A um tempo atras eu escrevi sobre a questão de que os
cachorros podem ir ao shopping e pessoas com deficiência não, no intuito de
alertar para certas praticas um pouco esquisitas. Primeiro, todas as pessoas
acham que nós não temos que ir em Shoppings, porque isso atrapalharia os
“bonitinhos” a conversarem no meio do corredor, iriam atrapalhar pessoas a
ficarem andando e olhando para nada e ate mesmo, derrubarem sorvete no chão e
achar que a faxineira é a sua empregada (nem mesmo se ela fosse, não seria obrigada
a aguentar tamanha mal educação a brasileira).
Pouca coisa mudou, pois, as pessoas ainda usam elevadores para pessoas
com deficiência, ainda param em vagas exclusivas e ainda acham que o mundo gira
em torno de seus fedidos umbigos (muito poucos cachorros vão no shopping hoje).
Pessoas com deficiência ainda são hostilizados e pessoas ainda andam devagar
como se fosse “pirraça” de estarmos ali, demonstração de amor ainda são
verificadas como condutas imorais.
Levar um cachorro para cagar em um shopping é moral? Ficar
batendo em uma cadeira de rodas enquanto ele come ou conversar incomodando que
esta na mesa é uma conduta moral? Muitos colegas meus insistem em dizer que a
sociedades são kantianas que descordo, pois, o ruim não é levar a moralidade ao
estremo, o ruim é achar que o mundo é só seu. Esse é o problema da nossa
cultura. Se fala muito mais do que se faz e esse fazer tem a ver com
Aristóteles que disse a ética uma virtude bem mais pratica do que teórica. Pelo
menos a sociedade brasileira, confunde muito a questão da ética e da moral, no
sentido de entender certas nuances entre os dois. Ética vem do grego ETHOS que
era como caráter (no primeiro momento era casa de homens e no segundo muda para
caráter, que ate faz sentido), mas, concordo com Werner Jaeger quando ele fala
que o ETHOS tem a ver com o espirito grego. Moral vem do latim Mor (plural
mores) que queria dizer costumes e tinha a ver com os costumes romanos.
Hoje – nas sociedades pós-modernas – a filosofia fez da
ética uma ferramenta de estudo da moral, no sentido de medir qual seria a moral
daquela sociedade. Além disso, Aristóteles disse que o ser humano é um animal
social (zoo politikon pode ser traduzido como animal cívico, corrigindo um erro
de traduzir animal político) e que por ele ser racional, tende a entender e
mudar as sociedades conforme as necessidades. Porem, achava que as abelhas
tendiam a ser a mesma coisa, mas, não tem a menor semelhança. Mesmo o porque, o
ser humano inventou um mundo antinatural para se adequar e para que a maioria
não sofra tanto, que, muitas vezes, é um erro mortal. Por outro lado, animais
como eu, minha noiva e muitos amigos, iriam morrer ou serem devorados
facilmente. A deficiência é a dificuldade do corpo para algumas funções, mas,
temos consciência (completa ou parcialmente).
Meios de amenizar situações dentro da própria dificuldade
foi a forma que se encontrou para se preservar a vida de quem tem uma
deficiência, pois, se criou o direito do ser humano a vida e nós como seres
humanos temos o direto a vida. A sociologia nos mostra – talvez a biologia
também – nos mostra que não somos os únicos animais com consciência, porque há
outros animais com certa consciência. Acontece que construímos realidades
artificiais e artifícios de dar aos seres iguais a nós, dignidade e uma melhor
vida possível e isso quer dizer, ter uma vida como todo mundo.
Particularmente, não gosto do termo inclusão, pois, temos
que incluir aquilo que esta fora da sociedade e não estamos. Nascemos dentro
dessa sociedade, o termo mais correto deveria ser aceitação. Porque acetar
pessoas em condições que vão se adaptando conforme a sua dificuldade, é aceitar
que existem seres humanos diferentes e não existe uma igualdade dentro da
sociedade humana. A meu ver, há uma dificuldade muito acentuada em entender
isso por causa do desejo da certeza, porque se há uma padronização do ser
humano, há uma certeza que o padrão de vida que escolheu (padronizado com os
outros) seja intocável. Ora, os preconceitos começam com a padronização e a
questão de antipatia do outro (como, por exemplo, a acusação que os judeus
mataram Jesus gerando um antissemitismo generalizado que culminou na segunda
guerra mundial), na arrogância que o mundo foi feito para você.
A questão de políticas públicas para pessoas com deficiência
são assuntos não discutidos porque não interessam a grande maioria – porque
vimos isso, ate mesmo, dentro da imprensa – que nos vê como “eternas crianças”
ou como “sofredores eternos”. Mas, o preconceito tem raízes muito mais antigas
nos remetendo a nossa parte pré-histórica que ainda resiste, a parte de
estranhar pessoas ou coisas diferentes do que as nossas de padronização do
corpo. Humanos são humanos. A igualização é o reflexo da ideologia do mundo
moderno de colocar resoluções cientificas em coisas milagrosas e não é, a
ciência trabalha em tentativa e erro e se aprende com esses erros.
Seja no transporte precário e pobre – como no ATENDE +
(Sptrans) que demoramos 2 meses para conseguir aqui em São Paulo – que não se
tem nenhuma garantia, seja na saúde, estamos muito arquem daquilo que deveria
ser prioritário. UBSs (Unidades Básicas de Saúde) não prestam saúde básica para
todo mundo, mas, para pessoas com deficiência só cadeiras de rodas quebradas e
atendimentos porcos. Nem mesmo as carrocinhas de cachorro são assim e são de boa qualidade, nosso transporte são de péssima qualidade.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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