existe. É mera opinião.

Concordando com Platão, opinião não é um conhecimento embasado dentro de uma serie de informações. A opinião – em sua essência – demonstra um impulso de algo que somos, muitas vezes, levados a responder imediatamente. Nos grupos facebookianos são grupos de pessoas que podem ter aprendido sobre filosofia – da historia – mas não do filosofar que é da importância do limiar da filosofia em si.

 

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

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