É notório como a internet abriu muitas oportunidades para se
conhecer quase tudo, por outro lado, há informações de pessoas que tendem ao
cientificismo que colocam a filosofia ou como um pensamento que deve (no
sentido de dever mesmo) ter conotações cientificas ou, como o físico Mario Bunge,
que há uma pseudofilosofia. Conheci o senhor Bunge (físico argentino) pelo blog
Universo Racionalista – seu fundador é um seguidor do pensador argentino – onde
há um verbete no seu dicionário de filosofia (feito por vozes da sua cabeça)
onde ele tenta refutar o filosofo alemão, Martin Heidegger (1889-1976) dizendo
que Heidegger fazia uma pseudofilosofia. Ora, há uma diferença entre aquilo que
eu não entendo e aquilo que não é filosofia, são coisas diferentes.
Há, com certeza, uma questão de aquilo que não é logico e
não pode ser considerado algo filosófico, e há filosofias que não entendemos.
Heidegger é um deles. Mas, Platão foi muito refutado na era moderna e pós-moderna,
por servir de base de uma construção da teologia cristã e como foi a base da
metafisica ocidental. Porem temos que separar Platão usado na teologia da
igreja, e Platão filosofo da Grécia antiga, pois, há diferenças bastante
acentuadas diante de varias coisas aqui. Isso – de fato – tem uma parcela de
culpa a filosofia de Nietzsche que não conseguiu fazer essa distinção, porque
mesmo que temos uma tentativa da filosofia platônica de colocar um princípio da
Diade (como uma dualidade que não é dois) e o Uno (o único sem ser o numero um)
o Demiurgo não é o Deus cristão. Assim como o Motor Imovel de Aristóteles. Como
disse, são tentativas de explicação de Platão a filosofia de Parmênides (o ser
não muda) e de Heráclito (o ser muda).
Segundo Giovanni Reale no seu livro “Convite a Platão” diz:
“Para os gregos a questão metafisica por excelência é “por que existe a multiplicidade?”, ou, melhor, “por que e como o múltiplo deriva do uno?”. Ora, a novidade trazida por Platão no plano da protologia está exatamente nessa tentativa de “justificação” radical e última da multiplicidade em geral em função dos Princípios do Uno e da Díade indefinida e de sua estrutura bipolar. A “Díade” ou ”Dualidade indeterminada”, não é, obviamente, o número dois, assim como o Uno, no sentido de Princípio, não é o número um.”
Ora, não há nenhuma diferença, por exemplo, da astronomia
onde há lacunas como um ponto intenso (intensidade imensa) pode explodir e
variar varias coisas-elementos dentro do universo. Pois, a multiplicidade tem a
ver com nossa realidade onde há uma gama de elementos e esses elementos derivam
outros elementos. Ai está a explicação de Platão onde há uma Diade (que seria o
pensamento do Demiurgo) onde há o puro e incorruptível (as ideias) e o
corruptível (a realidade e os seres). Fácil de confundir com a teologia cristã,
mas, há uma outra coisa. Os dois princípios tem um estatuto metafisico, pois,
são metamatemáticos. Segundo Reale, a “Diade” é o princípio raiz da
multiplicidade dos seres. Porque essa multiplicidade é concebida como
“dualidade de grande-e-pequeno” no sentido em que é “infinita grandeza” e
“infinita pequenez” como algo indefinido.
A meu ver, há uma grande arrogância dentro do cientificismo
em pregar verdades que não existem, como o blog Universo Racionalista gosta de
arrotar, por exemplo. Como o verbete do senhor Bunge no post do blog:
“a pseudofilosofia é algo que soa como filosófico, mas não é por carecer de sentido, ser trivial ou estar completamente em desacordo com a maior parte do conhecimento científico ou tecnológico. Exemplo: “O InSein [ou estar-em] é […] a expressão formal existencial do ser do Dasein [Ser-aí], que tem a condição essencial do ser-no-mundo” (M. Heidegger). Gertrude, você está na cozinha? Ah, sim. Bem, então você está-no-mundo!”
