Amauri Nolasco Sanches Júnior
<<A ideia,
imanente à maioria das filosofias e natural para o espírito humano, de
possíveis que se realizariam por uma aquisição de existência, é, portanto, pura
ilusão. Seria o mesmo que afirmar que o homem de carne e osso provém da
materialização de sua imagem percebida no espelho, sob a alegação de que há
nesse homem real tudo o que se encontra nessa imagem virtual acrescida da
solidez que faz com que possamos tocá-la”>>
– Bergson, O Pensamento
e o Movente
O ser humano como ser-do-mundo é um ser que pensa estar na
realidade, mas, o real pode não ser real, só pode ser um ser virtual. Uma maçã,
por exemplo, é uma imagem daquela percepção ótica da imagem o que seria uma maçã.
Ali nasce o conceito de fruta. Claro, a consciência sabe que aquilo é o objeto
maçã, porque temos uma ligação-aprendizado do termo que se chama a fruta e o
que essa fruta representa dentro da nossa realidade. Será que a realidade são mesmo
percepções dos objetos e seus objetivos? A realidade compõe também valores
morais – que são inseridos dentro de uma sociedade – dentro do que a sociedade
tem como sentimento coletivo. Ora, vários desses valores morais são valores
colocados dentro dessa mesma sociedade, dentro de histórias mitológicas – sim,
temos mitos modernos – que são derivadas desses valores. Além do mais, esses
valores nem sempre são questionados por que as pessoas não refletem e acham, bastante,
confortável acreditarem nesses valores. Na maioria das vezes, são ilusões mitológicas.
Um desses mitos é mito da liberdade. inicialmente, a questão
da liberdade sempre foi atrelada na felicidade, pois, ser liberto na realidade é
fazer o que se quer e tem vontade. Liberdade, felicidade, realidade e vontade. A
vontade tem a ver com a liberdade, pois, se fazemos o que temos vontade, somos
felizes. Mas, nem sempre o que queremos estar de acordo com a moral social e
essa moral social, também, não está de acordo com a felicidade de cada um. Então,
o que fazer? Será que podemos quebrar a moral vigente para predominar a
felicidade? São dúvidas feitas por milênios e essas dúvidas são legitimas
dentro da filosofia. Mesmo o porquê, Aristóteles dizia que somos animais
sociais por sermos racionais e construímos éticas e morais para convivemos com
o outro, porém, ao mesmo tempo, procuramos ser feliz. Para o filósofo grego, o
mais importante é a amizade, pois ali, estará sempre a felicidade. A busca da
felicidade sempre foi a busca de quem somos e o sentido de tudo.
Se Tales de Mileto dizia que a origem de tudo era a água (úmido),
Sócrates achava que não adiantaria nada se conhecêssemos a realidade dos
objetos e suas origens (e finalidades) e não conhecer a nós mesmos. Mas, o que
seria conhecer a nós mesmos? O que significaria conhecer nossa própria natureza?
Talvez, Sócrates tenha razão, porque podemos nos conhecer e ainda, conhecer o
propósito de uma realidade. Afinal, a inscrição no templo de Delfos era
conhecer a si mesmo e assim, conhecer o universo (a realidade) e os deuses
(metafisica da origem). Por outro lado, a origem (arké) é um conceito de saber como
originaram as coisas, ou, as ideias que fazemos das coisas. Uma arvore não era
uma arvore antes do ser humano dar o nome do ser vivo vegetal com um tronco e
ramos de galhos e folhas – além de frutos e flores – de arvore. Assim como
cavalo não era cavalo no modo selvagem e sim, um ser vivo que corria nas pradarias.
As baratas eram insetos que comiam coisas podres antes mesmo que o ser humano
existisse ou tivesse nojo delas – por causa da evolução delas e por causa do
parentesco delas com os cupins que consomem madeira podre – e então, nossa
ideia da realidade tão pouco importa para um universo que pouco importa para nossas
opiniões ou teorias.
A questão é sempre – pelo menos para a maioria da humanidade
– uma questão imanente (existente) e não transcendente. As pessoas, por medo ou
ignorância, nunca querem transcender um conceito porque acham que nunca vão ganhar
nada com essa transcendência. Por exemplo, um fiel de uma igreja hoje (leia-se
neopentecostal) não quer algo transcende do espírito, pois, a vitória – como
eles mesmos dizem – não é a vitória espiritual da religação com o divino, mas a
vitória de bens materiais. Isso chamamos de igrejas materialistas. Por quê? Entenderam
a questão material do judaísmo muito mais que entenderam a questão espiritual,
que uma boa educação e um bom relacionamento com a realidade, poderia ser benéfico
tanto num modo material como num modo espiritual. Pois, entender a si mesmo e
toda a realidade que nos cerca, sempre é entender o que precisamos para uma
vida feliz e não muito material. Afinal, a questão da vitória, sempre tem a ver
com a conquista de si mesmo diante dos fatos. Fatos definem a realidade e não coisas.
Quando olhamos uma fotografia, olhamos um momento da
realidade, no qual, a fotografia foi tirada. Se tivemos sorte, conseguimos
registrar o momento que expressamos algum sentimento. Mas, os fatos dessa
fotografia nunca vão ser, totalmente, registrados. São apenas um momento. Um
momento nunca vai ser um fato, uma ruptura com um conjunto de acontecimentos
que aquilo engloba. Por isso mesmo, como disse Nietzsche, não há fatos eternos
como não há verdades absoluta. Não há fatos que se eternizem porque o tempo é contínuo,
as verdades de hoje, não serão as verdades do amanhã. A verdade não será,
facilmente, alcançada se não transcendemos alguns conceitos linguísticos, conceitos
religiosos e conceitos ideológico.
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