quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Decadência e narcisismo – como Nietzsche tinha razão diante da genealogia da moral

 






Nietzsche – filosofo alemão do século dezenove – desenvolveu uma genealogia da moral que remonta toda a trágica trajetória onde o ocidente marca a ruptura da moral greco-romana, para abraçar a moral cristã. Para ele, a moral cristã – em sua essência – não deveria ser confundida com os ensinamentos de Jesus. Pois, segundo Nietzsche, o evangelho teria morrido na cruz. Logico, que nesse contexto que o filosofo coloca, os verdadeiros ensinamentos morreram com Jesus o Cristo com ele após ser crucificado. Mas, qual a razão da critica nietzschiana? Mesmo o porque, Nietzsche era um teólogo – quase foi pastor – e um estudioso das questões linguísticas dentro da filologia e na sua essência não era um ignorante. Realmente, a historia humana era feita (dentro da politica e na religião) pessoas ressentidas de não serem o que queria ser e o que os outros são. O cristianismo – durante o período medieval com seu governo teocrático – se formou por nobres menores, pobres não podiam ser padres e não tinham dinheiro para isso. Eram os filhos mais novos que ´povoavam a vida eclesiástica.

Esses homens e mulheres eram ressentidos e formaram uma teologia de dominação com o poder politico, pois, se não fizerem o que a igreja católica queria, seriam castigados. A dominação era muito forte, pois, o império estava desfarelado em vários feudos (construídos por Carlos Magno para as pessoas não morrerem de fome a partir do ano 800 depois de Cristo) e que tudo era ao redor de uma parcela de terras e guerras constantes. E os reis bárbaros teriam que ser “amansados” e seriam “ovelhas” de uma igreja dominadora e romana. Dai, todas as humildades, feriados e todas as morais criadas a partir do cristianismo foram feitas por pessoas que não souberam viver aquilo por questões de obrigações familiares.

No mundo grego, por exemplo, não existia a humildade porque é uma invenção cristã. A meu ver, a crítica de Nietzsche vai muito na questão do moralismo barato do que a religião em si, porque tem a ver com a moral centrada na politica. A igreja como instituição foi muito política – e continua sendo, seja elas protestante ou católica – muito mais, do que uma ordem espiritual. Tanto, que na hora de querer romper com a ordem política, os iluministas não sabiam o que era espiritualidade e o que era a parte politica e religiosa. O maior erro da modernidade – e porque não a pós-modernidade – foi ter separado a filosofia da metafisica achando que a metafisica tinha a ver com questões além da realidade e não é bem assim. Dai eu rompo com Nietzsche – será que ele diria que eu era um dos maiores seguidores que ele teve? Pois, rompi com um dos únicos ídolos que sempre tive – porque não acho que foi a filosofia socrática-platonica que moldou a moral que vivemos, mas, a ordem política católica (mesmo que sejam castas protestantes). O cristianismo (seja católico ou protestante), não foi e nunca será uma ordem espiritual e fica bastante claro.

A questão que o século vinte com o rompimento da metafisica como caminho de uma verdadeira empatia com o homem (ser humano) como ele é e não uma “coisa” idealizada em virtude. Esquecemos que para sermos verdadeiros – talvez, essa é a verdade que Jesus disse – temos que conhecer a si mesmos, sendo a si mesmo como prognóstico de algo muito mais profundo. Nietzsche foi sempre socrático diante, ate mesmo, nas criticas de Sócrates e Platão e não dará para fugir disso – mesmo Marx também montou a sua metafisica de classes – e dentro da genealogia da moral, que ele tem razão e faz sentido, não há uma explicação clara e objetiva. Isso não quer dizer nada se Deus existe ou não, mas, instituições religiosas são mais politicas (mesmo o espiritismo e o budismo).

Com o aparecimento da internet – como fenômeno tecnológico – sonhávamos com um mundo mais livre e com bastante liberdade. Foi o que o filosofo italiano Umberto Eco disse, a internet deu vazão aos idiotas. A questão é que, se antigamente as idiotices eram ditas em balcões de bares ou portões das casas periféricas e hoje, as idiotices são ditas (de forma errada) em comentários e vídeos. Dai nasce a hipocondria moral, pois, a extrema-direita e a esquerda woke, sempre darão a pauta da critica e o cancelamento. Toda hipocondria é um medo de doença, talvez, hipocondria moral seja um conceito criado para responder essa idiotice na internet. Se outrora sonhávamos com um mundo cyber anarquista – sendo liberto para o conhecimento e relações humanas sem conceitos morais ou estéticos – agora vimos que a internet foi muito idealizada e a moral humana vazou para dentro da pureza libertaria das questões relacionadas. Ateus impondo ateísmo para religiosos. Religiosos arrotando religiosidade moralista nas redes (a favor da família mesmo vendo que a mãe e narcisista), a extrema-direita (um nazifascismo vagabundo) usou um espaço ausente de acadêmicos que poderia fazer diferença. Os reacionários viraram os novos revolucionários e quiserem mudar a ordem woke a força.

Ditaduras militares não são justas e não farão justiça (mesmo que uma parcela ache ao contrário) e a linguagem não acabara com o preconceito e nem com a discriminação. E daí uma pergunta é inevitável: a felicidade existe? Se ela existe isso tem a ver com a questão do mundo de hoje? Como disse tempos atras, o ser humano é o único animal que gosta de ser enjaulado. Troca a liberdade por uma certeza, mas, concordando com Sartre, somos condenados a sermos livres no sentido de nos colocar no limiar das escolhas. Ter liberdade nem sempre é agradável e requer coragem de assumir a culpa dessa escolha, o que existe é, que sempre nossas escolhas são culpa dos outros. E as pessoas terceirizam a questão das escolhas e o impacto que essas escolhas fazem em nossas vidas, que por um momento, sabem que são suas.  A decadência humana sempre foi infantilizar o ser humano para melhor manipular e quando ele vê um mundo outro, quando (digamos assim) a Matrix não funciona mais, se tem que reprogramar o sistema. A esquerda woke sabe que tem um sistema (mesmo eles rindo), e esse sistema pode usar a ultradireita e pode usar a onda woke. Vai depender da ocasião.

Então, o que nos falta? Personalidade. Quando o pensamento moderno colocou a verdade como algo subjetivo – em alguns casos, acertada – colocou que nada tem uma resposta definitiva. A definição não seria definida, pois, não há nada a ser definido. Daí tem um problema: tudo se dará sempre por definição, mesmo nos erros. Uma árvore é uma árvore porque se definiu como uma árvore, a definição de árvore fica clara. No intuito moral, você matar para roubar um objeto é errado (por privar o outro por causa de um bem) e isso é errado, mesmo que, acabássemos com a propriedade, como sonham os socialistas.

 

Amauri Nolasco Sanches Júnior




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