Segundo o físico – não pode ser chamado de filosofo porque
não é formado em filosofia – a pseudofilosofia seria algo como se não houvesse
citações cientificas e tecnológicas. Que, a meu ver, é uma definição muito
problemática, porque varias obras do próprio Heidegger, cita tanto termos
científicos como coisas tecnológicas. Aliás, Heidegger é o filosofo que mais
debruçou na técnica como meio humano de tentar se superar. Frasezinha básica do
filosofo: “A ciência não pensa”. Ou seja, a ciência tem elementos lógicos e
protocolos muito mais rigorosos do que a filosofia, pois, eu posso filosofar
fotos do Instagram só usando elementos morais e estéticos e isso não vai deixar
de ser filosofia. No caso do exemplo anedótico, Gertrude esta na cozinha porque
ela está falando e assim, ela está no mundo como ele também estava.
A questão pode ir bem mais além (como ouvi em um vídeo):
todos esses estudiosos falam em pseudofilosofia, mas, por que será que ninguém
debate o ponto ético da pobreza do mundo? Por que será que ninguém debate da
ciência bélica que pode exterminar a humanidade inteira? Dai se começa a
metafisica da ética, a metafisica do ser enquanto ser e não coisas que vivem no
mundo. Platão trouxe uma questão datada (dos gregos daquela época), mas, temos
que trazer para o campo moral e dizer se existe o BEM como princípio moral ou
teológico, ou o princípio do MAL em um princípio moral ou teológico. Daí
chegamos a questão do conhecimento (como libertar o ser humano) e a ignorância
(ignorar o sumo bem como principio do justo).
Qual é a questão? A questão tanto de pseudofilosofia, como
pseudociência, cai em um problema subjetivo de interpretação. Detectei esse
problema graças a um livro sobre a teoria da simulação – onde toda a realidade,
na verdade, seria uma simulação de um supercomputador extraterrestre – onde o
escritor e teórico era um programador de jogos. A meu ver, a questão da
subjetividade – como visão de mundo – tem muito a ver com a visão de
similaridade entre aquilo que eu acredito e aquilo que é de fato. Como o físico
argentino – e muito outros cientistas – que acham que a filosofia deveria ter
termos científicos, isso também acontece. Ai começamos a reter dentro de nós
uma coisa muito maior que mera ideia.
O termo correto seria induzir. Induzimos algo a parecer – no
sentido de modificação de algo – para parecer aquilo que eu acredito dentro de
qualquer ideia. E temos que entender a etimologia de ideia. Ideia vem do grego
“eidos” que em um primeiro momento – segundo o filosofo francês Paul Ricoeur –
era o contorno de uma figura e Platão buscou esse termo já popular. Mas, ao que
parece, ele já estava sobredeterminado: queria dizer um contorno interno, como
também, mostraria o contorno externo. Ou seja, desde o princípio “eidos” mostra
uma forma visível. Porém, Platão tinha a questão de sublimar “eidos” e colocar
entre o mundo sensível com o mundo inteligível (seria a contemplação). Segundo
Ricoeur, próprio termo “eidos” é capaz dessa transposição.
O fato é que ideia (eidos) sempre vão ser formas daquilo que
formamos na mente (ou consciência) e podemos substituir fatos por outras
formas. A indução acontece. Mas, na filosofia, o que seria a indução? A
generalização. Ai começa o problema da indução, quando generalizam alguma coisa
para provar seu ponto de vista. Ou seja, o “todo” é usado como termo de reforço
de indução. Por exemplo, “todo homem é igual”, “toda a esquerda é comunista”
etc, são reforços daquilo que você quer provar. Isso acontece graças a questão das
crenças e subjetividades que rodam nossa consciência. Como o começo do verbete
do Bunge: ““a pseudofilosofia é algo que soa como filosófico, mas não é por
carecer de sentido, ser trivial ou estar completamente em desacordo com a maior
parte do conhecimento científico ou tecnológico.”. isso, a rigor, é uma indução.
Nem sempre filosofias mais profundas – e nem acho que pseudo
cabe na filosofia – são e devem ser consideradas pseudofilosofia.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
Nenhum comentário:
Postar um comentário