quinta-feira, 3 de agosto de 2023

Platão e a pseudofilosofia que não existiu

 









É notório como a internet abriu muitas oportunidades para se conhecer quase tudo, por outro lado, há informações de pessoas que tendem ao cientificismo que colocam a filosofia ou como um pensamento que deve (no sentido de dever mesmo) ter conotações cientificas ou, como o físico Mario Bunge, que há uma pseudofilosofia. Conheci o senhor Bunge (físico argentino) pelo blog Universo Racionalista – seu fundador é um seguidor do pensador argentino – onde há um verbete no seu dicionário de filosofia (feito por vozes da sua cabeça) onde ele tenta refutar o filosofo alemão, Martin Heidegger (1889-1976) dizendo que Heidegger fazia uma pseudofilosofia. Ora, há uma diferença entre aquilo que eu não entendo e aquilo que não é filosofia, são coisas diferentes.

Há, com certeza, uma questão de aquilo que não é logico e não pode ser considerado algo filosófico, e há filosofias que não entendemos. Heidegger é um deles. Mas, Platão foi muito refutado na era moderna e pós-moderna, por servir de base de uma construção da teologia cristã e como foi a base da metafisica ocidental. Porem temos que separar Platão usado na teologia da igreja, e Platão filosofo da Grécia antiga, pois, há diferenças bastante acentuadas diante de varias coisas aqui. Isso – de fato – tem uma parcela de culpa a filosofia de Nietzsche que não conseguiu fazer essa distinção, porque mesmo que temos uma tentativa da filosofia platônica de colocar um princípio da Diade (como uma dualidade que não é dois) e o Uno (o único sem ser o numero um) o Demiurgo não é o Deus cristão. Assim como o Motor Imovel de Aristóteles. Como disse, são tentativas de explicação de Platão a filosofia de Parmênides (o ser não muda) e de Heráclito (o ser muda).

Segundo Giovanni Reale no seu livro “Convite a Platão” diz:

 

“Para os gregos a questão metafisica por excelência é “por que existe a multiplicidade?”, ou, melhor, “por que e como o múltiplo deriva do uno?”. Ora, a novidade trazida por Platão no plano da protologia está exatamente nessa tentativa de “justificação” radical e última da multiplicidade em geral em função dos Princípios do Uno e da Díade indefinida e de sua estrutura bipolar.  A “Díade” ou ”Dualidade indeterminada”, não é, obviamente, o número dois, assim como o Uno, no sentido de Princípio, não é o número um.”

Ora, não há nenhuma diferença, por exemplo, da astronomia onde há lacunas como um ponto intenso (intensidade imensa) pode explodir e variar varias coisas-elementos dentro do universo. Pois, a multiplicidade tem a ver com nossa realidade onde há uma gama de elementos e esses elementos derivam outros elementos. Ai está a explicação de Platão onde há uma Diade (que seria o pensamento do Demiurgo) onde há o puro e incorruptível (as ideias) e o corruptível (a realidade e os seres). Fácil de confundir com a teologia cristã, mas, há uma outra coisa. Os dois princípios tem um estatuto metafisico, pois, são metamatemáticos. Segundo Reale, a “Diade” é o princípio raiz da multiplicidade dos seres. Porque essa multiplicidade é concebida como “dualidade de grande-e-pequeno” no sentido em que é “infinita grandeza” e “infinita pequenez” como algo indefinido.

A meu ver, há uma grande arrogância dentro do cientificismo em pregar verdades que não existem, como o blog Universo Racionalista gosta de arrotar, por exemplo. Como o verbete do senhor Bunge no post do blog:

 

“a pseudofilosofia é algo que soa como filosófico, mas não é por carecer de sentido, ser trivial ou estar completamente em desacordo com a maior parte do conhecimento científico ou tecnológico. Exemplo: “O InSein [ou estar-em] é […] a expressão formal existencial do ser do Dasein [Ser-aí], que tem a condição essencial do ser-no-mundo” (M. Heidegger). Gertrude, você está na cozinha? Ah, sim. Bem, então você está-no-mundo!”

