segunda-feira, 28 de março de 2022

O tapa de Will Smith e a ética da defesa

 




Na cerimônia do Oscar 2022, o ator Will Smith perde a cabeça com o humorista Cris Rock e foi ao palco e deu um tapa na cara – não um soco como disse alguns veículos de imprensa no Brasil – porque, Cris tinha contado uma piada da esposa de Smith. O que ele deveria ter feito além daquele tapa? O tapa não foi forte, ao que parece, só foi um aviso para o humorista parar de fazer certos comentários sobre a condição que se encontra Jada. Justamente, na mesma noite, Smith irá ganhar o Oscar de melhor ator num filme de um pai que defende sua família, defende as filhas do preconceito. A ética nos manda – diria Kant – a defender o princípio básico de uma tão falada frase cristã (que vem de uma sabedoria muito mais antiga), não faça com os outros, o que você não quer que faça com você. Ou seja, e se fosse o Cris Rock com alguém que ele ama? O amor faz com que estejamos acima do bem e do mal, porque a questão essencial dele, é pegar aquilo que somos e potencializar ao ponto de nos dar forças para defender as coisas importantes. Isso nada tem a ver com a libido, tem a ver com que aquilo que foi feito ou falado.

Todo mundo vem escrevendo que é contra a violência, mas, a violência, ainda, vem da nossa natureza primitiva da preservação.  Impulso que nos dá uma razão intrínseca de viver e se você vive no medo – como os filósofos zen nos dizem – o medo te domina e o ódio reina. A famosa fala do mestre Yoda no Star Wars, onde ele diz, que o medo nos leva a raiva e que leva o ódio e o ódio nos leva ao lado negro da força, é zen budismo. Mas, há uma diferença em ódio e o impulso, porque o impulso faz de você um ser dentro de uma realidade. Ali, no caso do Will Smith, não foi o medo de ser agredido, é a ofensa de não respeito e não empatia. A empatia faz nós sermos seres humanos e não seres não racionais, e se não há empatia, não há racionalidade. O pré-conceito não é o conceito, um conceito primário é uma ligação de um mundo ilusório, um “eu acho”. O “eu acho” tem extrema ligação com “tu deves”.

O “eu acho” expressa aquilo no nosso egoísmo instintivo de preservação em opiniões que não são conhecimentos, porque estão ligados no “tu deves”. A normalização de certos discursos, deixam o ser humano amarrados em prisões psicológicas e sociais que não consegue sair. Fora que existem prisões ideológicas, prisões religiosas e prisões de conceitos sociais. O “tu deves” sempre é aquilo que devemos ser para os outros e não, ser para si mesmo. Meditar numa pedra sozinho – assim dizem – é um comportamento estranho e não tem nada a ver com quem somos, mas, a maioria se engana, porque o ato de meditar numa pedra, em cima dela, tem a ver com o que sou. O “quem sou” é a conexão entre quem construiu o ser (ser social) e aquilo que somos (quem sou), fazendo o caminho de descoberta daquilo que deveríamos ou devemos buscar. A verdade que a filosofia antiga dizia, está ai. A conexão entre eu e a realidade transforma em verdade, quando descobrimos que a realidade é uma ilusão. Não podemos definir e nem controlar a realidade.

Talvez, Will Smith se viu entre o “tu deves” dentro da Academia de Cinema, e o “quem sou” que era a defesa da sua esposa. O que era mais importante naquela realidade? O que poderia sentir se uma pessoa que você ama estava sendo agredida? Uma coisa é usar máscaras sociais e achar que o mundo ficaria melhor sem brigas – que também acredito – outra coisa é você defender alguém que foi agredido por causa de uma aparência física. São coisas que só o amor, explica.

Amauri Nolasco Sanches Júnior 

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