Nietzsche – filosofo alemão do século dezenove – desenvolveu
uma genealogia da moral que remonta toda a trágica trajetória onde o ocidente
marca a ruptura da moral greco-romana, para abraçar a moral cristã. Para ele, a
moral cristã – em sua essência – não deveria ser confundida com os ensinamentos
de Jesus. Pois, segundo Nietzsche, o evangelho teria morrido na cruz. Logico,
que nesse contexto que o filosofo coloca, os verdadeiros ensinamentos morreram
com Jesus o Cristo com ele após ser crucificado. Mas, qual a razão da critica
nietzschiana? Mesmo o porque, Nietzsche era um teólogo – quase foi pastor – e
um estudioso das questões linguísticas dentro da filologia e na sua essência
não era um ignorante. Realmente, a historia humana era feita (dentro da politica
e na religião) pessoas ressentidas de não serem o que queria ser e o que os
outros são. O cristianismo – durante o período medieval com seu governo
teocrático – se formou por nobres menores, pobres não podiam ser padres e não
tinham dinheiro para isso. Eram os filhos mais novos que ´povoavam a vida
eclesiástica.
Esses homens e mulheres eram ressentidos e formaram uma
teologia de dominação com o poder politico, pois, se não fizerem o que a igreja
católica queria, seriam castigados. A dominação era muito forte, pois, o
império estava desfarelado em vários feudos (construídos por Carlos Magno para
as pessoas não morrerem de fome a partir do ano 800 depois de Cristo) e que
tudo era ao redor de uma parcela de terras e guerras constantes. E os reis
bárbaros teriam que ser “amansados” e seriam “ovelhas” de uma igreja dominadora
e romana. Dai, todas as humildades, feriados e todas as morais criadas a partir
do cristianismo foram feitas por pessoas que não souberam viver aquilo por
questões de obrigações familiares.
No mundo grego, por exemplo, não existia a humildade porque
é uma invenção cristã. A meu ver, a crítica de Nietzsche vai muito na questão
do moralismo barato do que a religião em si, porque tem a ver com a moral
centrada na politica. A igreja como instituição foi muito política – e continua
sendo, seja elas protestante ou católica – muito mais, do que uma ordem
espiritual. Tanto, que na hora de querer romper com a ordem política, os
iluministas não sabiam o que era espiritualidade e o que era a parte politica e
religiosa. O maior erro da modernidade – e porque não a pós-modernidade – foi
ter separado a filosofia da metafisica achando que a metafisica tinha a ver com
questões além da realidade e não é bem assim. Dai eu rompo com Nietzsche – será
que ele diria que eu era um dos maiores seguidores que ele teve? Pois, rompi
com um dos únicos ídolos que sempre tive – porque não acho que foi a filosofia
socrática-platonica que moldou a moral que vivemos, mas, a ordem política
católica (mesmo que sejam castas protestantes). O cristianismo (seja católico
ou protestante), não foi e nunca será uma ordem espiritual e fica bastante
claro.
A questão que o século vinte com o rompimento da metafisica
como caminho de uma verdadeira empatia com o homem (ser humano) como ele é e
não uma “coisa” idealizada em virtude. Esquecemos que para sermos verdadeiros –
talvez, essa é a verdade que Jesus disse – temos que conhecer a si mesmos,
sendo a si mesmo como prognóstico de algo muito mais profundo. Nietzsche foi
sempre socrático diante, ate mesmo, nas criticas de Sócrates e Platão e não
dará para fugir disso – mesmo Marx também montou a sua metafisica de classes – e
dentro da genealogia da moral, que ele tem razão e faz sentido, não há uma
explicação clara e objetiva. Isso não quer dizer nada se Deus existe ou não,
mas, instituições religiosas são mais politicas (mesmo o espiritismo e o
budismo).
Com o aparecimento da internet – como fenômeno tecnológico –
sonhávamos com um mundo mais livre e com bastante liberdade. Foi o que o filosofo
italiano Umberto Eco disse, a internet deu vazão aos idiotas. A questão é que,
se antigamente as idiotices eram ditas em balcões de bares ou portões das casas
periféricas e hoje, as idiotices são ditas (de forma errada) em comentários e
vídeos. Dai nasce a hipocondria moral, pois, a extrema-direita e a esquerda
woke, sempre darão a pauta da critica e o cancelamento. Toda hipocondria é um
medo de doença, talvez, hipocondria moral seja um conceito criado para responder
essa idiotice na internet. Se outrora sonhávamos com um mundo cyber anarquista
– sendo liberto para o conhecimento e relações humanas sem conceitos morais ou
estéticos – agora vimos que a internet foi muito idealizada e a moral humana
vazou para dentro da pureza libertaria das questões relacionadas. Ateus impondo
ateísmo para religiosos. Religiosos arrotando religiosidade moralista nas redes
(a favor da família mesmo vendo que a mãe e narcisista), a extrema-direita (um
nazifascismo vagabundo) usou um espaço ausente de acadêmicos que poderia fazer
diferença. Os reacionários viraram os novos revolucionários e quiserem mudar a
ordem woke a força.
Ditaduras militares não são justas e não farão justiça (mesmo
que uma parcela ache ao contrário) e a linguagem não acabara com o preconceito
e nem com a discriminação. E daí uma pergunta é inevitável: a felicidade
existe? Se ela existe isso tem a ver com a questão do mundo de hoje? Como disse
tempos atras, o ser humano é o único animal que gosta de ser enjaulado. Troca a
liberdade por uma certeza, mas, concordando com Sartre, somos condenados a
sermos livres no sentido de nos colocar no limiar das escolhas. Ter liberdade
nem sempre é agradável e requer coragem de assumir a culpa dessa escolha, o que
existe é, que sempre nossas escolhas são culpa dos outros. E as pessoas
terceirizam a questão das escolhas e o impacto que essas escolhas fazem em
nossas vidas, que por um momento, sabem que são suas. A decadência humana sempre foi infantilizar o
ser humano para melhor manipular e quando ele vê um mundo outro, quando (digamos
assim) a Matrix não funciona mais, se tem que reprogramar o sistema. A esquerda
woke sabe que tem um sistema (mesmo eles rindo), e esse sistema pode usar a
ultradireita e pode usar a onda woke. Vai depender da ocasião.
Então, o que nos falta? Personalidade. Quando o pensamento
moderno colocou a verdade como algo subjetivo – em alguns casos, acertada – colocou
que nada tem uma resposta definitiva. A definição não seria definida, pois, não
há nada a ser definido. Daí tem um problema: tudo se dará sempre por definição,
mesmo nos erros. Uma árvore é uma árvore porque se definiu como uma árvore, a definição
de árvore fica clara. No intuito moral, você matar para roubar um objeto é
errado (por privar o outro por causa de um bem) e isso é errado, mesmo que, acabássemos
com a propriedade, como sonham os socialistas.
Amauri Nolasco Sanches Júnior
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