Segundo o físico – não pode ser chamado de filosofo porque não é formado em filosofia – a pseudofilosofia seria algo como se não houvesse citações cientificas e tecnológicas. Que, a meu ver, é uma definição muito problemática, porque varias obras do próprio Heidegger, cita tanto termos científicos como coisas tecnológicas. Aliás, Heidegger é o filosofo que mais debruçou na técnica como meio humano de tentar se superar. Frasezinha básica do filosofo: “A ciência não pensa”. Ou seja, a ciência tem elementos lógicos e protocolos muito mais rigorosos do que a filosofia, pois, eu posso filosofar fotos do Instagram só usando elementos morais e estéticos e isso não vai deixar de ser filosofia. No caso do exemplo anedótico, Gertrude esta na cozinha porque ela está falando e assim, ela está no mundo como ele também estava.

A questão pode ir bem mais além (como ouvi em um vídeo): todos esses estudiosos falam em pseudofilosofia, mas, por que será que ninguém debate o ponto ético da pobreza do mundo? Por que será que ninguém debate da ciência bélica que pode exterminar a humanidade inteira? Dai se começa a metafisica da ética, a metafisica do ser enquanto ser e não coisas que vivem no mundo. Platão trouxe uma questão datada (dos gregos daquela época), mas, temos que trazer para o campo moral e dizer se existe o BEM como princípio moral ou teológico, ou o princípio do MAL em um princípio moral ou teológico. Daí chegamos a questão do conhecimento (como libertar o ser humano) e a ignorância (ignorar o sumo bem como principio do justo).

Qual é a questão? A questão tanto de pseudofilosofia, como pseudociência, cai em um problema subjetivo de interpretação. Detectei esse problema graças a um livro sobre a teoria da simulação – onde toda a realidade, na verdade, seria uma simulação de um supercomputador extraterrestre – onde o escritor e teórico era um programador de jogos. A meu ver, a questão da subjetividade – como visão de mundo – tem muito a ver com a visão de similaridade entre aquilo que eu acredito e aquilo que é de fato. Como o físico argentino – e muito outros cientistas – que acham que a filosofia deveria ter termos científicos, isso também acontece. Ai começamos a reter dentro de nós uma coisa muito maior que mera ideia.

O termo correto seria induzir. Induzimos algo a parecer – no sentido de modificação de algo – para parecer aquilo que eu acredito dentro de qualquer ideia. E temos que entender a etimologia de ideia. Ideia vem do grego “eidos” que em um primeiro momento – segundo o filosofo francês Paul Ricoeur – era o contorno de uma figura e Platão buscou esse termo já popular. Mas, ao que parece, ele já estava sobredeterminado: queria dizer um contorno interno, como também, mostraria o contorno externo. Ou seja, desde o princípio “eidos” mostra uma forma visível. Porém, Platão tinha a questão de sublimar “eidos” e colocar entre o mundo sensível com o mundo inteligível (seria a contemplação). Segundo Ricoeur, próprio termo “eidos” é capaz dessa transposição.

O fato é que ideia (eidos) sempre vão ser formas daquilo que formamos na mente (ou consciência) e podemos substituir fatos por outras formas. A indução acontece. Mas, na filosofia, o que seria a indução? A generalização. Ai começa o problema da indução, quando generalizam alguma coisa para provar seu ponto de vista. Ou seja, o “todo” é usado como termo de reforço de indução. Por exemplo, “todo homem é igual”, “toda a esquerda é comunista” etc, são reforços daquilo que você quer provar. Isso acontece graças a questão das crenças e subjetividades que rodam nossa consciência. Como o começo do verbete do Bunge: ““a pseudofilosofia é algo que soa como filosófico, mas não é por carecer de sentido, ser trivial ou estar completamente em desacordo com a maior parte do conhecimento científico ou tecnológico.”. isso, a rigor, é uma indução.

Nem sempre filosofias mais profundas – e nem acho que pseudo cabe na filosofia – são e devem ser consideradas pseudofilosofia.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior

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