terça-feira, 1 de agosto de 2023

Cachorrinhos podem sair, cadeirantes não

 



A um tempo atras eu escrevi sobre a questão de que os cachorros podem ir ao shopping e pessoas com deficiência não, no intuito de alertar para certas praticas um pouco esquisitas. Primeiro, todas as pessoas acham que nós não temos que ir em Shoppings, porque isso atrapalharia os “bonitinhos” a conversarem no meio do corredor, iriam atrapalhar pessoas a ficarem andando e olhando para nada e ate mesmo, derrubarem sorvete no chão e achar que a faxineira é a sua empregada (nem mesmo se ela fosse, não seria obrigada a aguentar tamanha mal educação a brasileira).  Pouca coisa mudou, pois, as pessoas ainda usam elevadores para pessoas com deficiência, ainda param em vagas exclusivas e ainda acham que o mundo gira em torno de seus fedidos umbigos (muito poucos cachorros vão no shopping hoje). Pessoas com deficiência ainda são hostilizados e pessoas ainda andam devagar como se fosse “pirraça” de estarmos ali, demonstração de amor ainda são verificadas como condutas imorais.

Levar um cachorro para cagar em um shopping é moral? Ficar batendo em uma cadeira de rodas enquanto ele come ou conversar incomodando que esta na mesa é uma conduta moral? Muitos colegas meus insistem em dizer que a sociedades são kantianas que descordo, pois, o ruim não é levar a moralidade ao estremo, o ruim é achar que o mundo é só seu. Esse é o problema da nossa cultura. Se fala muito mais do que se faz e esse fazer tem a ver com Aristóteles que disse a ética uma virtude bem mais pratica do que teórica. Pelo menos a sociedade brasileira, confunde muito a questão da ética e da moral, no sentido de entender certas nuances entre os dois. Ética vem do grego ETHOS que era como caráter (no primeiro momento era casa de homens e no segundo muda para caráter, que ate faz sentido), mas, concordo com Werner Jaeger quando ele fala que o ETHOS tem a ver com o espirito grego. Moral vem do latim Mor (plural mores) que queria dizer costumes e tinha a ver com os costumes romanos.

Hoje – nas sociedades pós-modernas – a filosofia fez da ética uma ferramenta de estudo da moral, no sentido de medir qual seria a moral daquela sociedade. Além disso, Aristóteles disse que o ser humano é um animal social (zoo politikon pode ser traduzido como animal cívico, corrigindo um erro de traduzir animal político) e que por ele ser racional, tende a entender e mudar as sociedades conforme as necessidades. Porem, achava que as abelhas tendiam a ser a mesma coisa, mas, não tem a menor semelhança. Mesmo o porque, o ser humano inventou um mundo antinatural para se adequar e para que a maioria não sofra tanto, que, muitas vezes, é um erro mortal. Por outro lado, animais como eu, minha noiva e muitos amigos, iriam morrer ou serem devorados facilmente. A deficiência é a dificuldade do corpo para algumas funções, mas, temos consciência (completa ou parcialmente).

Meios de amenizar situações dentro da própria dificuldade foi a forma que se encontrou para se preservar a vida de quem tem uma deficiência, pois, se criou o direito do ser humano a vida e nós como seres humanos temos o direto a vida. A sociologia nos mostra – talvez a biologia também – nos mostra que não somos os únicos animais com consciência, porque há outros animais com certa consciência. Acontece que construímos realidades artificiais e artifícios de dar aos seres iguais a nós, dignidade e uma melhor vida possível e isso quer dizer, ter uma vida como todo mundo.

Particularmente, não gosto do termo inclusão, pois, temos que incluir aquilo que esta fora da sociedade e não estamos. Nascemos dentro dessa sociedade, o termo mais correto deveria ser aceitação. Porque acetar pessoas em condições que vão se adaptando conforme a sua dificuldade, é aceitar que existem seres humanos diferentes e não existe uma igualdade dentro da sociedade humana. A meu ver, há uma dificuldade muito acentuada em entender isso por causa do desejo da certeza, porque se há uma padronização do ser humano, há uma certeza que o padrão de vida que escolheu (padronizado com os outros) seja intocável. Ora, os preconceitos começam com a padronização e a questão de antipatia do outro (como, por exemplo, a acusação que os judeus mataram Jesus gerando um antissemitismo generalizado que culminou na segunda guerra mundial), na arrogância que o mundo foi feito para você.

A questão de políticas públicas para pessoas com deficiência são assuntos não discutidos porque não interessam a grande maioria – porque vimos isso, ate mesmo, dentro da imprensa – que nos vê como “eternas crianças” ou como “sofredores eternos”. Mas, o preconceito tem raízes muito mais antigas nos remetendo a nossa parte pré-histórica que ainda resiste, a parte de estranhar pessoas ou coisas diferentes do que as nossas de padronização do corpo. Humanos são humanos. A igualização é o reflexo da ideologia do mundo moderno de colocar resoluções cientificas em coisas milagrosas e não é, a ciência trabalha em tentativa e erro e se aprende com esses erros.

Seja no transporte precário e pobre – como no ATENDE + (Sptrans) que demoramos 2 meses para conseguir aqui em São Paulo – que não se tem nenhuma garantia, seja na saúde, estamos muito arquem daquilo que deveria ser prioritário. UBSs (Unidades Básicas de Saúde) não prestam saúde básica para todo mundo, mas, para pessoas com deficiência só cadeiras de rodas quebradas e atendimentos porcos. Nem mesmo as carrocinhas de cachorro são assim e são de boa qualidade, nosso transporte são de péssima qualidade.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

Nenhum comentário:

Postar um comentário